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/ 127 /
NOMENCLATURA DOS SENHORIOS,
DOS FOREIROS E OUTROS HABITANTES
DA COUTADA
Ao elaborar duas listas de alguns Senhorios, foreiros e habitantes da
Coutada, fomos impulsionados somente pelo desejo de fazer a sua
história, que sem esforço se pode encontrar e estudar na documentação
presente.
A compilação desses nomes é feita em simples sumários, porque a fazer-se
a publicação integral dos documentos, seria mais penosa a consulta para
os trabalhos de mais rápida execução.
Esta simples selecção dos
nomes que em resumo extraímos dos documentos
tem a sua explicação subjectiva e principal em o oferecer aos
estudiosos e aos eventuais leitores destes despretensiosos apontamentos,
a história mais ou
menos resumida e aproximada da evolução do povoamento,
do movimento demográfico e das genealogias do lugar da Coutada.
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128 /
Couto é evidente pela documentação apresentada nestes
trabalhos, teve a Coutada a sua formação durante mais de três séculos.
A recolha dos nomes das individualidades que por ali passaram, e que por
ali exerceram as suas actividades, não
foi, pois, voluntariosa ou despicienda. Quisemos também
fazer história com documentos em perigo de se perderem.
Entendemos que, com esse fim, não é para desprezar a arrumação
metódica daqueles elementos que, seleccionados e relacionados com outros
objectivos estranhos aos documentos em tese, podiam também oferecer ou
proporcionar facilidades aos linhagistas, que se dediquem a investigações desta natureza. Eles são igualmente historiadores.
Nestes curtos elencos, melhor poderá ser encontrada a pista que
oriente o investigador sobre a origem das famílias que em certos lugares
se foram fixar.
Mesmo dentro da nomenclatura das famílias nobres aqui publicada,
poder-se-á encontrar um rasto, uma fresta que denuncie as linhagens
ainda desconhecidas, ou de outras das quais se duvide a que grupo
genealógico possam pertencer.
E nunca é demasiado rebater estes assuntos, embora lá tratados, sobre as
origens indecisas, ou mal conhecidas de certas individualidades. Mesmo,
no que diz respeito ao bom regime da sociedade, tudo é bom e
apreciável.
A determinante que nos levou à publicação dos documentos, foi
muito
restrita e nem se compadece com um estudo mais completo, profícuo e
efectivo que neles desejaríamos ver. Outro foi o seu fim. Só acidentalmente tratamos de
coisas estranhas à Coutada.
Alguma coisa, porém, podemos aproveitar da exposição documental. Dela,
contudo, poderão os profissionais tomar fôlego e estímulo para trabalhos
mais largos.
Muito importa notar-se nesta ementa que é quase total a omissão dos
nomes das consortes ou esposas daqueles que figuraram nos documentos.
Se tudo viesse completo, seriam mais fructuosas as diligências
empregadas nestes trabalhos de investigação, das ligações de parentesco
e do povoamento da terra.
Nestas condições, é fraca a possibilidade de
individualizar os agrupamentos familiares que, imigrando de outras terras, ali
se vieram instalar, bem como em outras povoações que tomaram por
adoptivas e que agora chamam suas.
Esta notada lacuna documental e a consequente perda dos cruzamentos
matrimoniais, tornou mais difícil a concretização originária das
famílias.
Como disse, os investigadores
profissionais suprirão.
/
129 / [VoI. XIX - N.º 74 -
1953]
*
* *
LISTA GENEALÓGICA DOS
SENHORIOS DIRECTOS DA COUTADA
1606-1816
─ António de Albuquerque, casado com
D. Joana da Silveira de Sá.
Destes
José de Albuquerque Mascarenhas.
Padre Francisco da Silveira Albuquerque Mascarenhas.
─ António Fernandes Teixeira (n. Lomba - Chão do
Couce e m. Vale de Ílhavo), casou com
D. Josefa Maria da Rosa (n. Casais-Maçãs D. Maria
em. Vale de Ílhavo).
