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Henrique J. C. de Oliveira, Gramática da Comunicação, Col. Textos ISCIA, Aveiro, FEDRAVE, Vol. I, 1993, 311 pp., Vol. II, 1995, 328 pp.


I

Gramática da Comunicação
 

 

O conceito de Gramática e sua origem. Diferentes tipos de gramática: a gramática tradicional, normativa ou prescritiva; a gramática estrutural; a gramática gerativa ou generativa. O conceito de comunicação.

 

Sob a designação Gramática da Comunicação poderemos englobar um vastíssimo campo de conhecimentos que ultrapassa, de longe, tudo quanto se encontra incluído na síntese programática. A nossa reflexão deverá começar desde logo pelos vocábulos presentes no título proposto, ou seja, deveremos começar por ver o que se entende por Gramática e por Comunicação.

 

GRAMÁTICA

Palavra de origem grega (grammatiké), cujo sentido era, originalmente, o mesmo de literatura. Divergindo posteriormente para dois campos diferentes, o vocábulo apresenta actualmente diversos sentidos, ainda que relacionados entre si.

Um simples dicionário da língua portuguesa apresenta‑nos as seguintes definições: 

 

«(Lat. grammatica < gr. grammatiké) – estudo dos factos da linguagem falada e escrita, bem como das leis que a regulam; arte de bem escrever e falar; livro que contém  as regras peculiares a uma língua.»

 

Vejamos outras definições de gramática, recorrendo a dicionários especializados de carácter linguístico.

 

Diz‑nos o Dicionário de linguística e gramática de J. Mattoso Câmara Jr.[1]:

«Estudo de uma língua examinada como "sistema de meios de expressão" (Saussure, 1922, 185).

Mais estritamente é o estudo dos morfemas ou morfologia, e dos processos de estruturação do sintagma. Pode‑se acrescentar o estudo dos traços fónicos, e da grafia correspondente, que permitem a apreensão linguística pela distinção acústica dos elementos enunciados, na língua oral, e, na língua escrita, a leitura do texto. Trata, portanto, a gramática: a) dos fonemas e sua combinação; b) dos morfemas e sua estruturação no vocábulo (sintagma lexical); c) dos sintagmas de vocábulos. Daí as suas três partes gerais, respectivamente: a) Fonologia; b) Morfologia; c) Sintaxe.

Ao lado desta gramática propriamente dita, chamada descritiva[2], porque se propõe fazer a descrição da língua, há a tradicional gramática normativa, apresentação do que estabelece numa língua dada a sua disciplina gramatical; é neste sentido que se diz de alguém que – fala ou escreve sem gramática.

Finalmente, nos estudos de diacronia linguística chama‑se gramática histórica à apresentação metódica da história interna de uma língua; isto foi feito, pela primeira vez para o português, pelo professor suíço Jules Cornu (Cornu, 1888). Ainda no estudo diacrónico há a gramática comparativa, quando se aplica metodicamente o comparatismo a uma família linguística, restrita ou lata. A língua portuguesa entra na gramática comparativa das línguas românicas (família restrita) e na gramática comparativa das línguas indo‑europeias (família lata).»

 

Se consultarmos o Dictionnaire de Linguistique[3], vamos encontrar diferentes sentidos para gramática. Vejamos o que nos é dito nesta obra:

«O termo gramática tem várias acepções de acordo com as teorias linguísticas; podem‑se reter quatro principais.

1A gramática é a descrição completa da língua, isto é, dos princípios de organização da língua. Comporta diferentes partes: uma fonologia (estudo dos fonemas e das suas regras de combinação), uma sintaxe (regras de combinação dos morfemas e dos sintagmas), uma lexicologia (estudo do léxico) e uma semântica (estudo dos sentidos dos morfemas e suas combinações). A gramática é o modelo de competência.

2A gramática é a descrição dos morfemas gramaticais  e lexicais, o estudo das suas formas (flexão) e das suas combinações para formar palavras (formação de palavras) ou frases (sintaxe). Neste caso, a gramática opõe‑se à fonologia (estudo dos fonemas e das suas regras de combinação); confunde‑se com o que se chama também uma morfossintaxe.

3A gramática é a descrição dos morfemas gramaticais (artigos, conjunções, preposições, etc.), excluindo os morfemas lexicais (nomes, adjectivos, verbos, advérbios de modo), e a descrição das regras que regem o funcionamento dos morfemas na frase. A gramática confunde‑se então com a sintaxe e opõe‑se à fonologia e ao léxico; ela comporta o estudo das flexões, mas exclui o estudo da formação das palavras (derivação).

