Há uma
oliveira no alto rochoso do meu quintal. Tanto quanto fui ouvindo ao
longo da vida, rebentou em tão estranho sítio, de geração espontânea
(zambujeiro), mais ou menos quando eu nasci. Talvez daí o facto de
ter sido mantida pelo meu pai e, mais tarde, por todos nós.
Quando há uns anos, tantas décadas depois, sozinho, naquele silêncio
próprio do início da madrugada, olhei atentamente para ela, senti,
mais do que vi, que para além da idade, tínhamos também em comum o
crescimento em terreno terrivelmente difícil e duro, bem como o
facto de a ambos terem enxertado, mais do que uma vez, alguma coisa:
a ela frutos diferentes do que a natureza inicialmente previu; a
mim, conceitos e preconceitos de acordo com a época e a envolvente
geográfica e humana.
Esta noite, também sozinho, não sei a propósito de quê, talvez como
consequência de um estranho chamamento. lembrei-me de que temos
também em comum algo de desgarrado: ela as ramadas; eu as ideias.
Mas, sobretudo, um estreito destino e uma tremenda solidão.
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