No Mundo e em Portugal, conforme as
culturas, o Natal é comemorado com muita alegria e um forte sentido de
dádiva. Contudo, para muitos seres humanos, esta quadra não passa de uma
festa anual que sempre proporciona o encontro com as famílias e os
amigos. E, no centro destas reuniões, está, em geral, uma ampla mesa
repleta de boas iguarias, para já não falarmos das músicas alusivas, que
servem de fundo às conversas. Com raízes pagãs, segundo especialistas na
matéria, o Natal é uma celebração religiosa, pelo menos, desde o Século
IV D. C.
A celebração religiosa do Natal,
conforme reza a história, teve o seu início no Século IV, pela mão do
Papa Júlio I que, após exaustivas pesquisas, estabeleceu oficialmente o
dia 25 de Dezembro, como a data mais provável do nascimento de Jesus
Cristo.
Há, porém, especialistas nesta matéria
que defendem que embora as "origens das celebrações modernas se diluam
no tempo, é possível reconhecer-lhes as suas raízes pagãs e romanas."
As pagãs, relacionadas com os festivais
do solstício de Inverno; as romanas, com as celebrações em honra de
Saturno.
Em ambos os casos, os festejos
prolongavam-se por dias a fio, sempre com muita bebida e comida. Mas, é
no seguimento da deliberação papal do Século IV D. C. que aqueles
festejos pagãos começam a sua transformação e adaptação, que resultará
na sua total assimilação. Este, um fenómeno que em Portugal reconhecemos
em muitas romarias e festas populares, que no fundo foram cristianizadas
pela Igreja.
Com o andar do tempo, o Natal foi-se
transformando na grande festa da família que é hoje, embora se processe
segundo certos rituais, alguns ancestrais.
No Século XIII, contudo, por influência
dos franciscanos, chegam os presépios, que reconstituem a noite do
nascimento do menino Jesus e que se revestem de grande importância para
antropólogos e sociólogos, na medida em que "possuem a dupla vantagem de
constituir uma fonte historicamente datável e simultaneamente
relacionável com as classes populares", ouvimo-lo dizer a Nair
Alexandra, no VIII Congresso Internacional "A Festa", promovido pela
Sociedade Portuguesa de Estudos do Século XVIII, em 1992, nas
instalações da Feira Internacional de Lisboa (FIL).
Mais tarde, conforme verificámos no
decorrer das nossas pesquisas, no Século XVI, tentou-se introduzir o
costume da Árvore de Natal. Mas, em Portugal, a tradição do presépio
estava já perfeitamente consolidada, pelo que perdurou quase sozinha até
muito tarde. Ou seja, a adopção da Árvore de Natal só se realizou nos
"anos 50 do Século XX", conforme as palavras de Nair Alexandra, e, sob a
denominação de "Pinheiro de Natal", pois os portugueses resistiram-lhe
ao máximo por esta ser uma importação dos países "pagãos" do Norte da
Europa.
Nair Alexandra sublinhou ainda que "na
simbologia cristã a árvore ocupa um lugar especial, na medida em que
encerra em si o ciclo vida/morte/regeneração, ligando-se à trilogia
mundo subterrâneo/terra/céu". Neste contexto, segundo a mesma fonte, "a
árvore de folha perene constitui um símbolo de imortalidade e, sob o
ponto de vista simbólico, a árvore acompanha a vida de Cristo."
A seu tempo, juntou-se à árvore a troca
de presentes e o Pai Natal, embora, em algumas culturas, como foi o caso
da portuguesa, o Menino Jesus fosse o portador dessas dádivas. É, no
entanto, de referir que o Pai Natal tem uma origem muito antiga, à
semelhança, do ritual da troca de presentes.
A propósito destas matérias, as teorias
e as perspectivas são variadas. Algumas podem ser comprovadas, mas
outras há que assentam em lendas e mitos. Qualquer delas comporta,
contudo, as suas verdades.
Noite
de Natal
A celebração do Natal entre nós está
hoje eivada de influências anglo-saxónicas que, em boa verdade, têm
contribuído para alterar o Natal dos portugueses. Mas, nem todas as
alterações têm essa origem, na medida e na proporção que também as
nossas vidas e a sociedade em permanente aceleração, bem como, a nossa
capacidade de consumo sofreram mudanças profundas. Há, contudo,
situações e momentos em que a tradição ainda mantém vivos usos e
costumes passados de geração em geração.
