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ALENTEJO, TRÁS-OS-MONTES E BEIRA INTERIOR

Terras de Bons Azeites

 

Isabel Carvalho

As referências dedicadas à oliveira e ao azeite existem em grande número e muito dispersas. Algumas datam da antiguidade, outras de tempos mais modernos. Mas, em quase todas, se encontram curtas notas à sua origem e aos seus usos, sendo de relevar a importância e a atenção que lhes dedicam os países produtores, onde se contam a França, Espanha,. Itália, Grécia e Portugal. Património, por excelência, dos países mediterrânicos, o azeite está hoje disseminado um pouco por toda a parte. Todavia, embora goze de um estatuto privilegiado, sofre, mercê das políticas e lobbies mundiais, ataques cirúrgicos, desferidos por uma indústria de óleos, cujo objectivo é o de dominar os mercados.

A sua prevalência, no entanto, dificilmente será aniquilada, pois a ciência e a investigação vieram demonstrar e certificar, entre outros aspectos, as suas propriedades nutritivas e organolépticas a nível da saúde humana.

Nos dias que correm, porém, o azeite aumentou também muito a sua importância económica daí que não seja de descurar o facto de a União Europeia ser simultaneamente o primeiro produtor mundial e o seu principal consumidor, respectivamente, com 80 por cento da produção e 70 por cento do consumo, segundo informação da Direcção-Geral da Agricultura, da Comissão Europeia.

No que toca a Portugal, conforme a mesma fonte, a olivicultura ocupava, em 2000, 130 mil agricultores. E, uma boa parte dessa percentagem estava no Alentejo.

 

Altos e baixos

O património olivícola português ocupa presentemente uma área de 340 mil hectares", estimando-se em "38 milhões o número de oliveiras existentes", como destaca num documento o Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (CEPAAL).

A mesma fonte sublinha ainda que o Alentejo "possui 43 por cento da superfície olivícola nacional, seguido de Trás-os-Montes e da Beira Interior; situando-se a produção alentejana, conforme as variações anuais, nas 11 mil toneladas/ano, o que corresponde a cerca de 30 por cento da produção portuguesa".

É, contudo, de notar que, ao longo das últimas décadas, Portugal tem registado um decréscimo na produção de azeite, mantendo-se contudo como um País vocacionado para a exportação. A este nível é de sublinhar que, "entre os mercados de destino do azeite nacional, está o mercado brasileiro, que importa cerca de 70 por cento do azeite português".

As razões evocadas para esse decréscimo passam, todavia, pelo elevado custo de produção; falta de mecanização na colheita da azeitona e ausência de mão-de-obra, o que tem originado o abandono das culturas, mas também pela política agrícola comum imposta para o sector, que se fez sentir de forma mais acentuada a partir de 1995. Um facto que se verifica através de números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), onde se pode ler que nos anos 50 do Século XX, "Portugal chegou a possuir 570 mil hectares de plantados de oliveira, atingindo, em 1953, produções de azeite da ordem das 120 mil toneladas", que contrastam com as actuais 40 mil toneladas.

No território português existem hoje cinco regiões com denominação de origem protegida (DOP), três das quais no Alentejo.

A denominação de origem que confere aos azeites portugueses uma mais valia, quer pela qualidade quer pela tipicidade, foi consagrada pela Comissão Europeia e abrange os azeites do Norte Alentejano; de Moura; do Alentejo Interior; de Trás-os-Montes; do Ribatejo. Mas, de acordo com o CEPAAL, além dos azeites certificados, "produzem-se no Alentejo azeites biológicos, azeites virgens e virgens extra, que competem em termos de qualidade, com os azeites de denominação de origem protegida".

O continente português e, em particular, o Alentejo apresentam então, de acordo com numerosos escritos, condições privilegiadas quer para o cultivo da oliveira quer para a produção de azeitonas. Esta, uma perspectiva confirmada na documentação do CEPAAL, onde se defende que "este cultivo e produção, em termos históricos, são muito antigos, remontando à Idade do Bronze, apesar de terem sido os Romanos, os Visigodos e os Árabes os responsáveis pelo seu desenvolvimento na Península Ibérica, embora existam traços da sua presença desde o comércio com os Fenícios".

