Ao
manusear; em tempos, várias Histórias da Literatura Portuguesa,
deparava-se-nos entre os cultores do teatro romântico, o nome do general
JOAQUIM DA COSTA CASCAIS; mas não suspeitávamos que esse autor
dramático, tão aplaudido das plateias, era natural de Aveiro.
Recentemente, ao estudar certo passo dos
Fastos de Ovídio, na edição
de ANTÓNIO FELICIANO DE CASTILHO (1862), encontrámos COSTA CASCAlS entre
os anotadores dessa obra, o qual nela escreveu, além doutros, um
curioso estudo sobre Romarias (tomo lI, págs. 286-291), a que pertencem
estes períodos: − «Todavia, apesar de constantemente, nobilitada pelos
sagrados cultos da religião, a romaria cristã encerra vários costumes
menos esmaltados, que ainda mal, a desdoiram: uns, pouco entendidamente
autorizados: tais são os indivíduos em trajo, mais de teatro que
de igreja, figurando em procissões e outros actos religiosos; os aleijões
artísticos, sob o nome de santas imagens, que mais provocam riso do que
respeito; outros, abusivos, mas que não menos conviria ir
sucessivamente policiando: como os excessos de intemperança, os desvios
na justa aplicação das esmolas; e também o pouco comedimento nas
cantigas; não tanto nessas, que chamam ao divino, senão correctas, ao
menos respeitosas; e às vezes uma e outra coisa; tal por exemplo, esta,
que de pequeno ouvia em Aveiro, onde nasci, cantada pelas romeiras do Senhor da Serra:
Divino Senhor da Serra,
Divino Senhor sejais,
Não tenho nada de meu,
Vós, Senhor, tudo me dais.
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mas em várias letras, desde a seguinte, que pode servir de tipo às
menos soltas:
Se fores à Pucariça,
Não passes por Cantanhede,
Que está lá um Deus te livre,
Metido numa parede(1);
até muitas outras sem gosto, sem medida; e de todo o ponto ignóbeis, e
sandias» (pág. 290».
Aguçou-nos a curiosidade o achado, e logo tratámos de estudar essa
figura, para dela dar conta, como é justo, nas páginas desta revista.
Uma História da Literatura que consultámos dá-nos COSTA CASCAIS nascido
na Capital...
Vale, porém, mais do
que tudo, o depoimento do autor, que naquele artigo e noutras produções
se confessa aveirense, afirmação corroborada. pelo seu amigo INOCÊNCIO
FRANCISCO DA SILVA, no Dicionário Bibliográfico.
*
JOAQUIM DA COSTA CASCAIS nasceu, pois, em Aveiro, no
ano de 1815, e faleceu na Capital em 1898.
Seguindo a carreira das
armas, ascendeu ao posto de
general de brigada (1876). Foi lente de desenho, arquitectura e topografia no Real Colégio Militar
e, pelos seus méritos,
recebeu a condecoração de Cavaleiro da Ordem
de S. Bento de Avis. Aos seus esforços se deveu, principalmente, a
erecção do monumento do Buçaco, comemorativo da derrota do general
francês Massena, em Setembro de 1810.
No campo da sua especialidade de professor e de militar, deixou, como
trabalhos principais, a Descrição do Edifício de Mafra e seu valor
arquitectónico; Noções de Topografia
e de Perspectiva para os Alunos do Colégio Militar; Impressos e
Manuscritos relativos à História da Guerra Peninsular e seus
Preliminares (1866); Mapa das Forças dos Corpos da Primeira Linha do Exército Português que combateram nas 280 Acções da Guerra Peninsular, etc. (1872); e
Mapa da Força que guarnecia as Linhas de Lisboa no dia 29 de Outubro de
1810
(1872).
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[VoI. IX - N.º 33 - 1943]
Deixou também um poema − Antibarbas
−, dois volu'mes de Poesias(2) e muitos artigos de carácter literário e histórico, outros propriamente científicos, dispersos em publicações
periódicas.
Aqui, porém, só consideraremos o escritor dramático(3).
