F. DA CRUZ
(7.º ano)
SEM falar nos vastos serviços que Carneiro Pacheco prestou à Nação
como professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade
de Coimbra, como Vice-Reitor da Universidade de Lisboa, como
Embaixador de Portugal no estrangeiro, focaremos apenas algumas das
suas realizações como ministro da Educação Nacional, realizações
essas que nos estão mais ou menos ligadas e que por isso poderão
tornar menos fastidioso o descritivo do trabalho.
Foi Carneiro Pacheco o
homem de acção que não se limitava a estruturar plano, a idealizar
processos ou a criticar programas. Ao mesmo tempo o seu espírito,
ponderado e sereno, sonhava com «Portugal Renovado», por outro lado
ele descia à acção, delineando objectivos concretos e traçando o
caminho mais seguro para os atingir.
O seu espírito de
observação e a visão clara que possuía das realidades,
permitiram-lhe encarar os problemas de frente sem reservas nem
reticências. Só deste modo conseguiu romper com a rotina,
remodelando radicalmente o antigo e adaptando-o às novas exigências.
Todo este exaustivo
trabalho, fê-lo sempre tendo em conta o seu sentido educativo e
Cristão, a que, aliás, subordinou toda a sua actividade.
A reforma do ensino foi,
sem dúvida alguma, o seu empreendimento central e aquele pelo qual o
seu nome é mais conhecido.
A reforma não atingiu
apenas o método do ensino então vigente, mas também a sua
orientação, a sua estruturação geral e até, em certos pontos, os
seus objectivos.
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Se não vejamos:
O velho método, segundo as suas próprias palavras,
limitava-se a fazer «pequenos sábios, sem o mínimo cuidado pela educação
da Juventude». Cuidava-se apenas da instrução do jovem sendo
descurada a sua educação e formação.
E a mocidade, a quem não fora posta a evidência
– a eficácia dos
valores morais, e cuja consciência cívica e patriótica era quase
inexistente, curvava-se, indecisa, ao sabor das primeiras aragens de
teorias e credos doentios.
Carneiro Pacheco substituiu esta simples tarefa de instrução da
Escola por uma missão mais elevada e mais nobre: a missão
educativa, guiada segundo os mais puros e sadios princípios
disciplinadores da moral Cristã.
Por outro lado aboliu o
sistema velho e usado do «Magister dixit»,
criando as sessões culturais, as actividades circum-escolares, e acarinhando dum modo especial todas as iniciativas juvenis,
com o fim de estimular os alunos e criar neles qualidades de trabalho, de iniciativa, de perspicácia, de observação, de
auto-formação que todos possuem em potência mas que, regra geral,
não têm ocasião de descobrir.
Na sua constante preocupação de simplificar esforços e dar ao ensino
um carácter de maior unidade, criou o regime de livro único para as
disciplinas essenciais dos liceus, medida cujo valor e utilidade nós
reconhecemos.
Data igualmente do tempo em que exerceu o cargo de
ministro da
Educação Nacional, a inclusão da disciplina de Organização
Política e Administrativa da Nação no programa do curso
complementar liceal. O ensino secundário passou a chamar-se «liceal»
e as «classes» que correspondiam ao que hoje se chama «anos» foram distribuídas por «ciclos».
Num outro plano, Carneiro Pacheco criou a Junta Nacional de
Educação, o Conselho Permanente de Acção Educativa e o Instituto
para a Alta Cultura, organismos que têm em vista não só a resolução
de questões de interesse cultural, mas ainda actuar com estimulo, à
investigação científica.
Mas se por um lado se preocupava em proporcionar à gente moça uma
cultura intelectual e física que fossem as melhores garantias de um
renascimento pátrio, por outro lado não esquecia que é preciso criar
homens de amanhã que dêem às suas vidas
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um sentido mais coerente, que compreendam a sua verdadeira situação
de homens a cumprir uma missão mais alta e transcendente.
Foi de acordo com este pensamento, irrompendo por entre o emaranhado
novelo de ideias e de princípios que entrechocavam e combatiam, que
surgiu a ideia tão ousada como oportuna de colocar nas escolas, num
lugar de destaque, um crucifixo sem ornatos nem enfeites. Um simples
crucifixo...
«... Todos falavam na Fé e no Império, achavam bem nas
caravelas a cruz de Cristo e nos aviões... mas o próprio Cristo não
era por muitos confessado. Todos louvavam as missões católicas do
Ultramar e a sua oficialização pelo Acto Colonial... mas Cristo
havia de andar arredado das escolas da metrópole.
Todos reconheciam que o comunismo é o inimigo da civilização Cristã, mas não era erguida contra o comunismo a própria
bandeira da civilização cristã: o Crucifixo».
E remata assim:
«Andaram os nossos antepassados a evangelizar o mundo
com santidade e heroísmo e agora o Estado por actos e omissões
andava a paganizar Portugal. E na gloriosa bandeira da nossa Pátria estão as cinco chagas de Cristo...»
Parece-nos ainda ouvir a sua voz repassada de religiosidade
e patriotismo exclamar:
«– Excluir Deus da Escola é coisa abominável.
... Ela há-de ser a escola de portugueses, de portugueses na
exaltação do amor pátrio, de portugueses no fortalecimento da
coesão nacional, de portugueses no espírito de servir a Humanidade
através da Nação.»
Uma das grandes obras do Professor Carneiro Pacheco, foi a
fundação da Organização Nacional da Mocidade Portuguesa, destinada a «estimular o desenvolvimento físico, a formação do carácter
e a devoção à Pátria, no sentimento da ordem, no gosto da
disciplina, e no culto do dever militar.»
Quando surge uma organização deste alcance aparecem
sempre os descrentes a levantar dificuldades, alegando a inutilidade
dos esforços empregados.
Também para esses cépticos, cegos para as realidades, a Mocidade,
além
do mais, é uma coisa escusada e supérflua.
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Carneiro Pacheco reconheceu que nem a Família, nem a Escola, nem a
Igreja poderiam só por si e isoladamente, proporcionar ao jovem a
aquisição duma consciência cívica, social e moral, a par de uma
consciência nacional bem fundada nos princípios do Dever e da Honra.
«Consciência e unidade nacionais, hábitos de coesão e patriotismo
militante, activa confiança nos destinos de Portugal, só poderão
vincar-se bem na Juventude pela vida de uma organização em que ela
caiba até aos mais longínquos confins do Império e que, em todos os
seus graus e no seu espírito seja só Portuguesa.»
Essa organização foi criada por decreto-lei de 19 de Maio de
1936, com o nome de «MOCIDADE PORTUGUESA».
1936...
A Mocidade tem vinte e dois anos. Está jovem; corre-lhe
fermente o sangue pelas veias, transborda vida do seu peito arfante!...
Quem fala em desfalecimentos?! Quem fala em frouxidão?!
... E a Mocidade, fiel à ordem do Chefe, o primeiro jovem
do «Portugal Renovado» «canta» de lés a lés, num coro viril de vozes
puras, em que também entram a do Infante e a de Nun' Álvares, a fé
imperecível nos destinos da Pátria). |