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O rio Vouga

 O Vouga é um rio que, segundo Amorim Girão (In: Geografia de Portugal, pp. 148-150), apresenta uma bacia ampla, que se espraia na última secção, estabelecendo mais íntima comunicação com o mar, cuja influência se faz sentir muito para o interior e permite o desenvolvimento de actividades litorais.

O Vouga apresenta três secções distintas.

Na primeira secção, junto à nascente, é um RIO DE PLANALTO. É o Vouguinha, praticamente desde a nascente até S. Pedro do Sul.

Na secção intermédia, é um RIO DE MONTANHA. Atravessa as zonas de relevo do maciço da Gralheira do Caramulo e da serra das Talhadas.

Próximo do mar, torna-se um RIO DE PLANÍCIE. Já sem força erosiva, espraia-se por leitos amplos, depositando os sedimentos que arrancou das montanhas.

Os três aspectos citados no parágrafo anterior estão bem exemplificados no interessante texto em que Samuel Maia animizou o Vouga, conferindo-lhe atributos de criança que, de inquieta e atrevida, se transforma num jovem arrebatado, que tudo destrói na sua passagem, para se transformar num velho pachorrento e de passo vagaroso.  

Como exercício interessante, sugerimos que o leitor saboreie o texto a seguir reproduzido, procurando nele delimitar as três facetas do rio, que de doce Vouguinha se transformou simplesmente em Vouga.

«Pequeno ainda, cabendo na palma da mão, brincava com as areias, rebolava-se nos seixos brancos, aos pés da montanha sua mãe, triste e isolada, roendo mágoas que a ninguém dizia... Nada maior que uma seitoira, o Vouga ao nascer.

... Vem o dia e as cabras pisam-no, sujam-no com as patas. Amuado foge a es­conder-se nas lapas. Depois distrai, e criança inquieta, pincha, resvala, perde-se no giro em que anda, sem saber onde.

... Ribeirinho Vouga encostou-se às pedras e com os olhos vivos espreitava a face morena da terra.

... Galgou precipícios, escorregou sobre rochas a suar espuma. Nenhum obstáculo tolhia o seu passo... Não o cansava a pressa da abalada. Maior distância percorria e mais vigor cobrava. Dilatando o peito, endurecia os pulsos, e a voz engrossava, repro­duzia-se longe em ecos. O que trouxe pelas encostas ranchos de pinheiros a espreitar. Cautelosos, os primeiros chegados gesticulavam em conselho de prudência aos vizinhos, para se afastarem do latagão, que ninguém travaria na marcha.

...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...

O rio, na sua aflição de gigante torturado, explodiu em furores. Rachou serras ao meio, descarnou penedos... Quando a paixão o acometia, passava noite e dia a beber regatos, caudais, ribeiros bravos, interminavelmente, alucinado, no impulso de afogar a imagem que a distância engrandecia.

Assustados os montes, evitavam-no como a doido furioso.

Foi então que na dianteira lhe surgiu a planície imensa, carnuda, sensualmente deitada...

O Vouga... rasgou-lhe as entranhas, escalavrou, dissecou, abrindo as carnes macias.

A Planície... bebia-o, sugava-lhe o sangue, enfraquecia-o.

O Vouga mirrava, decrescia, vergando o corpo sonolento, braços inertes, passos sem vigor, a pupila embaciada.

Cansara-o a planície, vencera-o e assim desdenhava:

- Campeão das serras, que é da tua força?

Cobriu-se de choupos e salgueiros tenros e calmando-lhe a febre, acalentou-o a recomendar-lhe sono tranquilo.

Mas o Vouga distinguiu perto a voz do Mar a chamá-lo.

... Vagaroso, num passo de velho, se chegou ao Grande Senhor mar que o recebeu afável e depois de saber as mágoas que sofrera lhe prometeu levá-lo a novas terras, a outros continentes, percorrer as montanhas, dominar os píncaros, liberto do peso do corpo, transfigurado, mais lindo do que nunca fora. Andaria pelo céu em coches de ouro forrados de púrpura, tão alto como as águias» (SAMUEL MATA, Rio Vouga, in - Língua de Prata).

No quadro seguinte apresentam-se os elementos fundamentais relativos ao rio Vouga. No entanto, pode «clicar» aqui para efectuar o percurso da foz à nascente e obter outras informações.

Nascente

Serra da Lapa, perto do marco geodésico «Facho da Lapa», a cerca de 950 metros de altitude. Dist. Viseu, conc. Sernancelhe, freg. Quintela da Lapa.

Direcção
principal

Efectua-se sobretudo no sentido E. > W

Percurso
total

136 Kms. dos quais 50 são navegáveis.

Superfície
total

A bacia do Vouga apresenta uma superfície de cerca de 3 656 Km2.

Principais
afluentes

Margem direita: Sul, Caima, Ul

Margem esquerda: Águeda

Foz

Laguna de Aveiro

Principais pontos e
localidades
(altitudes)

- (950 m.) - Serra da Lapa
- (40 m.) - S. Pedro do Sul: margem direita;
                  Termas
- Oliveira de Frades - margem esquerda
- Pinheiro de Lafões - margem esq.
- (50 m.) - Ribeiradio - margem esq.
- (35 m.) - Ponte de Paradela
- Pessegueiro do Vouga - margem dir. - Poço de Santiago.
- (10 m.) - Ponte de Sernada
- Sarrazola - margem esq.
- Cacia - margem esquerda


Aveiro

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2001