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farol n.º 16 - mil novecentos e sessenta e quatro ♦ sessenta e cinco, págs. 18 e 19.

Um herói de quinze anos

João Carlos Pinheiro
(6.º ano)
 

ANDAVA um pobre pastor, chamado José Francisco, apascentando o seu rebanho, quando um grito aflito se fez ouvir do lado de uns rochedos.

José Francisco não esperou mais tempo; desatou a correr em direcção de onde lhe parecia ter vindo o grito. Quando lá chegou, viu um soldado caído numa saliência rochosa e. como estava habituado a andar por ali, não lhe foi difícil chegar ao pé do soldado que, ao cair, tinha fracturado uma perna; ajudou-o a subir até à sua humilde choupana. Aí, o militar contou ao pastor que ia em serviço de urgência ao forte mais próximo, pedir reforços militares para um reduto, onde estava a cumprir a vida militar. que estava cercado pelas tropas inimigas havia semanas; mas, para chegar ao forte mais próximo tinha que se atravessar a retaguarda inimiga, o que era considerado como quase impossível, visto a vigilância efectuada pelas referidas tropas.

O pequeno pastor, depois de ouvir as declarações do militar, ofereceu-se para acabar a tão arriscada e preciosa empresa já começada, o que foi aceite pelo outro, com grande alegria e comoção, por ver naquele rapaz de quinze anos tanta coragem e patriotismo.

Depois de ter deixado comida ao soldado e ao seu rebanho, José Francisco pôs-se a caminho, levando consigo comida e o pedido de socorro.

A retaguarda inimiga já se avistava e a partir de agora ele passou a andar com mais prudência, porque sabia que o menor erro lhe custava a vida / 19 / e a dos soldados cercados. Tinha já atravessado a zona perigosa, quando foi descoberto; então, ele pôs-se a correr aos ziguezagues sem se importar das balas que lhe assobiavam aos ouvidos, até que caiu atingido por um projéctil traiçoeiro; nem isto o deteve; levantando-se aqui, caindo acolá para se tornar a levantar mais além, ele conseguiu chegar ao forte, entregar o pedido de reforços, dizer o que tinha acontecido ao soldado e caiu inanimado pelo esforço dispendido.

No forte cercado, já tinham perdido as esperanças de verem chegar os reforços, quando muito ao longe se ouviu um toque de clarim trazido pelo vento. Os soldados sitiados com os olhos cheios de lágrimas e com as forças recuperadas pelo toque do clarim, conseguiram repelir ainda o inimigo que mais tarde veio a ser desbaratado pela coluna de reforços.

Havia passado um mês de pois daquele célebre dia. Na parada do forte procedia-se às condecorações dos que mais se distinguiram na defesa do forte. Dos nomes dos heróis, lidos em voz alta pelo comandante do forte, dois não tiveram resposta; esses nomes eram: o de José Francisco e o do soldado, que não puderam, porque ambos se encontravam na enfermaria; o primeiro com uma perna amputada, pelo esforço exigido à perna ferida e o segundo com a perna fracturada pela queda que o impossibilitou de acabar a empresa.

Ao depositar a condecoração no peito de José Francisco, o comandante deixou cair duas lágrimas de comoção por ver coragem, patriotismo e abnegação naquele rapaz de quinze anos.

 

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08-06-2018