C.J. - Como decorreu a Rio 92?
C.B. - Correu bem, mas podia ter corrido melhor, isto é, houve países
que apresentaram propostas muito interessantes, decidiram-se
coisas que agora estamos a verificar que foram importantes,
mas podia-se ter ido mais longe, porque isto do ambiente, de
facto, é cada vez mais importante, e ainda há países no
mundo, infelizmente, que julgam que conseguem, à custa dos
nossos recursos naturais e da degradação do ambiente,
melhorar o desenvolvimento, quando na realidade, isso não é
verdade. Para nos desenvolvermos convenientemente, também
temos de cuidar do ambiente. E ainda houve países no Rio que
não tinham percebido isso. Houve pois decisões que se deviam
ter tomado, e que, infelizmente não se tomaram. Na próxima
reunião de certeza que será melhor.
C.J. - Relativamente ao buraco na camada de ozono, qual a sua
gravidade para Portugal?
C.B. - É preciso dizer que isto de buraco na camada de ozono é
uma situação que tem de ser vista na sua perspectiva muito,
muito, concreta. Não é assim de repente que aquele buraco
aparece, e a existência do buraco não significa que
imediatamente as pessoas cá em baixo sofram os seus efeitos.
Isto tem que ser visto a longo prazo. Não é de um dia para o
outro, nem é por as pessoas se exporem ao sol que vão
morrer.
Onde é que ele apareceu? Na Antárctida. Portanto, no Pólo Sul; e
é aí que de facto a situação se pode considerar
complicada. Já há mesmo alguns animais que lá vivem que
começaram a sofrer os efeitos do buraco de ozono. Agora, no Pólo
Norte, umas vezes existe maior concentração de ozono; e
diz-se buraco, só porque a concentração de ozono se
encontra numa percentagem menor do que aquela que seria desejável.
Não existe um buraco como se fosse num tecido.
A situação do Pólo Sul é muito mais grave que a do Pólo Norte.
Até este momento, não há nenhuma indicação técnica nem
científica de que os países do norte da Europa - a
Inglaterra, a Dinamarca, a Holanda, a Suécia e a Noruega -
estejam a ser afectados. Portanto, eu espero que Portugal também
ainda não tenha nenhum problema e que as pessoas ainda possam
ir para a praia, devendo, como é habitual, ter sempre o
cuidado de usar um filtro solar para não queimarem muito a
pele.
C.J. - Os rios estão a tornar-se bastante poluídos. Que medidas
estão a ser adoptadas?
C.B. - Há rios que estão poluídos, porque todos nós produzimos
poluição. Quando digo nós, refiro-me a todos sem excepção.
E os nossos esgotos, quando vamos à casa de banho e abrimos a
torneira da bacia, aquela água vai parar ao esgoto. Estes
esgotos que as Câmaras Municipais têm que tratar, quer os
industriais, quer domésticos, são todos lançados aos rios.
Aqui temos que ver quem tem competência; e quem deverá
tratar é exactamente quem polui: devem ser os industriais a
tratar os seus esgotos e devem ser as Câmaras a tratar os domésticos.
Infelizmente isso não tem sucedido tanto quanto nós gostaríamos.
Mas, felizmente, também já começa a haver muito maior número
de indústrias e de Câmaras Municipais que tratam dos seus
esgotos. No entanto ainda temos muitos rios poluídos.
O rio menos poluído da Europa é o rio Paiva, que por sinal até
fica no distrito de Aveiro. Portanto, nós ainda estamos numa
situação que, comparada com a de outros países, ainda não
é das piores.
Eu costumo dizer que poluir é fácil: basta só largar uma
porcaria qualquer num rio. Despoluir é que é mais difícil e
moroso. Naqueles rios em que o ministério está a trabalhar,
quer obrigando as indústrias, quer as Câmaras Municipais a
tratá-los, já se gastou muitíssimo dinheiro, mas,
infelizmente, ainda não atingiram o grau de despoluição
desejável.
C.J. - Já há algum plano para o tratamento da ria de Aveiro?