*
Na literatura dramática, foi JOAQUIM DA COSTA CASCAIS
contemporâneo de ALMEIDA GARRETT − que, como autor dramático, apenas o precedeu com o
Auto de Gil Vicente (1838)
e com a D. Filipa de Vilhena (1840) −; de JOSÉ DA SILVA
MENDES LEAL, o introdutor do dramalhão no nosso teatro(4);
de ERNESTO BIESTER, e de MANUEL PINHEIRO CHAGAS(5), de
quem foi mestre e amigo(6).
As peças de JOAQUIM DA COSTA CASCAIS foram sempre muito
aplaudidas. A crítica admirava nelas a naturalidade e a sobriedade, e
frisava a relutância do autor em enfileirar ao lado dos cultores do dramalhão, como era da moda no seu tempo. Os temas escolhidos, quer nas comédias, quer
nos dramas, eram sempre lidimamente nacionais − o povo
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aparecia constantemente, a falar com rigor a sua linguagem
própria −; e numas e noutras jamais deixavam de se notar
intuitos de moralização, e de exaltação do sentimento patriótico dos espectadores.
Exigentíssimo, COSTA CASCAIS só entregava os seus originais ao desempenho dos melhores actores e actrizes; e
assim é que, entre os intérpretes das suas obras, vemos perpassar os nomes, ainda hoje recordados, de Tasso, Epifânio,
Teodorico, Taborda, Vale, João Rosa, Joaquim de Almeida,
Brasão, António Pedro, Joaquim Costa −, e os das grandes
actrizes Emília, das Neves, Josefa Soler e Virgínia, além de outras de
grande categoria.
Vamos agora enumerar as peças que constituem
o teatro
do desconhecido aveirense(7):
I
−
O Valido
− drama em 5 actos, representado no Teatro
da Rua dos Condes em 1841, cujo assunto é um episódio da
revolução de 1640.
II
− O Castelo de Faria
− drama em 5 actos, que subiu
à cena no mesmo teatro em 1843. Nele desenvolveu o autor
o assunto versado por HERCULANO na narrativa histórica do
mesmo título. A reprodução da última cena do 2.º acto da
peça mostrará ao leitor a maneira de COSTA CASCAIS:
«Gonçalo (Nunes) − Portugueses! A vida de todos nós está na coragem com
que nos defendermos. Assim no-lo ensina a honra, e só o homem honrado se
deve contar por homem vivo. A vida é força, e não é ela para covardes! Fio
que nenhum de vós o seja − que nenhum haja de manchar o sangue de seus
avós. Erguidos sobre as lousas do sepulcro vos estão contemplando agora;
de lá os ouço bradar: −Ávante! Portugal! Àvante!
Todos − Portugal e àvante! (Gonçalo desce a colocar-se no meio da barbacã. Os clarins, que a pouco e pouco se têm aproximado, cessam).
Almocadem Castelhano (dentro)
− Moço alcaide, o Almocadem Castelhano,
como enviado do muito alto Pedro Rodrigues Sarmento, Adiantado da
Galiza, quer salvo-conduto para ele e seus pajens até próximo dos muros
do teu castelo.
Gonçalo (Para os seus)
− Ninguém ofenda o enviado castelhano e seus
pajens. (O Almocadem e pajens entram pela esquerda do espectador e param defronte de Gonçalo, a quem
saúdam. Gonçalo
corresponde).
Almocadem − Mandai se retirem os vossos, que só convosco careço
de falar.
Gonçalo − Seja o que for, dizei-o. Para meus companheiros de
armas não guardo segredos.
Almocadem − Pois bem. Quererás ouvir teu pai, que preso
conduzimos, e com ele tratar da entrega desse castelo.?
Gonçalo − Ouvi-lo-ei. Dizei-lhe
que de bom grado.
Almocadem (ao bastidor)
− Olá! Conduzam Nuno Gonçalves. (Ao
som dos clarins, entra a tropa castelhana, que guarnece os lados da cena. Nuno Gonçalves fica no meio).
Gonçalo − Não sofre Gonçalo Nunes ver seu pai carregado de ferros,
sem morrer ou tirar-lhos.
