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        É 
        Águeda uma das mais formosas, pitorescas e progressivas vilas do 
        distrito de Aveiro e – por que não dizê-lo? – de toda a província da 
        Beira Litoral. 
         
        Vista do alta da Borralha, de onde a estrada Lisboa-Porto se acomoda em 
        airosa curva, parece Coimbra, com as suas casas em anfiteatro e o rio 
        aos pés, em jeito de carícia à sua zona ribeirinha – o seu Botaréu de 
        lenda, de encanto... de mistério. 
        
        A Igreja, obra arquitectónica dos séculos 
        XVII e XVIII foi erigida no ponto mais alto da vila e domina-a toda. 
        
        À volta do templo, um dos mais ricos da 
        região, um adro espaçoso e bem cuidado é recreio do rapazio gárrulo e 
        buliçoso da Escola Primária ali instalada, e miradoiro excelente, de 
        onde a vista se estende pela amplidão dum vasto horizonte: ao longe, os 
        recortes graciosos do Caramulo, ora alvinitente de neve, ora arroxeado 
        pela urze, ora esfumado pela bruma; mais para Sul, o verde-negro das 
        matas nacionais do Buçaco, a serra heróica da Beira, com suas árvores 
        seculares a desafiar o tempo e o espaço e onde, em cada Primavera, fazem 
        seus ninhos as águias-reais; a melhor alcance dos olhos a policromia dos 
        casais anichados entre verdura, das povoações circunvizinhas; mesmo aos 
        pés, p fertilíssimo e extenso campo de Águeda, postal ilustrado com as 
        aguarelas vivas da Natureza: ora alcatifa macia de viçosos pastos; ora 
        planície escura de húmus revolvido; umas vezes tapete amarelo de 
        delicados pampilhos; outras, enorme manta verde de pujantes e 
        prometedores milharais; algumas, magnífico espelho de água em que a vila 
        se mira, em épocas de cheia, entre delicada e receosa, na contemplação 
        dum cenário, com que a Inverno, em certos anos, mimoseia o povo 
        trabalhador e pacífico do burgo 
        
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        aguedense, e em que o horrível e o belo se dão as mãos em simbiose de 
        maravilha. 
        
          
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            ÁGUEDA  | 
           
          
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             Margem do Rio 
            Águeda  | 
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            Ponte e Praça 
            Conselheiro Albano de Melo | 
           
          
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             Pateira de 
            Fermentelos  | 
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            Parque de 
            campismo em Souto do Rio | 
           
          
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        Em movimento e cor, bulício e vida, trabalho 
        e progresso, Águeda caminha na vanguarda de muitas vilas, e não receia 
        confrontos com algumas cidades do País, ainda que importantes e 
        florescentes. 
        
        Em todos os ramos de actividade, Águeda 
        ocupa um lugar de incontestável relevo: modernos e bem apetrechados 
        estabelecimentos de ensino, desde o primário ao secundário e militar, 
        são frequentados anualmente por algumas centenas de alunos que neles se 
        preparam para a vida; as instalações hospitalares e de saúde podem 
        dizer-se modelares e em franca competência com outras congéneres de 
        categoria regional; as casas comerciais e de modas ficariam bem em 
        qualquer grande cidade, apresentando-se algumas com requintado gosto; as 
        fábricas e oficinas, com maquinaria moderna e da melhor, dão o pão de 
        cada dia a milhares de operários que nelas labutam; cafés primorosamente 
        montados são local aprazível para as horas amenas de lazer e cavaqueira; 
        feiras e mercados onde nada falta, emprestam à vila uma nota de 
        movimento e alegria, e resolvem às donas de casa uma parte apreciável 
        dos seus problemas domésticos; carreiras de caminhetas partem 
        diariamente para algumas das principais cidades do País, ligadas a 
        Águeda por magníficas estradas; o ramal de Aveiro e a linha férrea de 
        Vale do Vouga põem Águeda em contacto, várias vezes por dia, 
        respectivamente, com aquela cidade e com a de Viseu, oferecendo ao 
        turista um panorama variado e sempre novo, ao virar de cada curva. 
        
        Para o turista, nacional ou estrangeiro, são 
        ainda dignos de apreço a Pateira de Fermentelos – essa «lagoa 
        adormecida» que só por si vale o melhor cartaz turístico desta região, 
        tal a rara e indescritível beleza de que se adorna e o encanto de 
        inédito bucolismo de que se reveste – e o parque do Souto do Rio, tão 
        procurado pelos campistas, que parecendo banhar-se nas águas límpidas de 
        Águeda, todo ele é fresca sombra, trinar de pássaros e paradisíaco 
        sonhar. 
        
        J. S. Marques de Queirós 
  
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