João Domingues Arede, Mais um subsídio para a história de Macieira de Alcoba do conc. de Águeda, Vol. VIII, pp. 247-260.

MAIS UM SUBSÍDIO

PARA A HISTÓRIA DE MACIEIRA DE ALCÔBA

DO CONC. DE ÁGUEDA

I

MACIEIRA DE ALCOBA NOS TEMPOS ANTIGOS

1. Macieira de Alcôba − povoação muito antiga.

Dos habitantes primitivos do território, em que assenta Macieira de Alcôba, são conhecidos poucos vestígios. O que em Macieira de Alcôba se depara, como de tempos remotíssimos, são umas pegadas humanas, em xisto, de formação algônquica, no sítio chamado − Pégadas Más, e outras iguais na Carreira das Eirinhas − entre o Vale do Coelho e a Foz da Corga do Caldeirão, vistas umas e outras pelo autor deste estudo, as quais, sem dúvida, devem ser de bastante interesse arqueológico, como vestígios pré-históricos.

II

MACIEIRA DE ALCÔBA − NOS TEMPOS MEDIEVAIS, MODERNOS E CONTEMPORÂNEOS

2. Cartas de Foro. Macieira de Alcôba teve Carta de Foro de El-Rei D. Dinis, de 17 de Junho de 1298 (anos de Cristo), cuja transcrição, versão e anotações podem ser vistas no Arquivo do Distrito de Aveiro, voI. VI, a pág. 245 e seguintes; e El-Rei D. Manuel I incluiu no Foral do Préstimo Macieira de Alcôba, tendo esta passado assim a terra do termo do Préstimo. Esse documento manuelino, de 6 de Fevereiro de 1514, encontra-se transcrito, só na parte respeitante a Macieira de Alcôba, a pág. 249 e verso, do referido voI. VI. / 248 /

3. Recenseamento dos moradores do Préstimo com inclusão dos de Macieira de Alcôba, no tempo de El-Rei D. João III.

Compulsando o Cadastro da População do Reino, do ano de 1527, vê-se o número dos moradores que Macieira tinha nesse ano.

Do mesmo Cadastro transcrevemos, na íntegra, a parte referente ao Préstimo e Macieira de Alcôba, como segue:

Notas:    (1)  e  (2)

Este comcelho tem de termo em comprido duas legoas e em largura hũa legoa-parte e comfromta com a villa daveiro e com o comcelho de vouga e com o comcelho de Sam Joam do monte e com o comcelho de sever e com o comcelho de lafões. / 249 /

COMCELHO DO PRESTAMO

Este comcelho do Prestamo tem assy ho nome e nom ha lugar que fica entitulado e portanto vay aqy esta declaração por que em muitas comfromtações vay nomeado este comcelho por este nome de Prestimo.» (V.e Cadastro da Pop. do Reino (1527). Actas das Comarcas Dantre Tejo e Odiana E da Beira, por JOÃO TELLO DE MAGALHÃES COLLAÇO, a pág. 158 e 159).


4. Desenvolvimento da população. Macieira de Alcôba, por não ter tido estradas, e ficar bastante afastada dos grandes centros populacionais, pouco se tem desenvolvido através dos tempos. A sua população formada, como é de crer e segundo a tradição, nos princípios da Monarquia, foi apenas de três casais povoadores no sítio de Macieira, depois centro da freguesia, a saber: Um, no centro, chamado − «Casal do Vale»; outro, a sul, com o nome de «Casal da Selada», e o terceiro, do lado norte, com a denominação de «Casal de Além».

As casas desses casais, que foram os núcleos de povoamento, ainda conservam vestígios da sua antiga construção.

E assim:

Primeiro. O Casal do Vale − é a casa que, no meio da povoação (Macieira), assenta a poucos passos do sopé do monte chamado Outeiro da Vila, a nascente. Esta casa, hoje propriedade de António Lopes, conserva vestígios da sua alta antiguidade, como sejam:

a) Degraus da escada da casa. Esta escada de granito, lançada por fora, dava passagem, do lado poente, para o sobrado, ou pavimento superior da casa, e os seus degraus, desde muitíssimos anos, que eram quase intransitáveis por terem impressas, com dezoito. centímetros de fundura, pegadas humanas. O seu proprietário, para evitar incómodos de maior, quis que continuassem a servir os mesmos degraus, mas do lado contrário, isto é, com a outra face voltada para cima. Porém, voltados os degraus, viu com pasmo que as respectivas faces tinham idênticos vestígios e com igual profundidade e, por isso, quanto era perigoso o andar das pessoas tanto para subir como para descer. Daí a necessidade de novos degraus para serventia da casa.

b) Forno de cozer pão de milho ou de centeio. Existe na supradita casa um forno de cozer pão de milho, ou de centeio. É de granito e já esborcinado pelas esquentações no decorrer dos tempos, e tem a boca enegrecida, lar sobreposto e gasto pela acção do calor e do tempo, aluído o remate do seu «Céu» e, em vez do remate, um buraco que deixa entrar o sol e a chuva.