Assim, é normal no País, na véspera de
Natal, a Consoada e a Missa do Galo. O madeiro que arde no adro e à
volta do qual se reúnem amigos a caminho de casa. Os círios que se
transportam para os lugares de culta. E, no dia 25, o almoço e o jantar
de Natal que variam conforme as regiões e os gostos familiares, embora
hoje, neste dia, o peru rivalize com o tradicional cabrito assado.
Nas residências onde há crianças
pequenas, a manhã consome-se com a abertura dos presentes, porque o Pai
Natal chegou com os mais pequenos já deitados. Todavia, quem sabe se
recordando os seus tempos de meninos e combatendo o espectro da espera,
os adultos fazem-na logo a seguir à ceia.
O dia é passado em confraternização,
sempre à volta de uma mesa, mas são os mais velhos que contam histórias
e lembram tempos que já não voltam.
No Alto Minho, segundo Rosa Maria, a
novena ao Menino Jesus tem lugar no período do Advento e cumpre-se
também a velha tradição de escolher o grande tronco que há-de arder até
aos Reis. De caminho, íamos ao musgo para em casa erguer o presépio.
Ainda me lembro das figurinhas, na altura reduzidas aos elementos
essenciais, porque a família não era abastada e não empatava muito
dinheiro em certas coisas. Assim, havia o burro, a vaca, Maria, São José
e o Menino Jesus que se deitava numas ervinhas. Um ano, era eu já mais
crescidinha, recordo-me de meu pai entrar casa adentro, todo satisfeito,
porque tinha comprado os três Reis Magos, um pastor, uma ovelha, uma
caminha para o menino e uma linda estrela, que eu colocava no cimo das
pedras que serviam de gruta.
Para a Consoada era usual haver bacalhau
cozido com batatas e couve-galega ou "badejo" ou pastéis de bacalhau com
esparregado de nabiças, ali do quintal, para quem quisesse. E, creio que
na altura era tudo; porém, confesso que é dos doces que melhor me
lembro. Aliás, era impressionante a quantidade de ovos que nos dias
anteriores à ceia eu via minha mãe transportar do galinheiro para depois
abrir, separar a gema da clara e bater com os restantes ingredientes.
Para não falar do quanto ela praguejava quando as poedeiras se escusavam
a pôr ovos ao ritmo das necessidades culinárias de minha mãe. Desculpem,
lembrei-me agora de uma coisa. Nestes dias que se avizinham sempre há em
mim uma outra memória que nem os 30 anos de Lisboa apagam, embora, nunca
mais o tenha sentido. É o cheiro do meu Natal. O cheiro da resina
libertada pelos troncos que ardiam na chaminé e o do fumo que se
agarrava à gente e permanecia até ao dia seguinte, o Dia de Natal, cujo
almoço foi anos a fio "roupa velha" e a encerrar rabanadas e arroz
doce".
Na Beira Baixa, com as devidas
diferenças, a quadra natalícia mantinha intactos muitos dos aspectos
sublinhados pela nossa anterior interlocutora. Quem o realça é Maria
Estrela, de 63 anos, natural de Castelo Branco, que sobre esse tempo
guarda um interessante rol de sensações, nela bem mais profundas que as
tradições. Assim, disse-nos: "lembro-me que... as calçadas pareciam
enceradas pela humidade, uma humidade muito especial que se tornava
cheiro.
Um cheiro acre e uma neblina que se
confundia e misturava com o fumo das lareiras que se acendiam por aqui e
por ali... E o grande madeiro que no Largo da Sé ardia até Dia de Reis!
E a Missa do Galo, aconchegante e cheia
de luz e cor, e o beijar do Menino.
Depois, o chegar a casa. A grande mesa
coberta de alva toalha de renda onde resplandeciam os talheres de prata
e os pratos brancos orlados por fina risca dourada. O vermelho das bolas
de Natal e o colorido das iguarias e a alegria nos rostos, que de vez em
quando se ensombravam pela lembrança dos que menos tinham!
E o grande presépio, onde as figurinhas
se espalhavam por uma cascata de planos. E, finalmente, os presentes,
que a partir do dia 1 de Dezembro já se tentavam espreitar.
Mas, hoje, o que resta mesmo é o cheiro
de Natal, as calçadas brilhantes e a cor dourada dos ovos de fio."
