Rui Marques
(3.º ano)
Um homem
passeava numa rua. Uma rua igual às outras, com cafés, prédios,
novos e velhos, tabacarias e ao fundo, na esquina uma Igreja.
Do princípio do dia vinha a solidão. Uma solidão que enchia a rua,
as pessoas absorviam, pairava sobre os telhados um céu negro, sem
luz.
Mas o homem não notava nada, nem sequer estava triste. Ria, ria
baixo sem vontade, cinicamente, olhando as pessoas de lado com os
olhos negros e brilhantes. E as pessoas que passavam por ele
afastavam-se temerosas e iam falar baixo para a frente da Igreja, e
olhavam de vez em quando para cima, para o cimo da rua, onde o homem
passava e ria.
De repente o homem parou.
Olhou para a parte de baixo da rua, para a Igreja, onde as pessoas,
que desciam a rua, iam conversar. Olhou para os cafés onde poucas
pessoas havia, fumando, com o café à frente, olhou para a tabacaria
onde uma rapariga vendia revistas debruçada sobre
o balcão. Começou subitamente a descer a rua. As pessoas pararam,
olhando para ele.
Quando chegou ao fim da
rua, deu uma gargalhada cruel que
vergastou as pessoas que o olhavam atónitas, com medo; olhou-as,
uma por uma, cinicamente,
com os olhos negros, riu outra vez mais alto, cinicamente, e caiu
com um grito medonho. |