JORNAL
N.º 5

DEZEMBRO
1990 Ano III


ESCOLA SECUNDÁRIA HOMEM CRISTO - AVEIRO
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Entrevista 

com o Presidente da Câm. Municipal de Aveiro,
DR. GIRÃO PEREIRA

Conduzida por Rita d’Almeida, Guida, Gonçalo, Nuno Queirós e António Augusto.

 

FOLHA — O senhor Presidente está desde 1977 à frente dos destinos da CMA, vai já para 14 anos – Não se sente cansado?

PRESI. — Naturalmente que ao fim destes anos todos há um certo desgaste físico e anímico. É perigoso quando as pessoas estão cansadas interiormente, quando deixam de ter um ideal, quando deixam de acreditar nas coisas. Neste aspecto eu penso que não estou cansado — continuo a acreditar que Aveiro é uma terra de futuro, que tem muitos problemas para resolver, que pode resolvê-los e que pode desempenhar no contexto nacional um papel importante, quer no sector económico, quer noutros.

Não estou, pois, cansado de entusiasmo, estou sim fisicamente, mas para isso terei que encontrar solução.

FOLHA — Julgamos saber que o Sr. Presidente não é natural do distrito de Aveiro. Gostávamos de saber até que ponto isso tem pesado na forma como tem orientado os destinos da cidade ao longo de todos estes anos.

PRESI. — Sim, como se diz cá na cidade, eu sou serrano, sou beirão. Isso foi bastante vantajoso, pelo menos num aspecto: o facto de não ser de Aveiro, de não ser proprietário de nada em Aveiro, e o facto de não ter ligações institucionais, deu-me uma independência em relação àquilo que é típico de Aveiro — as querelas entre instituições, entre clãs, entre famílias, responsáveis pelo esgotamento de muitas energias colectivas. O facto de ser do interior para mim foi positivo, porque apareci acima de tudo isso. O facto de ter nascido num meio pobre e de ter feito tudo sozinho deu-me uma grande força interior e a coragem capaz para vencer as dificuldades.

FOLHA — Havia ainda o facto de não conhecer os problemas da cidade...

PRESI. — Bom, esse seria um factor negativo, o de desconhecer os problemas, de não conhecer a realidade de Aveiro. E isso assustou-me realmente quando fui eleito em 1977, porque eu não esperava ser eleito, muito sinceramente. Concorri por uma questão de convicção democrática em 1976. Nas primeiras eleições, eu achava que os cidadãos deviam dar a cara; e por isso me candidatei, mas nunca esperei vir a ganhá-las . Quando me vi aqui dentro destas paredes, fiquei angustiado, porque eu não conhecia a realidade do concelho. Mas acho que fiz um esforço e consegui realmente estudar os seus problemas. A época também era favorável a este tipo de lançamentos: havia um grande debate de ideias a nível nacional que hoje não se faz. Apesar de algumas intrigas políticas e críticas destrutivas, sempre tive o apoio das populações, que se manifestou nas maiorias absolutas que obtive a partir daí.

FOLHA — Pode-se dizer que o Sr. Presidente surgiu numa altura em que Aveiro se começava a desenvolver e o seu mérito foi o de dar uma outra velocidade a esse mesmo desenvolvimento?

PRESI. — Sem falsa modéstia, eu penso que tenho o direito de dizer que não. Eu cheguei a Aveiro numa altura, não queria dizer de estagnação, mas em que os problemas se arrastavam há dezenas de anos e eu consegui fazer a inversão desse estado de coisas. Tive a humildade de pegar em projectos antigos, sem dizer que eram meus, e afirmar: “se são válidos, se são bons, porque é que não hão-de ser executados?” Consegui resolver alguns: o espartilho do caminho-de-ferro que impedia o crescimento da cidade, por exemplo. Aqui começou uma fase de viragem de Aveiro (e o mérito não é só meu, agradeço a todas as pessoas que trabalharam comigo) com o aparecimento de novas indústrias, da zona industrial (havia zonas da cidade que não tinham água (as Barrocas), outras não tinham saneamento (caso da Rua José Estêvão)

FOLHA — Falou do desenvolvimento industrial de Aveiro. Não acha que a cidade precisa também muito de se desenvolver culturalmente?