No Alentejo, a tradição do convívio à
roda da mesa e de um petisco não é coisa só da época natalícia; pelo
contrário, ela acontece e está presente em todo o tipo de festejos. Mas,
para Catarina João, a memória reteve o frio e a luminosidade própria da
noite de Natal, o calor que o grande madeiro a arder no largo vai
espalhando em redor e as pessoas, mais homens que mulheres, que se
juntavam à sua volta para conversar e até para cantar, "enquanto nós, os
mais pequenos, aproveitávamos o momento para umas correrias nocturnas,
só possíveis nesta altura."
Além disso, diz, "recordo com ternura as
filhós e as azevias acabadas de fazer que, em geral, davam o mote para o
recolher da pequenada."
Natal
das iguarias
Nesta quadra a boa cozinha tradicional
apresenta-se em todas as mesas do País, de Norte a Sul. E, se os
transmontanos ingerem nesta altura certos pratos, os alentejanos
consumirão outros. Todavia, porque não temos a pretensão de aqui dar a
conhecer cada uma das ceias, apresentaremos apenas algumas sugestões que
em quase todas as casas pontificam. O momento é de puro prazer para o
paladar, apesar de aqui corrompermos o dito popular de "a cada fuso sua
roca".
Comecemos então com Aletria com
ovos. Um prato que Guilhermina faz utilizando 100 gramas de
aletria, quatro decilitros de leite, 100 gramas de açúcar (menos 50 que
a porção utilizada pela avó), 50 gramas de manteiga, duas gemas, casca
de limão e canela.
A "preparação é simples e nada
demorada", diz. Põe-se a aletria a cozer. "Cinco minutos são
suficientes". Depois, escorre-se bem e reserva de parte, "porque é
preciso colocar o leite ao lume, com a casca de limão e o açúcar, a que
se junta então a aletria." Deixa-se cozer. "Quando estiver cozida
tira-se do lume e junta-se-lhe a manteiga e as gemas já batidas. A
seguir, o preparado volta à chama, pois convém que os ovos passem. No
final escolhe-se a travessa, deita-se a aletria e polvilha-se com
canela."
Nesta noite é ainda tradição comer-se o
denominado Bacalhau da Consoada, mas quem é que não sabe cozer bacalhau,
batatas, ovos e couve portuguesa, que ainda quentinho se rega de bom
azeite (que o temos por todo o Portugal) e vinagre, além de alho picado,
só para quem gosta.
Outra das especialidades natalícias são
as Rabanadas, que Augusta ainda faz como a mãe lhe
ensinou: "Guarda-se um pão do dia anterior, prepara-se uma tigela de
leite, quatro ovos, 250 gramas de açúcar, canela, casca de um limão, a
frigideira e uma noz de baunilha. O leite vai a ferver com duas colheres
de sopa de açúcar, a casca do limão e a baunilha. Entretanto, batem-se
os ovos inteiros e corta-se o pão às fatias, que logo de seguida se
passam pelo leite e pelos ovos. O azeite para fritar já deve estar
quente. Fritam-se uma a uma e colocam-se a escorrer em papel absorvente,
que antigamente era pardo. Ainda quentes, polvilham-se com calda de
açúcar. Depois, é comer e chorar por mais."
Da Roupa Velha não vale a
pena fazer grandes tiradas, já que ela se faz dos restos da Consoada, ou
seja, do bacalhau, da couve e das batatas que sobraram e são cortadas
aos bocadinhos, sendo depois tudo passado pelo azeite, onde previamente
se alouraram alguns dentes de alho. Quando a mistura estiver quente está
pronta. Não há nada mais rápido, nem simples.
Um pouco mais demorados são os
Sonhos que Isilda faz em casa e nesta altura vende para fora. A
receita que usa é aquela que a sua avó ensinou à mãe. "Começa-se por
colocar à mão todos os ingredientes", diz sorridente. Primeiro a água, a
equivalente a três chávenas, mais uma de farinha de trigo, seis ovos,
uma colher de sopa de fermento de padeiro, azeite e uma colher de banha,
sal, casca de limão, açúcar e canela.
