Oliveira de Azeméis,
bonita vila de 3079 habitantes, sede de concelho do distrito de Aveiro,
situada num ponto muito airoso e saudável, entre os vales do rio Antuã e
o da ribeira de UI. Rodeia-a uma paisagem rica de relevo e de
arborização densa.
Bibliografia
– Anais do Município de Oliveira de Azeméis, 1909.
– Pensões: Rádio (13 quartos, quarto de banho), Avenida,
Carioca, Grilo, Valente; Restaurantes: SociaI, Jardim; Cafés: Arcádia,
Guarany, Leão, Forte; Mercados: Domingos; Feiras: Dias 11 e 24; Feriado
municipal 24 de Junho; Descanso semanal: Segunda-Feira; Iluminação
Eléctrica (C.ª Eléctr. Port.); Água Canalizada (desde 1906);
Diversões: Cine-Teatro Oliveirense, Clube recreativo; Estabelecimentos
de ensino: Escola Industrial, Escola Livre; Assistência: Hospital da
Misericórdia; Romaria: Festas Saletinas, 2.º domingo de Agosto;
Doces: Zamacóis; Desportos: Campo de jogos (futebol); Pontos de
vista: Mirante de La Salette; Estação na Linha do Vouga; Estações mais
próximas da Linha do Norte: Estarreja (14 km) e Ovar (15 km); Carreiras
de camioneta. Diversas Indústrias: Vidros, papel (Palmaz-Caima),
oficinas de reparação de automóveis, fabrico de noras, skis e
lacticínios.
Dentro do concelho há vestígios de alguns castros
e nota-se a persistência deste toponímico em diversos lugares. O próprio
cabeço
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hoje revestido pelo parque de La Salette designava-se O Monte dos
Castros. O achado do marco miliário na igreja de Ul, a 3 km Sul,
permite inferir que a via militar romana passava por aqui perto. Lêem-se
referências à freguesia no livro das inquirições de D. Dinis, de 1288 e
sabe-se que no séc. XVI era comenda real. A sua elevação à categoria de
vila fez-se somente em 5 de Janeiro de 1779, por alvará de D. Maria I.
Não menos que Albergaria e Águeda, era antes da construção do
caminho-de-ferro, um lugar de obrigatória passagem do Sul para o Norte
do País. A malaposta tinha aqui uma muda e hospedaria. Nas suas
jornadas, nela estacionaram, no século passado, D. Miguel, D. Pedro V
(1860 e 1861), e o príncipe Humberto de Itália (1862). Oliveira de
Azeméis é a terra natal do romancista contemporâneo Ferreira de
Castro.
No meio da Praça ajardinada e principal, cingida do lado
Norte pelo mercado novo, a poente pelo casario de granito antigo, e a
nascente pela avenida de António José de Almeida (aberta com o fim de
poupar ao trânsito urgente as ruas estreitas da vila), ergue-se um
monumento aos Mortos da Guerra de 1914-18 (inaugurado em Novembro de
1930), constituído por um plinto duplo, chanfrado, o mais alto servindo
de apoio a uma esfera armilar e o inferior a uma figura de soldado, de
bronze, obra do escultor Henrique Moreira.
Percorrendo a parte antiga da vila encontram-se algumas
edificações da sua passada fidalguia: no largo da República, sobressai a
casa que pertenceu até fins do último século a um ramo da família Corte
Real, brasonada, com capela e uma agradável escadaria frontal. Tem a
data de 1697. Hoje pertence ao sr. António Alves Moreira. Na rua de
Bento Carqueja (filho do fundador do jornal “O Comércio do Porto”
e natural da terra) outra residência, solarenga, que foi dos Sequeiras e
é no presente do dr. Álvaro de Matos.
A igreja matriz, de S. Miguel, (reedificada em
1863-65) eleva-se num terreiro com escadaria. Na sua face simétrica e
airosa, com portal voltado a nascente e dois campanários bem lançados,
merece um simpático olhar uma movimentada composição de escultura, de
calcário de Ançã, representando, em escala um pouco acima do natural, o
padroeiro, em atitude esbelta e indumentária de guerra, a derrubar o
espírito do Mal, este figurado num homúnculo de feições hediondas e pés
de bode. A concepção e a execução não são destituídas de mérito. Ladeiam
a porta dois painéis de azulejos, com duas cenas da vida de Jesus
(fabrico de Aveiro, 1927). O restante da fachada é revestido de azulejos
cor de pérola.
