Se
você não sabia que o célebre Galileo Galilei viveu na era "antes de
Cristo" e que não gostava de ouvir falar em Santo Ofício porque o seu
ofício "não era santo", então não percebe nada de História da Física.
Assim, se quiser ficar a conhecer um pouco mais deste
assunto, deverá entrar em contacto com alguns alunos do 10.º ano desta
escola que após toda uma unidade temática
(1) – Movimento
Uniformemente Variado (acelerado) e Queda dos Graves – analisaram o
"Poema para Galileo" de António Gedeão duma forma assaz curiosa que
adiante se apresenta.
Não podemos deixar de admitir que após a análise das suas
respostas (2)
nos veio à memória a obra "História de Portugal em Disparates" que há
uns tempos apareceu nas livrarias para gozo (e vingança...) de alguns
(nomeadamente professores de História, mas não só), pelo que não
resistimos à tentação de mostrar à comunidade escolar o estado de saúde
da Cultura Geral de grande parte (=maioria) dos nossos alunos,
utilizando o mesmo pretexto.
Se por um lado o fraco nível da referida Cultura Geral se
poderá explicar por um certo imediatismo e superficialismo veiculado por
grande parte dos meios de Comunicação Social
(3) – veículo com
muito mais poder do que a Escola formal – por outro lado há que admitir
que os resultados adiante apresentados reflectem a compartimentação e
não inter-disciplinaridade do ensino formal. Os alunos
não conseguem interligar conteúdos programáticos das diversas
disciplinas do seu curriculum (no presente caso: Física, História,
Filosofia e Língua Portuguesa), porque na verdade não tem sido essa uma
preocupação dos curricula escolares(4)
nem os professores têm parecido preocupados em
estabelecer tais ligaçães(5),
o que leva a acusações, por parte dos alunos, do tipo: «Oh, professor,
então agora temos de escrever [e analisar um poema] na aula de Física?»
Adiante apresentam-se o "Poema para Galileo" (que havia
sido distribuído previamente para leitura em casa) e as perguntas que
sobre ele foram feitas durante um tempo lectivo, depois de terem sido
esclarecidas as (poucas) dúvidas colocadas pelos alunos.
Deixando no ar as "acusações" referentes aos porquês do
actual estado de Cultura dos nossos alunos (e porque não de todos nós?)
passemos contudo aos factos (divertidos) que nos trouxeram aqui, não
deixando de ser pertinente assinalar quão adequadas parecem ser as
palavras do poeta em relação às afirmações proferidas pelos alunos (que
foram "caindo, caindo, caindo sempre e sempre ininterruptamente"...).
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Salvaguarde-se ainda que com o presente exercício (de
humor?) não se pretendeu vexar os alunos em questão – a todos eles o meu
pedido de desculpas pelo facto de não ter pago os direitos de autor –
mas tão só criar um motivo para reflexão a todos os professores.
Paulo Moreira
(* Professor estagiário da Licenciatura em
ensino de Física e Química da Universidade
de Aveiro)
(continua na pág. seg.)
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NOTAS
(1) –
Apresentada numa perspectiva histórica e humanista com a colaboração
interdisciplinar da professora de Filosofia, tendo-se inclusivamente
visionado o vídeo" O Nome da Rosa" para introdução à problemática da
"autoridade suprema" da Física de Aristóteles durante a Idade Média.
(2) – Ou
mesmo desde o instante em que os alunos começaram a colocar as primeiras
dúvidas face às perguntas formuladas confundindo, por exemplo, "teorias
aristocráticas" com "teorias aristotélicas"...
(3) – Como
exemplo dever-se-á reflectir no porquê de um ("bom") aluno desta casa
referir numa composição que "em 25 de Abril de 1974 foi derrubada em
Portugal uma ditadura comunista" (sic). Aos mais chocados recorde-se que
nos últimos anos a "Queda do Leste" parece ter criado a ideia de que só
existem ditaduras de esquerda...
(4) – Tanto não
existe articulação horizontal entre as disciplinas como não existe
articulação vertical: na disciplina de Filosofia a problemática" Galileo
versus Aristóteles" é apresentada no 11.º ano enquanto que em Física é
apresentada no 10.º.
(5)
–
Quem sabe se por limitações (ou deformações) da sua própria Cultura
Geral?
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