4Em linguística gerativa, a gramática de uma língua é o modelo da competência ideal que estabelece uma certa relação entre o som (representação fonética) e o sentido (interpretação semântica). A gramática duma língua  L  gera um conjunto de pares  (S, I)  em que  S é a representação fonética de um certo sinal (o Som) e I a interpretação semântica ligada a esse sinal pelas regras da linguagem. A gramática gera um conjunto de descrições estruturais que englobam cada uma uma estrutura profunda, uma estrutura de superfície, uma interpretação semântica da estrutura profunda e uma representação fónica da estrutura de superfície.»

 

No final do verbete sobre os conceitos de gramática, a mesma obra manda o leitor consultar o dicionário acerca dos diferentes conceitos: gramática gerativa, gramática contrastiva, gramática de correspondência, gramática descritiva, gramática do emissor, de interpretação de frases, normativa, do receptor, etc.

Além destes diferentes tipos de gramática referidos e para os quais a obra consultada nos remete, encontramos ainda outros modelos, tais como a gramática funcional, a gramática estrutural, a gramática valencial e a gramática relacional.

De maneira bastante sucinta, vamos ver em que consistem apenas as gramáticas tradicional, estrutural e gerativa.

 

Gramática tradicional ou também normativa ou prescritiva, embora o primeiro rótulo seja actualmente o mais utilizado, é um modelo de gramática que propõe ou prescreve regras para um bom uso da língua. Dentro deste rótulo de tradicional podem‑se incluir todas as gramáticas escritas desde há vinte séculos atrás, como a Arte Gramatical de Dionísio de Trácia, até aos nossos dias. São designadas tradicionais porque utilizam os mesmos princípios utilizados na descrição da língua grega e latina e que se mantiveram, com as devidas alterações, nas línguas novi‑latinas.

Segundo os modernos linguistas, as gramáticas tradicionais falham em vários aspectos, quer pelo seu carácter nocional e essencialista, quer pela grande multiplicidade de critérios utilizados nas definições, as quais não são mais do que um conglomerado de dados nocionais, formais e funcionais.

Além de inconsistentes e confusas, segundo os especialistas, falham por diversos aspectos, de entre os quais se destaca: não têm em conta a língua em uso, impondo uma norma que é geralmente a dos escritores do século passado; não têm em conta o código oral; dão predominância à morfologia, negligenciando a sintaxe; apresentam definições, regras e explicações de carácter lógico‑semântico pouco explícitas ou mesmo pouco aceitáveis; etc.  Embora sejam consideradas pouco satisfatórias por estas e outras razões invocadas, a verdade é que constituem ainda, segundo pensamos, um valioso auxílio e um ponto de partida para quem pretenda aprofundar os conhecimentos linguísticos.

Por gramática estrutural entende‑se uma nova concepção de encarar os problemas linguísticos. O vocábulo estrutural aplica‑se não só à gramática, mas à linguística em geral, englobando diversas correntes. As gramáticas estruturais constituem uma etapa evolutiva entre as gramáticas tradicionais e a gramática gerativa.

Há uma grande variedade de gramáticas estruturais; no entanto, todos os estruturalistas têm como característica comum considerarem que a linguagem deverá ser estudada por si própria com métodos especificamente elaborados.

A designação de estrutural provém de estrutura que, no domínio linguístico, designa um conjunto constituído por elementos que mantêm relações entre si. Os estruturalistas consideram unicamente as combinações sintácticas dos vários elementos constituintes das frases, tendo em conta apenas as relações formais. Consideram a frase como o conjunto passível de estudo, constituído por elementos cujas relações procuram definir. Assim sendo, consideram dois tipos de relações: paradigmáticas ou formais e sintagmáticas ou funcionais.

Dentro do estruturalismo, deverá referir‑se o estruturalismo distribucionista, corrente linguística norte‑americana representada por Bloomfield e Harris, que procura definir as categorias gramaticais a partir dos tipos de distribuição dos diferentes elementos que constituem a frase.

Para chegarem às diferentes categorias gramaticais, os estruturalistas vão subdividindo as frases nos seus constituintes imediatos, até chegarem às unidades mínimas, procurando depois estabelecer as relações entre eles. Daqui resulta a obtenção de esquemas fáceis de visualizar em forma de árvores, o que tem a vantagem de permitir uma fácil compreensão. Todavia, quando se trata de frases mais complexas, geram‑se problemas de difícil solução.

A gramática gerativa ou generativa surgiu a partir de 1957 com a publicação da obra de CHOMSKY, Syntactic Structures, [CHOMSKY, Noam‑, Structures Syntaxiques, Paris, Éditions du Seuil, 1969], que resulta de uma simbiose entre a gramática tradicional e a estrutural.