PRESI. — Só há desenvolvimento quando há um crescimento harmónico da sociedade, quando há casas, quando há escolas. A sociedade tem que se desenvolver nos campos económico e cultural — o que é perene são as ideias; o que é físico, as obras, deitam-se abaixo passado uns anos, esquecem facilmente.

Quanto ao desenvolvimento cultural, tenho um conceito de cultura que é diferente do de quase toda a gente: a Câmara não faz cultura, porque a Câmara não tem que fazer cultura. Tem é que criar condições para que os cidadãos façam cultura.

FOLHA — E acha que tem criado essas condições?

PRESI. — Algumas, não todas, naturalmente. Em Portugal nós estamos 20 anos atrasados em relação aos países da Europa: a nossa preocupação ainda é saber onde as pessoas vão construir casa, assegurar o abastecimento de água, melhorar os acessos — quando cheguei à CMA havia zonas da cidade, como o Cabo Luís, onde não ia uma ambulância, onde as pessoas necessitadas de hospitalização eram transportadas em padiolas até à ambulância! E os próximos anos em Portugal ainda vão ser destinados à resolução destes problemas básicos. Não quero com isto dizer que a cultura não é um problema básico, mas temos que encarar este tipo de situações. Gostaria de ser presidente daqui a 20 ou 30 anos, deve ser aliciante nessa altura.

Temos tentado dotar as associações culturais com instalações próprias, já quase todas têm sede, sobretudo as ligadas ao teatro. Este é o nosso primeiro grande apoio. Daí o nosso projecto da Fábrica Campos: metade do edifício vai ser o grande Centro Cultural da cidade, com 30 espaços para as associações culturais. Temos ainda a Biblioteca, em que estamos a investir 300 mil contos; a fundação do Museu da Caça e da Pesca; a recuperação da Galeria Municipal para determinado tipo de manifestações culturais. Há todo um longo caminho a percorrer, para além das duas manifestações que consideramos importantes: a Bienal de Cerâmica e o Festival de Cinema dos Países de Expressão Oficial Portuguesa. Devo salientar ainda a Companhia de Dança e a Orquestra de Câmara de Aveiro, para cuja criação o apoio da CMA foi fundamental.

FOLHA — Falou há pouco na renovada Fábrica Campos, onde serão instaladas associações culturais e outras. Há uma pergunta que não poderíamos deixar de lhe fazer: correm rumores na cidade de que a Câmara estaria interessada na ESC. SEC. HOMEM CRISTO para aí instalar uma Casa da Cultura e outros serviços. É verdade?

PRESI. — Eu quero ser muito franco sobre isso. Acho que não se devem fazer “caixinhas” sobre as coisas, embora às vezes a gente tenha que ter prudência ao falar delas. De facto a CMA está interessada na vossa Escola. Infelizmente não é para Casa da Cultura, é para coisas muito mais comezinhas: funcionamento dos serviços. O problema é este: quando aqui cheguei, todos os serviços estavam instalados nesta casa (Paços do Concelho) Hoje isso é impossível, andamos a alugar instalações aí pela cidade. Há uma realidade que é esta: os Paços do Concelho terão que ser sempre aqui! Como já temos em frente um edifício onde estão o Turismo e o Salão Cultural, precisamos de arranjar uma sede para os outros serviços e eu não vejo alternativa que não seja o edifício da Escola... Ficaria um edifício ao serviço da Autarquia — para isso teria que deixar de ser Escola! Teríamos que fazer uma reconversão das escolas em Aveiro em termos dos próprios professores não serem muito afectados. Por exemplo, a Preparatória João Afonso passaria a ter uma outra função, passaria a receber os “Complementares” e deixaria de ser “Ciclo”. Criar-se-iam novas escolas na periferia que leccionassem o “ciclo”, etc. Eu não sou técnico na matéria, é um estudo que está a ser feito. É verdade, pois, que a intenção de ocupar a Escola existe! Integra-se na nossa preocupação de centralizar os Serviços Municipalizados. Sabemos que é polémica, que tem mesmo suscitado reacções, nomeadamente por parte dos professores, mas é verdade que a CMA está a lutar por isso.

