NÃO tem grande amplitude a
área do concelho de Ílhavo, mas é tão vasta a sua densidade populacional
que, sob qualquer dos aspectos que o consideremos, o poderemos colocar a par dos mais importantes do país.
Adentro do seu pequeno
recinto, que potencial de riquezas e de valores não alberga esta grande
casinha ilhavense?
São incontáveis os seus recursos de ordem material. E não são menos
excelentes as riquezas de ordem espiritual, intelectual e moral com que
Deus em seus melhores desígnios tão prodigamente a dotou.
De todas estas boas andanças já muito têm dito e escrito os homens de
letras, os historiadores, os publicistas, em livros, revistas, jornais,
etc.... Como é do domínio público, de todas as manifestações da vida
colectiva, social e particular que interessam ao bem público da região se tem falado
e escrito com aprazimento da nossa sensibilidade humanista
e apreciadora. De tudo se tem escrito e falado, sim.
Os poetas falam da policromia e delicado encantamento
dos seus pomares e flores, celebram a empolgante beleza do
seu mar, da sua ria e águas, belezas incontáveis que o saber
dos pintores tem projectado no aliciante pitoresco de formosas aguarelas.
Os navios e barcos do mar!... Os barcos moliceiros na ria!... As chinchadas!... As gaivotas e patos bravos!...
Os corajosos ranchos de trabalhadores a amanhar a terra, por vezes
ingrata!...
Tudo isto vem emoldurar a paisagem destas cenas encantadoras!...
Não faltam os agrónomos a celebrar
a fertilidade do solo,
dum modo bem saliente, das agras e campinas do Vale de
/
112 / Ílhavo e das Gafanhas, onde loirejam e amadurecem os trigais e mílheirais em abundância
admirável. É bem saliente no mercado a
procura destes cereais para fora desta região privilegiada. Que o digam
os produtores e os moageiros locais.
Que diremos também da indústria?
Quem há aí que dentro e fora do país desconheça as porcelanas da acreditada fábrica da Vista Alegre?... A indústria salineira
das marinhas do concelho?... Os estaleiros navais da Gafanha?... A pesca
do bacalhau nos bancos da Terra Nova e da Gronelândia?...
E outras e outras fontes de riqueza da pequena e grande casa do concelho
ilhavense?...
É nestas instâncias laboriosas que os ricos e os pobres
mutuamente se dão as mãos num amplexo do melhor dos entendimentos. Todos
compreendem que o capital dispendido pelos patrões, sendo compensador,
não deixa de beneficiar e garantir aos que trabalham o salário
equitativo, que estes não podem dispensar, e podem receber sem humilhações.
É também importante o Mercado municipal, aberto quotidianamente ao público desde o amanhecer até à noite.
Ali se operam em grande cópia transacções, não só entre os munícipes,
mas ainda com os concorrentes dos dois concelhos limítrofes que, em
avultado número, ali vêm realizar
as suas compras e vendas em todos os ramos do comércio.
Também conta, e se diz, e se fala com apreço e com justiça, do Hospital, bem lançado, regularmente apetrechado e
frequentado, da Igreja paroquial da vila, vasta, de três naves, sem
grande valor artístico mas de arquitectura simétrica, leve e ultimamente
restaurada. Ali, a dois passos da vila, os nossos olhos extasiam-se na
contemplação desse primor de arte, dessa jóia preciosa que é a capela da
Vista Alegre – monumento nacional, a tentar os arqueólogos, os
escultores, os pintores e os visitantes da fábrica, que lhe fica contígua com o seu palácio residencial. Não é aqui lugar para
concretizar o seu valor e a sua beleza.
Do mesmo modo, não têm sido postas à margem nem esquecidas as narrativas
históricas das igrejas e capelas concelhias que, pelo decorrer do tempo,
foram decoradas com as antigas e modernas imagens dos seus santos, onde
as suas já desaparecidas e antigas confrarias e as suas mais recentes
irmandades e organizações católicas, têm dado a vida sobre
natural às almas.
Narrativas são estas que, esparsas por aqui e por acolá, vivem a
emoldurarem letras de ouro o quadro histórico do
progresso, da riqueza e do belo com o qual a Providência e
/
113 / [Vol. XIX -
N.º H - 1953]
o Trabalho do homem tão generosamente têm visitado esta nossa
privilegiada região ribeirinha.
Neste persistente labor de historiar o que tem sido
Ílhavo, seria
ingratidão inqualificável deixar no esquecimento o nome do Arquivo do
Distrito de Aveiro, repositório de preciosidades históricas que ali se
tem amealhado. Sendo muito restrito o número de brasões a emoldurar as
frontarias das casas do concelho, em honrosa equivalência se conta entre
os seus filhos ilustres uma brilhante pleíade de intelectuais, que pela
cerebração e fulgurâncias do seu génio, muito tem engrandecido e
creditado ao longe e ao largo a terra que os viu nascer.
