Poema para Galileo
de António Gedeão (**)
Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano
[1],
[1]
P. – Por que razão o autor se refere a Galileo chamando-lhe "pisano"?
R. – «É uma maneira de ele tratar o Galileu, ele está
a falar-lhe como se fosse um grande amigo, e como os amigos se tratam de
maneiras estranhas ele chamou-lhe velho pisano.»
R. – «Pisano é um nome a que o autor se refere a
Galileu porque ele (Galileu) antes de chegar a ter fama foi muito
sacrificado pela inquisição do seu tempo e Pisano deve ter surgido por
Galileu ter sido um homem muito pisado e humilhado por todos antes.»
aquele teu retrato que toda a gente conhece, em que a tua
bela cabeça desabrocha e floresce sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha
Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício. Disse
Galeria dos Ofícios.
[2]
[2]
P. – Por que razão salvaguarda o autor com tanta veemência que "não
disse Santo Ofício"?
R. – «O poeta diz-nos que o
trabalho de Galileu era tam [sic] importante e bonito que até parecia
santo, (para alguns Galileu é um santo porque descobriu coisas
importantes ele é sábio) mas para o poeta não é o santo oficio, mas é a
galeria dos ofícios, o seu trabalho foi tão importante e valioso que o
poeta diz é a galeria dos oficioso Porque uma galeria é onde se guardam
coisas.»
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada
Florença.
Lembras-te? A ponte Vecchio, A Loggia, a Piaza della
Signoria...
Eu sei... Eu sei...
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudades, Galileo Galilei!
Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita [3] num
relicário.
[3]
P. – Que relação pode ter esta referência à "mão" de Galileo com o modo
como este homem encarou a Ciência?
R. – «Quer dizer que Galileo embora não tivesse um
dedo isso não o impediu de fazer grandes progressos na ciência ou seja
que aquela deficiência foi um "obstáculo" que foi ultrapassado
facilmente por Galileo.»
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa que entraste no
calendário.
Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu, e quantos milhões de homens como eu a quem tu
esclareceste [4],
[4]
P. – Por que razão agradece o autor tanto a Galileo? Que importância
teve este homem no desenvolvimento da Civilização Ocidental?
R. – «O poeta agradece a Galileu e não só o poeta,
todos nós agradecemos, pois ele ensinou-nos muitas coisas, mas é claro
que nem tudo o que ele dizia estava certo, também coitado para o tempo
em que ele viveu (sem máquinas) dizer que os corpos caem tanto mais
depressa quanto mais pesados são, já é um grande sábio, Galileu
observava muito bem as coisas a fazia experiências, só depois então é
que demonstrava a sua tese.»
R. – «(...) Galileu discutiu a "Queda dos Graves" e a
teoria do Heliocentrismo. Provou que a "Queda dos Graves" era devida ao
atrito do ar e não ao peso do corpo e que a teoria do Heliocentrismo [sic]
estava errada, pois a terra não era o centro do Universo, mas girava em
torno de outros astros.»
(1)
Ia jurar – que disparate, Galileo!
– e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação
que os corpos caem tanto mais depressa quanto mais
pesados são.
Pois não é evidente, Galileu?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um
seixo da praia [5]?
[5]
P. – Comenta estas afirmações do autor em relação à queda dos graves,
tendo em atenção a realidade do dia-a-dia, as concepções aristotélicas e
a teoria de Galileo (e, posteriomente, de Newton).
R. – «Galileu afirmava que a "Queda dos Graves" era
devido ao atrito do ar sobre os corpos e não como Aristóteles dizia que
a "Queda dos Graves" era devido à sua massa (peso), ou seja, quanto
maior fosse o peso do corpo mais depressa ele caía. Galileu fez várias
experiências afirmando assim que a "Queda dos Graves" era devido ao
atrito que o ar exercia sobre os corpos (...).»
Esta era a inteligência que Deus nos deu.
Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que estavas sentado num escapelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando um perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido,
em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios [6].
[6]
P. – A que acontecimento se refere este conjunto de
versos?
R. – «À experiência feita na torre de Piza [sic]».
R. – «Acho que é à Inquisição.
Eu não sei a história de Galileu, no entanto, acho que ele pode ter sido
ameaçado a calar-se, se queria viver. Mesmo a ciência não é tão
importante como a vida. Acho também que devido a este facto (se for
verdade o que eu penso) ele tinha vergonha, piedade por outros sábios
que possivelmente tivessem o mesmo destino que Galileu.»
Teus olhos habituados à observação das estrelas [7],
[7]
P. – Qual a razão de ser desta afirmação?
R. – «Habitualmente Galileu observava as estrelas e os
satélites atravéz de um aparelho que ele próprio construiu. Não se é um
dos primeiros microscópios inventados.» [sic]
desceram lá das alturas
e poisaram, como aves aturdidas – parece-me que estou a
vê-Ias –
nas faces graves daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor,
que era tudo tal e qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu
pensamento
livre e calmo,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai, Galileo!
Mal sabiam os teus doutos juízes,
grandes senhores deste pequeno mundo,
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de
braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo [8].
[8] A
P. – Por que razão afirma o autor isto, se os "doutos juízes" estavam
sentados e "parados" na sala de julgamentos?
(2)
R. – «O autor quer dizer que os “doutos juízes”
pareciam estar a correr porque queriam provar que as teorias de Galileo
estavam erradas.»
R. – «Penso que ele afirma isto
no intento de dizer que os juízes se encontravam parados num estádio de
evolução do pensamento e agarrados a este dogmaticamente.»
[8] B
P. – «Em que tipo de movimento (dos que estudaste no presente ano
lectivo) se enquadra o referido nesta parte do poema?
R. – «Movimento aceleradamente variado.» [sic]
Tu é que sabias, Galileo Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer,
homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo, caindo, caindo,
caindo sempre,
e sempre
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos [9]
[9]
P. – Comenta este último conjunto de versos relativamente à afirmação
científica nele contida, escrevendo a(s) equação(ões) que achares
conveniente(s).
R. – «Ai, Galileu Galilei!
Eu não li sobre ti,
Em ti não reparei,
E nesta ficha me perdi.»
[sic].
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NOTAS
(**)
– António Gedeão é o pseudónimo do professor de Física e Química, e
autor de diversas obras didácticas, Rómulo de Carvalho. Entre os muitos
poemas que escreveu destaca-se um, musicado com bastante sucesso: "Pedra
Filosofal". (Nota apresentada aos alunos.)
(1)
– Talvez só os professores de Física e Química o entendam, mas estas
respostas (assim como as referentes à pergunta seguinte) estão repletas
de incorrecções, isto é, disparates.
(2)
– Obviamente que se trata do movimento de "translação" da Terra à volta
do Sol, que dum modo geral se pode considerar como um "movimento
circular uniforme".
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