Segundo Chomsky, todos os sujeitos falantes têm a capacidade de produzir frases originais, não sendo de maneira nenhuma meros repetidores de frases ouvidas e memorizadas. Daí que o importante será descobrir os mecanismos que permitem essa criatividade do falante.

Chomsky tem em conta duas teorias que pretendem explicar a enorme riqueza linguística de todos os sujeitos falantes: a teoria mecanicista ou materialista e a teoria mentalista  ou inatista.

A teoria mecanicista ou materialista considera que a variedade da conduta humana se deve ao facto do corpo humano constituir um sistema completo dotado de plenas capacidades. A teoria mentalista ou inatista considera que a variabilidade da conduta humana se deve à intervenção de um factor não físico, existente em todo o ser humano desde o seu nascimento, fazendo com que as respostas de um indivíduo sejam imprevisíveis.

Chomsky opta pela segunda teoria, considerando, portanto, que toda a actividade linguística não se limita à reprodução de frases ouvidas e armazenadas pela memória, mas a todo um conjunto de aptidões inatas complexas, que predispõem o indivíduo para a aquisição da linguagem e descoberta das regras que a regulam, tornando‑o, não um mero repetidor, mas um ser dotado de criatividade.

A gramática gerativa apresenta um conjunto de princípios de entre os quais se destacam:

1º ‑ o da competência linguística do falante ‑ todo o sujeito falante possui um conjunto de saberes que lhe permitem produzir e entender frases nunca antes emitidas;

2º ‑ o da capacidade de ele estabelecer três tipos de juízos acerca das frases emitidas: a)- juízos de gramaticalidade ‑ permite saber se uma frase pertence ou não à língua;  b)-juízos de sinonímia ‑ determina se duas ou mais frases podem ter a mesma interpretação; c)- juízos de ambiguidade ‑ determinam se a uma frase correspondem duas ou mais interpretações.

Além destes três tipos de gramáticas referidos, existem ainda outros modelos, tais como a gramática funcional, a valencial e a relacional. Para informação sobre as mesmas e também para um maior desenvolvimento das informações aqui apresentadas, aconselha‑se a consulta de um dicionário de linguística ou a leitura do capítulo V do trabalho de Maria Ângela Resende, A Gramática e a aula de Português (Reflexões e proposta de um modelo gramatical adequado), 1ª edição, Lisboa, Plátano Editora, 1987, páginas 53‑73.

Da análise dos diferentes textos sobre o conceito de gramática, para além de diferentes terminologias para conceitos afins ‑ é o caso da noção de morfema, cujo conceito apresenta pequenas divergências de escola para escola[4] ‑, poderemos verificar que existem diferentes tipos de gramática e, como tal, diferentes perspectivas para o seu estudo. Façamos um balanço dos diferentes tipos referenciados:

gramática

/
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<
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\

descritiva

tradicional ou normativa

histórica

comparativa

estrutural

gerativa ou generativa

contrastiva

funcional

valencial

relacional

de correspondência

do emissor e do receptor

de interpretação de frases

Qualquer um destes tipos de gramática tem como objectivo um melhor conhecimento de todas as regras ou princípios que regem uma determinada língua, nas suas diversas perspectivas, permitindo ao sujeito falante uma tomada de consciência da actividade que realiza e permitindo‑lhe uma melhor comunicação com os seus semelhantes. Em suma, todas visam uma maior competência do sujeito falante no domínio da comunicação. E, assim sendo, teremos de formular toda uma série de questões a que teremos de responder: o que se entende por comunicação?  Como é que esta se processa?  Limitar‑se‑á apenas aos seres humanos?  Caso contrário, em que se distinguirá a linguagem humana da linguagem animal?  Que tipos de factores entrarão em jogo no acto da comunicação?  Que funções lhes serão inerentes?  Qual o resultado dos actos de comunicação?  Que tipos de textos poderemos encontrar?  Como e quando surgiu o instrumento de comunicação que hoje utilizamos, ao qual damos o nome de Português, e que permite que toda uma vasta comunidade, espalhada por vários continentes, possa comunicar entre si?  Que tipos de textos poderemos produzir durante os nossos actos de comunicação?  Haverá regras ou técnicas que permitam melhorar a nossa capacidade de comunicar e que permitam também enriquecer e tornar mais expressivos os textos criados por nós?