Enquadra-os e regista-os a história nos mais variados sectores das suas
actividades.
São os Arcebispos, os Lentes, Magistrados, Sacerdotes e Engenheiros,
Oficiais do exército e da marinha, os Heróis do mar, Professores,
Médicos e Advogados, os Poetas e Publicistas, Pintores e Escultores, etc., que ali têm lugar bem
marcado.
Tínhamos, pois, razão em dizer que o concelho tem sido rico em valores
de ordem espiritual, intelectual, moral e material.
Se a história fala com a realidade dos factos, a mais simples inspecção
do observador o confirma com desvanecimento.
No entanto, ainda sobeja muito que fazer.
É tornar públicas tantas coisas ainda desconhecidas!
É desventrar dos bolorentos arquivos e gavetas particulares todos os elementos de documentação antiga ainda existentes na
mão dos detentores que, não dando fé do seu valor intrínseco e
informativo, lamentavelmente os podem deixar perder!
Quantas coisas e factos inteiramente desconhecidos, ou não
pormenorizados eles nos viriam revelar! Ocultá-los, ou não os trazer à
luz da publicidade, seria erro grave, direi mesmo, um quase pecado.
Vivendo esta mentalidade que não erra, e só por isso, venho apresentar
aos leitores, se os houver, uns documentos sobre a Coutada que hão-de
trazer ao proscénio da história conhecimentos mais completos sobre as
antigas tradições deste pequeno burgo, nos séculos XVII e XVIII e
primeiro quartel do século XIX.
Sem recitar o acto de contrição, outro tanto já fiz com documentação
similar em «Monografia da Gafanha», assoalhando documentos cheios de pó e de traça, a historiar o que pude sobre
esta recente, progressiva e rica região concelhia.
Narrar os acontecimentos das
aldeias e dos concelhos é também escrever a história da Pátria.
/ 114 /
*
*
*
Com vista ao topónimo e ao hipotético Donatário da
Coutada, comecemos pelo seguinte articulado:
─ Doações de terrenos incultos e despovoados.
─ A doação da Ermida e suas terras.
─ A Coutada centro de pesca e de caça.
─ Seria doada a Coutada? A quem?
─ Qual a origem da fundação e do topónimo?
Após as lutas da reconquista e do subsequente despovoamento do país, houve mister que os nossos reis, num ingente
impulso de
vontade decidida, começassem a preocupar-se com o povoamento do solo deserto e abandonado.
Em face deste grave problema, deu-se início ao empreendimento da
colonização com os povos que podiam habitar e agricultar os vastos
territórios, que tinham sido abandonados e estavam incultos.
Com a intuição deste objectivo patriótico, não foram escassas as mãos
régias na concessão de títulos e privilégios aos institutos religiosos,
aos filhos de Alguém e aos homens que se lançassem em demanda do latente
empreendimento.
Não foi somente aos particulares que foram concedidos esses privilégios
e doações.
Também, e não com menores resultados, se tornaram valiosos cooperadores
deste referido empreendimento outros concessionários, como as Ordens
militares, as Ordens religiosas e os mosteiros, que tinham nos seus
membros e nos seus monges os mais entusiastas e dedicados obreiros do
povoamento, da agricultura e da civilização.
O problema era palpitante.
Tão importante, que o empreendimento não podia ficar
circunscrito a uma minoria dos nacionais, impotente para arar com
proveito a gleba demasiado vasta.
D. Sancho I chamou os estrangeiros e fez-lhes doações importantes,
dando-se desde logo início à colonização do país, povoando-o e
desbravando as selvas.
Os outros reis deram impulso à empresa encetada. E de tal sorte, que os
elementos colonizadores, nacionais ou estrangeiros, directamente por si
ou por interferência do seu valimento pessoal, conseguiram que a selva e
as feras cedessem
o lugar à agra e aos homens durante os primeiros reinados.
Verificou-se a exuberância e a eficácia da campanha dos
reis e dos seus colaboradores.
Refere a História que D. Afonso
lII já teve população
que bem bastasse para o amanho e cultura, de densos campos
/
115 / e montados, e poder instituir em certos povoados feiras
e mercados.
Diz ele: «Mando fieri
feyram quolibet anno in mea villa de Covelliana pro festa Sancte Marie.»
D. Sancho I, D. Afonso IIl, D. Dinis e D. Fernando fomentaram
valorosamente com leis eficazes a agricultura, arroteando os terrenos
baldios e improdutivos.
Por meio da lei das sesmarias, ordenou este monarca aos proprietários
de terras aráveis que as cultivassem ou entregassem a outros
cultivadores, sob a cominação de serem açoitados ou expulsos do
reino aqueles que se recusassem aos trabalhos dos campos.
Não poderiam possuir gado aqueles
que, podendo, não
lavrassem terras ou se recusassem a possuí-las.
Eram duras as disposições da lei.
Dura lex, sed lex.
