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Fabrico Tradicional do Azeite em Portugal (Estudo Linguístico-Etnográfico), Aveiro, 2014, XIV+504 pp. ©

 

VI

PRENSAS DE AZEITE

 

PRENSAS HIDRÁULICAS

Dentro deste grupo, iremos analisar de maneira muito sumária alguns dos elementos que pudemos recolher em visitas a vários lagares, fazendo incidir a nossa atenção sobretudo no aspecto terminológico.

A prensa hidráulica é o resultado da aplicação prática do princípio de Pascal e, sem dúvida, um dos factores que mais contribuíram para o desenvolvimento e progresso da indústria olivícola. A sua vantagem e superioridade sobre as restantes prensas é notória; além de permitir pressões mais elevadas com um mínimo de energia, a perda de forças devido ao atrito foi bastante reduzida, como reduzido se tornou o espaço por ela ocupado.

Tecnicamente, uma prensa hidráulica compõe-se de um corpo de bomba de elevada resistência, que constitui a prensa propriamente dita, e de um sistema de accionamento que, através de um cano de reduzida secção, permite a injecção de água no corpo da bomba, fazendo elevar o êmbolo.

Analisemos, primeiro, o sistema de accionamento. Este é formado por uma caixa de ferro de dimensões variáveis, contendo água no seu interior, e uma bomba aspirante-premente accionada manual ou mecanicamente. É este conjunto que constitui a chamada bateria, nome que se generalizou, embora muitas vezes pronunciado bataria pelo povo, como pudemos ouvir em Bragança, P. 100, Coimbra, P. 245b, 257, 288, 304, e Guarda, P. 229.

As baterias podem apresentar uma ou mais bombas aspirantes-prementes, conforme o número de prensas existentes no lagar. No caso da apresentada na figura 93, o número de bombas é de apenas duas, como podemos observar na parte superior da caixa, onde se encontram dois manómetros. São accionadas por motor eléctrico, assente num plano inclinado de pedra, parcialmente visível no lado esquerdo da gravura. O movimento do motor é transmitido ao volante metálico por meio de uma correia. Para maior segurança, todas as modernas baterias apresentam um manómetro por cada prensa.

Figura 93: Bateria de dois elementos de uma prensa hidráulica (Quinta da Costa, P. 238, freg. Nogueira do Cravo, conc. Oliveira do Hospital, dist. Coimbra).

No lagar de Alvares, no concelho de Góis, distrito de Coimbra, encontrámos uma prensa manual, cuja bateria foi adaptada para também poder funcionar mecanicamente. Colocada a um canto do lagar, possui uma caixa de água de pequenas dimensões, sobre a qual trabalha a bomba, accionada por comprida alavanca de tipo inter-resistente, tal como se documenta na figura 95 . Por cima da bateria e assente sobre um suporte foi colocado um volante, cujo movimento faz accionar uma biela por meio de um excêntrico. Quando querem que a prensa seja accionada mecanicamente, engatam a extremidade da biela num dos orifícios visíveis no braço da alavanca e põem o volante a trabalhar por meio de comprida correia de cabedal. Com a rotação do excêntrico, a biela transmite à alavanca um movimento vertical de vaivém, fazendo deste modo funcionar a bomba e, consequentemente, a prensa.

 

 
 

Figura 94: Prensas hidráulicas de um moderno lagar (Castelo Viegas, P. 288, conc. e dist. de Coimbra).

 

É interessante notar que, à parte a roda volante apresentada na figura 95, as restantes rodas de transmissão de energia são construídas de madeira. A força motriz é produzida por uma moderna turbina, que fazia trabalhar, outrora, a vasta fábrica de tecelagem actualmente abandonada e à qual se encontra acoplado o lagar de azeite e um moinho primitivo de trigo, em muito mau estado de conservação.

Além do corpo de bomba, a prensa hidráulica é formada por vários elementos, cujos nomes passaremos a indicar, servindo-nos para tal da figura 96.

Além do êmbolo de ferro de elevado diâmetro (nº 2), designado por pistão ou piston, apresenta normalmente quatro colunas verticais(36) (nº 1), que suportam uma pesada e resistente placa de ferro (nº 5), conhecida por cabeça da prensa ou, mais raramente, prato forte.

Algumas prensas apresentam à volta do disco inferior da cabeça da prensa um cano circular com orifícios pelo lado interno. É o chamado esguicho (Coimbra, P. 280b), por onde saem vários jactos de água quente para lavagem do enseiramento (observe-se a figura 94). Outras apresentam um orifício circular no centro da cabeça, por onde passa uma agulha, existente no carro, e na qual são enfiados capachos apropriados, também furados no centro. Este eixo central ou agulha, como é vulgarmente conhecido, é crivado e formado por três ou quatro secções, que encaixam perfeitamente umas nas outras, terminando na parte superior por um cone. Além de permitir melhor escoamento do azeite que ressuma da superfície interna dos capachos, evita o uso de enormes pancas, isto é, de alavancas de madeira ou de ferro durante o aperto e, consequentemente, a danificação das colunas da prensa. Em lagares onde esta agulha não existe, as prensas apresentam com frequência as colunas empenadas e completamente torcidas.

A figura 96 mostra-nos ainda um prato metálico de formato quadrado e com rodas (nº 3). Trata-se do chamado carro, mais vulgarmente designado pelo diminutivo carrinho, sobre o qual é transportada a coluna de seiras ou capachos (nº 6), a fim de ser comprimida pela prensa.

O azeite escorre para dentro do carro e sai por uma torneira, caindo num recipiente de lata (nº 7). Para evitar que ele salpique e se perca, ligam à torneira do carro um tubo de pano (nº 4), a que dão o nome de manga ou mangueira.

 

 
  Figura 97: O bagaço é acamado dentro dos cinchos, antes de ir para a prensa (Fornos do Pinhal, P. 78, conc. Valpaços, dist. Vila Real).  

Além das prensas para seiras e capachos, existe uma de tipo especial, usada para aperto do bagaço. É a chamada prensa de cinchos, de que encontrámos um exemplar em Fornos do Pinhal, P. 78, no distrito de Vila Real.

O nome provém-lhe do facto de trabalhar com os chamados cinchos, isto é, aros metálicos com múltiplos orifícios, que se sobrepõem uns nos outros em cima de um carro metálico, diferentes dos habituais e designado pela expressão carruagem de cincho.

Retirado o bagaço dos capachos ou das seiras, vai sendo introduzido nos cinchos, à medida que um homem o acama, calcando-o para tal com um enorme e pesado maço de madeira, tal como se vê na figura 97.

Uma vez cheios todos os cribos ou cinchos, colocam sobre o bagaço uma seira velha e levam a carruagem com a sua carga para a prensa, onde, mediante elevado aperto, é extraído ainda algum azeite de qualidade inferior.

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(36) – Algumas prensas hidráulicas apresentavam, inicialmente, apenas duas colunas, como era o caso, por exemplo, de uma de tipo revólver, para cinchos. As de média pressão apresentavam por vezes apenas três colunas. Actualmente, todas as modernas prensas apresentam, em regra, quatro colunas.

 

 

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