Temos, em conclusão, toda uma série de questões, todas elas pertinentes, que irão constituir a matéria dos capítulos seguintes e que nos permitirão uma melhor consciencialização e aumento da nossa competência comunicativa.

             

COMUNICAÇÃO

Em vez de recorrermos a um dicionário da língua para a definição deste vocábulo, será preferível iniciarmos a nossa reflexão começando por encontrar palavras da mesma família. Na origem de comunicação encontramos o vocábulo comum.  Para indicarmos o acto de tornar comum, temos o verbo comunicar. E temos comunicado para indicar aquilo que se comunica; comunidade para indicarmos a área onde a comunicação se processa:

comum  ‑ comunicar ‑ comunicação ‑ comunicado ‑ comunidade

Comunicação é, pois, a actividade que consiste em tornar comum uma ideia, um desejo,  uma informação, uma ordem. Esta actividade implica, por isso, a existência de mais do que um indivíduo: aquele que comunica e aquele ou aqueles a quem é transmitido o comunicado. 

Mas, para que a comunicação possa processar‑se, é necessário um conjunto de factores diversos, que não se limita à simples existência de dois sujeitos comunicantes. Significa isto que o fenómeno da comunicação é uma actividade bastante complexa, cujos mecanismos frequentemente nos escapam, apesar de, a todo o momento, estarmos a realizar actos de comunicação.

Antes, porém, de começarmos a enriquecer os nossos conhecimentos e de passarmos a adquirir uma maior consciência de uma actividade tão frequente e tão indispensável para todos nós, vejamos que informações nos são fornecidas por outros estudiosos deste assunto.

 

Comunicação, segundo J. Mattoso Câmara, op. cit., pág. 77, é o «intercâmbio mental entre os homens feito por meio da linguagem [o destaque é nosso] ou da mímica. A TEORIA DA COMUNICAÇÃO a estuda em todos os seus aspectos, que são muito complexos no mundo moderno (cfr. telefone, telégrafo, rádio, fala ao microfone, etc.).  Essa teoria, que é um ramo da Engenharia, desenvolveu certos conceitos, que são aproveitados em linguística, como  ‑  mensagem, código, redundância,  encodização, decodização (sic), ruído.»

Se recorrermos ao Dictionnaire de Linguistique, verificamos que os dados fornecidos sobre comunicação já não apresentam a condensação informativa encontrada na citação anterior;  encontramos, pelo contrário, quatro páginas relativamente desenvolvidas sobre o assunto, que não iremos transcrever. Limitar‑nos‑emos a umas breves citações, já que todo o assunto terá de ser por nós analisado de maneira pormenorizada. Diz‑nos este dicionário (pp. 96‑97)  que a comunicação é um intercâmbio «verbal entre um sujeito falante, que produz um enunciado destinado a um outro sujeito falante, e um interlocutor de quem solicita a escuta e/ou uma resposta explícita ou implícita.» E, no plano psicolinguístico, é «o processo durante o qual a significação que um locutor associa aos sons é a mesma que o auditor associa a esses mesmos sons.»  Após esta breve definição de comunicação, o mesmo dicionário desenvolve alguns aspectos ligados à mesma, tais como a situação de comunicação, o estatuto da comunicação, etc.

Feita esta primeira abordagem do conceito de comunicação[5], estamos já sensibilizados para a complexidade e, sobretudo, para a importância de conhecermos, com uma certa profundidade, toda a série de conceitos fundamentais relacionados com o fenómeno da comunicação.  No entanto, na vida prática, no nosso dia‑a‑dia, para podermos comunicar com eficácia,  é‑nos indispensável, não apenas o conhecimento teórico, mas igualmente a aquisição de técnicas de trabalho que nos permitam o acesso aos conhecimentos, tais como: saber onde adquirir as informações e conhecimentos que nos são indispensáveis, ou seja, saber informar‑se, adquirir algumas técnicas simples para arquivo da informação, utilizar adequadamente os meios auxiliares que nos permitem uma utilização correcta da nossa língua (dicionários, prontuários ortográficos, gramáticas, etc.), saber ouvir, ler e tomar notas adequadamente, aprender a descobrir num texto a estrutura de desenvolvimento seguida pelo seu autor, aprender a distinguir o fundamental do acessório, reduzindo‑o às suas ideias‑chave, ou seja, aprender a resumir ou condensar as informações contidas nos textos, conhecer o conjunto de regras ortográficas vigentes na língua em que nos expressamos, etc.

 

Sugestão de trabalho 1

Após a leitura de todo o primeiro capítulo, controle a sua aquisição de conhecimentos procurando responder às seguintes perguntas:

1 ‑Qual a origem e o sentido original do vocábulo  «gramática»?