Deve, porém, considerar-se que a par das sanções opressivas aplicadas aos agricultores, havia razões graves para estimular,
senão obrigar, os indolentes ao desbaste das matas e ao arroteamento das
terras em proveito e benefício da riqueza nacional.
Não foram infrutíferos os cuidados dos reis.
Apareceram braços capazes de transformar em rica gleba
os terrenos e os montes anteriormente utilizados somente à pastoreação
de gados.
Ainda que morosa a revolução operada, muito se deve às Ordens religiosas, aos Donatários qualificados, aos grandes Senhores, etc., que, com o seu poderio moral, económico
e financeiro, impulsionavam a obra em marcha. Era o tempo das grandes e
necessárias concessões e doações régias, das mercês honoríficas
que beneficiando instituições religiosas, úteis à Igreja e à
sociedade, não deixavam equitativamente de premiar com liberalidade
os feitos assinalados destes obreiros, e os serviços por eles prestados
à Pátria.
Eram justas as doações feitas a esses obreiros idóneos e prestimosos que
lutaram pela civilização, pelo amanho e cultura das campinas infindas,
dos montados sem conta de que estava pejado o território nacional.
Decorre o tempo. A campina extensa é possuída pelos grandes e ricos
proprietários. A população começou de adensar-se, e ao lado destes
grandes territórios, dos prazos e das quintais dos nobres, dos
donatários e grandes Senhores, surgem as deprimidas courelas, as
retalhadas leiras, que ficam sendo o modesto património, pequenas
fracções disponíveis à cultura dos íncolas mais pobres.
Foi assim que, depois de desbastadas as florestas, drenadas as charnecas,
apropriados os baldios e os maninhos, últimos redutos onde se refugiava
o pegureiro no exercício da sua profissão pastoril, vemos realizada a
empresa a que
/
116 / se
votaram aqueles que, por tanto tempo, se ocuparam com o governo do
Estado.
Alguns dos antigos campos, apesar de hoje retalhados e subdivididos
pela plebe, ainda conservam o nome tradicional de coutos, quintas,
cerrados e tapadas, não passando na verdade de simulacros ou títulos
comemorativos do que foram
em algum tempo.
Teria sido esta a situação em que se encontrava a antiga quinta e lugar
da Coutada, sita na freguesia e concelho de Ílhavo? É o que fará objecto
destes estudos e considerações.
A Coutada é há muito tempo uma quinta retalhada.
Discorrendo por esta ordem de ideias, recordamos o que
ali perto, na Ermida (Ílhavo), pode dizer-se a paredes-meias
com a Coutada, se passou antes de terem sido lançados os fundamentos da
nacionalidade portuguesa.
Com o intuito de povoar e agricultar charnecas e florestas onde
vagueavam as feras, D. Sesnando cuidou de doar ao sacerdote Rodrigo uma
ermida, cujo patrono era S. Cristóvão.
Estava esta com os seus territórios circunjacentes situada entre Ílhavo
e Sôza. Nos nossos habituais passeios vespertinos, ofereceu-se-nos
ocasião de podermos identificar as hipotéticas e possíveis confrontações
desses terrenos doados, pelo lado do Sul (segundo o Livro Preto da Sé de
Coimbra), com a actual freguesia de Sôza. Dizemos hipotéticas,
referindo-nos aos marcos visíveis.
Com a linha divisória registada no documento de doação, parece-nos estar em perfeita harmonia a série dos nove marcos que
começa na Pedricosa e vai terminar junto às nascentes das águas
recentemente captadas (1943-1945) e desviadas para a cidade de Aveiro.
Estas águas agora desviadas para a cidade, eram desde o seu início
destinadas, como força motriz, a accionar uma série de azenhas, que
terminava no rio Boco junto à Vista Alegre.
E, porque não relacionar neste momento as agora (1943-1945)
imobilizadas azenhas com os moinhos – molinos, do sacerdote
Rodrigo, como diz o Livro Preto atrás referido e cuja construção D. Sesnando lhe condicionou naqueles
lugares ou sítios em que havia água a correr dentro do território doado?
É muito significativa a existência do segundo marco junto àquelas
nascentes, bem perto do furnum tegularium que é descrito como sendo o
primeiro marco do Sul de que reza o documento constante do bloco
territorial doado.
/
117 /
Cada um desses marcos tem gravada na parte superior da face voltada para Sôza a inicial maiúscula S. Na face oposta não existem
quaisquer
letras indicativas dos dois actuais concelhos de Ílhavo e Vagos que,
após a extinção dos termos de Sôza e da Ermida em 1834, eles ficaram a
delimitar sem lhes terem sido apostas outras quaisquer letras.
Em conclusão e esclarecendo melhor: ao serem
incorporados em 1834 o concelho da Ermida no de Ílhavo e o de
Sôza no de Vagos, aqueles marcos que delimitavam os antigos territórios
de 1088 permaneceram a demarcar os dois concelhos absorventes.
