Antes de entrarmos no capítulo referente ao enseiramento e prensagem,
convirá fazer o estudo das prensas e seus diversos tipos, abordando,
logicamente, apenas os modelos mais tradicionais e deixando de lado os
modernos sistemas.
Proveniente do latim
PRESSU
–,
–
A, por sua vez de PREMERE 'espremer', a prensa é todo o
aparelho, manual ou mecânico, que serve para comprimir, apertar ou
achatar qualquer objecto que nela se coloque. No nosso caso particular,
serve para apertar a massa da azeitona, previamente distribuída por
seiras ou capachos, e colocada entre duas partes da prensa onde é dado o
aperto.
De uma maneira geral, a
palavra prensa é comum a todo o País, embora nem sempre seja a
usada pelo povo para designar o aparelho ao qual se aplica.
Efectivamente, surge-nos com frequência o vocábulo imprensa.
Muito difundido por todo o País, registámo-lo nos distritos de Aveiro,
P. 158, Beja (em Jungeiros, freg. de S. João de Negrilhos, conc. de
Aljustrel), Coimbra, P. 256, 280c, Porto, P. 52, 57, e Vila Real, P. 70,
73.
Concomitantemente com o termo
imprensa,
aparece-nos ainda a forma verbal imprensar, registada em Coimbra,
P. 304, e Porto, P. 56, 60, e imprenseiros, distrito de Braga, P.
34, aplicado aos homens que trabalham com a prensa.
TIPOS DE PRENSA
Não pretendendo de modo nenhum estabelecer uma tipologia com carácter
definitivo, até porque isso seria tarefa um tanto arrojada e
pretensiosa, vemo-nos obrigados, por uma questão de método, a procurar
estabelecer uma distribuição tipológica das diferentes espécies
observadas, a fim de que a exposição possa ser feita com determinada
ordem e rigor.
Cremos mesmo que pretender estabelecer uma classificação com carácter
definitivo seria empresa estulta e descabida para o presente objectivo ─
o estudo da linguagem e etnografia sobre o fabrico tradicional do azeite
no nosso País. Como já referimos em capítulos anteriores, não é possível
estabelecer cânones rigorosos e imutáveis relativamente aos produtos da
cultura humana.
Em primeiro lugar, passemos em revista algumas das muitas classificações
que pudemos encontrar. Tornar-se-á deste modo possível fazer uma pequena
ideia da enorme disparidade de critérios que normalmente presidem a
classificações deste género.
Segundo a
Enciclopédia universal ilustrada europeo-americana(1),
tomo II, pág. 2 as prensas são agrupadas em duas classes: prensas
antigas e prensas modernas. Entre as primeiras, é considerada
a chamada prensa de vara; entre as segundas, as prensas de um parafuso,
de dois parafusos, de tripla pressão, as hidráulicas, etc. O critério
adoptado foi, pois, essencialmente cronológico ou histórico.
A um critério igualmente cronológico ou histórico recorre o
Diccionario enciclopedico hispano-americano de literatura, ciencias y
artes(2),
Barcelona, 1887, tomo I, pág. 244, dividindo as prensas em duas classes:
antigas e modernas. Como antigas, são consideradas as de vara e as de
torre; como modernas, as de fuso ou parafuso e as hidráulicas.
António Cardoso de Menezes, na obra já citada
Noções de oleicultura prática,
2ª ed., Coimbra, 1901, págs. 88 a 107, estabelece cinco tipos principais
de prensa: a) prensa de vara e parafuso; b) prensas antigas de parafuso;
c) prensas modernas de parafuso; d) prensas hidráulicas; e) prensas
especiais.
Dentro das prensas modernas de parafuso, estabelece o Autor ainda três
grupos: a) prensas de alavanca simples; b) prensas de alavanca múltipla;
c) prensas de volante.
No quinto tipo, a que deu a designação de «prensas especiais», são-nos
apresentadas: a) prensas de parafuso sem-fim; b) prensas de losango; c)
prensas de parafuso descontínuo; d) prensas de tela sem-fim.
Não querendo tirar o mérito de tal classificação, que incontestavelmente
o tem, parece-nos, no entanto, poder simplificar-se, uma vez que os
tipos da alínea b), c) e e) se podem reduzir a um só, por sua vez com os
seus diversos subtipos. Isto porque, no fundo, tirando as prensas de
tela sem-fim, que ocupariam um lugar à parte, todas elas possuem um
elemento comum: um parafuso, de madeira ou de ferro, que permite o seu
funcionamento.