Destes
José Fernandes Teixeira.
João Fernandes Teixeira.
António Fernandes Teixeira.
Joana Maria da Rosa,
Rosa Maria da Rosa.
─ António José Saraiva de Castelo Branco (n. Mogofores), casado com
D. Micaela Luísa de Aguiar (n. Vila da Feira, ambos
m. Aveiro).
Destes
José, baptizado em 23-6-1733.
Bernardo, baptizado em 20-7-1734.
Gonçalo, baptizado em 23-10-1735. Falecidos
em estado de solteiros.
─ António da Silveira Mascarenhas, casado com D. Joana
Antónia da Silveira.
─ Fernando José Camelo de Miranda Pinto Pereira da
Silva (n. Várzea do Douro, m. Aveiro), casado com
D. Maria Eufrásia Soares de Albergaria (n. Oliveira
do Conde). (Não houve herdeiros directos, sucedendo-lhe no Morgadio seu 2.º primo João Lopes Ferreira).
/
130 /
─ Francisco António Camelo Falcão Pereira da Silva, casado com
D. Luísa Caetano Camelo Falcão.
Destes
Fernando José Camelo de Miranda Pinto Pereira
da Silva.
─ Francisco da Silveira de Sá, casado com...
Destes
António da Silveira Mascarenhas.
─Francisco da Silveira, o Velho, casado com...
Deste
D. Joana da Silveira de Sá.
─ João Ferreira da Cruz. casado com
D. Francisca Luísa Teresa.
Destes
D. Luísa Caetano Camelo Falcão.
D. Micaela Luísa de Aguiar.
D. Josefa Violante da Trindade (religiosa no
convento de Sá de Aveiro).
Uma outra, cujo nome ignoramos (religiosa
em Sá).
─ João Lopes Ferreira, casado com
D. Teodora Maria da Rosa (n. de Casais).
Destes
D. Josefa Maria da Rosa.
─ José de Albuquerque Pacheco Mascarenhas, casado
com
D. Úrsula Arcângela da Silveira Magalhães.
─ José Fernandes Teixeira, casado com
Luísa Vieira Resende (ambos n. e m. Vale de Ilhavo).
─ Vicente Mascarenhas de Sá, casado com
D. Maria de Lemos Madureira.
Destes (entre outros)
António da Silveira de Sá.
Francisco da Silveira de Sá.
─ No voI. VI, pág. 47 do Arquivo diz-se que António da Maia e sua esposa
D. Maria Dias de Araújo, camareira-mor de D. Brites de Lara, moradores
em Aveiro, houveram entre os seus cinco filhos um, João da Maia Araújo,
Arcebispo de Braga, da Ordem de Cristo, comendador de S. Salvador
/ 131 / de Tangi! e primeiro senhor das duas capelas do Carmo, que
ali foi
sepultado em 22-12-1646.
Nos documentos que vimos comentando, fala-se de aforamentos realizados
na Coutada, em 1606, por D. Maria de Araújo, de Aveiro.
Aproximando estas datas, à falta de outras informações,
não se tratará
da mesma D. Maria de Araújo com diverso nome em diversos documentos?
Que o digam os linhagistas.
LISTA DE ALGUNS FOREIROS E HABITANTES
DA COUTADA
1606-1816
1606
António Dias, casado com Maria Fernandes. Domingos Fernandes, casado com
Domingas André. Nicolau Fernandes, casado com Maria André. Pedro
Fernandes Velho, casado com Maria Fernandes. Pedro Fernandes Novo,
casado com Ana Simões. Manuel João, casado com Maria Gonçalves. João
André Novo e Miguel João.
1722-1746
Manuel André, casado com Luísa Francisca. João Migueis, casado com Maria dos Santos. João André Novo. António Pires. Domingos João. Manuel
João. Luís Francisco. António Francisco Bandarra. Paulo da Silva Lázaro.
Manuel Francisco Pernica. António Manuel Branco, casado com Apolónia
Francisca.
Remetemos o leitor para o Rol dos inquilinos devedores dos foros em
1744. (Documento a publicar).
