João José Silva
Marnoto
É do conhecimento geral
o aparecimento na Natureza de uma extraordinária diversidade de formas
de seres vivos. Porém, todos esses seres vivos, por mais
diferentes que se apresentem
diante da nossa vista, possuem
um importantíssimo carácter comum: todos eles são formados por
certos elementos microscópicos por vezes altamente diferenciados
mas que se assemelham: as células.
Sendo a mais pequena porção de matéria viva
que pode ter vida isoladamente e portanto a mais simples porção daquela matéria, é a
célula duma complexidade tremenda.
Mas talvez seja melhor começarmos pelo princípio. Assim, comecemos
pela descoberta da célula. Remonta essa descoberta ao séc. XVII,
mais precisamente a 1667 e foi observada pela primeira vez pelo
físico Robert Hooke. Claro que para que isso fosse possível temos
que levar em conta a descoberta do microscópio composto em 1590 por
um oculista holandês de nome Zacharie Jansen.
Ora, quando Hooke
observava um pedaço de cortiça ao microscópio,
constatou que esta era não homogénea, como o vidro ou qualquer
outro metal, mas que nela existiam inúmeras cavidades que ele apelidou de células (de
«cella»), nome que a ciência conservou. Porém, Hooke era
físico e não biólogo e por isso não deu grande importância à sua
descoberta. O mesmo aconteceu com Malpighi, contemporâneo de Hooke,
e nem um nem
outro souberam explorar convenientemente a sua descoberta.
A verdade é que isso passou
a ser uma entre tantas teorias e em
breve desapareceu por completo.
Somente passados dois séculos, portanto já no séc. XIX (em
1809) de novo Mirbel levantou o problema e estudou de novo a célula,
se bem que chegasse a conclusões de certo modo erradas. Afirmava ele que era uma
cavidade com liquido numa matéria homogénea sem individualidade
própria.
Foi finalmente Dutrochet (em 1824) que afirmou
a individualidade
das células e que admitiu
que são elas as unidades básicas constituintes dos seres vivos. Mas
quem com a máxima clareza afirmou isso foram Scheiden e Schwann, que viveram na
mesma
época de Outrochet, afirmando que os vegetais são formados por
células, tendo este último feito, passado algum tempo, a mesma
observação acerca dos animais.
Foi este o primeiro grande
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passo. A este seguem-se os restantes. Assim, em 1831 é descoberto o
núcleo por Robert Brown, aparecendo depois os trabalhos sobre
a reprodução celular e mais tarde descobre-se a existência do vacuoma, dos plastas, até tudo
aquilo que hoje se sabe sobre a célula.
E em 1861, finalmente,
Max Schultze, professor de Anatomia na Universidade de Bola definiu
a célula como «uma pequena massa de
protoplasma nucleado» e em 1863 apresentou o protoplasma como a
base física da vida.
Relativamente mais perto de nós (em 1956) o emprego de novos métodos
permitiu a descoberta de novos dados preciosos, como o estado físico da matéria viva e
a sua infra-estrutura (trabalhos de Beachet,
Claude, Palade, entre outros) e pôde pôr em evidência organismos celulares da
ordem dos 0,2 a 0,4 μ.
E a teoria celular é universalmente aceite:
a célula é uma unidade
morfológica e fisiológica; é ela a unidade da vida e é caracterizada pelo seu poder de assimilação-transformação de produtos do meio
ambiente em substância semelhante à sua propriedade
que não possui a matéria inerte.
Podemos considerar que muito pouco sabemos
acerca da célula, mas o
Homem aumenta dia a dia os seus conhecimentos sobre estes assuntos
aumentando e aperfeiçoando o seu saber, mas sempre dentro de certos limites. |