As referências dedicadas à oliveira e ao
azeite existem em grande número e muito dispersas. Algumas datam da
antiguidade, outras de tempos mais modernos. Mas, em quase todas, se
encontram curtas notas à sua origem e aos seus usos, sendo de relevar a
importância e a atenção que lhes dedicam os países produtores, onde se
contam a França, Espanha,. Itália, Grécia e Portugal. Património, por
excelência, dos países mediterrânicos, o azeite está hoje disseminado um
pouco por toda a parte. Todavia, embora goze de um estatuto
privilegiado, sofre, mercê das políticas e lobbies mundiais,
ataques cirúrgicos, desferidos por uma indústria de óleos, cujo
objectivo é o de dominar os mercados.
A sua prevalência, no entanto,
dificilmente será aniquilada, pois a ciência e a investigação vieram
demonstrar e certificar, entre outros aspectos, as suas propriedades
nutritivas e organolépticas a nível da saúde humana.
Nos dias que correm, porém, o azeite
aumentou também muito a sua importância económica daí que não seja de
descurar o facto de a União Europeia ser simultaneamente o primeiro
produtor mundial e o seu principal consumidor, respectivamente, com 80
por cento da produção e 70 por cento do consumo, segundo informação da
Direcção-Geral da Agricultura, da Comissão Europeia.
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No que toca a Portugal, conforme a mesma
fonte, a olivicultura ocupava, em 2000, 130 mil agricultores. E, uma boa
parte dessa percentagem estava no Alentejo.
Altos
e baixos
O património olivícola português ocupa
presentemente uma área de 340 mil hectares", estimando-se em "38 milhões
o número de oliveiras existentes", como destaca num documento o Centro
de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (CEPAAL).
A mesma fonte sublinha ainda que o
Alentejo "possui 43 por cento da superfície olivícola nacional, seguido
de Trás-os-Montes e da Beira Interior; situando-se a produção
alentejana, conforme as variações anuais, nas 11 mil toneladas/ano, o
que corresponde a cerca de 30 por cento da produção portuguesa".
É, contudo, de notar que, ao longo das
últimas décadas, Portugal tem registado um decréscimo na produção de
azeite, mantendo-se contudo como um País vocacionado para a exportação.
A este nível é de sublinhar que, "entre os mercados de destino do azeite
nacional, está o mercado brasileiro, que importa cerca de 70 por cento
do azeite português".
As razões evocadas para esse decréscimo
passam, todavia, pelo elevado custo de produção; falta de mecanização na
colheita da azeitona e ausência de mão-de-obra, o que tem originado o
abandono das culturas, mas também pela política agrícola comum imposta
para o sector, que se fez sentir de forma mais acentuada a partir de
1995. Um facto que se verifica através de números divulgados pelo
Instituto Nacional de Estatística (INE), onde se pode ler que nos anos
50 do Século XX, "Portugal chegou a possuir 570 mil hectares de
plantados de oliveira, atingindo, em 1953, produções de azeite da ordem
das 120 mil toneladas", que contrastam com as actuais 40 mil toneladas.
No território português existem hoje
cinco regiões com denominação de origem protegida (DOP), três das quais
no Alentejo.
A denominação de origem que confere aos
azeites portugueses uma mais valia, quer pela qualidade quer pela
tipicidade, foi consagrada pela Comissão Europeia e abrange os azeites
do Norte Alentejano; de Moura; do Alentejo Interior; de Trás-os-Montes;
do Ribatejo. Mas, de acordo com o CEPAAL, além dos azeites certificados,
"produzem-se no Alentejo azeites biológicos, azeites virgens e virgens
extra, que competem em termos de qualidade, com os azeites de
denominação de origem protegida".
O continente português e, em particular,
o Alentejo apresentam então, de acordo com numerosos escritos, condições
privilegiadas quer para o cultivo da oliveira quer para a produção de
azeitonas. Esta, uma perspectiva confirmada na documentação do CEPAAL,
onde se defende que "este cultivo e produção, em termos históricos, são
muito antigos, remontando à Idade do Bronze, apesar de terem sido os
Romanos, os Visigodos e os Árabes os responsáveis pelo seu
desenvolvimento na Península Ibérica, embora existam traços da sua
presença desde o comércio com os Fenícios".
Para o CEPAAL, "a oliveira tem uma longa
história, que não se pode separar da evolução do Homem e das culturas
que, como o trigo e a vinha, foram básicos na alimentação dos povos do
Mediterrâneo".
