Henrique J. C. de Oliveira, Relatório do Inquérito Linguístico realizado na Gafanha do Carmo, Aveiro, 1967.

A VIDA PISCATÓRIA

Zona do litoral, com uma ria abundante em peixe, infalivelmente a pesca tem de ocupar um lugar de destaque na vida da região.

Os métodos de pesca usados são os mais variados, e variados são os utensílios de que se servem habitualmente. Vejamos, então, de maneira sucinta, alguns desses métodos, deixando de parte os mais habituais e que todos mais ou menos conhecem.

Para apanhar a «inguia» e a solha, é muito utilizada a fisga. Trata-se de um instrumento com dentes e farpas em cada um deles, fixo numa vara de comprimento relativamente grande. A sua forma pode variar, conforme se destina à pesca da enguia ou da solha. No primeiro caso (fig. 23), os dentes, em número de quinze, partem de um eixo central, na mesma direcção do cabo, possuindo uma farpa na extremidade de cada um para impedir que o peixe, uma vez espetado, se escape. No caso da solha (fig. 24), é formado por uma travessa de ferro, com quinze ou dezassete dentes, igualmente com farpas, ficando este conjunto perpendicular ao cabo.

Figura 23 - Fisga (modelo 1)

Figura 24 - Fisga (modelo 2)

Para apanhar «nabalha», molusco da família do berbigão («birgagão») e mexilhão, mas de concha esguia e com uns dez centímetros e uma grande «bianda», é utilizada uma simples vareta de guarda-chuva com a ponta voltada para cima, à maneira de farpa.

Para apanhar cabra, nome dado na região ao camarão de reduzida dimensão, é utilizada uma rede em forma de coador de café presa a uma haste de madeira. Pode também ser utilizado um camaroeiro. Este é uma rede afunilada, com a mesma forma do enxalavar, com uma aro de ferro e um arame a meio, no qual é enfiada sardinha esmagada ou caranguejo. Segura por uma corda, mergulham-na entre as rochas depois de lhe terem posto no fundo algumas pedras, não só para a tornarem pesada, como ainda para esticar a rede. Assim que o camarão começa a mordiscar a isca ou anda à volta dela, puxam rapidamente o aparelho, aprisionando assim o cobiçado marisco.

Ainda para a pesca da enguia, é utilizado um outro sistema por meio de rede. Estendida num valeiro pouco profundo, vai sendo pisada pelos homens. A enguia, enterrada no fundo, sai e prende-se nas malhas.

Para transportar o peixe é muito utilizada uma rede, também de forma cónica, conhecida pelo nome de enxalavar.

 

 

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