1746
André dos Santos. André Simões. João André Branco. João André Malaquias.
João André Vermelho. Manuel André do Pedessante. Manuel André da Silva.
Padre Manuel André da Silveira. João André. Francisco Simões. Manuel
Simões o Novo. Manuel Simões o Velho da Ângela. Lourenço Simões.
Lourença Simões. Pedro Simões. António Simões Borralho. Bento Gonçalves
Branco, casado com Maria André. Manuel Fragoso. Manuel João da Fragosa.
António João Fragoso. Manuel Francisco Bandarra. Hipólito Fragoso. António Gonçalves Faísca. Manuel Gonçalves. Manuel da
Rocha. João da Rocha (filho dele). Bartolomeu
/
132 / da Rocha. Manuel da Rocha (filho dele). Carlos da Rocha. João da
Rocha. Manuel da Rocha Perna Gorda. João dos Santos. José dos Santos.
Pantaleão dos Santos. Silvestre dos Santos. Manuel dos Santos Barreto.
Paulo da Silva. Roque da Silva. António da Silveira. Padre Cipriano dos
Santos. Amaro dos Reis. Manuel dos Reis. Manuel João dos Reis. Manuel
José dos Reis. António Fragoso. Manuel de Oliveira Novo. Manuel de
Oliveira Velho. Manuel João Catarino. Manuel João Calheiro. António
Simão. António Simão Soldado. João Francisco Dourado. António Nunes
Borralheiro. António Manuel
Frade. António Ricanova. Luís Francisco Cerveira. José Francisco. Manuel
Francisco Sapateiro. Luís Francisco.
1816
Padre Manuel Baptista dos Santos. Luís André Infante. Manuel Simões
Fragoso. Manuel Nunes Simões. António Simões Preto. José Simões Preto.
Manuel Simões Preto. Alexandre Francisco Fragoso. Manuel da Rocha.
Manuel da Rocha da Silveira. Joaquim Francisco da Ana. Manuel Francisco
da Ana. Joaquim Fernandes Borrelho. Manuel Francisco da Picada.
Francisco Nunes. João dos Santos BateI. Manuel dos Santos BateI.
Segue a lista dos nomes de pessoas constantes do «Arquivo do Distrito de
Aveiro», do Registo Paroquial de Ílhavo e de outras informações
recebidas.
1694
Domingos António Rodrigues, Familiar do Santo Ofício, natural e morador
na Coutada, casado em 29-4-1694. Antónia João, avó materna dele e como
ele natural e moradora no mesmo lugar, e bem assim as seguintes
testemunhas que depuseram no processo para habilitação a Familiar:
Manuel João da Fragosa, Manuel Barelho, João André Brana (marnoto),
António da Silva e os moradores somente na Coutada Antónia dos Santos,
viúva de Manuel Francisco (o Briguigam), Maria Simões, viúva de Domingos
Francisco e Inácio António dos Santos, morador em Ribas do Viveiro.
1705
António dos Santos, Familiar, natural e morador em
Ribas do Viveiro, ou Coutada, casado em 1722 com Júlia Vidal, filha de
João Nunes e de Isabel Vidal, do Vale de Ílhavo. João André e Maria dos
Santos, país do habilitando
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133 /
a Familiar: e ali naturais e moradores. Manuel dos Santos e Maria
Manuel, avós maternos do mesmo e Padre Domingos dos Santos, irmão, de
Maria dos Santos e tio do habilitando, todos naturais e moradores na
Coutada. Manuel João da Pequena (marnoto) de Verdemilho e Ana Migueis
(a Erveira) de Aveiro, ambos testemunhas do habilitando e moradores na
Coutada.
1850-1860
Francisco de Paula Monteiro da Gama (degredado por roubos cometidos). D.