Para o CEPAAL, "a oliveira tem uma longa história, que não se pode separar da evolução do Homem e das culturas que, como o trigo e a vinha, foram básicos na alimentação dos povos do Mediterrâneo".

Aliás, sobre a antiguidade da oliveira ninguém tem dúvidas, quer pela sua presença em passagens da Bíblia e do AI Corão, quer pelas referências que alguns clássicos gregos lhe fizeram nas suas obras, como é o caso de Homero, Ésquilo ou Sófocles, entre outros.

No que toca ao azeite (do árabe al+zait, que significa literalmente ‘sumo de azeitona’), a sua caminhada histórica não está desligada dessa árvore que dá a azeitona, que posteriormente é transformada nesse produto versátil e de vastíssimas aplicações, "quer para alimentar a chama que arde na candeia, quer na medicina tradicional, quer na higiene pessoal, quer na beleza, quer na alimentação humana, quer como lubrificante para as ferramentas e alfaias agrícolas, quer como impermeabilizante para as fibras têxteis, quer ainda como elemento essencial em ritos religiosos".

 

Saúde e beleza

Segundo a mesma fonte, "no que refere à beleza e higiene, o azeite é usado desde a Antiguidade na forma de banhos, massagens, máscaras de beleza e de champô, sendo os Romanos grandes apreciadores das unções com azeite, considerando-as verdadeiros banhos de juventude".

Na área da alimentação humana, o azeite, esse sumo de azeitona, merece hoje um lugar de destaque, embora seja consumido há milhares de anos.

Para isso concorreram a ciência e a investigação, ao descobrirem-lhe certas particularidades e propriedades benéficas e salutares. Uma delas está na "elevada percentagem de ácidos gordos mono-insaturados", que contribuem para a diminuição dos níveis de colesterol no sangue, bem como uma "baixa percentagem de ácidos gordos saturados".

Uma outra está nos seus "antioxidantes, vitamina E, caroteno e polifenóis", que ajudam o "organismo a proteger-se dos radicais livres (moléculas que aceleram o processo de envelhecimento celular)", que contribuem para o espoletar de várias doenças.

Outra ainda prende-se com a sua função digestiva e com a "redução da acidez gástrica".

Os exemplos de estudos que comprovam os efeitos benéficos do azeite na dieta humana são hoje muitos, mas um dos mais recentes apareceu publicado no lAMA (Journal of the American Medical Association). Aí, fica-se a saber que "numa dieta sã, a substituição de 10 por cento de hidratos de carbono por proteínas vegetais e boas gorduras, como o azeite, pode baixar a tensão arterial e o colesterol".

"A pressão sistólica dos voluntários baixou em média 0,8 pontos quando cumpriram a dieta de mais hidratos de carbono e 0,95 pontos na de mais proteínas vegetais e 0,93 na de mais gorduras saudáveis."

O mesmo documento sublinha ainda que, em relação ao colesterol, mais concretamente, "aos níveis de LDL (mau colesterol), os voluntários reduziram 12 pontos na dieta de mais hidratos de carbono, 14 na de mais proteínas e 13 na de mais boas gorduras".

As razões que, contudo, tomam o azeite num importante componente da alimentação humana são, grosso modo, as mesmíssimas que justificam o seu uso ao nível da beleza e da cosmética.

É, pois, por ser rico em ácido oleico que o azeite tem uma forte acção antioxidante e, é por isso, que a sua capacidade nutritiva é explorada na criação de máscaras capilares, no tratamento da caspa, em massagens e na fabricação de batons, óleos de banho e creme de mãos, entre outros.

Para conhecer e aprender mais sobre este sumo espesso e cor de ouro, impõe-se então uma visita quer ao Centro de Exposição do CEPAAL, quer ao Museu do Azeite – Lagar de Varas do Fojo, em Moura. Este, um "exemplar raro dos lagares de varas da Península Ibérica, importante testemunho da tecnologia tradicional, desenvolvido a partir da tipologia de lagar romano, que deixou de laborar em 1941", conforme informação do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR). Mas, se a intenção também for provar o azeite, então, há que ir a um dos muitos lagares activos existentes na região. E, para que essa viagem ao mundo do azeite fique completa, só faltará parar num lugar acolhedor e ingerir uma das muitas deliciosas iguarias alentejanas, onde por tradição sempre entra o bom e salutar azeite.

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