É muito de presumir e admissível a hipótese de que aquela série dos
oito marcos visíveis que começa pelo lado da serra junto ao forno das
telhas (furnum tegularium, diz o documento) que termina nos juncais do
rio Boca, junto ao
lugar da Pedricosa, é a mesma que ali foi colocada em 1088.
Pelo lado do mar, é também um dos pontos de referência desta delimitação
o sítio denominado a «Cabeça do Boi», cuja designação abrangia, naquele tempo, não só o local ocupado hoje pela fábrica e quinta da Vista
Alegre, mas também as terras que, desligadas desta quinta pela estrada
de Aveiro a Vagos, ainda conservam, pelo Norte, o nome de «Cabeça do
Boi».
Desde o forno das telhas, junto a Salgueiro, e pelo lado do Norte até à
«Cabeça do Boi», não nos foi possível encontrar qualquer marco desta
natureza. Nem o documento de doação faz referência à delimitação
oriental.
Diremos de passagem que as avultadas ruínas do referido
forno, que
certamente ainda estaria em laboração em 1088, foram cortadas e
destruídas inconsiderada e desnecessariamente em 1946, com o fim de dar
execução ao projecto da estrada camarária, que hoje liga o Vale de
Ílhavo a Salgueiro.
Para melhor compreensão do que acabamos de expor, transcrevemos dos
documentos n.os 2 e 3 do «Illiabum»
(1), o seguinte, que ele cita do
«Livro Preto» da Sé de Coimbra: «Hoc est testamentum scriptum firmitatis
quod feci ego sesnandus aluazir tibi roterico presbitero de una
hermida
uocabulo sancti christofori quodest in ripa maris inter uilla socia et
uilla iliauo do tibi ipsum locum predictum cum sua mata comodo continet
liber iudicum per legem
canonicam ut edifices eam et plantes de tota tua bona uoluntate in uita
tua... Habeas ipsam ecclesiam dum uita uixeris cum omne suum
prestamentum...» (Do doc. referido, n.º 2).
/ 118 /
... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ...
«... ego supradictus sisnandus auctoritate
regia fretus facio cartam firmitatis tibi roderico presbitero de loco qui
uocatur sancti christofori inter uillas que nuncupatur socia et illiabum
et eius terminaciones incipiunt a loco
qui apellatur serra per eum locum quem furnum tegularium uocant usque ad riuum quem dicunt
foriolum et ad
partem maris usque ubi dicunt capitellum de degano.
Concedo tibi omnia que concluduntur intra ipsos terminos supra scriptos
ad integrum cum sua aqua decurrente de montis cacumine qui dicitur
serra et loca que ibi sunt ad
molinos edificandos et omnia que hominibus ibi prestita
sunt ut edifices et plantes secundum tuum posse et possideas in uita tua
et habeas potestatem testari ea ubi uolunlati tue placuerit pro remedio anime tue...»
(Do doc. n.º 3 da cit. obra).
... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ...
E porque não opinar, neste momento, que
o actual lugar
da Ermida tivesse tomado o seu nome do pequeno templo
ou ermida na qual o Donatário, Padre Rodrigo, celebraria
a santa Missa, ao tempo em que ia construindo moinhos, desbravando e
cultivando a selva povoada de feras, como diz outro documento?!
Não nos admiremos que, com o
evoluir dos séculos, fosse esquecida a
origem etimológica do vocábulo «hermida», que depois veio a apadrinhar
o actual lugar da Ermida.
Somente, pelo decorrer dos tempos, foi substituída
na «hermida sancti christoforo» ou na «ipsam ecclesiam», diz o documento, a imagem e o orago de S. Cristóvão pela de
S. Tiago, que ainda hoje é padroeiro do dito lugar da Ermida.
Voltando em nova digressão aos
molinos do documento, diremos que essas
azenhas laboraram sem descanso durante
oito séculos e meio dentro do dito território. Com as águas
ali nativas e fluentes pelas suas antigas levadas, eram tangidos aqueles engenhos que em igual tempo farinharam o
grão para acudir aos povos. Em 1945, finalmente, foram
libertadas essas águas do destino sesnandense para irem dessedentar as
gentes de Aveiro que as reclamavam.
Retomando o assunto das doações de que atrás nos
ocupamos, diremos que elas estiveram sempre presentes ao
espírito esclarecido dos imperantes e dos reis, que viram
nelas um motivo de levantamento material e espiritual dos seus
Estados. Ao mesmo tempo serviam para concitar entre os seus vassalos o
amor a actos heróicos que, por sua vez,
eram generosamente retribuídos em títulos graciosos.
Não cristalizou, pois, antes deveria ter a sua repercussão, entre os
futuros governantes do Estado português, o acto
/
119 /
gracioso do conde de Coimbra, bem como o de outros actos meritórios que
foram compensados com similares mercês.
A Ermida tinha subido. O sacerdote Rodrigo transferira em 1095 a doação
recebida para os bispos da diocese de
Coimbra no episcopado do bispo D. Crescónio.