2 ‑Quais os sentidos referentes ao vocábulo «gramática» segundo o Dictionnaire de Linguistique?

3 ‑O que entende por gramática tradicional?

4 ‑Quais os outros nomes dados à gramática tradicional?

5 ‑Quais as críticas feitas à gramática tradicional?

6 ‑O que entende por gramática estrutural?

7 ‑Quando surgiu e quem criou a chamada gramática gerativa ou generativa?

8 ‑Quais as teorias tidas em conta  por Chomsky ?

9 ‑Defina cada uma das duas teorias anteriores.

10 ‑Quais os dois grandes princípios em que se baseia a gramática gerativa?

11 ‑Refira outros tipos de gramáticas.

12 ‑Escreva todas as palavras da família de «comunicação» que conhece e indique o sentido de cada uma.

13 ‑Dê uma definição de «comunicação».
 


[1] J. MATTOSO CÂMARA, Dicionário de Linguística e Gramática, Petrópolis, Editora Vozes, Ldª, 1977, pág. 130.

[2] O destaque dado a certos vocábulos é da nossa autoria e tem apenas por objectivo permitir uma mais fácil apreensão pelo leitor de determinados elementos.

[3] Dictionnaire de Linguistique, Librairie Larousse, 1973, pág. 238.

[4]Para Mattoso Câmara, parece inferir‑se que os morfemas são o conjunto de vocábulos ou lexemas de uma língua. O segundo texto distingue dois tipos de morfemas: os gramaticais e os lexicais. Das várias noções existentes sobre este problema, parece‑nos mais acessível e clara a apresentada por outros linguistas. Lembremo‑nos, por exemplo, das noções apresentadas por Rodrigues Lapa, na sua obra Estilística da Língua Portuguesa. De acordo com ele, poderemos deduzir que os lexemas são as palavras que constituem o léxico de uma dada língua. Este conjunto de vocábulos divide‑se em dois tipos de lexemas: os semantemas, palavras de significado pleno, isto é, palavras cuja carga semântica é máxima, como é o caso dos substantivos, adjectivos, verbos, numerais e pronomes; os morfemas, instrumentos gramaticais formados por elementos de ligação, relação e precisão, tais como os artigos, as preposições, as conjunções e, por vezes, os advérbios, os numerais e os pronomes.

Assim sendo, os morfemas gramaticais correspondem aos morfemas desta última noção, enquanto os morfemas lexicais corresponderão aos semantemas.

[5]Leia‑se o texto extraído de Herculano de Carvalho, Teoria da Linguagem, Coimbra, Atlântida Editora, vol. I, pág. 25, que constitui um complemento informativo para a noção de comunicação. Como actividade complementar de trabalho, após a leitura, procure efectuar o resumo do seu conteúdo.

«Assentando em que pela linguagem o homem comunica ou (apenas) exterioriza alguma coisa, devemos determinar o que é isto que assim é comunicado ou exteriorizado.  Antes porém convirá que nos detenhamos um pouco a considerar qual seja a própria essência do que chamamos comunicação, em que consistirá essencialmente o fenómeno que é o comunicar, no qual vemos o homem empenhado com os seus semelhantes.

Quando afirmamos que os homens comunicam, implicitamente afirmamos duas realidades complementares,  ‑  inseparáveis, mas distintas  ‑,  entendendo a palavra em dois sentidos fundamentais diversos.

No primeiro  ‑  que podemos dizer o "sentido etimológico" do termo, ligado ao adjectivo comum e ao substantivo comunidade  ‑,  podemos descobrir na palavra comunicar  a significação  de "tornar comum",  "pôr em comum", isto é, "dar a outro alguma coisa que não deixa de ser meu, entregar‑lhe algo que continua ainda a pertencer‑me".  Ora, sendo da essência da comunidade que haja algo de comum entre os indivíduos que a constituem, que ela nasça do próprio acto em que os homens livre e conscientemente lançam entre si uma ponte de coisas comuns (conhecimentos, crenças, desejos), podemos afirmar que neste sentido a palavra comunicar também indirectamente significa estabelecer comunidade;  que os homens realizam comunidade pelo facto mesmo de que uns com os outros comunicam.  Estabelecer comunidade é pois também função da linguagem como forma ou processo de comunicação.

Mas os homens comunicam num outro sentido, mais corrente, e que representa ao mesmo tempo uma condição e o resultado da comunicação como primeiro a entendemos.  Aqui, comunicar significa "transmitir", "dar a outro", "transferir para a posse de outro aquilo que desde agora passa a ser comum».

 

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