Viviam encantadas da vida a brincar, a crescer, a comer
diligentemente os pulgões da faveira e a namorar.... Até que
de repente se sentiram agarradas por umas mãos delicadas, que
as transportaram para outra faveira.
- Porquê? Nesta não estávamos bem? Realmente, mudaram-nos de
casa e estamos a ver tudo aos quadradinhos verdes!! Porque
será? Hã! Tem em volta uma rede verde... Mas assim não
podemos andar livremente. Bem, mas também nenhum dos nossos
inimigos nos come... Inspeccionemos o novo local. Tem pulgões
à farta. Não serão demais? Não parece que consigamos comê-los
todos.
- Olha! Anda ali outro casal como nós, Afinal já temos companhia.
E também estão a namorar.
- Credo, o que é isto? Está tudo a abanar. Já parou. Ficou mais
quente de repente (olha fiz um verso). Começou um ruído
parecido com o motor do tractor, mas este é mais suave. A
faveira está a andar! e cada vez vai mais depressa!! É a
primeira vez que nos acontece tal.
E a faveira andou alguns quilómetros até que parou.
- Que sossego! Mas já abana de novo e parece que vai a subir de
degrau em degrau. Uma porta abriu e fechou. A faveira vai
andando juntamente com uns tacões de sapato. Parou. Vê-se o
céu através das janelinhas verdes. Está ameno, nem quente
nem frio. Também não está vento. Se não fosse a rede até
que parecia a antiga casa, lá no campo. Quer dizer: isto aqui
deve ser a casa da dona dos tacões dos sapatos. Não deixa de
constituir mistério o motivo da nossa vinda para aqui.
- Parece que aqui ficam bem, Carla.
- Penso que sim, Rosa.
- Melhor que no cubículo do Clube de Ecologia, onde quase não há
luz nem arejamento - diz a Sara.
- Agora vamos ver se conseguimos levar a nossa experiência até ao
fim.
- Sara e Carla, é bom que não nos esqueçamos de regar a faveira
para não secar; as joaninhas têm bastantes pulgões para se
alimentarem; e como já acasalaram, resta-nos esperar que
ponham os ovos.
Passaram-se três dias.
- Acho que estou grávida - diz a joaninha - Vou pesquisar um bom
local para o nascimento. E começou a procurar.
Seis dias após o acasalamento, a joaninha começou a pôr ovos.
- Sara, - diz a Rosa - a Joaninha já pôs os ovos. São
amarelinhos. À volta de quarenta.
- Que maravilha - diz a Carla.
- Lembras-te da primeira vez em que a faveira morreu? - perguntou a
Sara. A professora Eugénia pôs as joaninhas numa das suas
plantas que tinha pulgões, suponho que uma Yuca. Todas as
joaninhas fugiram, menos uma que ficou sempre na Yuca, pelo
menos uns seis dias; e ao fim desse tempo depositou nela os
ovos. Só depois se foi embora de vez! Mas teve o cuidado de
procurar um sítio onde as larvas, quando saíssem dos ovos,
tivessem alimento perto. Não achas formidável? Só foi
embora depois de pôr os ovos e num local apropriado para
assegurar um bom futuro aos filhos.
- É verdade, diz a Rosa, a Natureza tem tudo muito bem programado.
- Pois é, mas a grande quantidade de pulgões com a qual a
joaninha não contava deu cabo de tudo. Quando os ovos começaram
a mudar de cor e nós pensávamos que estaria próxima a eclosão,
nada aconteceu. E quando fomos observar melhor, vimos que os
pulgões estavam demasiado fortes e famintos e a Yuca não
lhes bastava. Então atacaram os ovos e só deixaram o invólucro.
E assim se inverte a ordem da Natureza: os ovos do predador
foram devorados pela presa. Pobre da joaninha! Pensava ter a
sua descendência assegurada... E a Carla, relembrando-se,
entristeceu.
- Sim, acrescentou a Sara, e nós pensando que poderíamos assistir
à evolução dos ovos, ao desenvolvimento de novas joaninhas
para as levar para uma estufa onde iriam substituir os
pesticidas, devorando os pulgões que estragam as culturas, e
assim completar a experiência que nós tínhamos imaginado
fazer no Clube de Ecologia, dentro do tema “Luta biológica”.
- Com efeito, esclarece a Rosa, os efeitos dos ataques dos afídeos
(pulgões) são muito numerosos e gravosos, quer porque
absorvem a seiva das plantas, quer porque constituem óptimos
vectores de vírus das plantas. Em Portugal, calcula-se que em
1985 causaram prejuízos da ordem dos oito milhões de contos.
São ainda a causa de fomes em países subdesenvolvidos,
constituindo verdadeiras pragas.
- O combate a estes insectos (pulgões), acrescenta a Carla, feito
por luta química, torna-os resistentes, mas o mesmo não
acontece aos seus predadores que são mais sensíveis - as
joaninhas - e daí a necessidade urgente da luta biológica
para restabelecer o equilíbrio.
Deixando os comentários das alunas do Clube de Ecologia, vamos
voltar aos acontecimentos na faveira e à luta entre as
joaninhas e os pulgões. A joaninha tinha acabado de pôr os
ovos e ...
- Aqui devem ficar bem.
- Também já fiz o mesmo, disse a outra joaninha. Mas estou a
ficar preocupada. Os malvados dos pulgões estão a aumentar,
a faveira a morrer, e as nossas irmãs já encontraram um orifício
na rede por onde conseguiram fugir. É provável que tenhamos
que fazer o mesmo.
- Vamos tentar aguardar mais algum tempo.
No dia seguinte.
- Não adianta aguardar mais. Já não há hipótese. Os pulgões são
cada vez mais, a faveira não resiste e aqui não temos
futuro.
- Tens razão. Vamos então procurar a mesma falha na rede por onde
fugiram as outras e vamos embora também. Esperemos que os
nossos filhos consigam encontrar uma faveira saudável, com
pulgões para se poderem alimentar, mas não como esta praga
aqui que tudo destrói.
- Sara e Carla, exclama a Rosa, aconteceu tudo de mau outra vez. Os
malvados dos pulgões voltaram a comer os ovos das joaninhas.
Estes pulgões procedem como donos e senhores do mundo das
plantas, principalmente quando eles são em número excessivo
relativamente às joaninhas. Eles dão cabo das plantas.
- Pois é, para o ano temos que tentar de novo, aproveitando os
ensinamentos recolhidos agora e modificando alguns parâmetros
para tentarmos, nós e as joaninhas, obter sucesso.
E foi assim a história das joaninhas, neste ano de 1993, no Clube
de Ecologia da nossa Escola, quando tentámos enveredar por
uma experiência de Luta Biológica, com a criação de pulgões
e joaninhas. Para o ano esperemos que as coisas sejam
diferentes. Desejem boa sorte às joaninhas!
O Clube de Ecologia
Alunos do 9º G: Carla Cristina, Rosa Alexandrina, Sara
Maria, Sérgio
Professoras: Eugénia
Reis, Lurdes Magalhães |