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O Cante Alentejano em toda a sua Plenitude

 

José Simão Miranda

Aqui... aqui na Planície Dourada, onde a voz do vento soa mais alto, em harmonia com os tons da terra, confe­rindo-lhe sonoridades de beleza infinita:

            "Ali... ouvi mil vezes ouvi... lindas modas imortais."

Os homens da "terra do cante" foram moldados pela planície que lhes deu carácter, verticalidade ímpar, única, e um saber musical que se perde nos primórdios do tempo, numa simbiose de várias culturas cruzadas entre os povos do Sul.

Provavelmente, um pouco influenciados pelo Deus Endovélico, que terá inspirado a própria Natureza e a terra sagrada do pão.

Segundo a lenda do povo aborígene:

"Terra que não é cantada é terra morta!

Se o cante for esquecido, a terra acaba por morrer!"

Consciente desta realidade, o Homem tem necessidade de transmitir o seu legado cultural. À luz dos conhecimentos de hoje, sabe-se que o instrumento mais nobre, é sem dúvida a voz.

Quando interpretada com emoção e sentimento, esta é melodicamente perfeita, tomando-se mais bela e envolvente como só o alentejano sabe fazer.

No universo de "cantadores" surgiram diversas associações que através dos seus grupos corais, de homens, mulheres e crianças, assim como grupos instrumentais, "cante ao baldão" e "viola campaniça" grupos de cante religioso, divulgam e promovem o cante tradicional com grande dignidade.

Contudo é necessário uma maior consciencialização regional e nacional, de forma a que o cante possa ser reconhecido como património da huma­nidade.

À semelhança do que fez a Câmara Municipal de Moura, em reconhe­cimento do cante como Património Regional, todas as Câmaras, Regiões de Turismo e Casa do Alentejo em Lisboa, deveriam seguir o exemplo para que então possa ser criado entre outras coisas o Museu do Cante Alentejano, assim como a "Rota do Cante", associada à Etnografia e Gastronomia, mostrando os valores sócio culturais da história de um povo, perpetuando-o no tempo e consequentemente criar protocolos com o Ministério da Educação para a implementação de actividades na escolas onde o cante seja divulgado e ensinado a nível regional.

Sabe-se que a Musicoterapia é uma valência de grande utilidade para doentes em recuperação. Neste contexto, o Cante Alentejano tem também um papel preponderante neste campo. Para que estes meios sejam utilizados, torna-se necessário que hajam acordos com instituições de saúde, nomeadamente Hospitais, Clínicas, Misericórdias, Lares de Idosos...

Tratando-se de uma património valioso e único, elemento primordial da memória colectiva, é imperioso, dá-lo a conhecer às pessoas e ao Mundo.

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