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farol n.º 16 - mil novecentos e sessenta e quatro ♦ sessenta e cinco, pág. 17.

INTERVALO POÉTICO

Trindades

Licínia Maria Senos

Desce o crepúsculo, a noite desce.
Caiem sobre as coisas plácidas e calmas
Sombras disformes, trémulas e vagas.
Semeadas de ruídos misteriosos.
Mas eis que na aldeia pequenina.
O sino toca Avé-Marias.
Badaladas lentas, compassadas,
Trazem para os homens já cansados
Dos trabalhos do campo, tão pesados.
A alegria de um pouco de descanso.
Então o homem ergue as mãos e ora.
Pedindo a Deus o pão de cada dia.
Ajoelha na terra fria, mas amiga,
Deixando a enxada só, no descampado.
E, enquanto o sino tange docemente,
O homem reza no meio do campo semeado.


RELANCE

Agostinho Vidal de Pinho

Vivo? Não sei.
  Encontro-me ?
    Não sei.
      Só sei que me rodeia
        Um mundo sujo
          De prazeres.
            Vícios.
              Ódios.
                Desejos...
                  E eu fujo.
                    Corro.
                      Resisto.
                        E há uma voz que me chama.
                          Que clama.
                            E baixinho me diz:
                              «Vence o Mundo e
                                Serás feliz».
                                    E eu fujo
                                      Do mundo...

 

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08-06-2018