"O primeiro passo consiste em colocar ao
lume a água, com um pouco de sal e duas cascas de limão. E, quando esta
mistura levantar fervura, baixa-se então a chama e junta-se-Ihe, toda de
uma vez, a chávena da farinha de trigo. Mexe-se com uma colher de pau
até a massa despegar e formar uma crosta fina no fundo do recipiente. Aí
tira-se do lume. Junta-se então os ovos e o fermento de padeiro,
revolve-se tudo muito bem até que a massa permita fazer uma bola, que se
coloca a levedar. Eu faço-lhe depois, por cima, uma cruz e digo uma
espécie de reza que minha mãe me ensinou, mas há quem não ligue a isso;
contudo, a cruz é muito importante, porque é ela que nos dá a indicação
que a massa está pronta a fritar, quando se desfaz. Assim, agarro em
duas colheres que me ajudam a fazer pequenas bolas e deito-as no azeite
a que juntei uma colher de sopa de banha. Por último, coloco os sonhos
sobre papel absorvente e deito-lhes o açúcar e a canela. E, é tudo."
Nesta altura do ano consomem-se também
as Filhós que já vimos com várias formas, porém, as que
aqui trazemos são as que Maria Isabel faz com o feitio de uma estrela.
O utensílio que utiliza, ou seja, a
forma, parece ser antigo e muito usado. E, não é para menos, pois diz
que foi "comprado numa feira em Manteigas, quando ainda andava na Escola
Primária". Todavia, como nos explicou, "a preparação das filhós é igual,
só o feitio é que muda". E, para fazer uma travessa delas, Maria Isabel
usa 500 gramas de farinha, cinco ovos, duas laranjas, uma colher de sopa
de açúcar, vinho do Porto e água.
"A farinha deve apresentar-se muito
fininha; por isso continuo a peneirá-la como se fazia antigamente,
quando chegava a nossas casas mais grada. Depois junto o sal, o açúcar e
a água suficiente para conseguir uma massa mole e maleável, a que
adiciono as gemas, a raspa da casca das duas laranjas e o cálice de
vinho do Porto. Deixo então a massa a repousar. A seguir bato as claras
em castelo e incorporo-as na massa. E, começa a parte mais aliciante das
filhós, que é a sua fritura. Primeiro mergulha-se a forma com o feitio
de estrela no azeite ou em óleo bem quente, deixa-se escorrer bem,
quando escorrida mergulha-se a forma na massa, até meia altura, ou seja,
sem que a massa cubra a forma. Tira-se então e mergulha-se no azeite,
sacode-se um pedacinho para a massa despegar. Esta fica a boiar. Quando
estiver lourinha tira-se, escorre-se e serve-se polvilhada de açúcar e
canela." Maria Isabel confessa a rematar a receita, "que antigamente
todos os anos fazia filhós", contudo, desde que os filhos casaram, só as
faz quando estes anunciam que vão passar o Natal a casa.
Por último, temos o António Carlos que
diz ter aprendido a fazer Bolo-Rei com "um reputado
pasteleiro". Com 50 anos, este homem iniciou na sua casa uma verdadeira
tradição que levou consigo do primeiro para o segundo casamento. É que a
preparação da Consoada e das refeições do Dia de Natal sempre foram da
responsabilidade das mulheres; no entanto, nesta época, António Carlos
entra cozinha adentro, prepara tudo e faz dois bolos rei. Um que estará
pronto no Dia de Natal; o outro só lá para as vésperas do Dia de Reis.
Cada um dos bolos consome-lhe, aproximadamente, oito horas.
Para a sua realização usa em cada um,
100 gramas de açúcar, 750 gramas de farinha, 25 gramas de fermento de
padeiro, 150 gramas de frutas cristalizadas, 250 gramas de frutos secos,
raspa de laranja e de limão em dose q.b., 100 gramas de margarina, uma
colher de sobremesa de sal, quatro ovos, um decilitro de vinho do Porto.
"O primeiro passo é colocar as frutas
picadinhas a macerar no vinho do Porto.
Depois, dissolve-se o fermento em um
decilitro de água morna, a que se junta depois uma chávena de farinha.
Mexe-se bem e coloca-se a levedar entre 15 e 20 minutos. E, enquanto se
espera, pode-se ir batendo a margarina com o açúcar, as raspas do limão
e da laranja, juntando-lhes a seguir os ovos, um a um, e o preparado que
ficou a levedar. Nesta fase revolve-se bem até que tudo esteja ligado,
deita-se então o resto da farinha e o sal. Agora é amassar... e
amassar... e amassar até que a massa fique macia e bastante elástica,
para que envolva bem as frutas, que entretanto se lhe misturam. Faz-se
então uma bola com a massa, que se polvilha de farinha. Tapa-se. E,
deixa-se levedar durante cinco horas. Quando a massa tiver duplicado de
volume, coloca-se sobre um tabuleiro e faz-se um buraco no meio.