FOLHA Não acha que tem havido uma grande falta de diálogo entre a Câmara e a Direcção da Escola?

PRESI. — Admito que sim. Eu disse uma vez à Senhora Presidente do Conselho Directivo da Escola que quando tivesse elementos concretos falaria com ela, que nada faria sem lho comunicar. Simplesmente eu ainda não tenho elementos concretos nenhuns. Nós não escondemos e dizêmo-lo publicamente, que temos interesse na Escola. Mas a decisão não cabe ao Cons. Directivo e eu mentiria se não dissesse que já tive contactos ao nível do Ministério da Educação. Quando eu tiver dados mais concretos, comunicá-los-ei imediatamente ao Cons. Directivo.

FOLHA — O Sr. tem conhecimento de um ofício enviado pela Directora Regional da Educação, Profª Mota Pinto, no sentido de sossegar a população escolar, contrariando assim as pretensões da Câmara?

PRESI — O problema ainda não chegou ao nível dos serviços regionais do Min. da Educação. Compreendo que a Profª Mota Pinto, com quem entretanto já tive uma conversa ocasional, tenha enviado esse ofício. No entanto, o problema foi posto ao nível do Ministério. É respeitável a posição da Sra. Directora Regional. Eu não conheço esse ofício, conheço apenas um que a Escola enviou à Câmara, sobre cujo conteúdo não me pronuncio, pois estas coisas têm de ser resolvidas com muita calma, com serenidade, sem levantar polémicas.

FOLHA — Falou há pouco na questão do desenvolvimento industrial e nós sabemos quanto isso tem implicações ao nível da poluição da Ria. Gostaríamos de saber, até porque temos alunos na área de Produção Aquática, que projectos existem para atacar este problema.

PRESI. — A Ria de Aveiro é uma realidade única, muito falada. E é um exemplo tipicamente português: há décadas que se fala na poluição, mas nunca se fez nada para atacar a raiz do problema. Em 1985, a Câmara organizou o CONGRESSO DA RIA com o objectivo de fazer o seu diagnóstico. O debate foi feito e existem 2 ou 3 volumes editados com as suas conclusões. Quisemos, na altura, criar uma Associação de Municípios, mas isso não foi possível por razões políticas. Este grave problema tem que envolver os municípios, o Ministério da Indústria, o Ministério do Ambiente, a Direcção-Geral do Ordenamento do Território, a Junta Autónoma do Porto de Aveiro, a Capitania, o Ministério da Agricultura (porque um dos agentes poluidores mais graves da Ria, neste momento, são as vacarias). A despoluição da Ria tem que ser um esforço integrado. Agora apareceu um fundo comunitário, o ENFIREG, que se destina fundamentalmente à despoluição da zona litoral. As Câmaras já não tiveram agora a coragem de dizer que não se associavam e, finalmente, foi constituída a ASSOCIAÇÃO DE MUNICÍPIOS DA RIA (AMR), cujo objectivo fundamental é combater a poluição (com o apoio técnico do Gabinete da Ria de Aveiro, GRlA, com o apoio da Universidade e de outras entidades). Neste momento, a AMR começa a realizar projectos concretos: como é que as Câmaras vão fazer o tratamento dos seus efluentes? Aqui posso dar-vos uma novidade em primeira mão: os esgotos de Aveiro vão passar a ser enviados para dentro da celulose de Cacia. Abandonámos a tese das “Estações de Tratamento” (temos a de Santiago, mas tínhamos mais dois projectos: uma em Cacia e outra em Esgueira), porque os finlandeses descobriram que o efluente doméstico é o melhor para tratar o efluente industrial, ambos se neutralizam através de fenómenos químicos. A AMR tem projectado para 1991 o início da construção de um grande colector, que vai desde Ovar até Vagos, para onde vão ser drenados todos os efluentes, quer domésticos, quer industriais, sendo estes últimos sujeitos a pré-tratamento pago pelas entidades poluentes. Haverá finalmente uma grande estação de tratamento na mata de Vagos, de onde partirá um outro colector que lançará os esgotos no mar, a 2 ou 3 Km da costa.

Estamos, finalmente, a começar a trabalhar na despoluição.

