O meio de transporte mais generalizado em toda a região, por muitos
pitorescamente considerado o carro eléctrico das nossas aldeias, é o
carro de bois, puxado quer por um, quer por dois animais.
Serve para transportar o «esterco p'rás terras», e levar as colheitas
para os lugares onde serão armazenadas.
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Figs. 5 e 6 − Dois dos tipos de carro mais frequentes na região,
puxados por um só animal. O primeiro é com rodas de cambas e o segundo
com rodas de raios. |
Embora
o tipo mais generalizado de carro de bois seja o que vem documentado nas
fotografias (figuras 5 e 6), talvez por ser mais pequeno e de menor
custo, puxado unicamente por um animal e com dois cabeçalhos, isto é,
duas hastes de madeira ou ferro, uma de cada lado, e que servem para
atrelar o carro ao motor de tracção − o boi −, existe ainda um outro
tipo, para uma junta. Neste segundo caso, apenas possui um cabeçalho
(ver a fig. 7), que ficará entre os dois animais e preso à canga por
meio de uma ou duas correias sobrepostas, a que chamam tamoeiro.
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Fig. 7 − Carro puxado por uma junta de bois com rodas de raios.
Neste tipo de carro, torna-se indispensável a utilização de uma
canga, de grande simplicidade, como se pode ver nas figuras 11 e 12. |
No caso do meu informador, o carro é do segundo tipo, ou seja, é um
carro de cambas, ilustrado pelos esquemas das figuras 8, 9 e 10, pelo
que será dele que nos iremos ocupar mais detalhadamente. Com a ajuda do
informador, o ti Manel Melro, iremos ver os constituintes de um carro d
bois deste tipo e os nomes das respectivas peças.
Um
elemento que poderá servir para distinguir os diferentes tipos de carro
é o rodeiro, o conjunto das rodas e do eixo. Segundo a forma das rodas,
poderemos considerar dois tipos de carro: o carro de raios e o carro de
cambas. O de cambas está por nós documentado fotograficamente na figura
5. As fotografias das figuras 6 e 7 mostram-nos carros de raios.
Qualquer que seja o tipo de carro, compõe-se sempre de duas partes
distintas, o chudeiro, todo o conjunto ilustrado pelas figuras 8 e 9, e
o rodeiro, formado, como já vimos, pelas rodas e pelo eixo.
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Fig. 8 − Diferentes elementos de um carro de bois para uma junta. |
O
chudeiro (fig. 8) é formado pelos seguintes elementos: o cabeçalho (1),
longa viga central com dois ou três buracos na parte anterior para
enfiar a chabelha (4), o solho (9), as chêdas (5) e as marmélas (5a).
Por baixo das chedas ficam os gastalhos (6), as garridas de ferro (7) e
os cocões (8), onde gira o eixo. Sobre as chedas encontram-se alguns
buracos (10) que servem para enfiar os «fugueiros», que impedirão que o
material transportado caia. Entre o cabeçalho e as chedas e sob o solho,
encontram-se várias travessas de apoio, as chamadas cadeias (ver a
figura 9).
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Fig. 9 − Carro de bois visto pela parte inferior. |
O
rodeiro, devidamente ilustrado pelos dois desenhos da figura 10
compõe-se, como atrás dissemos, de duas partes: as rodas e o eixo. A
roda de cambas, que podemos ver na fotografia da figura 4 e que tivemos
o cuidado de desenhar na figura 10, possui os seguintes elementos: uma
peça central de madeira, o amiul (17), e duas laterais, as cambas (18),
unidas por dois arcos de ferro (22) e reforçadas por duas hastes
internas, as relhas (19). Envolvendo todo o conjunto, firmando-o e
impedindo o seu desgaste, existe um aro de ferro, o chamado rasto (16 e
26). Na parte central, existe uma cavidade rectangular onde enfia a
extremidade do eixo, fixo por meio de uma grossa cavilha de ferro
chamada torno (21). Para maior segurança, existem ainda dois anéis de
ferro, os buchos (20), que reforçam a parte central da roda, impedindo
que a madeira possa abrir com a pressão nela exercida, o que danificaria
a roda.
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Fig. 10 − Rodeiro do carro, formado pelas rodas e pelo eixo.
Clicar na imagem. |
Intimamente ligada ao carro de bois está a canga ou jugo. É por meio
dela que os animais são atrelados aos carros. Simplesmente funcional e
em nada espalhafatosa nem, tão pouco, decorativa, como a do Minho, a
canga utilizada nesta região compõe-se unicamente de uma barra de
madeira (ver a fotografia da figura 11 e o desenho da figura 12) com a
parte central de forma rectangular, e uma pestana em cada extremidade
(fig. 12, nº 1). Os animais cangados ficam seguros entre os canezis (no
singular canezil) (3) por meio das apiaças (4) e das abróchas (5). Uma
vez posta a canga, é atrela0a ao cabeçalho por meio do tamoeiro (2),
(«que serve p'ra sigurar o cabeçalho do carro»). Em geral, numa das
extremidades, fica a chapa metálica (6) com o nome do proprietário e da
terra. É, por assim dizer, a matrícula do carro.
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Fig. 12 − Elementos da canga típica da região. Clicar para ver
a legenda. |
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