Maria Enriqueta Meireles Monteiro, mulher dele. D. Maria Amália Abreu da
Gama, mãe dele. José Simões da Rocha e mulher Maria Rosa da Conceição
(Travassô). André dos Santos. Manuel António Cónego. João Simões
Fragoso. Francisco dos Santos Batel. Francisco Simões Preto. Manuel dos
Santos Serrado. João da Rocha da Silveira. João Damas. Manuel Nunes de
Castro (Calhalha). José Inácio Correia. Gonçalves Sarrico. Francisco
Nunes Feliciano. António Francisco Marieiro.
1900-1950
Manuel Simões Preto. Família Cónego: João de Oliveira e Silva. António
Nunes Torrão. Dr. Ernesto Paiva (de Verdemilho) e mulher D. Rosa da Silva Gomes. João
de Oliveira e
Silva. João Ferreira Campanhã (do Vale de Ílhavo). Manuel de Oliveira
Barroca. Samuel dos Santos Vidal. Francisco Nunes Cabós. Joaquim Rasoilo.
*
*
*
BREVE APONTAMENTO DOS ACTOS OCORRIDOS
NA COUTADA, FREGUESIA E CONCELHO
DE ÍLHAVO, NOS SÉCULOS XVII, XVIII
E PRINCÍPIOS DO SÉCULO XIX SOBRE OS FOROS E AS ENTIDADES QUE NELES
INTERVIERAM
EMPRAZAMENTOS
1606
1.º – Emprazante: – D. Maria de Araújo (m. Aveiro).
– Foreiros: – Domingos Fernandes e mulher Domingas André; Pedro
Fernandes Novo e mulher Ana Simões;
Nicolau Fernandes e mulher Maria André; António Dias e mulher Maria
Fernandes e Pedro Fernandes Velho e mulher Maria Fernandes (todos m.
Contada).
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134 /
1721
2.º – Emprazantes: – António
de Albuquerque e mulher
D. Joana da Silveira de Sá (m. Ínsua-Penalva, e ela n. Aveiro).
– Foreiro: – António Pires (m. Coutada).
1735
3.º – Empratante: – João Ferreira da Cruz (m. Aveiro e n. Casais - Maçãs D. Maria).
– Foreiros: – Manuel André (vide n.º 1.º) e mulher Luísa Francisca (m. Coutada) e outros.
1737
4.º – Emprazante: – Francisco da Silveira de Sá (m. Lavandeira -
Sôza).
– Foreiro: – João Migueis (m. Coutada).
1752
5.º – Emprazantes: – Francisco António Camelo Falcão
Pereira da Silva e mulher D. Luísa Caetana Camelo Falcão (ele n. Várzea
do Douro, ela de Aveiro, onde ambos foram m).
– Foreiros: – António Manuel Branco e mulher Apolónia Francisca (m. Coutada).
Data ignorada
6.º – Emprazantes: – Vicente Mascarenhas de Sá e mulher
D. Maria de Lemos Madureira (m Aveiro).
– Foreiros: – Manuel João e mulher Maria Gonçalves
(m. Coutada). Consta da escritura de compra de
D. Francisca Luísa Teresa (1743).
Item
7.º – Emprazante: – D. Maria de Lemos Madureira, viúva
(m. Aveiro). (Vide n.º 6.º).
COMPRAS
1722
8.º – Comprador: – João Ferreira da Cruz (m. ora na Quinta
do Castelo de Vila da Feira ora em Aveiro). (Vide n: 3.º).
/
135 /
– Vendedores: – D. Joana da Silveira de Sá (Vide n.º 2.º) e seus filhos
Padre Francisco da Silveira e Albuquerque Mascarenhas e José Albuquerque Pacheco Mascarenhas,
casado com D. Úrsula Arcângela da Silveira Magalhães. (Vide
n.os 2.º e 4.º).
Procurador o Padre José Ribeiro da Silva (todos
m. Ínsua).
1743
9.º – Comprador: – D. Francisca Luísa Teresa (n. Lisboa
e m. Aveiro) viúva de João Ferreira da Cruz.
– Vendedores: – António da Silveira de Sá; Francisco da Silveira de Sá e
António da Silveira Mascarenhas, casado com D. Joana Antónia da
Silveira, filha de Francisco da Silveira Mascarenhas (m. em Quintal,
conc. Besteiros).
