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Fabrico Tradicional do Azeite em Portugal (Estudo Linguístico-Etnográfico), Aveiro, 2014, XIV+504 pp. ©

 

III

O moinho

 

DEFINIÇÃO

Dissemos já no capítulo I que o termo «moinho», relativamente aos lagares de azeite, se aplica ao aparelho de moer a azeitona. Não é esta, todavia, a única significação do vocábulo, uma vez que apresenta outros sentidos, como também já vimos. O seu campo semântico alargou-se consideravelmente, passando a designar a 'quantidade de azeitona moída de cada vez' e o 'conjunto de seiras ou capachos dispostos uns em cima dos outros para a prensagem'.

No sentido de 'quantidade de azeitona moída de cada vez', registámo-lo em Bragança, P. 86, Coimbra, P. 251, 255, 256, 259, 277, 289a, 291a, 294, 300, 303, Guarda, P. 206, 226, 229, Porto, P. 51, 52, 54a, Vila Real, P. 75; no de 'conjunto de seiras ou capachos dispostos uns em cima dos outros para a prensagem', nos distritos de Coimbra, P. 245b, 256, Guarda, P. 209, Porto, P. 57.

Nem sempre é dado o nome de moinho ao aparelho de moer. Encontramos ainda os termos engenho, farneiro, galgas e moinho de atiço para os designar.

Sobre engenho já alguma coisa foi dita no capítulo I, pelo que se torna desnecessário voltar a fazer-lhe referência. Farneiro surge no distrito de Bragança, P. 85, na acepção de moinho, muito embora não seja esta a sua verdadeira significação.

Nos inquéritos recebidos por correspondência referentes ao distrito de Leiria, à pergunta «que nome tem o aparelho de moer?», é frequente a resposta «galgas». Temos aqui um caso muito parecido com o que ocorreu com as palavras engenho e moinho. O povo frequentemente designa o todo pelo nome de uma das partes que o compõem.

A designação de moega surge apenas no distrito de Leiria, P. 326, 363.

Na obra de António Cardoso de Menezes(1), encontramos a expressão «moinho de atiço». A sua significação é restrita e praticamente sem uso. Indica aquele tipo de moinho que possui apenas uma galga.

Podemos pois afirmar que o moinho, no sentido restrito do termo, é o aparelho para moer a azeitona. É formado por um recipiente de formato cilíndrico, no qual giram as pedras ou mós, vulgarmente conhecidas por galgas, que reduzem a azeitona a uma pasta mais ou menos homogénea, chamada massa. O sistema de accionamento é muito variável. Pode ser tocado a sangue, isto é, puxado por animais, normalmente um ou dois bois, ou movido por meio de um sistema hidráulico ou de um motor.

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(1) – ANTÓNIO CARDOSO DE MENEZES, op. cit., pág. 66.

 

 

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