FOLHA — Vai aplicar-se, agora, o principio de que quem polui paga?

PRESI. — O princípio do poluidor-pagador. As indústrias e as próprias Câmaras que sejam agentes de poluição têm que pagar os custos dessa poluição. As próprias Câmaras vão pagar taxas de ligação a este colector.

FOLHA — Aveiro tem fomentado a política de geminação com outras cidades: Arcachon e Bourges são disso exemplo. Que vantagens concretas têm resultado desta cooperação? Não devia ser incrementado o intercâmbio cultural entre os jovens e as escolas das diferentes cidades?

PRESI. — Dentro do actual contexto de aproximação política na Europa, há um grande movimento na política de geminações. Todos os dias nos caem aqui pedidos de geminações por se entender que a Europa só se constrói quando os cidadãos se conhecem. O que é perene são as relações entre os cidadãos. Estas geminações só terão interesse se arrastarem associações de carácter cultural, desportivo e económico. A associação com Bourges foi curiosa, porque partiu do interesse dos próprios emigrantes portugueses, dado que há uma grande comunidade de aveirenses nesta região de França. Os emigrantes sentem-se assim mais apoiados, sentem-se mais próximos da terra-irmã da cidade onde trabalham. Neste momento já há imensas ligações com Bourges: a vossa escola já tem contactos com uma escola de lá; os CTT já têm relações com os correios franceses, há algumas ligações desportivas e culturais.

No domínio técnico, por exemplo, os novos sistemas de rega automática por computador da Baixa de Santo António e do jardim de Santiago foram estudados e projectados em Arcachon, que detém grande experiência no domínio da gestão de jardins.

O que seria ideal, também, era o intercâmbio de jovens que já fizemos com Cidade Rodrigo. Penso que é extremamente importante trazer cá estrangeiros, isso tem um grande valor pedagógico, sobretudo para os que nunca cá vieram. Eles pensam que Portugal é mais atrasado do que efectivamente é — mostrar-lhes a nossa riqueza cultural é uma tarefa nacional!

FOLHA — Pensa, portanto, que com a plena integração de Portugal nas comunidades, com o Mercado Único em 1992, vai ser fundamental esta política de geminações?

PRESI. — Foi criada a ASSOCIAÇÃO AQUITÂNIA-PORTUGAL e ainda há 15 dias aqui esteve numa delegação francesa, que quer comprar azulejos e outros produtos cerâmicos. Esta cooperação económica é muito importante, porque, sejamos realistas, a economia é que movimenta tudo.

FOLHA — Sabemos que esta entrevista já vai longa, mas não queríamos deixar de lhe fazer esta pergunta. É acusado de realizar projectos megalómanos, de pôr em risco a ligação da cidade com a ria, de construir eclusas que funcionam mal, etc. Quer comentar?

PRESI. — Em primeiro lugar, fico muito contente que me critiquem por fazer coisas. Esta crítica é logo um elogio — eu ficaria muito incomodado se me dissessem que eu era um presidente que nunca fizera nada. O presidente tem que arriscar. Em relação aos projectos megalómanos, eu tenho tido cuidado. Algumas pessoas perguntam-me: “quando sair da Câmara, qual é a obra que fica com o seu nome?” Eu não vejo assim as coisas. Preocupei-me em resolver os problemas: água, saneamento, rede viária (Av. Central, ligação à Auto-Estrada, ligação ao IP5). Em relação à ligação ao IP5, a solução adoptada (não por nós, mas pela JAE a quem cabia a decisão) pareceu-nos ser a melhor. A alternativa de passar, juntamente com a linha de Caminho-de-Ferro pelo meio das marinhas era mais perigosa e muito mais cara. Qualquer hesitação naquele momento era arriscada, porque o problema poderia arrastar-se e ainda hoje andaríamos às voltas com o assunto. Não poderíamos alimentar querelas com a Administração Central, porque esta dizia-nos imediatamente que tinha mais onde investir o dinheiro. Portanto, este traçado, não sendo da responsabilidade da CMA, tem o seu parecer favorável, parece-nos o menos mau... Havia ainda um outro pelo sul, que atravessava Aradas, a zona lagunar e a mata da Gafanha, uma loucura!

