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S. João da Madeira

Seguindo (de Oliveira de Azeméis) para o Norte, (pela E.N. n.º 10-1.ª), cruza-se o rincão rústico, de íntimas afinidades minhotas, de Lações, Carcavelos, Ponte de Cavaleiros, e Cavadas do Couto; transpõe-se a ribeira de Ul na velha ponte de Margonça, tão pitoresca no nome como na paisagem (à esquerda, a povoação de Cucujães, à direita, o vale extenso da ribeira, a montante); e, ao fim duma sinuosa subida, pelo pendor oriental do monte de Faria, encontra-se (8 km) no alto, S. João da Madeira, vila, sede de concelho, muito industrial e populosa, do distrito de Aveiro, com 6613 habitantes.
 

Pensão: Sanjoanense; Casas de Pasto: António Valente, Gomes da Costa, Oliveira e Preciosa; Cafés: Café Império e Café Rex; Mercado: Domingos, terças e quintas; Feriado Municipal 11 de Outubro (data da autonomia do concelho); Luz: Electricidade (central hidroeléctrica privativa); Água: Boa e canalizada; Diversões: Teatro-Cine Avenida (800 lugares); Estabelecimento de ensino: Colégio Castilho. Assistência: Hospital da Misericórdia, Asilo de inválidos e Creche infantil; Sociedade desportiva. Associação Desportiva Sanjoanense. Indústrias Numerosas (ver adiante); Meios de comunicação. Diversas carreiras de camionetas; Estação telégrafo postal, com serviço telefónico permanente.
 

A freguesia é antiga; em inquirições do século XIII, há referências à sua existência, apontando-se como parte da Terra de Santa Maria (Vila da Feira). Chamava-se então somente Madeira. A indústria de chapelaria é a actividade mais tradicional e típica da terra. Em meados do século XVIII já se contavam algumas manufacturas de chapéus de lã (ver adiante). Durante a 2.ª invasão napoleónica a sua população foi dizimada por um acto sangrento de represália: como tivesse sido morto em uma emboscada o tenente-coronel Lameth, oficial de ligação das tropas francesas da linha do Vouga com o quartel-general de Soult, este enviou um destacamento sob o comando do general Thomières ao local de operação dos guerrilheiros / 604 / para aplicar duras sanções («un châtiment exemplaire» definiu um oficial memorialista) (1). O castigo exemplar foi o cerco da igreja em um domingo de manhã (17 de Abril de 1809) quando a população nela se encontrava. À saída a população foi quintada, conduzindo-se os sorteados para um campo chamado da Bussiqueira, onde se realizou uma execução sumária, em massa. Da freguesia contígua de Arrifana foram fuzilados 67 mancebos.

Em 1926 a povoação, que então pertencia ao concelho de Oliveira de Azeméis, foi elevada à categoria de sede do concelho. O seu desenvolvimento industrial no decurso dos últimos cinquenta anos tem sido considerável. Edificada num sítio muito saudável, sobre a linha divisória das águas das ribeiras de Ul e Fundões ao longo da estrada de grande trânsito de Lisboa ao Porto (a 32 km SSO desta última), S. João da Madeira possui, com as suas vivendas e construções modernas, fisionomia dum agregado urbano em formação. A sua fonte de riqueza predominante é a indústria de chapelaria. Em tempos a manufactura era principalmente de grandes chapéus sombreiros grossos, de lã, usados pelos alentejanos e os chapelinhos de aba revirada, minúscula, ou de testo, adornados de penas e bandas de veludo (pág. 68), tão característico do vestuário das varinas e mulheres de quase toda a Beira marítima; no presente, fabrica também, e em grande escala, chapéus finos citadinos, de pêlo, de lã e de palha. A maior empresa sanjoanense deste ramo fabril ocupa com as suas instalações, 8000 metros quadrados. No conjunto, o concelho lança para o mercado 65 % da chapelaria produzida no País.

Aliás, na vila há outras indústrias progressivas, de mais recente fundação: fundições, calçado, borracha, malhas, utilidades artísticas, carpintarias mecânicas, objectos escolares, carros e brinquedos para crianças, papel, lápis, colchoaria, guarda-sóis, velas e preparação de arsénico anexa à exploração das minas de pirites arsenicais do Pintor (2 km E.).

A índole industriosa e bairrista da população tem-se traduzido em muitas obras de urbanização e assistência: abertura de avenidas, construção de bairros para operários, fundação dum hospital moderno, plantação dum pequeno templo, rematado em flecha, erigido no ponto mais airoso e meridional da vila, espécie de réplica ao santuário de La Salette que ao fundo, do outro lado do vale verdejante do Ul, se avista, emoldurado nos longínquos pendores da Gralheira e Sever do Vouga. / 605 /


PASSEIOS E EXCURSÕES

1.) – À Vila da Feira (7 km NO.). Castelo de perfil românico, rico de evocações, sobranceiro à vila (ver voI. IV).

2.) – A Espinho (25 km NO., por caminho de ferro; p. 585). Praia muito concorrida e moderna (ver vol. IV).

3.) – A Arouca (27 km E.). Região rústica, fértil e muito interessante como paisagem, dotada de um velho mosteiro; algumas casas antigas solarengas; gente de curiosa entoação no falar, que denuncia a vizinhança da Beira Alta, montemurana. No mosteiro, formoso cadeiral e restos de arte, ao lado do túmulo da venerada infanta beatificada Mafalda (ver vol. IV).

4.) – Ao Porto (30 km NNO.). Capital do Norte de Portugal, com a sua tão característica fisionomia, modelada em granito, cingida pelo sulco profundo do rio Douro (ver vol. IV).

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(1) – A. d’Illens, Souvenirs d'un militaire des armées françaises, dites de Portugal (1827, pág. 198).

 

 

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