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farol n.º 15 - mil novecentos e sessenta e quatro ♦ sessenta e cinco, pág. 6.

O que me lembra o toque dos sinos

Maria Teresa S. C. Valente
(5.º ano)
 

Tocam as Avé-Marias!

O pensamento voa para o passado, recua anos.

Numa casa grande e alegre, à beira de um riacho, uma velhinha, curvada e engelhada pelo rigor de muitos invernos, e uma criança, com um grande laço no cabelo, oram de mãos postas.

Estranha coisa: a infância e a velhice, ambas unidas no mesmo louvor à Mãe de Jesus.

Por fim, terminam as orações. A velhinha acaba uma história interrompida: «...e depois o príncipe encontra a princesa, casam-se e são muito felizes».

Oh, um dia, também, ela encontrará o seu príncipe e...

– Gostaste, queridinha?

– Gostei, sim, avozinha.

...E depois...

– Cris, vem-me cá ajudar, por favor.

– Vou já, 'vózinha.

...casará com ele e será muito feliz – Mas, ainda demorará tanto tempo...

– Em que estás a pensar, Cris, que me ensarilhas isto tudo?

– Em nada, 'vózinha.

Pobre cabecinha louca, sonhas com aquilo que é um grande ponto de interrogação: o futuro.

Queres crescer, crescer muito depressa; vês a vida com os teus olhos de criança, olhos de pupilas sonhadoras que não vêem as «sombras»do caminho. Vive alegremente o maravilhoso presente que te rodeia. Talvez que na próxima curva do caminho já vejas alguma sombra e...

– Cris, a tua avozinha foi para os anjinhos.

– E eu não posso ir com ela?

– Não, Cris. Nosso Senhor disse para ela ir sozinha.

...choras, agora, criança? Vês de que serve crescer? Somente se descobrem melhor as «sombras» do caminho.

Tocam os sinos!

Quantas alegrias, quantas tristezas, quantas recordações de momentos felizes que não tornam mais, quantos castelos nas nuvens que caem por terra, quantos mistérios, enfim, revelados no simples som produzido pelo choque dum corpo com outro...

 

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08-06-2018