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No interior, dois apreciáveis valores de arte religiosa: uma escultura
de Crucificado e um retábulo (Ressurreição), óleo do pintor
portuense Marques da Silva.
A principal actividade económica do concelho é a
agricultura; mas é também tradicional, aqui, a indústria dos vidros
(pág. 534), hoje concentrada, a 0,5 km ao Norte da vila, nas grandes
instalações do Centro Vidreiro de Portugal.
De tudo, porém, o que de interessante pode apontar-se na
terra, a primazia pertence à meritória obra de criação de paisagem
local, realizada nos últimos trinta anos pelos oliveirenses, a 1 km NE.
da vila: o parque e santuário de La Salette.
A ideia da edificação do santuário nasceu em 1870, como
promessa de uma prece colectiva ad petendam pluviam. Em 1880
estava concluída a capela. O plano do parque desenhou-o Jerónimo
Monteiro da Costa, director dos jardins municipais do Porto, de
colaboração com o filho José Monteiro da Costa, arquitecto paisagista.
Para se visitar, segue-se a estrada da Carregosa (ramal
da E.N. n.º 27-2.ª) até perto da fábrica de vidros; daqui diverge, para
a direita, o ramal que conduz ao parque. (Interessa subir ao mirante do
santuário; autorização por bilhete ($50), fornecida pela guarda do
templo).
A arquitectura do templo (inspiração gótica ingénua) é
bastante prejudicada pelo material usado (cimento), escusado em uma
região tão rica em granito. Sem embargo, tudo se esquece, mal se atinge
(98 degraus) o varandim da Torre. Em dias límpidos abrange-se daí, em
redor, uma * vista admirável. Ao Norte, parecendo já uma
cidade, descobre-se S. João da Madeira, com o seu casario branco e as
chaminés das suas grandes fábricas; a Nordeste, o vale profundamente
escavado e verde do rio Antuã e os montes acinzentados pela distância de
Arouca; a Este, por detrás do monte arborizado e próximo que separa o
Antuã do Caima, uma fímbria azulada da Gralheira; ao Sul, as jeiras
verdes, em socalcos, de Travanca, de Figueiredo, de Bemposta e as
indefinidas matas de pinheiros da Bairrada; a Oeste, finalmente, a
mancha branca da vila de Oliveira de Azeméis e, ao longe, para além dos
pinhais, a superfície recurva do mar, semelhante a um enorme alfange,
rebrilhando sobre a grande salva de prata da ria.
OUTROS PASSEIOS
1.) – A Vale de Cambra (10 km Este).
O Vale de Cambra é uma larga bacia que começa nas alturas
da Farrapa e termina nas faldas da serra de Castelões ou da Senhora
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da Saúde, sendo limitada ainda pelos prolongamentos da serra de Lordelo,
os declives do Arestal e os últimos contrafortes da serra da Freita.
«Quem – escreveu Raul Proença – vindo de Taninges, na
Sabóia, vence a portela do Châtillon, ou, mais além descendo do cabo de
Mezève para Saint-Gervais, domina a larga bacia de Sallarches, tem no
vale do Arde qualquer coisa do equivalente: simplesmente as montanhas
aqui são menos elevadas e menos ásperas, o vale é mais extenso e a
verdura oferece um viço e um esplendor de que aquelas paragens da Sabóia
não podem dar uma ideia.»
(ver descrição minuciosa na pág. 605).
2.) – A Palmaz (8 km SSE., por um ramal da E.N. nº
32-3.ª).
Percurso extremamente pitoresco. Subida sinuosa, após a
passagem da ponte da Ínsua, até ao lugar airoso da Taipa, na
Macinhata de Seixa. Culturas em socalcos, pequenos casais rodeados de
videiras que pendem das árvores, como no Minho, em luxuriantes festões.
Avista-se o mar, no alto.
Desce-se depois para o vale do Caima. Central eléctrica e
fábrica importante de papel (fabrico de confetti e serpentinas).
Sobre o sussurro das águas e da maquinaria uma paisagem que pela
frescura dos fundos, sabe ainda ao litoral mas, pelos cimos, deixa já
pressentir a Beira severa e montanhosa.
No regresso, subir a Pinheiro de Bemposta, descer à *
ponte da Minhoteira (pág. 550) e tomar a estrada de Estarreja
ao lugar de Santo Amaro. Far-se-á deste modo o mais agradável passeio
circular do concelho, ao todo 33 km.