Foi procurador o dito António da Silveira Mascarenhas. (Vide n.os 2.º, 4.º,
6.º e 8.º),
1746
10.º – Comprador: – Francisco António Camelo Falcão
Pereira da Silva.
– Vendedor-executado judicialmente:
– Luís da Gama
Ribeiro Rangel de Quadros e Maia, capitão-mor
(m. Aveiro).
EXECUÇÕES JUDICIAIS
1743-1745
11.º – Executante judicial:
– D. Francisca Luísa Teresa,
viúva de João Ferreira da Cruz.
– Executados judicialmente:
– Luís Francisco e mulher
(m. Coutada).
1746-1749
12.º – Executantes, Item: – D. Francisca Luísa Teresa e Francisco António
Camelo Falcão Pereira da Silva e mulher D. Luísa Caetana Camelo Falcão.
– Executado, ltem: – Luís
Francisco (Vide n.º 11.º) e muitos outros foreiros (m. Coutada).
1751
13.º – Executante, item: – Francisco António Camelo Falcão
Pereira da Silva.
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136 /
– Executado, Item: – Luís Francisco Erveira e outros
(m. Coutada).
1816
14.º – Executante, Item: – João Lopes Ferreira (m. Vale de
Ílhavo - Ílhavo e n. Casais- Maçãs de D. Maria
(Vide n.º 3.º).
– Executado, Item: – Manuel dos Santos Batel (m. Coutada).
1816 ?
15.º – Executantes, Item: – Vários foreiros (m. Coutada).
– Executado, ltem: – João Lopes Ferreira (Vide n.º 14.º).
Um Libelo acusatório (truncado e sem data), revela uma insurreição
colectiva dos foreiros que levou o executando a desistir da Acção
judicial. A Coutada libertou-se por esta forma dos seus compromissos e emprazamentos (1816?). João Lopes Ferreira, a fim de se habilitar para a herança do seu próximo parente,
Fernando José Camelo, viu-se
obrigado a demandar os rendeiros e possuidores de
toda a grande casa deste. Tentou demandas simultâneas que o cansaram e
obrigaram a desistências judiciais. A Coutada não quis perder esta
oportunidade.
*
* *
AFORAMENTO NA COUTADA
A QUINTA NOVA (PRAZO DOS 40)
D. Maria de Araújo, viúva e moradora na vila de
Aveiro, era senhora e possuidora de uma Quinta cercada de valados no
limite da vila de Ílhavo onde chamavam a Coutada. Era denominada a
Quinta Velha, nome pelo
qual ainda agora é conhecida. A confinar com ela possuía ainda outros terrenos de mato igualmente cercados de valados, aos
quais o documento de aforamento que vamos
tresladar denomina a Quinta Nova, ou seja o Prazo dos quarenta.
Confinavam também esses terrenos com as vertentes de água das marinhas
que tinham sido de Miguel Jorge Leitão, de Aveiro, e com as marinhas da
Malhada, da Coutada.
D. Maria de Araújo faz o emprazamento desta Quinta
Nova em 5 de Novembro de 1606 no lugar de Vila de Milho, hoje
Verdemilho, termo da vila de Ílhavo, na nota do
tabelião António Laborinho.
/
137 /
Ficam foreiros Domingos
Fernandes e sua mulher Domingas André; Pedro
Fernandes Novo e sua mulher Ana Simões; Nicolau Fernandes e sua mulher
Joana André; António Dias e sua mulher Maria Fernandes e Pedro
Fernandes Velho e sua mulher Maria Fernandes, todos da Coutada.
Neste acto de emprazamento, foi nomeado cabeça dos enfiteutas
Domingos Fernandes que automaticamente assumiu a responsabilidade de
receber e levar a Aveiro, a casa da emprazante ou de seus herdeiros,
o foro próprio e o dos seus consortes. Cada foreiro ficou a pagar
anualmente 4 alqueires de trigo, 3 de milho e 3 de centeio.
