No edifício do convento extinto está instalado o * Museu
Regional (1)
(Aberto todos os dias, no Verão das 10 às 18 horas, e no
Inverno das 11 às 17. Aos domingos encerra às 14 horas. Entrada, por
bilhete, 2$50. Grátis aos domingos e quintas-feiras. Excursões escolares
devidamente
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dirigidas, entrada gratuita. Não há catálogo. Bilhetes postais, com
algumas reproduções, à venda no Museu. Director actual: Dr. Alberto
Souto. Pintor-restaurador: José de Pinho).
Foi fundado em 1911, com o patrocínio do Município, pelo
erudito e crítico de arte aveirense. F. A. Marques Gomes (1853-1931),
que foi o seu primeiro director. Destinava-se primeiramente a recolher o
mobiliário artístico das casas e comunidades religiosas da cidade, então
dissolvidas e encerradas; depois alargou o seu âmbito e enriqueceu-se
com espécies vindas de fora. Recebeu, por exemplo, numerosas peças de
arte religiosa provenientes dos conventos de Lisboa (S. Vicente de Fora,
Salésias, Trinas, Oblatas) e outras, de variada natureza, das
arrecadações do Estado, sem lugar nos museus da capital.
Começando-se a visita pelo rés-do-chão, depois da
igreja e da sala do túmulo, notar a fonte do claustro
cercada de bancos azulejados, as portas laterais e no refeitório
conventual o delicado púlpito de leitura; Capela das Fundadoras,
em cujo sarcófago cruciforme, uma inscrição em caracteres góticos, alude
à obra e aos nomes das iniciadoras. Numa das salas dependentes do
claustro a sala das pedras, com exemplares de esculturas
religiosas obtidas na região: Santíssima Trindade, dos sécs. XIV e XV;
St.º Antão, do séc. XV; Cristo gótico, apóstolos e composições várias do
Renascimento (entre elas o imperador Heráclio [Flavius
Heraclius] conduzindo a Santa Cruz),
denotando influências da escola coimbrã.
Uma cabeça de Jano, encontrada em desaterros no
próprio convento, é a única manifestação positiva conhecida de restos de
cultura romana encontrados em Aveiro (o que aliás não quer dizer que
Aveiro existisse nos tempos romanos), sendo de presumir, à falta de
outros quaisquer restos coevos, que tenha sido trazida de fora, séculos
depois, para o recinto da cidade, sendo certo que a região a leste foi
comprovadamente romanizada.
No cubículo correspondente a uma capela claustral, entre
a sala das pedras e o refeitório, dispõem-se exemplares de
lavabos de pedra, marcos do ducado de Aveiro, picados em
virtude da sentença que levou o último duque ao cadafalso juntamente com
os Távoras, e a pedra de armas do desembargador Queiroz, avô
paterno do escritor Eça de Queirós (pág. 476), proveniente da sua casa
de Verdemilho.
A um canto do claustro, onde ainda valem momentos de
atenção os azulejos que o decoram e que remontam aos séculos XVI e XVII,
vê-se uma estátua giganteia de bárbaro cinzelado: é o Menino Jardim,
na nomeada popular; talvez um Esculápio, como lhe
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chamou o dr. Melo Freitas, proveniente do jardim dos Tavares, senhores
notáveis, cuja casa com seus resquícios dos séculos XVII e XVIII, é hoje
pertença do liceu. O lajeado do piso inferior da crasta revela os
enterramentos das religiosas. Na entrada principal da sala do túmulo,
foi recentemente colocada uma das duas cancelas a que se referiu
Joaquim de Vasconcelos por ocasião da Exposição de Arte Religiosa, de
1895, cancela que foi submetida a restauro. É uma interessante e
graciosa obra de intersiatura e torno, com embutidos, de
inspiração no mobiliário popular das cadeiras e escabelos nortenhos em
via de desaparecimento.
AVEIRO
– FACHADA DO MUSEU REGIONAL
A disposição e o aspecto do resto do andar térreo são
obra da reconstrução e adaptação a que a Direcção Geral dos Edifícios e
Monumentos Nacionais anda procedendo. Os vestíbulos de entrada sofreram
também arranjos que os melhoraram. Os azulejos de painel, que adornam a
entrada, eram da antiga Sé, a roda freirática, do convento das
Carmelitas.
No primeiro andar, sujeito a grande remodelação pelos
trabalhos a que se está procedendo – vários espécimes de talha dourada,
como o grande sacrário do convento de Sá com colunas salomónicas,
tocheiros, lampadários, castiçais, banquetas de altar, credências,
mísulas, imagens em estofo ornadas de pedras;
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grande escaparate envidraçado com faianças populares nacionais, vidros,
peças de porcelana da Vista Alegre, e alguma louça exótica. Quarto
ou cela de Santa Joana, aposento em que faleceu, no dia 12 de
Maio de 1490, a excelsa filha de D. Afonso V, transformado em capela
após a sua beatificação.
No altar, Cristo gótico que, segundo a tradição,
pertenceu à Santa Princesa e alguns painéis referentes à sua vida que,
apesar do evidente anacronismo, têm valor como documentário da
indumentária real e militar dos fins do século XVII. Expõem-se ali as
imagens de Santa Joana e S. Domingos que figuram na procissão da festa
da Santa Princesa, que costuma celebrar-se a 12 de Agosto ou no primeiro
domingo seguinte. No mesmo andar: Capela do Senhor dos Passos;
Capela da Senhora do Rosário, onde podem admirar-se excelentes
miniaturas de cera e um elegante retábulo de altar. Para se atingir esta
última capela passa-se da galeria superior do claustro pelo coro de
cima, onde deve reparar-se na curiosa figuração, por vezes de certa
irreverência, do acharoado posterior do cadeiral; no órgão, que o
grande aguarelista Alberto de Sousa reproduziu num dos seus mais belos
quadros, e no tecto, decorado em estilo oriental.
No mesmo pavimento fica o Tesouro. Embora pequeno,
encerra objectos de ouro e de prata de grande valor real e de notável
merecimento artístico, como a banqueta de castiçais de prata
e crucifixo de prata e marfim, da festa de Santa Joana; o
rosário filigranado de S. Domingos do século XVII; a estátua da
Virgem, os relicários de Santa Joana, as galhetas de
cristal e prata – peças muito conhecidas pela sua repetida representação
gráfica em numerosas publicações de turismo e arte; o cálice com
tintinábulos, do século XV, que pertenceu à Confraria dos
Pescadores, do bairro de Sá, além de várias jóias e utensílios de culto,
como turíbulos, custódias, cibórios, etc.
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(1)
– Por ALBERTO SOUTO.
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