A quarta e última classificação a que nos vamos referir é a que
encontramos na
Enciclopedia italiana di scienze, lettere ed arti(3),
Roma, 1935-38, vol. XXV, págs. 299-300. Segundo ela, as prensas são
divididas em duas categorias, de acordo com um critério essencialmente
técnico: prensas de parafuso e prensas hidráulicas. Esta classificação,
reduzindo todas as prensas de parafuso a uma só categoria, com que
concordamos em parte, vem ao encontro da nossa redução do esquema
apresentado por António Cardoso de Menezes de cinco para apenas três
tipos.
Como se infere de tudo quanto foi dito, as classificações variam muito
de autor para autor. De maneira nenhuma podemos afirmar que esta ou
aquela esteja mal, embora lhes possamos fazer um ou outro reparo ou
optar por uma em detrimento de outra. Tudo depende do nosso ponto de
vista e, sobretudo, do critério ou critérios adoptados.
Consequentemente, e por
melhor parecer servir ao nosso objectivo, iremos optar por uma
classificação mais simples que as anteriores, que é, aliás, a mesma
adoptada pelo organismo nacional responsável pela produção oleícola em
Portugal para a elaboração dos seus ficheiros.
Teremos, então, o seguinte quadro:
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I - Prensas de
vara |
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antigas |
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II - Prensas de
parafuso |
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manuais |
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modernas –––––––––– |
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mecânicas |
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a) Quanto ao
sistema
de accionamento |
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manuais |
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mistas |
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mecânicas |
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III - Prensas
hidráulicas |
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b) Quanto à
maneira de
prensar a massa |
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seiras |
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capachos |
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mistas |
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cinchos |
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Analisando o quadro apresentado, há algumas observações a fazer.
Dissemos anteriormente, quando falámos da classificação apresentada pela
Enciclopedia italiana di scienze, lettere ed arti,
que concordávamos com ela somente em parte. Se assim não fosse, teríamos
de englobar a prensa de vara dentro do grupo das prensas de parafuso,
como alguns poderiam também fazer, baseando-se no facto de a vara ser
elevada ou descida por meio de um fuso, que não é mais do que um enorme
parafuso, feito geralmente de madeira. Parece-nos, todavia, e cremos que
todos estarão de acordo, que esta prensa deverá constituir um tipo à
parte, dadas as suas características muito particulares. Que nós
saibamos, é a única em que a pressão é exercida mediante um sistema de
alavanca de tipo inter-resistente. Em todas as restantes, a pressão é
dada por meio do aperto de duas peças, uma das quais se aproxima da
outra, exercendo-se a compressão.
No segundo tipo de prensa, além da distinção entre antigas e modernas
– critério histórico ou cronológico –, apresentámos no segundo grupo uma
nova divisão, baseada no sistema de accionamento. Efectivamente,
encontramos prensas de parafuso accionadas manualmente, e também
adaptadas para trabalharem mecanicamente, embora este segundo caso seja
mais raro.
No lagar da Mega Fundeira, na freguesia de Alvares, concelho de Góis,
distrito de Coimbra, podemos encontrar uma prensa de parafuso accionada
indirectamente pela roda da água. A transmissão da energia é feita por
intermédio do moinho, cujo eixo vertical termina, na parte superior, por
uma manivela. A esta está ligada uma longa vara de madeira, com cerca de
dez metros de comprimento, por sua vez engatada na alavanca da prensa.
Com a rotação da manivela, é produzido na vara um movimento de vaivém,
que se transmite à alavanca da prensa, obrigando-a
a efectuar o aperto.
O terceiro e último grupo engloba as prensas hidráulicas, que podemos
encarar segundo dois aspectos: sistema de accionamento e maneira como a
massa é metida na prensa para ser espremida. Relativamente ao sistema de
accionamento, consideramos uma alínea intermédia entre as prensas
manuais e as mecânicas, que designamos pelo termo
mistas.
Deve-se isto ao facto de haver prensas manuais adaptadas para
trabalharem mecanicamente, passando assim a dispor de dois sistemas
diferentes de accionamento.
Dos três tipos apresentados, consagraremos especial atenção ao primeiro,
dado o seu maior interesse linguístico e etnográfico. Veremos ainda
alguma coisa sobre as prensas de parafuso e as prensas hidráulicas,
dedicando apenas uma maior atenção a uma prensa manual de parafuso, em
tudo muito semelhante às usadas para vinho, conhecida por
prensa de cincho
ou, muito simplesmente, cincho.
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