Aliás, sobre a antiguidade da oliveira
ninguém tem dúvidas, quer pela sua presença em passagens da Bíblia e do
AI Corão, quer pelas referências que alguns clássicos gregos lhe fizeram
nas suas obras, como é o caso de Homero, Ésquilo ou Sófocles, entre
outros.
No que toca ao azeite (do árabe al+zait,
que significa literalmente ‘sumo de azeitona’), a sua caminhada
histórica não está desligada dessa árvore que dá a azeitona, que
posteriormente é transformada nesse produto versátil e de vastíssimas
aplicações, "quer para alimentar a chama que arde na candeia, quer na
medicina tradicional, quer na higiene pessoal, quer na beleza, quer na
alimentação humana, quer como lubrificante para as ferramentas e alfaias
agrícolas, quer como impermeabilizante para as fibras têxteis, quer
ainda como elemento essencial em ritos religiosos".
Saúde
e beleza
Segundo a mesma fonte, "no que refere à
beleza e higiene, o azeite é usado desde a Antiguidade na forma de
banhos, massagens, máscaras de beleza e de champô, sendo os Romanos
grandes apreciadores das unções com azeite, considerando-as verdadeiros
banhos de juventude".
Na área da alimentação humana, o azeite,
esse sumo de azeitona, merece hoje um lugar de destaque, embora seja
consumido há milhares de anos.
Para isso concorreram a ciência e a
investigação, ao descobrirem-lhe certas particularidades e propriedades
benéficas e salutares. Uma delas está na "elevada percentagem de ácidos
gordos mono-insaturados", que contribuem para a diminuição dos níveis de
colesterol no sangue, bem como uma "baixa percentagem de ácidos gordos
saturados".
Uma outra está nos seus "antioxidantes,
vitamina E, caroteno e polifenóis", que ajudam o "organismo a
proteger-se dos radicais livres (moléculas que aceleram o processo de
envelhecimento celular)", que contribuem para o espoletar de várias
doenças.
Outra ainda prende-se com a sua função
digestiva e com a "redução da acidez gástrica".
Os exemplos de estudos que comprovam os
efeitos benéficos do azeite na dieta humana são hoje muitos, mas um dos
mais recentes apareceu publicado no lAMA (Journal of the American
Medical Association). Aí, fica-se a saber que "numa dieta sã, a
substituição de 10 por cento de hidratos de carbono por proteínas
vegetais e boas gorduras, como o azeite, pode baixar a tensão arterial e
o colesterol".
"A pressão sistólica dos voluntários
baixou em média 0,8 pontos quando cumpriram a dieta de mais hidratos de
carbono e 0,95 pontos na de mais proteínas vegetais e 0,93 na de mais
gorduras saudáveis."
O mesmo documento sublinha ainda que, em
relação ao colesterol, mais concretamente, "aos níveis de LDL (mau
colesterol), os voluntários reduziram 12 pontos na dieta de mais
hidratos de carbono, 14 na de mais proteínas e 13 na de mais boas
gorduras".
As razões que, contudo, tomam o azeite
num importante componente da alimentação humana são, grosso modo, as
mesmíssimas que justificam o seu uso ao nível da beleza e da cosmética.
É, pois, por ser rico em ácido oleico
que o azeite tem uma forte acção antioxidante e, é por isso, que a sua
capacidade nutritiva é explorada na criação de máscaras capilares, no
tratamento da caspa, em massagens e na fabricação de batons, óleos de
banho e creme de mãos, entre outros.
Para conhecer e aprender mais sobre este
sumo espesso e cor de ouro, impõe-se então uma visita quer ao Centro de
Exposição do CEPAAL, quer ao Museu do Azeite – Lagar de Varas do Fojo,
em Moura. Este, um "exemplar raro dos lagares de varas da Península
Ibérica, importante testemunho da tecnologia tradicional, desenvolvido a
partir da tipologia de lagar romano, que deixou de laborar em 1941",
conforme informação do Instituto Português do Património Arquitectónico
(IPPAR). Mas, se a intenção também for provar o azeite, então, há que ir
a um dos muitos lagares activos existentes na região. E, para que essa
viagem ao mundo do azeite fique completa, só faltará parar num lugar
acolhedor e ingerir uma das muitas deliciosas iguarias alentejanas, onde
por tradição sempre entra o bom e salutar azeite. |