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farol n.º 6 - mil novecentos e sessenta ♦ sessenta e um, págs. 20 e 21.

Divagações de Férias

João Afonso Cristo
(6.º Ano)

NA cidade ou na aldeia, na praia ou no campo, no país ou no estrangeiro, qual é o estudante que após uma jornada fatigante de trabalho, não deseja o repouso e a tranquilidade de umas merecidas férias? Qual?...

Por entre milhares e milhares de estudantes que povoam todos os liceus e demais estabelecimentos de ensino que há pelo mundo, não há, estamos certos disso, não há um único que não deseje ardentemente umas repousantes férias, após mais um ano de contacto com as novas matérias e professores. Um único!...

E assim é que, escaladas que são as íngremes montanhas, passados que são os duros e alcantilados caminhos – que, infelizmente, nem todos conseguem percorrer, pois muitos são os que ficam caídos nas bermas das estradas – assim é que aqueles espíritos, outrora vacilantes, depois fortes e agora vencidos pelo cansaço, se atiram para o prado verdejante e fresco que se lhes oferece e por ar ficam deliciados no prazer que a toda a hora se faz ouvir nos seus espíritos, com o nome harmonioso, suave e musical de férias.

E nesse sono mais ou menos longo, o espírito descansa e a alma sonha, sonha imaginando novos mundos e novas paisagens, – que para alguns não passam de um sonho dourado...

Mas, assim como tudo tem o seu limite, também esse «sono», mais ou menos longo, atinge o seu termo...

E tal como uma voz que pretende ser suave mas que se nos afigura um trovão, uma mão que pretende ser meiga, mas se torna terrivelmente dolorosa, uma campainha que pretende emitir sons musicais, mas que não consegue mais do que um ruído / 21 / catastrófico, assim aquele belo sonho termina por um brusco despertar do espírito que ainda repousava adormecido.

E na frente do estudante que estremunhado acabara de despertar, erguem-se novas e mais íngremes montanhas, adivinham-se mais duros e alcantilados caminhos a percorrer e a vencer. Mas ele sonha ainda, sonha, agora acordado, com o paraíso que se lhe abrirá depois de transpostos novos obstáculos que tem na sua frente.

E ei-lo que se lança de novo corajosamente através dos ásperos caminhos, esperando vencer redobradas dificuldades, confiante num novo atingir da «terra de promissão», esse paraíso onde tudo lhe diz baixinho, como uma canção de embalar: Férias, férias, férias...

 

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06-06-2018