índice do almanaque
PATRIMÓNIO
Património, Evolução e Desenvolvimento

 

Vasco Martins Costa

 

Se nos detivermos a olhar para o percurso do Homem através dos tempos, damos conta do modo como se empenhou em garantir as melhores condições de vida para si e para a sua família.
 

Clicar para ampliar.

Verificamos como nessa luta permanente para assegurar o seu sustento, para se proteger das intempéries e para se defender dos inimigos, soube transformar a paisagem que o rodeava e construir o seu tecto e as estruturas defensivas que lhe garantiam a desejada segurança.

Com o decorrer dos tempos, e na medida em que ia realizando a ambição do desenvolvimento, regista-se uma crescente especialização dos indivíduos e das organizações com grande destaque para a constituição dos exércitos. Os castelos e as praças-fortes em que esses exércitos se apoiavam, e que nos recordam as lutas travadas pelo domínio do território, tomaram possível o desenvolvimento de núcleos urbanos que se transformaram nas vilas e cidades que hoje conhecemos. Pela sua importância na vida das populações e pelo seu valor histórico foram estas estruturas militares, justamente, consideradas Monumentos Nacionais.

Na Região do Alentejo, como testemunho da difícil ocupação do território nacional, registamos 52 castelos que devemos conhecer e visitar. Constituem uma parte importante da nossa herança patrimonial, de que também fazem parte outras construções, tais como, palácios, conventos e igrejas. No seu conjunto dão-nos a conhecer, ao longo dos séculos, o modo de vida da sociedade e a importância da religião. Constituindo essa herança o melhor testemunho de um povo, temos a responsabilidade de a proteger e transmitir aos nossos filhos, mantendo viva a sua história.

À medida que nos fomos desenvolvendo, tornámo-nos mais conscientes da importância daquela herança patrimonial e mais exigentes com os bens que a devem constituir. Esta atitude foi responsável, nos últimos quarenta anos, pelo rápido e crescente alargamento do conceito de Património. Quem não recorda o valor que passou a ser dado às cidades históricas? Foi assim que em 1986 passámos a juntar aos Monumentos Nacionais, até então constituídos por edifícios históricos e monumentais, as construções de toda a cidade de Évora, intramuros. Foi mesmo considerada como património de toda a Humanidade.

A importância que hoje se atribui às técnicas e aos materiais tradicionais, enquanto expressão dos aspectos sociais, económicos e culturais de um povo, bem visíveis no património construído, está patente no projecto CORPUS que envolveu quinze países da área do mediterrâneo. No âmbito deste projecto foram inventariadas as formas e técnicas das construções, executadas em taipa e adobe, incluindo muros divisórios de propriedades.

Por outro lado, para que não se perdesse o saber fazer dos mestres construtores das abóbadas e abobadilhas alentejanas, foi criado, na Escola de Serra, em 1993, o curso Mestres de Construção Civil Tradicional.

Clicar para ampliar

Clicar para ampliar.

Com estes dois exemplos quisemos sublinhar a importância de mantermos vivas as características essenciais de uma cultura, que reflectem o caminho percorrido na organização da vida em sociedade e na criação de novas formas arquitectónicas. Hoje em dia, são essas características essenciais que constituem a nossa herança patrimonial.

Se é verdade que sempre se deu mais valor ao que é raro e genuíno, não há quaisquer dúvidas de que no futuro procuraremos esses bens com muito maior interesse. Bens em que o Alentejo é particularmente rico. Confirma-o a revalorização da diversidade cultural, enquanto modo de permanecermos únicos e ligados às nossas origens, numa época de crescente globalização em que as distâncias se reduzem com os novos meios de comunicação e em que quase tudo nos entra porta dentro pela rádio e televisão.

Para tirarmos partido da nossa diversidade cultural, na definição de uma estratégia de desenvolvimento sustentado, é imperioso que utilizemos o património como recurso. De facto, no património arquitectónico e no modo de o usar, encontramos bem documentada toda a riqueza e matizes da criação humana.

Deste modo, para podermos alcançar o desenvolvimento e crescimento económico que desejamos, é indispensável valorizar, por igual, a relação entre os diferentes aspectos do património: arquitectura, gastronomia, cerâmica, vestuário, qualidade ambiental, cantares e todos os aspectos ligados à humanização da paisagem. Isso permitiria implementar um plano de actuação que visasse o crescimento económico harmonioso e sustentado, assegurando com base numa informação estruturada:

● a identificação dos valores de cada região

● o planeamento e controlo das intervenções de recuperação do património

● a implementação de programas de aprendizagem e entretenimento

● a definição de itinerários turísticos e culturais

● a geração de conteúdos

● a participação em redes culturais temáticas

● a valorização dos saberes e do saber fazer.

Para a definição e implementação desse plano estratégico, é indispensável alterar a nossa atitude cultural para com o património. É que habitualmente não o valorizamos.

Devemos, ainda, tomar consciência de que, hoje em dia, a nossa dimensão cultural é expressa pelo modo como desempenhamos a missão de salvaguarda e valorização do nosso Património.

Da diversidade e riqueza deste Património, no Alentejo, apresento alguns exemplos.

 

Clicar para ampliar.

cimo da páginapágina anteriorpágina seguinte