O documento que vamos transcrever foi trasladado do original pelo
tabelião do judicial e notas de Ílhavo em 15 de Junho de 1656.
Obs. – A Coutada devia ser pouco povoada em
1606. Diz o documento: «ella
(D. Maria Araujo) tinha e possuhia no lemite da villa de Ilhavo, aonde
chamão a Coutada huma quinta». Transparece da frase que a Coutada
seria, ao tempo, um sitio mal conhecido. Reforça esta opinião de
deficiente povoamento a circunstância de ser tomada por aforamento
(toda a Quinta) por uma só família naquele ano de 1606. Hoje tem 70
fogos.
ESCRITURA DE EMPRAZAMENTO
DA COUTADA
«Em nome de Deos Amen.
'Saybam coantos este instromento de Afforamento emphateozim de hoje para
todo o sempre virem que, sendo no Anno do nascimento de nosso Senhor
Jezus Christo de mil e seis sentos e seis annos aos Sinco do mes de
Novembro do dito Anno, em o lugar de villa de Milho. termo da villa de
Ilhavo e nas calas das moradas de mim Taballião, ahi em minha prezenca e
das testemunhas, tudo ao deante nomeado, apareceo prezente Maria de
Araujo, Donna veuva e moradora
na villa de Aveiro, e por ella foi dito que ella tinha e possuhia no
lemite da villa de Ilhavo, aonde chamão a Coutada, huma quinta que toda
esta sircuitada sobresy de vaIlos, afora outros matos juntos á dita
quinta velha que outrosim estam vallados, que outrosy saõ pertencas da
dita quinta, os coais matos asim como estam demarcados e comfrontados
para serem da dita quinta velha, aforava, como de feito aforou, em
phateozim de hoje para todo o sempre a Domingos Fernandes e para sua
molher Domingas Andre, e a Pedro Fernandes o Novo e para sua molher Anna
Simoens, e a Niculao
Fernandes e a sua molher Maria Andre, e a Antonio Dias e
/ 138 /
a sua molher Maria Fernandes, e a Pedro Fernandes o Velho
e a sua molher Maria Fernandes, aos coais todos aforava a
dita quinta, etc. ... com tal preito e condicão que cada hum
delles pagava em cada hum Anno des alqueires de pam, posto
em caza della Senhora Maria de Araujo, as suas custas, e vem
a saber: coatro de trigo e tres de milho e tres de senteio,
todo bom, limpo e de receber, a coal quinta Nova que assim lhes afora,
parte da banda do norte com a Madriz de Agoa
da banda das Marinhas da Malhada, e da banda da travessia
e com o chão de Miguel João e de seos entiados, e da banda
do sul com caminho que vai para a Coutada, e da banda do
nordeste parte com as bertentes da Agoa das Marinhas que foram de
Miguel Jorze Leytam, morador na villa de Aveiro,
a coal quinta Nova tera serventia pella banda de fora e não
pella quinta Velha, que lhe não ficara obrigada em tempo
algum da serventia, por ser izenta a dita quinta Nova a ter
pella banda de fora da Coutada caminho publico, a coal quinta assy e da
maneira que esta confrontada e demarcada, disse
ella dita Maria de Araujo que ella aforava, como de feito
aforou aos sobreditos e com o dito foro e pencão de des
alqueires de parn e pencão em cada hum anno por dia de
Sam Miguel de Setembro, em que lhe faram a primeira paga,
e dahy por deante em outro tal tempo, e que da dita quinta
sera cabessa della Domingos Fernandes, o coal tera obrigacão de
arrecadar dos conssortes e pagar a ella dita Maria de Araujo.