Almocadem (Para os pajens)
− Tirai-lhe os ferros. (Tiram-lhos).
Nuno (sustenta em suas falas grande exaltação patriótica)
−Gonçalo
Nunes, sabes tu qual é o dever do alcaide de um castelo?
Gonçalo − Sim, meu pai.
Nuno − Pois sonhei que tu havias lembrança de faltar a
ele, e vim em
pessoa para te repreender.
Gonçalo (muito baixo) − Oh, meu pai! Lembrai-vos da vossa morte, que será infalível.
Nuno − Como de pronto esqueceste as façanhas de Martim de Freitas,
que tão vivas dizias em tua memória! Queres insculpido sobre a tua e
minha sepultura o epitáfio execrando − Aqui jaz um traidor? Querê-lo-ás tu, mas nunca teu pai. Aprende com
ele a bem
servir a pátria, e aprendam esses Portugueses que estão hoje tão
esquecidos dela. Cumpre o teu juramento, Gonçalo Nunes, ou maldito por teu pai, se o não cumprires. Maldito de Deus e do
mundo, se um castelhano pisar terra do teu castelo, enquanto essa terra
não for a tua sepultura; se um castelhano respirar no
castelo, a não ser o ar do seu último arranco; se... (Sussurro
entre os castelhanos).
Almocadem − Morra o traidor!
Os castelhanos − Morra! (Arrastam Nuno para dentro).
Gonçalo (grita) − Vingança! Vingança! (Este e os seus acometem
os castelhanos, soam tambores, e desce o pano no meio da confusão).
III
− Giraldo sem Sabor ou Uma Noite de Santo António
na Praça da Figueira
− comédia em 3 actos, representada
em 1846, mas já no Teatro de D. Maria lI. Época de 1843.
− Cena XI do acto lI:
«Os precedentes e a súcia de homens e mulheres, com ferrlnhos,
rebeca, etc. (Entram em cena cantando e param junto do proscénio, onde fazem círculo).
Tocador de viola (canta):
Oh que linda tem a crista
O galo, nêja a galinha,
E eu tenho na mão canhota
Um dedo que me adivinha.
Côro:
Fura, fura, fura, fura,
Na barriga do Ventura.
Truz, truz, truz. truz,
Na barriga do lapuz.
Uma mulher (canta):
O meu peito é um relojo,
linda frávica Ele tem;
O Manel dá-le ó resisto,
Verás como te quer
bem.
Côro:
Fura, fura, etc.
Tocador:
Maria, minha Maria,
Salsa verde na varanda,
Minha caixinha de prata
Onde o meu coração
anda.
Mulher:
Quem acode à cana verde,
Que se parte aos bocadinhos?
Quem acode aos
namorados,
Que se matam com beijinhos?
Mulher:
Se fores à Pucariça,
Não passes por Cantanhede,
Que está lá um Deus te livre,
Metido numa parede.
Côro:
Fura, fura, etc.
Tocador:
Adeus, adeus, Mariquinhas,
Ai, Jesus, não sei que faço!
Por uma noite de
escuro,
Não se me nega um abraço.
(Abraçam-se)»,
IV − O Alcaide de Faro
− drama em 5 actos. Teatro de D. Maria lI, 1848.
Decorre na Ribeira de Paderne e em
Faro no ano de 1270, em tempos de D. Afonso III, um dos
personagens da peça.
V − O Mineiro de Cascais
− comédia de costumes da
classe piscatória, em um acto. Teatro de D. Maria lI, 1850.
VI − O Estrangeirado
− Comédia em 2 actos (1845).
VII − Nem Russo nem Turco ou O Fanatismo Político
− comédia em 2 actos, em verso. Teatro de D. Maria lI, 1854.
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VIII − Nem César nem João Fernandes ou Os Extremos tocam-se
− comédia em 2 actos, em verso. Teatro do Ginásio, 1865.
IX − A Pedra das Carapuças
− drama de costumes, em
4 actos. Teatro de D. Maria lI, 1858. Passa-se na época da
primeira invasão francesa (1807).