Em época por nós desconhecida, foi elevada à categoria de Couto e termo
com juiz ordinário, escrivão, dois vereadores e um meirinho.
Como já fica dito, o pequeno templo de 1088 tinha dado
o nome a uma povoação.
Veio finalmente a decadência
com o advento do regime liberal que em 1834 extinguiu o Couto e termo,
anexando-os ao concelho de Ílhavo.
Necessariamente que o valor da povoação e vila lhes adviria de possuir
dentro dos seus muros figuras de alto relevo que, sendo galardoadas
pelos seus feitos, também fizeram subir a sua terra ao apogeu a que
chegou.
Fizemos estas demoradas considerações preliminares com o objectivo de
entrarmos em narrativas mais completas acerca da igualmente humilde
Coutada. Ambas as povoações, humildes de nascimento e lado a lado
dentro da mesma freguesia de Ílhavo, vieram contudo a possuir no
recinto das suas terras gente de Alguém. Como veremos, só poderemos
informar sobre a Coutada a partir de 1606.
Quem seria a personalidade categorizada que presidiu anteriormente à sua
fundação? Em que época se deu esse acontecimento? Em que se baseia o
topónimo?
Entrando propriamente no assunto com a preparação descritiva do que
atrás fica dito sobre a Ermida, terrenos,
doações, etc., lembremos que falham os documentos que
comprovem ou que justifiquem o nome da Coutada. Nem a tradição o diz
também.
Terra doada a algum Fidalgo?
Talvez o topónimo e a história da fundação da Coutada
estejam, como devem estar, em relação directa com o sistema governativo
que presidiu à criação dos antigos Coutos. Os
investigadores de antiqualhas e de tanta documentação dispersa pelos
arquivos, melhor do que nós o poderão saber.
A quem olha do lado do mar, sobranceiro à ria e às
marinhas do sal com
os seus viveiros e canais, a confrontar com juncais e um fundo vale, e
ainda em cima de um outeiro, assenta o lugar da Coutada.
Que bela estância para o voo das aves, para a vida dos
peixes!
Pelos viveiros e canais que atravessam e cortam as praias,
abundam em admiráveis condições biogénicas as mais variadas
/
120 / espécies de peixes que por ali vivem ou sobem do mar e da ria.
Estas condições topográficas do referido outeiro na sua forma
peninsular, com a ria e os viveiros ao sopé, eram uma tentação aos
caçadores e preparavam-lhe o topónimo com que deveria ser designado.
O sítio já muito antigamente fora conhecido por Coutada, Ribas da
Coutada e Ribas do Viveiro. (Arquivo do Distrito de Aveiro, voI. I,
pág. 300). Os topónimos equiparam-se.
Na encosta da riba e pelos baixios do vale estendem-se os ribeiros, a
quinta da Vessadinha e as vessadas do Eirô – homónimo de eirô = enguia,
ou irôs, como dizem os antigos forais das Terras de Santa Maria.
Havia, pois, ali uma apetecida zona para centro piscatório e venatório
capaz de atrair os profissionais ou os apaixonados pelo exercício e
diversões desta natureza.
É da história que outrora houve na Coutada marnotos e também pescadores.
Povoavam as suas águas, como hoje, a enguia (que quando de maior porte e
melhor sabor é designada pelo nome de eirós), o brazino, a solha, o
linguado, o rodovalho, a tainha, a azevia, a. mugem, o camarão, o caboz,
etc....
Eis o grande centro piscatório.
Consideremos agora o sítio sobre outro aspecto, o
aspecto
venatório. O amplo e desafrontado horizonte para além do Oceano
franqueava o voo às aves marítimas que, acossadas pelas neves dos países
setentrionais, pairavam por estas regiões mais amenas.
Entre elas já perderam este rumo as ajájas que eram aves com a
envergadura das garças, de bico comprido e chato como a colher; os
onocrátalos, maiores ainda, tendo pegado à garganta uma espécie de saco
onde armazenam provisões de peixe miúdo para as longas viagens, sendo
aterradores os seus gritos durante a noite; a rabiscoelha; o caturro.
Tem ainda o seu habitat pelas marinhas, juncais e terras da Coutada as
garças, os marrecos, os patos bravos, os maçaricos, os lavancos, as
coleiradas, as negras, as galinholas, os mergulhões, os borrelhos, as
gaivotas, as gaivinas, o alcatraz, a avecuinha, o pica-peixe.
Eis em conjunto a resumida catalogação dos elementos constitutivos da
fauna marítima que tem vivido pelas marinhas, praias e encostas, ao
Poente da Coutada.
Pelo lado da serra, deviam ser abundantes as peças que se ofereciam às
armadilhas e ao tiro dos que fossem apaixonados pela arte venatória.
