O Toureio é uma modalidade
que tem sido, e é, atacada por muita gente. Têm pena dos toiros que são
mal tratados, da insensibilidade dos toureiros – os Forcados, talvez
porque é neles que o toiro, impunemente, se desforra das provocações que
sofre, são poupados. Falam de espetáculo de mau gosto, cruel, só do
agrado das classes mais abastadas. Uma série de conceitos que só a
ignorância do que falam justifica.
1º) A génese do toureio a
pé, está no Povo. Foram os "lacaios", como ao tempo se apelidavam os
empregados dos Senhores que, não tendo cavalos, e querendo também
divertir-se, começaram a fazê-lo desafiando os toiros a pé. O êxito
obtido levou à absorção do espetáculo pela fidalguia e burguesia, que o
puseram a seu jeito. Mas desta vez vez o Povo não se deixou espoliar
pacificamente.
Com a conveniência das
elites que precisava da sua valentia para prosseguir, entrou no jogo. Ao
qual soube impor especial carisma. Saíram dele os primeiros toureiros
que impuseram a Tauromaquia.
Tauromaquia que pela
emoção, beleza, plasticidade e poesia que contem, inspirou poetas,
pintores e escultores. Todavia, mesmo antes, como se pode observar nas
pinturas rupestres das grutas de Lascaux e Niaux, em Espanha e França,
respetivamente, o toiro foi motivo de inspiração para o homem.
Porém não foram só
"artistas" da pré-história que os jogos taureos conquistaram. A sua
contínua progressão e sofisticação, fê-los tornarem-se mais atraentes,
populares, aliciando diferentes artistas.
Na poesia vamos encontrar
nomes como Nicolas Morantin com a sua reverente "ODE", dedicada a Pedro
Romero. Juan Aznar Sanchez autor do "EL TOIRO MIO". O português Ary dos
Santos com a conhecida e polémica "TOURADA." Rafael Alberti e o seu
poema "LA MÚSICA CALLADA del TOREO" homenageando José Bergan.. E porque
a Tauromaquia é motivadora, muitos mais existem. Tantos que seria
fastidioso e monótono, nomeá-los todos.
Não posso no entanto deixar
de referir o tocante "LLANTO POR IGNACIO MEJIAS" do inesquecível
Francisco Garcia Lorca, poeta da liberdade, prematuramente desaparecido
por se opor à ditadura.
Na escrita temos de José
Delgado Guerra (Pepe-Hillo), famoso toureiro do séc. XVII, o "TRATADO DO
TOREO". Embora ditado pois o toureiro só sabia assinar, foi uma
autentica bússola do bem tourear. O enorme Eça de Queiroz, tanto no seu
romance "OS MAIAS", como em vários artigos, também mostrou a sua
predileção pelas touradas. Fialho de Almeida, José Ortega y Gasset e,
acima de todos, Ernest Hemingway, igualmente lhes mostraram grande
apreço. Ainda há mais mas...fico-me por aqui.
Na escultura encontramos
artistas, génios, como Francisco Goya, com 33 gravuras dedicadas à
Tauromaquia. O surrealista/abstrato Joan Miró. Os controversos Salvador
Dali e Pablo Picasso. Este, talvez, o que lhe tenha manifestado maior
apreço. Logo aos oito anos de idade, em óleo sobre madeira, desenhou "O
TOUREIRO". Obra que passou a levar sempre consigo nas suas deslocações.
Aos 87 anos, recuperando temas da sua juventude, produziu uma série de
pinturas onde as touradas tinham grande destaque.
Com apreciadores desta
qualidade e sensibilidade, tornam-se incompreensíveis as " mini"
manifestações que se organizam contra o espetáculo tauromáquico e os
argumentos usados para que seja proibido.
Proibi-los é trair a
memória de Goya, Picasso, Dali, Miró, do colombiano Botero e de tantos
outros artistas, de reconhecido mérito intelectual e humanista. No
toureio há poesia, momentos maravilhosos, difíceis de descrever. Outros
de uma plasticidade e harmonia contagiante. Assim a sentiram estes
grandes nomes.
Proibir os espectáculos
tauromáquicos é pois, limitar o talento, a liberdade de expressão e
manifestar desprezo pelos valores culturais que ele transmite.