JORNAL
N.º 11

JUNHO 1993  Ano V


ESCOLA SECUNDÁRIA HOMEM CRISTO - AVEIRO
COLABORA NO ENRIQUECIMENTO DO TEU JORNAL

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Poluição

 

Passatempo

 

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da 1ª página

 
 

 












Entrevista a Carlos Borrego

C.J. - Como decorreu a Rio 92?

C.B. - Correu bem, mas podia ter corrido melhor, isto é, houve países que apresentaram propostas muito interessantes, decidiram-se coisas que agora estamos a verificar que foram importantes, mas podia-se ter ido mais longe, porque isto do ambiente, de facto, é cada vez mais importante, e ainda há países no mundo, infelizmente, que julgam que conseguem, à custa dos nossos recursos naturais e da degradação do ambiente, melhorar o desenvolvimento, quando na realidade, isso não é verdade. Para nos desenvolvermos convenientemente, também temos de cuidar do ambiente. E ainda houve países no Rio que não tinham percebido isso. Houve pois decisões que se deviam ter tomado, e que, infelizmente não se tomaram. Na próxima reunião de certeza que será melhor.

C.J. - Relativamente ao buraco na camada de ozono, qual a sua gravidade para Portugal?

C.B. - É preciso dizer que isto de buraco na camada de ozono é uma situação que tem de ser vista na sua perspectiva muito, muito, concreta. Não é assim de repente que aquele buraco aparece, e a existência do buraco não significa que imediatamente as pessoas cá em baixo sofram os seus efeitos. Isto tem que ser visto a longo prazo. Não é de um dia para o outro, nem é por as pessoas se exporem ao sol que vão morrer.

Onde é que ele apareceu? Na Antárctida. Portanto, no Pólo Sul; e é aí que de facto a situação se pode considerar complicada. Já há mesmo alguns animais que lá vivem que começaram a sofrer os efeitos do buraco de ozono. Agora, no Pólo Norte, umas vezes existe maior concentração de ozono; e diz-se buraco, só porque a concentração de ozono se encontra numa percentagem menor do que aquela que seria desejável. Não existe um buraco como se fosse num tecido.

A situação do Pólo Sul é muito mais grave que a do Pólo Norte. Até este momento, não há nenhuma indicação técnica nem científica de que os países do norte da Europa - a Inglaterra, a Dinamarca, a Holanda, a Suécia e a Noruega - estejam a ser afectados. Portanto, eu espero que Portugal também ainda não tenha nenhum problema e que as pessoas ainda possam ir para a praia, devendo, como é habitual, ter sempre o cuidado de usar um filtro solar para não queimarem muito a pele.

C.J. - Os rios estão a tornar-se bastante poluídos. Que medidas estão a ser adoptadas?

C.B. - Há rios que estão poluídos, porque todos nós produzimos poluição. Quando digo nós, refiro-me a todos sem excepção. E os nossos esgotos, quando vamos à casa de banho e abrimos a torneira da bacia, aquela água vai parar ao esgoto. Estes esgotos que as Câmaras Municipais têm que tratar, quer os industriais, quer domésticos, são todos lançados aos rios. Aqui temos que ver quem tem competência; e quem deverá tratar é exactamente quem polui: devem ser os industriais a tratar os seus esgotos e devem ser as Câmaras a tratar os domésticos. Infelizmente isso não tem sucedido tanto quanto nós gostaríamos. Mas, felizmente, também já começa a haver muito maior número de indústrias e de Câmaras Municipais que tratam dos seus esgotos. No entanto ainda temos muitos rios poluídos.

O rio menos poluído da Europa é o rio Paiva, que por sinal até fica no distrito de Aveiro. Portanto, nós ainda estamos numa situação que, comparada com a de outros países, ainda não é das piores.

Eu costumo dizer que poluir é fácil: basta só largar uma porcaria qualquer num rio. Despoluir é que é mais difícil e moroso. Naqueles rios em que o ministério está a trabalhar, quer obrigando as indústrias, quer as Câmaras Municipais a tratá-los, já se gastou muitíssimo dinheiro, mas, infelizmente, ainda não atingiram o grau de despoluição desejável.

C.J. - Já há algum plano para o tratamento da ria de Aveiro?

C.B. - Já existe um plano para o tratamento da ria de Aveiro, que se chama «Plano Ria». Esse plano foi aprovado pelo governo e foi pedido à associação de Municípios da Ria de Aveiro (constituída por 10 municípios à volta da ria, que vão desde Ovar a Mira) para o pôr em prática. Esse plano é bastante grande. Vai desde estações de tratamento de esgotos, até um grande colector que apanha os esgotos todos das cidades, das vilas e das aldeias, assim como os esgotos das indústrias. Depois trata os esgotos todos e lança-os no mar, em vez de os lançar na ria. Há também o tratamento dos lixos, redução da poluição das indústrias. Este plano já se iniciou em 1992 e para ele conseguiram-se 2.5 milhões de contos. Todavia, só dentro de algum tempo começaremos a ver os seus efeitos, sendo para isso que todos nós colaboremos.