/
121 /
Local situado antigamente no silêncio dum litoral despovoado, entre Aveiro e
Ílhavo, a olhar para o voo das aves
e o serpear dos peixes à beira-mar e à beira-ria, estava naturalmente
talhado para circunvalação de terrenos e fundação duma coutada. Seria
esta a origem do topónimo da Coutada?
É admissível esta hipótese que condiz com a vaga tradição. Sendo aceite
o acontecimento, deveria ele ter ocorrido
em tempos recuados.
É sabido e certo que D. Manuel hostilizava a constituição das coutadas.
Em 1514 dizia ele no Foral de
Ílhavo: «mandamos e
defendemos ao Senhor da dicta terra que nã fara coutada na dicta
terra de caça nẽ pescar.». (...)
Em 1522 o mesmo soberano expressa-se deste modo no Foral de Eixo, e Requeixo: «defendemos que na dita terra não aja nem facam coutadas de
caçar nem pescar em nenhuma parte da dita terra.» (...)
Quer isto dizer, como dito fica, que admitida a hipótese
de que o sítio, franqueando vantajosamente as suas praias e o seu campo de pesca e caça aos apaixonados por aqueles desportos, deve
comprovar que o seu topónimo deve andar ligado ao destino que lhe foi
dado – coutada.
Ainda nesta hipótese. Por que via, ou porque razões
foi ela criada?
Qual o Donatário ou proprietário do campo coutado?
Nada se sabe.
Sendo assim, deixemos o assunto ao cuidado daqueles
que baseados em investigações seguras tenham elementos para desfazer o
enguiço. Só nos resta fazer um ensaio de narrativa histórica, a
principiar depois de 1606, com o fim de não deixar perder uns
documentos em nosso poder, e que poderão lançar alguma luz sobre factos
acontecidos na Coutada depois daquela data.
Esses papéis revelarão a importância do lugar durante
dois séculos (1606-1816).
Por agora, e para não nos repetirmos no que vai ser
exposto no decorrer deste trabalho, diremos somente que D. Maria de
Araújo, de Aveiro e proprietária de algumas quintas da Coutada, bem como a Misericórdia da mesma cidade, e um
grande número de famílias nobres dali e de outras partes, fizeram
aforamentos das suas terras, aforamentos que vieram a terminar em 1816 pela forma que vamos depois narrar.
É muito natural, e muito possível, que entre os remotos ascendentes das pessoas nobres que antes e depois de 1606 foram
Senhorios na Coutada, se possa encontrar o Donatário da terra.
/
122 /
─ Agricultura
─ Religião
─ Instrução
─ Demografia
AGRICULTURA
Terra essencialmente rural e agrícola, a Coutada fica situada no
extremo Norte da freguesia e concelho de Ílhavo a que pertence. Com a
configuração de uma pequena península, é limitada ao Norte por um vale,
vessadas do Eirô e Malhada, ao Norte e Poente pelas marinhas do sal.
Do extremo do seu minúsculo promontório alarga-se a vista através das
marinhas ponteadas com os seus montes de sal, pela extensão das águas da
ria, pela faina dos estaleiros da Gafanha e, mesmo à frente, pela vista
da costa de S. Jacinto, que esconde ao espectador a perspectiva do mar.
O lugar principia na estrada distrital (Aveiro-ÍIhavo) e vai terminar em
frente da capela do lugar, onde se bifurca em caminhos vicinais até à
Malhada e praias. É ladeado de fundo vale. Quase todo o casario alinha
pela parte do Sul com a estrada, visto que pela parte do Norte o declive
do vale mal permite as construções e o alargamento dos quintais. De
tipo antigo e regional, primam estas casas pelo arranjo e asseio
exterior e interior. A propriedade está bastante fraccionada e apenas
cerca de meia dúzia de lavradores são abastados. Os restantes vivem em condições de remediados, continuando todavia agarrados à rotina e aos
antigos processos de cultura e
amanho das suas leiras, desconhecendo as nitreiras, etc,
adubando-as com os estrumes do curral e só muito parcimoniosamente com
adubos químicos, que na verdade são caros.
Já de há muito tempo usam a charrua de ferro, a tarara para limpar os
cereais e neste ano de 1952 foram compradas duas debulhadoras de trigo e
milho que os seus proprietários alugam às pessoas que as reclamam.
Apesar de pequeno e pobre o lugar, os seus habitantes vivem em relativa
abastança e entregues à cultura dos cereais que o solo, aliás ubérrimo,
melhor produz, como sejam o milho, o trigo, a cevada, a aveia.
Os gados são tratados com a erva semeada nas terras
altas, ou com as das vessadas e dos ribeiros.
As mulheres tiram também tempo para tratarem com gosto dos pomares e
das hortas, com cujo fruto fazem concorrência à praça de Ílhavo.
/
123 /
A RELIGIÃO
O povo da terra, bom e crente,
fala com desvanecimento das origens e fundações da sua capela, que se diz andarem envoltas em um grande
milagre.