Deixa-se levedar mais uma hora. A seguir pincela-se esta grande rosca
com gema de ovo e enfeita-se com as frutas cristalizadas e os frutos
secos. Entretanto, quando o forno estiver bem quente, coloca-se o bolo a
cozer. No final, em jeito de acabamento, pincela-se o bolo com geleia
diluída num pouco de água quente." Conforme António Carlos, "não é
difícil fazer um bolo-rei, mas é, sem dúvida, demorado".
Para Arminda, alentejana a viver em
Lisboa, o Natal na cidade tem menos graça que os passados nas zonas
rurais. "As árvores de Natal abrem-se em casa como os chapéus-de-chuva e
os presépios compram-se completos e prontos a armar. No campo não.
Tínhamos as figuras e todo o resto íamos buscá-lo à Natureza, desde as
pedras para fazer a gruta até ao musgo. O pinheiro era cortado lá para a
banda da courela. Depois, havia a matança e toda a azáfama inerente ao
acto que englobava também a distribuição das carnes pelos familiares,
que já se juntavam para os festejos de Natal."
No que toca à gastronomia natalícia,
Arminda afirma que cozinha o que qualquer família portuguesa prepara,
"talvez com uma excepção a minha deliciosa Sopa Dourada,
que aprendi em Estremoz. O modo de a fazer é tal qual o que me
ensinaram, contudo fiz algumas adaptações em termos das proporções de
certos ingredientes, caso do açúcar e dos ovos. Sei que lhes reduzi a
quantidade, mas a esta distância já não me recordo das anteriores. Seja
como for, fica boa, cá em casa toda a gente gosta. Assim, ponho-lhe 500
gramas de açúcar, 350 gramas de pão-de-ló, dez gemas de ovos e canela em
pó. Primeiro levo o açúcar ao fogo, mais ou menos com três decilitros de
água. Deixo ferver até obter o chamado ponto de cabelo. Entretanto,
previamente, cortei o pão-de-ló às fatias que passo pela calda de
açúcar. E, vou-as colocando muito direitinhas e com jeito numa travessa.
Depois, junto à calda mais um pouco de água e volto a esperar que ferva
e atinja então o chamado ponto de pérola, altura em que está boa para se
juntar às gemas que, neste caso, para quem não sabe, se cortam somente
com uma faca e não se batem. Levo tudo ao fogo para engrossar. Quando a
mistura começa a parecer-se com ovos-moles tiro-a do fogo e deito-a por
cima das fatias. Depois, por causa dos gostos, em metade ponho canela,
na outra não ponho."
Natal
nota a nota
A existência de lírica, de teatro
religioso e de canções ligadas à quadra do Natal e dos Reis tem sido
permanente na Península Ibérica desde a Idade Média, segundo Nair
Alexandra, presente no VIII Congresso Internacional "A Festa", que já
acima citámos. E, entre nós, durante anos, apresentou-se, em algumas
localidades, o denominado" Auto do Natal", cujos actores recreavam o
nascimento do Menino Jesus. Esta peça, devidamente encenada por
populares, envolvia todas as figuras do presépio, incluindo os animais
vivos, nomeadamente, o burro, a vaca e as ovelhas.
No que toca a canções de Natal,
encontrámos algumas que ainda se entoam por todo o País. Contudo,
notámos que em certas regiões as rimas sofreram pequenas adaptações, em
nosso leigo entender, com o intuito de as aproximar das formas de
linguagem locais, como é o caso de "Ao Deus Menino", cantado no
Alentejo.
Do conjunto das canções entoadas por
esta altura deixamos o registo daquela que talvez seja uma das mais
populares entre todos os portugueses: "Natal de Elvas".
NATAL
DE ELVAS
Eu hei-de dar ao Menino
Uma fitinha pró chapéu
E ele também me há-de dar
Um lugarzinho no céu.
Olhei para o céu
Estava estrelado
Vi o Deus Menino
Em palhas deitado.
Em palhas deitado,
Em palhas estendido,
Filho duma rosa,
Dum cravo nascido!
No seio da Virgem Maria
Encarnou a divina graça;
Entrou e saiu por ela
Como o sol pela vidraça.
Arre, burriquito,
Vamos a Belém,
A ver o Menino
Que a senhora tem;
Que a senhora tem,
Que a senhora adora
Arre, burriquito,
Vamo-nos embora. |
O «Presépio»
Arranjo gráfico a partir de uma pintura de António Galvão.
|
|