3.) – Ao Troncal (5 km Noroeste). Paisagem
rústica, com espessos e frescos arvoredos. Segue-se a estrada nacional
ou a linha férrea até (2,3 km) S. Tiago de Riba de Ul. Pequeno santuário
da Campa. Junto da passagem de nível (superior) do caminho de ferro, a
vivenda que foi do escultor Tomás Costa. Em S. Tiago desce-se (estrada
municipal) ao verdejante vale da ribeira de UI. A vertente fronteira é
uma onda de folhagem densa. A montante da ponte, de um arco, que dá a
passagem do vale desenha-se outra ponte, vetusta, quase ao nível dos
lameiros. Da capela das Garreiras, no sítio chamado Vila Cova das
Donas, abrange-se uma agradável largueza que vai desde o casario de
Oliveira de Azeméis à serra de S. Pedro-o-Velho. A pequena distância
alveja o antigo convento de Cucujães. Depois entra-se num denso bosquedo
de pinheiros bravos e depressa se chega ao alto do Troncal, onde
há cinquenta anos ainda existia uma anta. Avista-se a ria de Aveiro e o
mar. (O castro era à esquerda, ao cimo do outeiro; alguns achados
arqueológicos foram daí recolhidos por particulares; da mamoa já não há
sinais. Em baixo encontra-se a aprazível Quinta do Troncal,
cercada de pomares, terrenos ajardinados e de cultivo. Vale a pena
descer e pedir para ver o vale que se domina da vivenda: o *
panorama da ria desde a Costa Nova à praia do Furadouro. A
paróquia rural, de que se avista a igreja ao fundo do sossegado vale –
S. Martinho da Gândara – é a terra natal do Dr. António Luís Gomes, um
dos precursores da Revolução de 1910, ministro do Governo Provisório e
amigo íntimo de António José de Almeida. Da encruzilhada do Troncal
poderíamos subir, à esquerda, por entre espessas matas de eucaliptos e
pinheiros, a outro lugar de vistas muito agradáveis: o alto de
Rebordões e daí regressar por Cucujães ao ponto de partida.
4.) – A Cucujães (5,4 km NNO.) (pág. 587).
Foi a sede de um mosteiro beneditino muito rico e amigo
(século XI), cuja fundação atribuem a Egas Moniz, ‘O Gascão’,
outros a Paio Guterres da Silva e outros ainda a Egas Moniz de Riba
Douro, aio de D. Afonso Henriques. A povoação teria recebido foral de D.
Afonso VI de Leão
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em 1058 e do mesmo a demarcação da terra "coutada" para sustento do
mosteiro. Era o couto de Cucujães que D. Afonso Henriques
confirmou em 1139 e D. João I tomou à sua guarda e defensão em 1387. A
redondeza abrangida pelo privilégio era considerável, como ainda hoje é
verificável se se presta atenção aos nomes dos lugares que conservam a
designação do Couto (pág. 558). O edifício conventual sofreu
diversas transformações, nada restando da traça primitiva. De
interessante subsiste apenas o claustro, de colunas toscanas, de
7 tramos, da reconstrução do século XVII. Em 1832-34 serviu de hospital
de sangue ao exército de D. Miguel. Hoje é utilizado como seminário das
missões ultramarinas. Na sacristia, pequena colecção arqueológica,
reunida e oferecida pelo abade João Domingos Arede, investigador local e
autor de uma monografia acerca da terra.
No largo fronteiro ao seminário, um busto de bronze do
lente de química Ferreira da Silva, obra do escultor Teixeira Lopes. A
vista colhida do edifício sobre o vale da ribeira do Ul é bonita. Mas
muito mais airosa e ampla é a que se contemplará subindo à esplanada de
Santa Luzia ou ao Monte de Castro Recarei. Voltando pela
ponte de Margonça (construída em 1859-61) não se deixará de
apontar a Casa do Buraco, onde D. Miguel pernoitou em 4 de
Outubro de 1832, hoje da família Fijô.
Seguindo para o Norte, (pela E.N. n.º 10- 1.ª), cruza-se
o rincão rústico, de íntimas afinidades minhotas, de Lações, Carcavelos,
Ponte de Cavaleiros, e Cavadas do Couto; transpõe-se a ribeira de Ul na
velha ponte de Margonça, tão pitoresca no nome como na paisagem
(à esquerda, a povoação de Cucujães, à direita, o vale extenso da
ribeira, a montante); e, ao fim duma sinuosa subida, pelo pendor
oriental do monte de Faria, encontra-se (8 km) no alto, S. João
da Madeira, vila, sede de concelho, muito industrial e populosa, do
distrito de Aveiro, com 6613 habitantes.
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