C.B. - Já existe um plano para o tratamento da ria de Aveiro, que
se chama «Plano Ria». Esse plano foi aprovado pelo governo e
foi pedido à associação de Municípios da Ria de Aveiro
(constituída por 10 municípios à volta da ria, que vão
desde Ovar a Mira) para o pôr em prática. Esse plano é
bastante grande. Vai desde estações de tratamento de
esgotos, até um grande colector que apanha os esgotos todos
das cidades, das vilas e das aldeias, assim como os esgotos
das indústrias. Depois trata os esgotos todos e lança-os no
mar, em vez de os lançar na ria. Há também o tratamento dos
lixos, redução da poluição das indústrias. Este plano já
se iniciou em 1992 e para ele conseguiram-se 2.5 milhões de
contos. Todavia, só dentro de algum tempo começaremos a ver
os seus efeitos, sendo para isso que todos nós colaboremos.
C.J. - Em relação à Europa Portugal tem boas condições
ambientais?
C.B. - Sim. Portugal é um país que em termos Europeus tem os
menores índices de poluição. Atenção: tem, no entanto,
situações complicadas em áreas do ambiente. Por exemplo, na
área do tratamento dos esgotos das cidades, somos o país com
a menor percentagem de tratamento. Por isso é que temos
alguns rios tão poluídos. Em relação à poluição atmosférica,
temos o melhor ar da Europa, recebendo aqui em Aveiro aquele
ventinho que todos nós aqui conhecemos bem, principalmente no
Verão, e que nem sempre nos deixa estar com prazer na praia.
Em relação à ocupação das praias, temos zonas costeiras
ocupadas de uma maneira completamente selvagem. Somos talvez
uma das áreas da Europa onde existe maior número de ocupações
selvagens.
C.J. - Os espaços verdes estão a diminuir devido a alguns incêndios
florestais. Como pensa pôr fim a esta tragédia nacional?
C.B. - Isso é uma tragédia nacional e infelizmente não é fácil
acabar com ela. Não é fácil, porque passa muito pela consciência
das pessoas. Os incêndios, depois de deflagrarem, são muito
difíceis de controlar. Só a acção de todos poderá pôr
fim a eles. A competência destes casos é do Ministério da
Agricultura e da Administração Interna. Nós apenas
colaboramos com eles, competindo-nos actuar nas chamadas áreas
protegidas. Para elas temos viaturas, postos de vigia,
auto-tanques, etc. Estamos equipados para aí podermos actuar.
C.J. - Cada vez são destruídas mais florestas e mais rios poluídos.
Há alguma legislação que multe severamente as fábricas
para que não poluam o ambiente e adquiram o devido material?
C.B. - Há legislação desde 1990 que obriga todas as indústrias
a tratar os seus resíduos poluentes, sendo multadas quando
prevariquem. Ainda há pouco tempo o Ministério do Ambiente
aplicou multas de 200 mil contos a algumas unidades fabris.
Mas mais do que multar, o que é importante é evitar que se
polua.
No Ministério do Ambiente, o lema para estas questões é: P. P.
R. (Preservar, Prevenir, Recuperar).
C.J- - A falta de água no Alentejo tem vindo a agravar-se,
provocando secas nas colheitas e morte de alguns animais. O
Ministério do Ambiente já tomou alguma medida?
C.B. - Em termos de água em Portugal, tem-se vindo a fazer uma
grande campanha de sensibilização. Vê-se com frequência na
T. V. o «spot» alertando as populações para o problema da
poupança de água. Tal como aí se diz, ela não cai do céu.
No Alentejo há que fazer uma série de obras. Têm-se feito vários
investimentos em barragens. Portugal é um país que tem muita
água no Norte e pouca no Sul. Vamos ter que transferi-la do
Norte para o Sul. Vamos buscá-la ao Douro, passamo-la para o
Tejo e deste para o Guadiana. Pelo caminho, vamos distribuindo
água às populações que dela precisem para regar. Estão a
fazer-se grandes investimentos para permitir que os próximos
anos sejam diferentes deste, não só para as pessoas do
Alentejo como da Beira Interior e Trás-os-Montes, que também
têm sofrido os efeitos da seca. Relativamente aos problemas
das culturas e do gado, é ao Ministério da Agricultura que
compete a solução. O Ministério do Ambiente poderá ajudar
com autotanques no transporte da água para alimentar o gado e
regar algumas culturas. No entanto, a prioridade é a de
abastecimento público, i. é, a água que nós bebemos em
casa. Até agora, tem-se conseguido que todas as populações
tenham água potável em casa.
Ana Sofia Neno Leite,7º D |