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O DÉFICE 2012

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Francisco Manuel Constantino Pinto

 

O ano de 2012 será o mais negro das últimas décadas em Portugal, reflexo das medidas de austeridade levadas à prática pelo Governo em funções, como reflexo dos défices anuais e sistemáticos das Finanças Públicas desde há praticamente 36 anos, refletindo a grande insustentabilidade das politicas económicas desde que entramos na união europeia, e dos erros grosseiros do modelo de desenvolvimento económico levados à prática nos últimos 15 anos, e que contribuíram para o endividamento extremo em que Portugal se encontra.

Défice ou deficit é um termo da contabilidade de origem latina, que se caracteriza por um saldo negativo. Num orçamento, o saldo negativo ocorre quando os gastos ou as despesas superam os ganhos ou as receitas.

Se o saldo é negativo, o orçamento é chamado deficitário.

Na balança de pagamentos (transações com o resto do mundo) o défice da balança comercial ocorre quando o valor total das importações supera o das exportações.

A subida dos impostos, a redução do rendimento, as medidas que tributam o consumo, o corte dos subsídios de férias e Natal dos funcionários públicos, e o aumento de meia hora de trabalho diário no sector privado, foram as medidas escolhidas para este acerto de contas, do descalabro das contas públicas e da falta de controlo desde há praticamente 36 anos quase sem excepção, tendo a classe politica dos diversos governos, mas também grande parte da oposição, incluindo as centrais sindicais - por incapacidade, ignorância e por alinhamento com interesses de classes corporativas, e de países terceiros, descurando os interesses das PME´s portuguesas, dos contribuintes portugueses, dos jovens á procura de emprego – tendo ajudado a liquidar uma parte da agricultura, das pescas e industrias portuguesas, parecendo mais que estavam a actuar num mundo virtual. Triste sina esta, que envergonharia muitos dos nossos portugueses e heróis antepassados, se cá voltassem e vissem o que está a acontecer.

Portugal está há anos a esta parte a afundar-se, são feitas frequentemente considerações e comentários mais ou menos jocosos vindos de várias paragens, mas em particular dos países mais ricos, que praticamente deixaram de nos respeitar, e quase que confundem o povo português com uma parte da classe política incompetente, e em muitos casos até corrupta, que nos tem dirigido nos últimos anos e se tem governado a si própria e aos seus amigos “compagnons de route”, além de chorudas e alguns com duplas reformas em acumulação com outras remunerações, enquanto estas e outras situações não forem corrigidas, com uma reforma única por pessoa, com um mínimo e um máximo sustentável, os políticos não vão ter o respeito e a consideração da maioria dos portugueses.

Vêem-nos como um fardo pesado incapaz de recuperar e de traçar um rumo com futuro, assente na sustentabilidade, no trabalho e no desenvolvimento do país.

Agora, mais do que lamentar a situação de quase falência a que Portugal chegou, e mais do que procurarmos os responsáveis e são muitos, cabe-nos dar a resposta ao mundo mostrando de que fibra somos feitos para podermos recuperar a nossa autoestima e o nosso orgulho.

Nós seremos capazes de ultrapassar esta situação difícil. Vamos certamente dar a nossa melhor contribuição para dar a volta por cima, mas há atitudes simples que podem fazer a diferença, e diga-se também em abono da verdade, que uma grande parte do povo português no passado sempre descurou o que é português, por falta de informação, e por factores culturais diversos.

O desafio é preferir e comprar sempre que possível os produtos fabricados em Portugal. Fazer o esforço, em cada acto de compra, de comprar os produtos e serviços que tenham sido produzidos em Portugal, ou que de alguma forma tenham uma parte de incorporação portuguesa, quer através de matérias primas e /ou de mão de obra portuguesa.

Assim, estaremos a substituir muitas das importações que nos estão a arrastar para um beco sem saída, e poderemos apresentar futuramente resultados surpreendentes a nível de indicadores de crescimento económico e consequentemente de redução de desemprego. Práticas que iriam melhorar substancialmente a nossa agricultura, pecuária, pescas, indústria, comércio em geral – opte sempre que possível pelo comércio local, de bairro da aldeia, da vila – faça mais férias e turismo em Portugal, passe uns dias nos campos do Alentejo, em Trás-os-Montes, no Minho, nas Beiras, para só falar nestas regiões menos conhecidas turisticamente, e contacte com a natureza daqueles lugares, teremos mais qualidade de vida, e desfrutamos mais da natureza.

Este comportamento deve ser assumido como um acto de cidadania, como um acto de mobilização colectiva, por nós, e, como resposta aqueles que nos vêem como uns dependentes.

Devemos aprender com os nossos vizinhos Espanhóis, especialistas nestas formas de ser e de estar, há muitos anos que utilizam estas práticas. Quem convive com alguma frequência com ou quem já contactou ou viajou com pessoas de Espanha, sabe que eles, começam logo por reservar e comprar as passagens, ou o pacote, em agência Espanhola, depois, se viajam de avião, fazem-no na Ibéria, pernoitam em hotéis de cadeias exclusivamente Espanholas (Meliá, Riu, Sana ou outras), desde que uma delas exista, e se encontrarem uma marca espanhola dum produto que precisem, é essa mesma que compram, sem sequer comparar o preço (por exemplo em Portugal só abastecem combustíveis Repsol, ou Cepsa). Mas, até mesmo as empresas se comportam de forma semelhante!

As multinacionais Espanholas a operar em Portugal, com poucas excepções, recomendam aos seus funcionários que se deslocam ao estrangeiro a seguir estas preferências e contratam preferencialmente outras empresas espanholas, quer sejam de segurança, transportes, montagens industrias e duma forma geral de tudo o que precisem, que possam cá chegar com produto, ou serviço, a preço competitivo, vindo do outro lado da fronteira. São super proteccionistas da sua economia, protegendo todo o seu tecido empresarial, e dão sempre preferência aos produtos e serviços espanhóis.

Esta prática não é tudo, mas seguramente é meio caminho andado para combatermos o défice, e os desequilíbrios das nossas contas, e estamos a contribuir para o desenvolvimento e fortalecimento da nossa economia, e a defender o futuro de Portugal com novecentos anos de história.

Temos de ter políticos sérios e que saibam gerir o Estado, para salvar o Estado, começando nós por saber escolher os políticos sérios e competentes, desde logo começando por aqueles que têm a coragem de nos falar verdade, mesmo que ela seja dolorosa, só assim podemos preparar o nosso futuro e o dos nossos filhos.

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