OUTONO
O Outono chega pé ante pé e traz consigo o cheiro das castanhas.
O vento fica mais frio, o sol já não tem força para iluminar
e aquecer a terra. Começam a cair as primeiras chuvas. As
estradas, os passeios ficam molhados, e os meus pés congelam
quando passam. O céu, que era claro, agora está de luto.
Na minha janela escorrem gotinhas... A janela fica embaciada, e
veste-se de mil e um bonecos que eu desenho.
Lá fora, as pessoas estão atarefadas com a compra das roupas mais
quentes: correm, correm pelas ruas à procura de abrigo.
O homem das castanhas, sempre, sempre a vender, exclama:
— Quem quer castanhas assadas!? Quem quer? Quem quer? Quentes e
boas! Só vinte e cinco escudos! Compre! Compre!
O seu pregão ouve-se pela cidade inteira. As ruas estão cheias de
cascas. As árvores choram folhas das mais diversas cores que
tecem inúmeros tapetes multicores. Os seus ramos ficam gelados
e a água penetra por elas dentro sem pedir licença.
As árvores ficam despidas todo o Outono e Inverno à espera que a
Primavera chegue para tudo recomeçar.
É assim o meu Outono, é assim que ele sempre será para mim...
DIANA DORA MEALHA HENRIQUES, 7º G
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MEDITANDO
Tudo na vida requer sempre, ou quase sempre, uma pré-organização,
o que leva sempre, ou quase sempre, a uma tentativa quase sempre
frustrada de transformar o quotidiano, organizando assim a
diversificação dos assuntos e da acção.
Só meditando no pensar e no agir é que nós, portadores de uma
certa inteligência, podemos actuar sobre algo que não temos
coragem para derrubar, ou talvez, alterar derrubando. Só unindo
todos os monstros física e psicologicamente capazes de apagar e
destruir todas as mentalidades nocivas e, de alguma maneira,
incapazes de introduzir qualquer dado novo no programa ao qual
nos temos de submeter, é que algum dia poderemos descobrir um
sol apto para iluminar todos os cantos da terra, sem esquecer
obviamente todos os seres humanos, os seres quase humanas, todas
as tentativas e todos os seres animais e vegetais.
Somente no dia em que pararmos de caminhar para os moinhos disfarçados
de monstros, insaciáveis na capacidade de se autodestruírem, só
naquela manhã em que nos levantarmos e caminharmos na mesma
direcção e sentido; só quando se tornar indubitável o êxito
esforçadamente construído; só aí... poderemos falar de mim!
Sabendo que, nas alturas devidas, podemos gritar bem alto, podemos
dizer a alguém o que sentimos; sabendo que conseguimos alterar
o nosso corpo da maneira que queremos; sabendo que gosto de ti o
mais possível sem ter medo de errar... Sabendo que preciso de
algo para viver, algo que necessita de mim, um algo que se
completa determinadamente sem ter de responder a conceitos
bestas sem significado...
Sabendo que sou livre de pensar que penso aquilo que bem entendo
sem ter de compreender os objectivos globais ou individuais dos
outros...
Sabendo tudo isso, e pouco mais da vida, declaro aqui guerra a tudo
o que possa prejudicar ou alterar de alguma maneira a minha
filosofia desconexa mas... minha! Declaro guerra a tudo o que
possa mexer no íntimo das minhas pesquisas universais...
Enfim, resumindo, declaro guerra, quente ou fria, a tudo o que me
possa fazer voltar a viver...
NUNO QUEIRÓS, 11º D
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