AS TULHAS
Encontrámos já várias referências à existência de
tulhas em alguns lagares. Sobre este assunto muito tem sido dito. Dalla
Bella(4),
nas suas Memórias e observações sobre o modo de aperfeiçoar a
manufactura do azeite de oliveira em Portugal, ocupa nada mais do
que cinco capítulos a mostrar os inconvenientes de conservar a azeitona
em tulhas, indo à minúcia de indicar (pp. 44-47) como deverão ser
construídas, quando a necessidade o requeira.
|
|
|
|
Figura 12: Aspecto das tulhas do lagar de Condeixa-a-Nova, P.
277, dist. de Coimbra. No chão, os chamados poceiros com azeitona. |
|
Segundo Bluteau(5),
a tulha «é o nome genérico de vários receptáculos de tijolo, ou de
vimes, ou de esparto, em que se recolhe separadamente azeitona,
castanha, arroz ou outros frutos da terra; e como num celeiro há vários
montes de trigo, cevada, centeio, milho, etc., também separados uns dos
outros, também o celeiro às vezes se chama tulha.»
O dicionário de António de Morais Silva, 10ª ed., vol. XI,
pág. 338, 1ª e 2ª coluna, dá-nos também uma série de abonações para o
mesmo vocábulo. Assim, tulha pode designar o «lugar
onde se deposita a azeitona, antes de ser levada ao moinho (...)», «a
porção de azeitona contida nesse recinto» e ainda o «cheiro e
sabor desagradável que a azeitona adquire, quando está muito tempo
entulhada».
É pois a tulha o recipiente ou depósito onde a azeitona é conservada.
Apresenta formato e dimensões variáveis, tornando-se por isso impossível
estabelecer uma definição única e precisa do termo. Pode ser formada por
paredes de madeira, tijolo, cimento, blocos de granito, etc., e
apresenta, em regra, o fundo ligeiramente inclinado e com uma saída para
a água-ruça que as azeitonas libertam. Vejamos, então, alguns exemplos
concretos.
Num lagar moderno, em
Condeixa-a-Nova, P. 277, figura 12, a azeitona é guardada em tulhas
dispostas à volta de um amplo pátio, anexo ao lagar, onde as camionetas
e os carros de bois podem entrar, para facilitar a descarga. Construídas
com tijolo e cimento, apresentam fundo quadrangular ligeiramente
inclinado e paredes com cerca de um metro de altura. A frente é larga e
com ranhuras nos bordos, nos quais introduzem tábuas à medida que o
nível da azeitona aumenta. Este mesmo lagar possui ainda uma fileira de
tulhas frente a um pequeno terreiro, cobertas por um pequeno telhado
assente sobre colunas. A frente é fechada, o que dificulta a tiragem da
azeitona. Talvez por este motivo não são usadas.
|
|
|
Figura 13:
Aspecto das tulhas do lagar da Quinta da Portela, P. 285b, em
Coimbra. No chão, os chamados poceiros para transporte e conservação
da azeitona. |
|
Figura 14: Gigos
para guardar azeitona. (Fundo de Vila, P. 57, freg. Jasente, conc.
Amarante, dist. Porto). |
Na Quinta da Portela, P. 285, figura 13, as tulhas ocupam a mesma sala
onde é feito o azeite. Situadas no lado oposto ao do moinho e prensa,
junto ao portão de acesso, são formadas por várias divisões de madeira,
não existindo qualquer taipal a fechá-las. As almofeiras libertas
escorrem para um rego a todo o comprimento das tulhas.
Em Celorico da Beira, P. 211, figura 15, as tulhas são construídas de
pedra e ocupam uma secção rectangular. A entrada é vedada com tábuas,
que vão introduzindo entre duas ranhuras, à medida que a quantidade de
azeitona aumenta.
Em alguns lagares de
construção relativamente recente, a casa das tulhas fica no primeiro
andar, ocupando uma sala só para esse fim. A azeitona é içada por meio
de uma espécie de elevador e despejada dentro das tulhas. Daqui é
deitada directamente no pio do moinho, através de uma conduta.
No cimo das tulhas, pregadas nas paredes, existem
normalmente pequenas placas rectangulares numeradas, com que podem
identificar os donos da azeitona. Por vezes, a placa é substituída por
uma ardósia, de uso também frequente, ou, mais raramente, por uma cana
em cuja extremidade fazem uma fenda com uma navalha. Encaixam um papel
com o nome do produtor e respectiva quantidade e espetam a improvisada
tabuleta no monte de azeitona, de maneira semelhante ao que se mostra na
figura 16. Em Assafarge, P. 284, onde encontrámos este processo, usam-no
também para indicar a quem pertencem os montes de
baganha.
|
|
|
|
Figura 15: Aspecto das tulhas do lagar de Vilhagre, P. 211,
freg. Vide entre Vinhas, conc. Celorico da Beira. Apesar das tulhas,
a azeitona é conservada nas sacas em que veio dos olivais. |
|
|