QUANDO
deixámos o porto de Pireus, eram cerca das 16 horas. O rumo era
Alexandria. Passámos ao largo da ilha de Creta, cuja costa nos
acompanhou durante algumas horas. O mar, até aí tão calmo, pareceu
zangar-se, pois a ondulação de bombordo para estibordo
incomodou bastantes peregrinos.
Passados dois dias em pleno mar, chegámos em frente à Alexandria. O
barco foi obrigado a fundear à entrada da barra, em virtude das
manobras egípcias.
Cerca das 11 horas
pisámos o solo Egípcio. Alexandria nos recebia
cheia de luz. Era a primeira vez que contactava com o mundo árabe.
É verdadeiramente fascinante! Alguém de turbante garrido, de pele
tostada oferece-me um passarinho. Olho espantado para semelhante
oferta. Mas mais espantado fiquei, quando vejo o passarinho
dividir-se em dois, para em seguida se transformar num só;
compreendi que estava diante de um golpe de magia. Achei graça, mas
à cautela fui-me afastando, não fosse eu ficar também dividido em
dois.
Antes de partirmos para o Cairo, demos uma volta pela cidade.
Metemo-nos num táxi. Continuámos a presenciar costumes estranhos,
como por exemplo, o motorista beijar o dinheiro.
Alexandria é uma cidade com 1.500.000 habitantes. Além das várias
avenidas fomos visitar os vestígios do templo de Serapis e
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a CoIunata de Pompeu. Atravessámos a Praça da Libertação, e
dirigimo-nos para o Cairo.
Atravessámos todo o delta. Apesar do calor
do estio, é impressionante a fertilidade deste oásis maravilhoso: – algodão,
cereais, tâmaras, frutas tropicais, etc.
Passam as primeiras caravanas. Não resisto; fotografo-as.
Como recompensa, recebo um par de beijos desses homens, que
vivem em casas feitas de terra amassada.
Quando chegámos à capital, um calor sufocante nos esmagava. Mas
nem por isso deixei de contemplar o centro da cidade.
O Nilo, espraiando-se por entre lindas
ilhas paradisíacas, dá à
cidade um encanto extraordinário.
Ao jantar, fui a um restaurante típico. Soube-me mais todo aquele
bulício árabe que a comida a saber a lotus.
No outro dia de manhã fomos visitar
o Museu do Cairo. Não tendo
tempo de o percorrer com todo o pormenor, fixámos a nossa atenção
na galeria reservada às últimas descobertas. Tudo fabuloso, como,
por exemplo, a 2.ª cobertura da múmia do imperador Tutankhamon, que pesa
110 kg em ouro maciço.
Ao princípio da tarde fomos à cidade de Gizela,
onde se
encontram as grandes pirâmides. Embora já conhecesse os dados da
arqueologia, quanto à sua grandeza, não há dúvida alguma que,
ao vermos à nossa frente uma montanha de pedra, com 146 metros de
altura, nos sentimos muito pequeninos.
O guia informou-nos que iríamos visitar com tempo suficiente as pirâmides. Para que esta visita tivesse algo de mais
típico, fomos convidados a montar nos camelos. Confessa que não
contava apanhar um susto tão grande, ao montar o animal, mas
valeu a pena. Penetrámos no interior da pirâmide de Keops, até
à altura de 75 metros. Aí se encontra a câmara funerária com o
sarcófago aberto. Passámos em frente da Esfinge, que embora
mutilada, não deixa de infundir um religioso respeito.
À tarde visitámos as principais mesquitas, pois seria impossível percorrer as 800 existentes na capital. Convidados a calçar
uma espécie de pantufas, penetrámos no interior desses templos
que são verdadeiros hinos de arte ao Deus uno e verdadeiro.
Não podíamos deixar o solo egípcio sem visitarmos alguns
bazares. Foi precisamente nestes lugares de comércio que pudemos apreciar melhor os costumes destes povos. Depois de tomarmos uma bebida em honra do dono da casa, fomos untados nas
mãos e nos braços com as essências mais raras. Assim perfumados, estávamos preparados psicologicamente para as compras. Ninguém
pode resistir à arte e à sedução destes homens. Quase
todos caímos.
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Saboreando a frescura da noite, do terraço do hotel, lancei o último
olhar às pirâmides. Inundadas pelas luzes de potentes projectores,
pareciam desafiar a força dos séculos.
Foi com verdadeira saudade que deixei o Egipto, rumo ao Líbano
– a Suíça do Oriente.
P. Arménio Alves da
Costa |