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farol n.º 31 - mil novecentos e sessenta e nove ♦ setenta, págs. 25 e 26.

DESPORTOS

O desporto português
visto por
um jovem

ANÁLISE E COMENTÁRIO

DE JOSÉ LEAL

 

Ao prosseguir os meus artigos do ano passado sobre desporto, vou entrar num capítulo bem difícil de analisar e que grandes polémicas tem suscitado nos articulistas nacionais. Vou tentar fazer um leve comentário acerca da estagnação do desporto em Portugal.

É possível que nem todos estejam de acordo, pois, não se pode agradar a gregos e troianos, mas penso que este problema existe no pensamento da quase generalidade da juventude portuguesa.

Têm surgido várias versões sobre o assunto, mas a que parece mais viável é sem dúvida a falta de mentalização dos pais portugueses para o desporto. São principalmente os pais com uma classe social bem definida que não dão aos filhos um mínimo de regalias para a prática deste. As razões argumentadas são inúmeras. Não quero com isto dizer que não haja excepções, claro! Simpatizo muito pouco com o sentimentalismo exagerado que pretende poupar a juventude portuguesa aos mais leves incómodos. O homem do ar livre há-de sair vencedor da batalha da vida.

Todos os rapazes e raparigas do mundo deveriam praticar qualquer espécie de desporto, porque assim aprenderiam com mais perfeição aquelas lições da vida que tão importantes são para se viver em harmonia. / 26 /

Uma pesada nuvem está suspensa sobre o mundo, apenas porque alguns países, entre os quais Portugal, não aprenderam essas lições.

Um doutorado em medicina e dirigente desportivo, formulou há anos esta pergunta:

– Com igual despesa, qual será a atitude mais criteriosa e prudente: abrir 408 leitos num hospital, ou criar a possibilidade de 27.000 pessoas adquirirem força e saúde, em terrenos de jogos durante 3 horas semanais?

Quem souber responder, que o responda. Eu optaria pela segunda hipótese.

O desporto é o maior meio de aproximação entre homens. Existe um sentimento admirável, comum a todos os que se dedicam a ele. É a mesma onda de brio por algo realizado, que invade o coração de todos os atletas, quer se trate de um campeão de berlinde, ou do campeão mundial de pesos, ou de um mestre de xadrez ou mesmo de um paciente pescador à cana.

Novo ou velho, intelectual ou não, todos eles reconhecem o valor dos aplausos dos seus amigos, e a impressão causada é sempre a mesma, qualquer que seja a linguagem.

Mas passemos ao assunto anterior.

Repare-se no comportamento português nos últimos Jogos Olímpicos. Mais uma facto nos veio mostrar que o desporto português está enfermo.

Comece-se pelas escolas primárias, continue-se pelos liceus, conclua-se nos clubes.

Dêem-se condições e modifiquem a orgânica até agora adoptada e o Desporto Português singrará bem alto, mostrando garbosamente as quinas da nossa bandeira.

Colegas até uma próxima oportunidade.

O vosso amigo:
JOSÉ LEAL (6: F1)

 

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11-06-2018