Aceitamos piamente e com religioso respeito e
desvanecimento estes
sentimentos e narrativas tradicionais com que
tantas vezes se embeleza a fé viva das gentes da beira-mar.
E não tem Deus falado sempre e de
modos muito diversos aos seus
Profetas, aos seus Santos, aos seus devotos e a todos os fiéis quando
quer firmar a todos na sua Lei, em temor reverencial e no seu santo
amor?
Quando a tradição e a história nos apontam e narram esses acontecimentos
com o carácter de actis miraculosos vindos da mão de Deus, que direito
há para os pôr em dúvida ou negá-los mesma sem provas que envolvam
contradição?
Não admiremos, pais, que pela boca dos homens se exteriorizem tais
sentimentos que com alegria brotam natural
e espontaneamente daquelas almas simples e puras, daqueles homens que
vivem a vida de Cristo, que estão cheias de Deus.
Não nis diz a referida
tradição a época em que teve lugar o acontecimento miraculoso que deu origem à
fundação da capela da
Coutada.
Muito simplesmente nos foi contado
o caso, que se teria
passado assim:
No alto mar o navio lutava com as
ondas e com a tempestade, correndo a
cada momento o perigo iminente de vir a soçobrar. Nesta trágica
contingência de naufrágio quase certo e angústias da marinhagem, um dos
marinheiros recorre
em prece aflitiva à intercessão de Santo António, com o voto de lhe ser construído e dedicado um pequeno templo na terra que estava à vista, se
amainada a tempestade volvesse são e salvo à companhia das seus.
A rogativa foi ouvida e o templo surgiu na local em que
se encontra.
Eis a história.
Ignorando-se, como fica dita, a época
do acontecimento,
só podemos acrescentar que na padieira de pedra da porta principal do
templo está gravada a data de 1671, possivelmente a da sua construção, e
na parede da frontaria a data
de 1925 que, por sua vez, corresponde à da construção da primeira torre
onde hoje bimbalha também o primeiro sino.
Ao colocar-se o primeiro soalha, cerca de 1900, ali se descobriram
ossadas que foram imediatamente removidas
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124 / para uma fossa praticada no adro do templo(2). Pergunta-se:
Terá sido este templo o primeiro, o votivo?
Ou será ele uma reconstrução realizada no mesmo
ou
em outro local da primitiva ermida?
Somos informados de que não
é muito provável ter havido outro templo no referido lugar.
Diremos ainda que pelos documentos que
vamos publicar transparece
que a Coutada seria mal povoada em 1606. Sendo assim, e confrontando
esta data de 1606 com a da padieira
(1671), achamos uma diferença de 65 anos, o que pode muito bem
justificar uma construção levada a efeito pelos homens da povoação incipiente.
Ou seria ela obra dos nobres Senhorios da terra,
onde ainda existem as
ruínas de uma casa solarenga, construída em data desconhecida com pedra
de Eirol e escadaria exteriar com pedra calcária?
Dicant Paduani.
Em 1721, cinquenta anos portanto após a construção da padieira em 1671,
já no pequeno templo estava erecta a Confraria de Santo António, havia
capelão e promoviam-se festas.
Da antiga Confraria já ninguém fala nem se recorda, no entanto, foi ela
quem deu princípio às festas que se celebravam em honra do Taumaturgo,
as quais constavam de uma procissão nocturna no dia 12 de Junho de cada
ano, que saía da
capela para a igreja paroquial (Ílhavo) e regressava à mesma
capela no dia 13, seguindo-se-lhe a missa solene e sermão. Tal procissão terminou há cem anos, cerca de 1854.
Também os mordomos e devotos de Nossa Senhora
do
Rosário realizavam uma festa à mesma Senhora, que é a sua excelsa Padroeira, no
3.º domingo de Julho. A festa de Santo António
realizava-se oito ou quinze dias antes e assim se manteve o costume até
1920. Desde esta data só se tem realizado uma festa anual alternadamente: ora a Nossa Senhora, ora a Santo António.
Como referem as «Informações Paroquiais de
Ílhavo
de 1721»(3)
o capelão era pago pelo povo da Coutada e das Ribas,
tendo-se mantido este costume até hoje.
Por terem desempenhado lugares de destaque na sociedade no tempo em
que viveram, registemos tão-somente os nomes de três dos seus capelães.
/ 125 /
Foram o Dr. José Pereira Bilhano que veio
a ser Prior de Ílhavo e
Arcebispo de Évora, o seu coadjutor Padre José Resende, do Vale de
Ílhavo e o egresso franciscano, Frei Manuel da Rocha (o Palhão) de
ÍIhavo. A série dos seus capelães tem sido quase ininterrupta até hoje.
Desde há muito tempo, talvez
desde o desaparecimento da Confraria, os cadáveres eram transportados à
igreja para aí serem tumulados e depois da legislação liberal eram
levados ao cemitério, em esquife e mais tarde em caixão de qualquer
irmandade canónica.
