Société Chérifienne des Entreprises de Pêche Aveiro-Maroc.
Porquê? Não consegui saber a esta distância, mas o Sr. Egas deve ter
pensado muito bem nisto e haverá pelo menos três motivos para que este
investimento tivesse sido feito, a saber:
1. Relata a “Flâmula” que o «Rio Cáster» arribou a Agadir para se
reabastecer. Logo, os arrastões da pesca do alto, que a EPA tinha
sediados em Matosinhos, tinham apoio se possivelmente pescassem na zona
do Cabo Branco, em Marrocos.
2. Por outro lado, Marrocos é hoje o primeiro exportador mundial de
sardinha; portanto, pressupõe já na época uma actividade para poder ter
uma unidade fabril.
3. Por último, ter um porto de apoio, aos nossos atuneiros, que subindo
a costa de África, desde Angola, descarregavam em Agadir e passavam o
estreito de Gibraltar, para entrar no Mediterrâneo e ir até Veneza,
vender o atum, como o prova uma fotografia na “Flâmula”, com o «Rio
Vouga».
Mas fazendo um pouco de história, Agadir chamava-se em Português Santa
Cruz do Cabo do Gué, cidade a sul de Marrocos perto da foz do rio Suz,
ali pelo paralelo 30 graus N, na costa do Oceano Atlântico, a uma
altitude de 23 m. Tem a Nordeste a Cordilheira do Atlas, com um
comprimento de 2400 km, através de Marrocos, Argélia e Tunísia, com uma
elevação máxima de 4167 m.
Em 1505, os portugueses edificaram a Fortaleza de Santa Cruz, que
acabaram por abandonar, porque sempre tiveram problemas com as tribos da
região; e depois também Safim e Azamor, ficando apenas Mazagão, Tânger e
Ceuta. Já em 1731 um forte terramoto atingiu a cidade e, em 1746, os
holandeses participaram na reconstrução da cidade. Veremos como a
história se repete…
Em 1930, a França ocupa quase todo o território e começa a ser edificado
um centro moderno na cidade. Em 1950, abre o porto comercial. Em 1960,
já lá tínhamos o complexo industrial. Quando faltavam 15 minutos para a
meia-noite, no dia 29 de Fevereiro, Agadir, com 40.000 habitantes, foi
novamente destruída por um sismo de magnitude 5,7 na escala de Richter,
terramoto que durou 15 segundos e matou 20.000 pessoas. 2500 feridos e
mais de um milhar de portugueses morreram ou ficaram feridos. Presentes,
como representantes da EPA, estava o Sr. Carlos Grangeon e o nosso
contabilista, o Sr. Manuel da Silva Reis. O gerente da nossa fábrica era
o Sr. José Oliveira e Silva. E todo este episódio vem bem descrito na
revista da nossa empresa. No Hotel Saoda de 3 andares, muitas pessoas
ficaram emparedadas; no Hotel Marhaba, onde tinham os quartos, tudo
desabou. Por sorte, o pessoal da EPA não estava lá. A França fez
deslocar para Agadir 18 vasos de guerra para assistência às populações.
A própria vivenda do gerente ficou num estado lastimoso, mas todos
ficaram a salvo. A rádio só transmitia cerimónias do “Ramadan”. A
fábrica pouco ficou afectada. As pessoas tiveram de dormir um dia numa
tenda e a EPA acabou de abandonar este investimento por falta de
mão-de-obra, que se deslocou toda para a reconstrução da cidade. O
próprio Sr. Egas fez questão de ir receber os nossos colaboradores ao
Aeroporto da Portela, em Lisboa.
Aliás o Rei de Marrocos, Mohamed V, exortou o seu povo dizendo: «Se o
Destino decidiu a destruição de Agadir, a sua reconstrução depende da
nossa fé e vontade.» Hoje Agadir é um importante centro turístico, com
300.000 habitantes! E 70 hotéis! |