«Em todo
o vasto areal que se estende de Espinho ao Cabo Mondego, a pesca é de
arrasto e grande a abundância de sardinha graúda, média e pequena
ou, por outra, vareirinha, como lhe
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chamam no interior das terras. O areal e mar ensinam e exigem a pesca
colectiva – um grande barco, uma grande rede e uma forte companha, A
saída é perigosa, e, de um momento para o outro, a onda cresce e o barco
não pode abicar. Daí as enormes embarcações, as redes, as cordas e os
bois para as puxar. Para o sul, até Pedrógão, em Lavos, em Buarcos, a
pesca é também costeira e de arrasto, Depois o pescador muda de barco e
de processos. Durante a safra
(1), que dura
oito meses, de Abril ao Natal, leva-se o peixe em cargas pelas estradas
da região, a dorso de cavalgaduras, ou em pequenos carros de bois que o
cargueiro guia pela fala, sem se servir da aguilhada: – Vamos lá...
Então… Eixe... – E o boizinho paciente lá retoma o trilho à voz
conhecida e amiga que o guia e encaminha. Sai para a Bairrada, para a
Anadia, para os hotéis do Buçaco e para as terras longínquas. A todo o
momento se encontra um macho, com dois ceirões em perfeito equilíbrio e
ao lado o homem tisnado e seco, ou a mulher de chapéu redondo e xaile,
correndo pelo areal e pela estrada, com a saia ensacada até ao joelho.»
«São os que levam ao lavrador e ao
jornaleiro enfastiado do pão seco o mantimento, o presigo saboroso. Com
azeitonas, uma caneca de carrascão negro e espesso como tinta, e três
sardinhas, já a vida toma outro aspecto para o homem calcinado e farto
de remover a terra.»
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(1)
– Sazão da pesca. [cfr. fr.
saison 'estação do ano' > port. sazão - HJCO]
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