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Verificamos como nessa luta permanente
para assegurar o seu sustento, para se proteger das intempéries e para
se defender dos inimigos, soube transformar a paisagem que o rodeava e
construir o seu tecto e as estruturas defensivas que lhe garantiam a
desejada segurança.
Com o decorrer dos tempos, e na medida
em que ia realizando a ambição do desenvolvimento, regista-se uma
crescente especialização dos indivíduos e das organizações com grande
destaque para a constituição dos exércitos. Os castelos e as
praças-fortes em que esses exércitos se apoiavam, e que nos recordam as
lutas travadas pelo domínio do território, tomaram possível o
desenvolvimento de núcleos urbanos que se transformaram nas vilas e
cidades que hoje conhecemos. Pela sua importância na vida das
populações e pelo seu valor histórico foram estas estruturas militares,
justamente, consideradas Monumentos Nacionais.
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Na Região do Alentejo, como testemunho
da difícil ocupação do território nacional, registamos 52 castelos que
devemos conhecer e visitar. Constituem uma parte importante da nossa
herança patrimonial, de que também fazem parte outras construções, tais
como, palácios, conventos e igrejas. No seu conjunto dão-nos a conhecer,
ao longo dos séculos, o modo de vida da sociedade e a importância da
religião. Constituindo essa herança o melhor testemunho de um povo,
temos a responsabilidade de a proteger e transmitir aos nossos filhos,
mantendo viva a sua história.
À medida que nos fomos desenvolvendo,
tornámo-nos mais conscientes da importância daquela herança patrimonial
e mais exigentes com os bens que a devem constituir. Esta atitude foi
responsável, nos últimos quarenta anos, pelo rápido e crescente
alargamento do conceito de Património. Quem não recorda o valor que
passou a ser dado às cidades históricas? Foi assim que em 1986 passámos
a juntar aos Monumentos Nacionais, até então constituídos por edifícios
históricos e monumentais, as construções de toda a cidade de Évora,
intramuros. Foi mesmo considerada como património de toda a Humanidade.
A importância que hoje se atribui às
técnicas e aos materiais tradicionais, enquanto expressão dos aspectos
sociais, económicos e culturais de um povo, bem visíveis no património
construído, está patente no projecto CORPUS que envolveu quinze países
da área do mediterrâneo. No âmbito deste projecto foram inventariadas
as formas e técnicas das construções, executadas em taipa e adobe,
incluindo muros divisórios de propriedades.
Por outro lado, para que não se perdesse
o saber fazer dos mestres construtores das abóbadas e abobadilhas
alentejanas, foi criado, na Escola de Serra, em 1993, o curso Mestres de
Construção Civil Tradicional.
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Com estes dois exemplos quisemos
sublinhar a importância de mantermos vivas as características essenciais
de uma cultura, que reflectem o caminho percorrido na organização da
vida em sociedade e na criação de novas formas arquitectónicas. Hoje em
dia, são essas características essenciais que constituem a nossa herança
patrimonial.
Se é verdade que sempre se deu mais
valor ao que é raro e genuíno, não há quaisquer dúvidas de que no futuro
procuraremos esses bens com muito maior interesse. Bens em que o
Alentejo é particularmente rico. Confirma-o a revalorização da
diversidade cultural, enquanto modo de permanecermos únicos e ligados
às nossas origens, numa época de crescente globalização em que as
distâncias se reduzem com os novos meios de comunicação e em que quase
tudo nos entra porta dentro pela rádio e televisão.
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Para tirarmos partido da nossa
diversidade cultural, na definição de uma estratégia de
desenvolvimento sustentado, é imperioso que utilizemos o património como
recurso. De facto, no património arquitectónico e no modo de o usar,
encontramos bem documentada toda a riqueza e matizes da criação humana.
Deste modo, para podermos alcançar o
desenvolvimento e crescimento económico que desejamos, é indispensável
valorizar, por igual, a relação entre os diferentes aspectos do
património: arquitectura, gastronomia, cerâmica, vestuário, qualidade
ambiental, cantares e todos os aspectos ligados à humanização da
paisagem. Isso permitiria implementar um plano de actuação que visasse o
crescimento económico harmonioso e sustentado, assegurando com base
numa informação estruturada:
● a identificação dos valores de cada
região
● o planeamento e controlo das
intervenções de recuperação do património
● a implementação de programas de
aprendizagem e entretenimento
● a definição de itinerários turísticos
e culturais
● a geração de conteúdos
● a participação em redes culturais
temáticas
● a valorização dos saberes e do saber
fazer.
Para a definição e implementação desse
plano estratégico, é indispensável alterar a nossa atitude cultural para
com o património. É que habitualmente não o valorizamos.
Devemos, ainda, tomar consciência de
que, hoje em dia, a nossa dimensão cultural é expressa pelo modo como
desempenhamos a missão de salvaguarda e valorização do nosso
Património.
Da diversidade e riqueza deste
Património, no Alentejo, apresento alguns exemplos.
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