Na década de 1930 pescava-se bacalhau
nos dóris, apoiados por lugres já motorizados, que não dependiam tanto
dos ventos. Navegava-se à emposta.
A E.P.A., que já tinha demandado os
bancos da Groenlândia, resolveu tomar outra iniciativa, pois o Sr. Egas
Salgueiro começara a aperceber-se que a pesca à linha tinha os dias
contados. Outros países começaram a aparecer com redes de arrasto pelo
fundo. Por isso, a empresa começou a desfazer-se dos Lugres e a adquirir
navios de arrasto lateral, os chamados “Clássicos”, por ser esta a
tecnologia da altura.
Em 1936, encomendou, na Dinamarca o
navio Santa Joana. Em 1939, adquiriu à Morue Française, em São Pierre,
em colaboração com o Sr. Carlos Roeder, o navio Spitzberg, que fora
danificado por um incêndio. Com a colaboração dos estaleiros Navais de
São Jacinto, reparou-o e adaptou-o para arrastão, conferindo-lhe o nome
de Santa Princesa.
Em 1948, mandou construir, na Holanda, o
Santo André. No mesmo ano, encomendou aos Estaleiros Navais de Viana do
Castelo, o São Gonçalinho, que viria a ser a terceira construção deste
estaleiro. Ainda no mesmo ano, mandou construir nos estaleiros da
Livorno, em Itália, o Santa Mafalda.
Em 1958, não sei por que motivo, mandou
novamente construir nos E.S.J. um navio para pesca à linha, o Rio
Alfusqueiro, recorrendo a baleeiras em vez de dóris.
Todos estes navios que acabámos de
enumerar tinham em comum o facto de serem construídos em aço, com
máquinas diesel na ordem dos 1200 HP de potência, com comprimentos
médios de 65 metros, porões salgadores (na ordem dos 20000 quintais de
capacidade), caldeiras para fazer o óleo de fígado de bacalhau e
frigorífico de mantimentos. Na altura o convés ainda era descoberto.
Todos os navios estavam equipados com
geradores e motores de corrente contínua, guinchos eléctricos ou
hidráulicos, radares, sondas, potentes emissores de ondas curtas e VHF (Very
High Frequency), além de radiogoniómetros e girobússolas para indicar o
norte verdadeiro, que não eram influenciadas pelo magnetismo terrestre.
Mais tarde, todos eles sofreram
alterações, sendo por isso uma permanente fonte de trabalho para as
oficinas da E.P.A.
De todos os navios transformados, o que
mais me marcou foi o Santa Mafalda, que acabou partido ao meio, no
estuário do Tejo, e que, por isso mesmo, será objecto de uma crónica
especial.
Não entrando em mais pormenores,
vamo-nos cingir a uma breve reportagem fotográfica do Santo André,
actualmente Navio Museu acostado ao cais do Jardim Oudinot, no Forte da
Barra, na qual mostramos os elementos principais usados em navios deste
tipo.
|
|
|
|
|
|
1. Navio visto de ré. |
|
2. Pormenor da “patesca”
à ré, construída e melhorada, para unir os dois cabos reais que
puxam as portas de arrasto. |
|
3. Modelo de sirene,
fabricado no Francisco dos Santos Piçarra, em Aveiro, e, mais tarde,
na Frapil. |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
4. Pormenor do veio do
hélice. |
|
5. Navio visto de proa. |
|
6. Guincho de pesca,
hidráulico, mais lentos que os modelos eléctricos. |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
7. Leme em aço. |
|
8. Aro com as portas de
arrasto, uma à proa outra à ré, por estibordo. Estas portas, com
1500 Kgs em ferro e forradas a madeira, construídas nas oficinas da
E.P.A., permitiam abrir a rede, durante o arrasto. |
|
9. Bóia de salvamento,
junto da asa da ponte. |
|
|
|
|
|
10. Sino, tão
característico dos navios, já para não chamar os Dóris, mas sempre
necessário para alguns sinais. |
|
11. Molinete eléctrico à
proa, sobre o paiol do pico das correntes, que seguram a “gata”. |
|
12. Projector de
pesquisa de gelo, com reflector parabólico e lâmpada de filamento de
1000 W, mais tarde de Árgon. À esquerda, o scanner do radar. |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
13. Antena circular
cruzada do radiogoniómetro e faróis de sinais, um com uma lente
Fresnel de 8ª ordem. No mastro, a sirene, tal como na nossa
“Sagres”. |
|
14. Roda do leme, á
popa, por cima da casa do leme. |
|
15. Cabrestante à ré. |
|