E por elle ou por quem ella quizer, podera ella dita Maria de Araujo
haver o dito foro (...) porque todos se obrigam, cada
hum por sy e hum por todos, a pagar o dito foro, e em especial o dito Domingos Fernandes, como cabessa do cazal, arrecadar a dita pencão e foro e delle fazer paga a dita Maria de
Araujo pello dito dia de Sam Miguel a ella e a seos erdeyros
que apos ella viessem a descender athe o fim do mundo. E logo pelIo dito
Domingos Fernandes e pella dita sua molher,
e pello dito Pedro Fernandes o Novo e sua molher Anna
Simoens, e Nicullau Fernandes e sua molher Maria Andre, e Antonio Dias e
sua molher Maria Fernandes, e Pedra Fernandes o Velho e sua molher Maria Fernandes, pellos coais
todos e cada bum de pressy, foi dito que elles asseitavão o
dito aforamento com o dito foro e pencão em cada hum anno
por dia de Sam Miguel, de lhe fazerem as ditas pagas em cada hum anno pello dito dia de Sam Miguel, tudo posto a
sua custa em caza della Senhoria Maria de Araujo, pam bom,
limpo e de receber. E pella dita Maria de Araujo foi dito
que, alem do dito foro e penção, que elles terão sempre a
dita quinta milhorada e nam peiorada, dando lhe sempre seus
adubios nessecarios e aproveitosos. E lhe não poderam returquir, antes lhe pagaram o dito foro obediente.
E não poderão vender, trocar ou descambar
toda ou parte della sem
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licenca delIa Senhoria, se a quer tanto pelIo tanto, ou dando lhe licenca que não sera as pessoas em direito defezas, antes a pessoas que
bem paguem o dito foro e pencão. E assim
e da maneira que dito he. E, alem disso, lhes paguem a corentena de
preco por que se vender a dita terra. E desta maneira se obrigou elIa
dita Maria de Araujo por sy e por seos erdeyros a lhe fazer esta quinta
boa, segura e de toda a pessoa ou pessoas que lha tolherem ou
embargarem e a se darem por autores ou defensores em juizo ou fora delle.
E elles foreyras asseitaram este aforamento para sy e seos erdeyros e
assendentes ou descendentes e para todos os que
delles descenderem com a dita obrigacão do dito foro e em
este aforamento declarado com as mais obrigacons delIe. E elIe dito
Domingos Fernandes asseitava o dito foro de todos os rendeiros e delIe
faria pagamento a dita Maria de Araujo. Podera cobrar por cada hum
delles ou por todos,
como lhe milhor parecer, e declararão que o dito foro, elles
foreiros nam seram mais obrigados que a levallo a vilIa de Aveiro, a
caza da dita Maria de Araujo. E por disso serem contentes e assim o
quererem e outorgarem, mandaram fazer delIe aforamento nesta nota, e se
concedeo a cada hum seo aforamento para seo titullo, estando a tudo por
testemunhas Nicullao Jorze e Domingos Joam, genrro de Antonio Jorze, ambos
moradores no lugar da Villa de Milho, termo da villa de Ilhavo, e Thome
Migueis morador na villa de Ilhavo, e ManoeI, criado de mim TabalIião e
morador em minha caza. E pellas molheres dos sobreditos foreiros, a seo
rogo dellas por serem molheres e nam saberem assignar, assignou Thome
Migueis. E por a dita Maria de Araujo, em como se obrigou a fazer este aforamento bom, assignou Manoel, creado
de mim taballião. E todos assignaram aquy por suas maons e os foreiros.
Antonio Laborinho, Tabaliiam a escrevy. «Thome Migueis, Antonio Dias,
Domingos Fernandes, Pedro Fernandes, foreiros, Pedro Fernandes, NiculIao
Fernandes, foreiro, Nicullao Jorge, Domingos Joam, testemunha, Manuel
assignou a rogo da sobredita Maria de Araujo. O coal instromento de
prazo, eu Manoel de Afoncequa Taballião publíco do judicial e notas
nesta villa de llhavo bem e fielmente o fis treslladar do meo livro de
notas a que em tudo me reporto em fe do que me assignei do meo publico
signal aos quinze do mes de Junho de seis sentos e sincoenta e seis
annos. Lugar do signal publico. «gratis».
Continua na página 218 –
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P.e JOÃO VIEIRA RESENDE |