C.J. - Em relação à Europa Portugal tem boas condições ambientais?

C.B. - Sim. Portugal é um país que em termos Europeus tem os menores índices de poluição. Atenção: tem, no entanto, situações complicadas em áreas do ambiente. Por exemplo, na área do tratamento dos esgotos das cidades, somos o país com a menor percentagem de tratamento. Por isso é que temos alguns rios tão poluídos. Em relação à poluição atmosférica, temos o melhor ar da Europa, recebendo aqui em Aveiro aquele ventinho que todos nós aqui conhecemos bem, principalmente no Verão, e que nem sempre nos deixa estar com prazer na praia.

Em relação à ocupação das praias, temos zonas costeiras ocupadas de uma maneira completamente selvagem. Somos talvez uma das áreas da Europa onde existe maior número de ocupações selvagens.

C.J. - Os espaços verdes estão a diminuir devido a alguns incêndios florestais. Como pensa pôr fim a esta tragédia nacional?

C.B. - Isso é uma tragédia nacional e infelizmente não é fácil acabar com ela. Não é fácil, porque passa muito pela consciência das pessoas. Os incêndios, depois de deflagrarem, são muito difíceis de controlar. Só a acção de todos poderá pôr fim a eles. A competência destes casos é do Ministério da Agricultura e da Administração Interna. Nós apenas colaboramos com eles, competindo-nos actuar nas chamadas áreas protegidas. Para elas temos viaturas, postos de vigia, auto-tanques, etc. Estamos equipados para aí podermos actuar.

C.J. - Cada vez são destruídas mais florestas e mais rios poluídos. Há alguma legislação que multe severamente as fábricas para que não poluam o ambiente e adquiram o devido material?

C.B. - Há legislação desde 1990 que obriga todas as indústrias a tratar os seus resíduos poluentes, sendo multadas quando prevariquem. Ainda há pouco tempo o Ministério do Ambiente aplicou multas de 200 mil contos a algumas unidades fabris. Mas mais do que multar, o que é importante é evitar que se polua.

No Ministério do Ambiente, o lema para estas questões é: P. P. R. (Preservar, Prevenir, Recuperar).

C.J- - A falta de água no Alentejo tem vindo a agravar-se, provocando secas nas colheitas e morte de alguns animais. O Ministério do Ambiente já tomou alguma medida?

C.B. - Em termos de água em Portugal, tem-se vindo a fazer uma grande campanha de sensibilização. Vê-se com frequência na T. V. o «spot» alertando as populações para o problema da poupança de água. Tal como aí se diz, ela não cai do céu. No Alentejo há que fazer uma série de obras. Têm-se feito vários investimentos em barragens. Portugal é um país que tem muita água no Norte e pouca no Sul. Vamos ter que transferi-la do Norte para o Sul. Vamos buscá-la ao Douro, passamo-la para o Tejo e deste para o Guadiana. Pelo caminho, vamos distribuindo água às populações que dela precisem para regar. Estão a fazer-se grandes investimentos para permitir que os próximos anos sejam diferentes deste, não só para as pessoas do Alentejo como da Beira Interior e Trás-os-Montes, que também têm sofrido os efeitos da seca. Relativamente aos problemas das culturas e do gado, é ao Ministério da Agricultura que compete a solução. O Ministério do Ambiente poderá ajudar com autotanques no transporte da água para alimentar o gado e regar algumas culturas. No entanto, a prioridade é a de abastecimento público, i. é, a água que nós bebemos em casa. Até agora, tem-se conseguido que todas as populações tenham água potável em casa.

Ana Sofia Neno Leite,7º D


CIDADE

A cidade é artificial e desordenada:
Amontoado de betão, ferro e cimento,
Antro de movimentos, sons e odores.
Os terraços dos prédios tocam nas nuvens negras.
A sua altura é infinita.
O fumo permanece no ar.
O dia é escuro e a noite
Não é estrelada.
Os cheiros entram nas nossas narinas como invasores.
O ruído é uma constante;
A agitação perturba-nos.
Os sentimentos nem chegam a ser tépidos.
São sentimentos sem melodia,
Sentimentos sem compreensão.
O seu sabor é amargo nas ruas,
Doce nas lojas,
Áspero nos bairros de lata
Macio nas grandes mansões.
Tem prazer na lisura da areia na praia
Mas rugosidades nas estradas
Nos becos sem saídas.

Texto colectivo do 10º D                           Início da página


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