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Egas Salgueiro e a Empresa de Pesca de Aveiro – As minhas memórias

A Fábrica de Conservas

A gestão da Fábrica era da responsabilidade do Sr. Engº Paulo Seabra, já na qualidade de Administrador.

São muitas as minhas memórias sobre a Fábrica de Conservas, quer pela sua inauguração com pompa e circunstância, quer pelo trabalho que dava à Electricidade.

Em 31 de Outubro de 1964, a Empresa fez deslocar uma carruagem especial atrelada ao comboio Rápido, que saiu de manhã de Santa Apolónia com membros do Governo. À chegada a Aveiro, foram transportados de autocarro para a Gafanha, e aí recebidos por uma banda de música e foguetes. Além da Fábrica de Conservas, inauguravam-se também as suas Instalações Sociais e as das Oficinas e Secadores Artificiais. Foram alvo das visitas não apenas as novas instalações, mas também toda a empresa. Recordo-me, em particular, da Oficina de Redes, onde estava montada uma rede de pesca do bacalhau em tamanho natural. O almoço foi no Armazém do Vazio da própria Fábrica, secção onde eram armazenadas as embalagens metálicas para as conservas. Estávamos neste espaço cerca de 900 pessoas!

Lembro-me que na Fábrica, só de pessoal feminino, chegaram a trabalhar 112 mulheres. Tínhamos ainda interesses em Setúbal, nas Fábricas Viegas e Lopes, e na Coresa, que fazia a distribuição a nível nacional.

Nestas coisas, temos de nos render à evidência! Há sempre quem saiba mais do que nós. Fui por isso à Gafanha falar com o meu amigo Fernando Santos, que esteve na EPA 45 anos! Já não o via há vinte e foi com dificuldade que disfarcei a minha emoção, precisamente na rua Comendador Egas Salgueiro, onde nos pusemos de acordo que, há 45 anos, éramos uns meninos: eu na Oficina Eléctrica; ele nas Conservas, depois de ter passado um período de adaptação com o Artur Filipe. Mas o Fernando também se guindou bem, adquirindo os conhecimentos técnicos do Mestre Samúdio e tendo chegado a Encarregado Geral, ao lado do Manuel Ferreira, do Carlos Lazara e do Cirino.

Na nossa conversa, vieram à superfície as memórias de então. Aos poucos, fomos recuperando as diferentes secções que constituíam a fábrica.

Cinco câmaras de refrigeração. A Central de Vapor, que funcionava a nafta, inicialmente orientada pelo Sr. Borralho e, mais tarde, pelo Sr. Morgado. A actualização do equipamento por ter ficado obsoleto. Os cozedores Dubix, que não nos criavam complicações, porque a sardinha era cozida a vapor, sem grandes tecnologias. As Bassines, com 2.000 litros de água, que, com ou sem sal, coziam a vapor o atum e tinham por cima os diferenciais Demag, que eram uma grande dor de cabeça para a oficina Eléctrica, por serem lambidos por aqueles vapores. A linha de azeitamento, que não era muito complicada. A linha de cravação das latas que, além de precisar de um bom afinador mecânico, também dava trabalho à Electricidade. Para resolução destes problemas, tivemos o Francisco Teodoro e, mais tarde, o Joaquim Rodrigues, que se veio a revelar um grande especialista.

Na Fábrica não se trabalhava só Sardinha e Atum. Eram as Cavalas, eram os Chocos, eram os Polvos, eram as Lulas, era o Bacalhau, eram as ovas do bacalhau, era o Berbigão, eram as Anchovas… E para tudo isto era preciso mão de mestre; e segredos para elaboração dos respectivos molhos: em óleo, em azeite e com tomate. É de notar que, para os Estados Unidos da América, chegámos a substituir os molhos por água, pois os americanos queriam ser eles a temperar.

Tínhamos ainda o sistema de esterilização a 116 graus, para 40 minutos, ou 121 graus, para 33 minutos. O Armazém do Vazio e do Cheio, onde tínhamos as máquinas de percintar, da Strapex, e as Retrácteis. Quando faltava a energia, um grupo de emergência, proveniente de uma lancha de desembarque dos EUA, do tempo da Segunda Grande Guerra, alimentava a Fábrica.

 

 

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04-05-2018