José Manuel Feio
(1.º ano)
Certo dia
dirigia-me para o Liceu de autocarro, quando aconteceu a peripécia
que vou contar. Parou o autocarro na
paragem a seguir à passagem
de nível da Estação. Entre muitas pessoas que entraram, entrou
também uma velha. Os seus cabelos eram alvos como neve, as mãos
enrugadas e trémulas seguravam uma saquita.
O cobrador, dirigindo-se à
velha, perguntou-lhe:
– Para onde deseja ir?
– Para Esgueira, tiozinho.
– Para Esgueira?! Para Esgueira, mas o autocarro vai para o Jardim. Agora tem de ir até à
Estação e apanhar lá o autocarro que segue para Esgueira. Por isso
tem de pagar um bilhete de $70.
A velha, com voz trémula e
admirada:
– Ora essa, então vossemecê trata assim uma senhora idosa como eu?!
Seus malcriados, vou já fazer «quexa», e p'ra castigo não pago o bilhete. E é
bem feito. Toma que é para saber. Já paguei muitos bilhetes.
E todo o caminho resmungou, maldizendo a sua triste
sorte. Todas as pessoas se riam
divertidas. A velha para um senhor que ia a seu lado:
– Pois vossa senhoria não «shabe». Que malcriados. Entrei em
Esgueira e quero ir para Esgueira e agora tenho que ir para a Estação. E ainda por cima tenho que pagar o bilhete. Ai! mas não pago
não, «penche» ele. Há-de «ber». E
é muito bem feito, ora não é?!
Mas, por fim, lá pagou o bilhete, muito resignada e muito a custo.
E tudo isto aconteceu por não saber ler. |