X − A Lei dos Morgados
− drama em 5 actos (1869)
XI − A Caridade − drama em 5 actos (1870). Dela transcrevemos esta admirável cena popular do 4.º acto:
Vigário (vendo o Alboga)
− Por cá?
Alboga − É vardade, sôr vigairo.
Vigário − Então os teus amores não vêm
este ano assistir á festa?
Alboga − Nân vêm?! Chegân daqui a nada, e pelos modos... vên
gente coma nunca. Diz que queriam prontas dez camas de alto e outras
tantas de chão!
Vigário − Já se vê que não é só a família do costume!
Alboga − Está de ver.
Vigário (à parte) − Será para me fazerem maior pirraça.
Soledade − (Designando o altar)
− Estará bem assim?
Vigário (Observando) − Fica bom.
Alboga (Coçando na cabeça)
− Ora atão... Ê vinha,.. Comó sôr
vigairo disse, vinha atão propor-Ie um causo.
Vigário − Temos alguma
demanda?!
Alboga − Ele nân dêxa de ser demanda, sôr vigairo! Mas nân cude
que é alguma questan co'os escrivões! Dessa te livrarás tu, Zé Alboga,
que, mal que eles metem a pena no tintêro, já ê fico a
tramer! Quêra-me crer. O causo é oitro. O sôr vigairo nãn desconhece...
a estimação que eu faço da sôra Solidade... que dera tudo.. dera-le inté
a alma!, se ma pidisse... p'ra que fôsse (Decidido), p'ra que fôsse
minha mulher... como manda a Santa Igrêja... que nân fica mal a
ninguém. Ora... diz ela que nãn se acha boa... e ê acardito. Mas aquilo,
sôr vigairo, passa-le em casando. Quêra-me crer. É fazer uma exprimentação, e nós varemos! (Rindo) E atão ê vinha meter de empenho o
sôr vigairo. Nós estemos no Natal... O Entrudo êste ano cai cedo.... e, se
a causa se demora, ai temos a proibição das bençoas inté á Páscoa... e o bicho a roer-me cá por drento... e sem le
poder ser bom! (Isto dito olhando, piegas, para Soledade) E demais...
tambêm tênho... com sua licença... um porquito p'ra matar, e calhava,
já agora, festejar o casoiro co'a matança...
Vigário − Tudo isso assim será, mas... bem vês que nada se pode fazer, sem que haja acordo entre os dois contraentes. Ela diz que
está doente... que não pensa em casar...
Soledade − E é assim. (Soledade tem continuado junto do altar e
vai acendendo as velas).
Alboga (Desconfiado) −
Mas.. estoitro dia, lá em Lisboa, dizia o sôr
vigairo: − Tu nãn és mau rapaz.., Sabes dar ordem á vida...
Maria... a sôra Solidade é uma rapariga sesuda... − Pois o que
era isto? Nân era estar mêmo dezendo que nós havéramos de casar?!
Vigário − Mas querendo ela, já se vê.
Alboga − A sôra Solidade não disse o contrairo!
Soledade − Também não disse que sim.
Alboga − Quem cala consinte!
Vigário (A Soledade) − Queres casar com
ele?
Soledade −Não, senhor. Nem com outro.
Vigário (A Alboga) − Ouves?
Alboga (Aumentando em desconfiança, e desesperado)
− Graças a
Deus, indas tenho ouvidos! Mas... é que um home nãn é um cão...
Falasse derêto... e acabou-se... Ê logovi!... Demorou-se na cedade alguma aquela por lá havera de ter! A estas
horas, algum palintra que nãn tem onde cair morto!...
Soledade (A
parte, afligindo-se) − Nossa Senhora!
Vigário − Bem vês que também não
quer casar com outro.
Alboga − Olha lá!... E o sôr vigairo acardita?! Tôdas elas arregalam o ôlho em se le falando no casoiro! E, se umas nãn vãn
tanto pelo derêto, andãn-Ie de roda! Quêra-me crer.... (Olhando de
revés para Soledade) Cá a mim nãn me embaça! Veveu na cedade... tomou
−
tanto monta − uns certos ares de quêm puxa às graves... pôs-se de açucre em ponto... e já se l'imbrulha
o estâmago vendo uma jaqueta de
saloio! Escupa fora! (Cuspindo). Assim Deus me salve!...