Como ali perto, na Alagoa, se tivesse fundado uma associação,
denominada «Associação das Almas» com o fim e compromisso de acompanhar
os sócios falecidos ao cemitério, quase todas as pessoas da Coutada se
vieram a inscrever na mesma associação.
Era constituída pelos chamados paisanos. Não tinha aprovação canónica
nem qualquer distintivo religioso, a não
ser um painel das almas, em madeira e sem haste, que um dos sócios
transportava nas mãos à frente do acompanhamento para o cemitério.
Chamavam-lhe por ironia a Associação dos casacas. Tinha carro funerário
manual e tendo
nascido cerca do ano de 1910 já nada existe dela.
Em 25 de Abril de 1940 foi finalmente fundada na
referida capela a
Irmandade de Santo António para o que muito contribuíram com o seu zelo
e esforços os senhores Joaquim Nunes Torrão, Casimiro Maia e João Solha,
dali.
Também tem o seu carro itinerário manual. Está esta Irmandade muito
florescente, cumprindo os irmãos com muito gosto e muita pontualidade os
regulamentos estatutários, apresentando-se irrepreensivelmente vestidos
nas procissões, nos acompanhamentos dos irmãos falecidos e em outros
actos solenes do culto.
Como geralmente acontece nas capelanias rurais onde
escasseia o clero, o culto mais solene e mesmo as devoções particulares
a bem pouco têm ficado reduzidos: assistência à missa dominical,
assistência às missas solenes e procissões em dias de festa e à novena
do Menino Jesus, que por muito tempo foi feita por um leigo e que deixou
de a fazer em 1940.
Existem na capela as seguintes imagens: de Nossa Senhora do Rosário,
Padroeira; de Santo António; de S. Sebastião que em 1905 passou da igreja
paroquial para ali e finalmente uma nova imagem de N. Senhora do Rosário
com a altura de 0m,90 e que foi comprada em 1951.
Também o povo é devoto das almas do Purgatório, existindo ainda na
parede de uma casa antiga a edícula onde em tempos esteve o retábulo
das Alminhas.
As festas são feitas nas condições que já dissemos com esmolas tiradas
pelo povo, e também com o rendimento de
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126 /
uns 10 alqueires de milho que eram pagos pelo arrendatário de uma terra
que tinha sido legada a Santo António. Em 1910, com o novo regime, Santo
António perdeu a terra.
Todos os moradores do lugar são católicos praticantes; baptizam-se,
casam, desobrigam-se, recebem os sacramentos da Igreja e enterram-se
catolicamente.
INSTRUÇÃO
Só muito tarde a Coutada veio a ter escola primária
oficial. Durante o
longo período do abandono da assistência escolar pelo Estado, os chefes
de família não se descuidaram com a instrução. Na sua maioria foram
muito solícitos em providenciar a falta mandando os filhos frequentar
as poucas (ao tempo) escolas de Ílhavo e ainda uma particular existente no Corgo Comum, na qual ensinava João Simões
Ratola, diplomado, sim, mas que não quis tomar posse da escola para onde
tinha sido despachado.
Houve, pois, reacção contra o abandono a que a terra fora votada. No
entanto, pode dizer-se que não é demasiadamente avultada a percentagem dos indivíduos, principalmente do sexo
feminino, que fosse constituída por pessoas completamente analfabetas. É quase um contra-senso, mas é verdade. Depois, os homens.
É raro
encontrar-se hoje na terra quem não saiba ler, escrever e contar.
Mas chegou finalmente a hora da libertação escolar, e
o povo exultou quando soube que por Decreto do Governo de 7 de
Novembro de 1931 tinha sido criada a escola mista da Coutada, a qual
foi autorizada a funcionar por Decreto de 2 de Janeiro de 1932, embora sem edifício próprio.
Foi nomeada professora D. Leolinda da Maia Cunha, de
S. Bernardo, moradora em Ílhavo.
DEMOGRAFIA
Não é grande o lugar, quer o consideremos sob o aspecto da sua área
territorial, quer sob o ponto de vista da sua população, a qual alinha
em uma só comprida e extensa rua.
Como dissemos acima, os dois lugares da Coutada e das
Ribas tinham em 1758 somente 81 fogos. Nesta data de 1952,
o lugar da Coutada somente, tem 70 fogos, o que nos indica que a
população não se deve ter desenvolvido bastante durante os dois séculos
de existência que vão de 1721 a 1952.
Por se nos tornar penoso organizar um mapa demográfico que abranja um
período de tempo mais lato, limitamo-nos à elaboração de um outro de mais reduzidas proporções, o
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qual bastará para o leitor poder ajuizar do desenvolvimento da população
durante um século.
Segue o mapa, deixando omissos alguns anos e lançando interrogações
sobre outros por entendermos que o leitor poderá suprir com facilidade
as faltas, aproximadamente.
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P.e JOÃO VIEIRA RESENDE |