Flor
OS pingos
tilintam nos beirais. As grossos gotas de água escorrem pelas telhas
e vão cair nos algerozes, juntando-se em torrente. As nuvens, de
tão baixas, quase tocam os telhados, dando uma enorme sensação de
humidade.
Na cozinha, escurecida pela
falta da luz do sol, o bebé grita e
contorce-se com uma birra; quase cai do berço. Sobre o fogão a água
da panela ferve aos cachões, esperando sair dali. No lava louça, uma
desordem: a louça por lavar espera que lhe prestem atenção, enquanto
da torneira um fio de água corre esquecido. Um garoto folheia uma
revista meio rasgada, posta em cima da mesa. Não ligo absolutamente
nada aos gritos do bebé ou à água fervente. O mau-humor lê-se-lhe
no rosto ainda por lavar, demonstrando assim que foi arrancado quase
à força da cama. Lá dentro ouve-se a voz zangada da mãe que ralha.
Uma mão se estende para o bebé que logo se cala. Outra tapa a
torneira; depois abre-a e começa a lavar a louça. Outra ainda apaga
o fogão e tira a água.
A chuva deixa de cair.
As nuvens começam a afastar-se, deixando que
uma réstia de sol penetre nos ruas, nos pátios, pelas janelas. A
água corre ainda pela regueira. Depois os raios de sol dispersos
unem-se, enfiando-se por toda a parte.
Quando entram na cozinha, já o bebé dorme no berço,
a pedra do lava-louças brilha de asseio, o jarro descansa sobre a mesa donde
desapareceu a velha revista, e o chão não tem já migalhas que se
colam aos pés.
Ouve-se apenas o zumbido de uma mosca importuno que voa
quase rente ao tecto. |