Soledade (Dá sinais de aflição).
Vigário − Não jures, que é mau costume!
Alboga (Sempre desesperado)
− Digo-Ie que tem agarração em Lisboa!... Oh!... Algum penetra de chapelinho de assobio... perninhas de arvela... e casaquinha de passar chêas... (Fechando os punhos) Com trazentos mel diabos!
Vigário − Não praguejes!
Alboga − Boa praga foi ela!... (Olhando, furioso, para Soledade,
moderando-se depois) Mas dêxa lá, Zé, que alguém te há-de vingar de sê desprêzo!' Talvez que o mêmo próprio da cuja... te dê rezão!... que Ia
pregue a ela na manina do ôlho... (Olhando
para ela) que a chamara a terrêro prós pois a dêtar à marge!
(Fazendo cruzes) Ê t'a zango, ê t'a zango, ê t'a zango!
Soledade (Sentindo-se mais aflita, àparte)
− Ai!... (Retira-separa
o quarto, à direita baixa, chorando. Volta para a cena, quando começa a
harmonia na orquestra, e o vigário recita os versos).
Vigário (A Alboga) − Afligiste-a.
Alboga − Ah... Doeu-Ie? Dêxe doer, que também a mim me dói.
Vigário − Sabes que mais? Ela está doente. Não tem vontade de
casar... acabou-se. É tirar daí o sentido. Raparigas não faltam. O melhor é escolheres alguma criada no campo, robusta... forte como
tu, e que te possa ajudar no trabalho.
Alboga (Desesperado e com desconfiança)
− Agardecido pelo conselho... mas vêo tarde!... (Com arremesso, à parte). Que os leve
seiscentos a todos! (Retira-se precipitadamente).»
Finalmente, escreveu COSTA CASCAIS
XII − A Inauguração da Estátua Equestre
− comédia em
5 actos, da época de 1775, que, com grande desgosto seu,
não chegou a ser representada. Nela figuram, como personagens
principais, o Marquês de Pombal; o escultor Joaquim Machado de Castro,
autor da estátua de D. José I; e Bartolomeu da Costa, oficial, a quem se deve a sua fundição.
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Deixou ainda uma «cena dramática», intitulada O Carnide, ou
Um Camarada do Marquês de Sá, escrita de propósito para o célebre actor António Pedro.
Segundo a afirmação feita por MAXIMILIANO DE AZEVEDO
no estudo a que atrás nos referimos, COSTA CASCAIS tencionava escrever,
entre outras, uma peça de costumes de Aveiro. Que da sua terra natal
guardava as mais gratas recordações prova-o a insistência com que ele se
lhe refere em seus escritos. Na última cena do acto II da Inauguração
da
Estátua Equestre, há este diálogo entre o Marquês e a personagem denominada Beneficiado:
«Marques (à parte, ao Beneficiado)
− ... Tome conta. Consta-me
que o padre é muito mexilhão(8); e, se continuar, hei..de fazê-lo
sair de Lisboa.
Benefldado (à parte, ao Marquês)
− Já! Se são esses os desejos
de V. Ex.ª, só peço uma graça.
Marquês − Qual?
Beneficiado − Como V.Ex.ª me honrou com o barbudo nome de
mexilhão, peço que me mande para Aveiro, visto ser a terra
onde os há melhores...».
A cidade de Aveiro deve, pois, ser grata à memória deste seu ilustre
filho, prestigioso militar e patriota que nunca a esqueceu e sempre a
recordou com carinho, o qual, além dos restantes dotes que o impuseram à
geral consideração do país, conseguiu brilhar na literatura dramática,
não obstante a concorrência de ALMEIDA GARRETT e de JOSÉ DA SILVA MENDES
LEAL.
Janeiro de 1943
JOSÉ PEREIRA TAVARES |