Quanto às eclusas, é o projecto que mais prazer me dá em Aveiro. Era uma ideia já com 50 anos e eu decidi acabar com o problema do mau cheiro, pois Aveiro tinha uma má imagem. Só que isso doeu a muita gente: um projecto já antigo, muito bonito, foi concretizado por nós...

FOLHA — Mas de vez em quando ainda cheira mal!

PRESI. — O grande elogio das eclusas é esse: é que quando há necessidade de as abrir, volta a cheirar mal e as pessoas refilam contra as eclusas... O que elas estão a querer dizer é que sentem a falta das eclusas!

Disseram-se perfeitas barbaridades! Que as eclusas iam provocar tuberculose em Aveiro, que iam criar reumatismo, inundações... As eclusas permitem é controlar as inundações que se faziam sentir, antigamente, nas casas da beira-mar, quando havia marés vivas!

FOLHA — O Sr. Presidente é, logo após o Dr. Lourenço Peixinho, aquele que mais tempo esteve (e está) à frente dos destinos da CMA. Pretende ficar para a cidade como um novo Lourenço Peixinho, uma espécie de Marquês de Pombal em versão aveirense?

PRESI. — Olhe, há muita gente que me acusa de ser modesto de mais. Dizem-me que depois de tanto tempo à frente da Câmara, eu deveria ter uma outra postura a nível local e até no contexto nacional. Eu penso que ser Presidente da Câmara é uma missão, é um serviço à comunidade e é um risco.

Quanto ao meu nome ficar ligado à cidade ... o meu trabalho fica na cidade, eu fiz alguma coisa da história da cidade, bem ou mal. Falou no Dr. Lourenço Peixinho, mas eu acho que o Dr. Álvaro Sampaio é injustamente esquecido. O Dr. Lourenço Peixinho foi um grande Presidente da Câmara, fez o concreto, embora por vezes o abrir uma avenida leve a deixar o nome ligado à cidade... Há tempos, um cidadão dizia-me assim: mas você ainda não rasgou uma avenida como a Dr. Lourenço Peixinho!

FOLHA — Mas está a rasgar a Avenida Central...

PRESI. — Só o Bairro do Liceu tem duas avenidas Lourenço Peixinho, para não falar na Av. Central,.. Há muitas “avenidas Lourenço Peixinho” por aí, e no entanto este foi um grande Presidente de Câmara.

FOLHA — Já imaginou a Av. Central vir a ser designada Avenida Dr. Girão Pereira?

PRESI. — Isso é engraçado! Queria ser sincero: algumas pessoas têm lançado essa que me choca um bocadinho... Eu pedia às pessoas que esquecessem o assunto. Qualquer dia, para acabar com isso, vou propor eu um nome para a avenida!

FOLHA — Ainda não pensou nisso?

PRESI. — Não, ela ainda não está feita... Aliás, a Av. Central é composta por uma série de ruas que têm nome e que vão ser destruídas...

FOLHA — Como sabe, o Governo está a preparar um diploma que visa limitar o número de mandatos dos autarcas. Se esta lei vingar, este será o seu último mandato. Quer comentar?

PRESI. — Eu quero dizer-vos mais: este seria sempre o meu último mandato. Este meu 5º mandato é já um mandato de risco. De maneira nenhuma eu voltaria a ser candidato.

Quanto à lei, acho-a perfeitamente inaceitável, iníqua, dando por lei ordinária inelegibilidade a cidadãos (presidentes de câmaras, vereadores, presidentes de junta)! Eu acho isto uma afronta à Democracia, para além das questões de inconstitucionalidade... A não ser que se queira fazer aquilo que se faz nos E.U.A., onde os partidos não podem apresentar candidatos nas eleições autárquicas para não se assistir à excessiva partidarização da política local.

Esta é uma lei para afastar alguns numa altura em que o partido do poder perdeu influência — esta é que é a verdade!

FOLHA — Não sente que esta limitação de mandatos o obriga a deixar a sua obra incompleta, projectos por realizar?

PRESI. — Mal do presidente de câmara que tenha uma obra completa! Nunca se fecha um ciclo no fim de um mandato. Há sempre projectos que estão em execução e outros que é urgente começar!

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