Tanto este forno, como os degraus substituídos, bem mostram que a referida casa merece atenção pela sua venerável antiguidade! / 250 /

Referindo-se à mesma casa, diz o seu proprietário em carta dirigida ao autor deste estudo:

« ...Casa de habitação pertencente actualmente a António Lopes, situada no Vale, limite de Macieira de Alcôba, que parte do norte com Casimiro Ventura de Macedo, sul com rua, nascente com herdeiros de Manuel António Henriques, poente com vários. A porta de entrada está virada ao poente e é servida por uma escada de pedra de granito, de sete degraus de vinte e um centímetros de altura cada, a qual veio substituir uma outra de igual tamanho, cujos degraus já estavam rompidos de alto a baixo e que, nestas condições, deixou de ser escada para ficar transformada numa perfeita cal. Na ocasião em que foi demolida viu-se que os ditos degraus, na face oposta, estavam rompidos da mesma maneira, verificando-se assim que os mesmos já tinham sido virados e, a prová-lo ainda hoje, está a soleira da porta que, apesar de não ter sofrido tão grande desgaste, como os degraus, devido à sua superior posição, apresenta uma cava de dezoito centímetros de fundura. Tem por baixo duas lojas com uma porta cada e viradas para o sul. Interiormente tem uma divisão de pedra, cozinha e sobrado (ou sala). A mesma cozinha tem um forno com primeiro e segundo lar sobreposto, estando os dois desgastos com o tempo, e furado o cimo, ou «Céu», do forno, como aqui lhe chamam. O sobrado ou sala tem uma janela para o norte, dois janelitos para o sul, e a porta da entrada, já referida, dois portais fechados por uma só porta, dando um para a cozinha, e outro para um curral que fica do lado norte».

Nota. A nascente da casa supramencionada, há uma outra que é dos herdeiros do falecido Manuel António Henriques. É a mesma conhecida por «Casa do Estanqueiro», por ter tido o privilégio de venda de tabacos, em tempos idos. Ainda no tempo da Rainha D. Maria II lhe foi passada e registada «Carta dos Privilégios do Contrato Geral dos Tabacos», documento que termina com os seguintes dizeres: «Nomeio ao Senr. José Antonio Henriques para Estanqueiro do Numero no lugar e freguesia de Macieira de Alcôba, o qual gozará dos privilegios que lhe são concedidos por esta Carta. Aveiro, 1.º de Julho de 1819. Pelo Snr. José de Almeida Campos Junior. O Encarregado − Antonio de Almeida Campos. Registada a folhas 1». Este documento está em posse da família do supradito falecido.

Segundo. O Casal da Selada − é a mesma casa também muito antiga que actualmente habita a viúva de José Aires.

Está encostada a uma elevação de terreno que a abriga dos / 251 / ventos do norte. Essa elevação tem o nome de «Cabeça da Selada»(3), ou «Portela da Selada», que é a entrada da povoação, do lado sul.

Terceiro. O Casal de Além − é a Casa da família Rocha.

A sua casinha é visivelmente muito antiga. Haverá cento e trinta e sete anos que, por ser pequena e acanhada a casa com o seu recinto, foi mandada acrescentar de lojas sobradadas, a norte, na direcção nascente-poente, e ainda cercar de muro do lado poente e sul pelo Reverendo Padre Patrício António, seu proprietário e também Prior da freguesia, ao tempo. É habitada, presentemente, por Salvador António Henriques, casado com uma filha da mesma casa. Também é conhecido pelo nome de «Banda de Além» o sítio do mesmo «Casal de Além».

Advertência. As famílias dos três supramencionados casais, pelo casamento dos seus filhos e motivo de bens locais, foram-se propagando em âmbito e população na localidade de Macieira. E daí, estabelecidos sete casais, já aparentados, em Macieira, no tempo de EI-Rei D. Dinis, procedentes, sem dúvida, dos três primeiros casais povoadores.

5. População de Macieira de Alcôba, a seguir aos princípios da Monarquia, e prosseguida no tempo do Democratismo.

É tradição que a povoação de Macieira começou no sítio dos três casais, já citados, e que tomariam este nome das três primeiras famílias que ali se estabeleceram.

Os recenseamentos e outros documentos oficiais, referentes à população, mostram o seguinte:

 

ANO

N.º de casais

1298 7
1514 6
1527 11
1707 20
1826 52
1900 66
1941 72

6. Vias de comunicação. A primeira Estrada Macadam (4) que entrou em Macieira de Alcôba foi a que sai da Estrada Nacional, em a Mourisca, atravessa Arrancada, e a freguesia do Préstimo com passagem pela Ponte do Alfusqueiro.

Para Macieíra de Alcôba ficar ligada a Águeda, sede do concelho, por uma estrada, foi projectado um ramal que já anda / 252 / em construção, partindo. da Estrada do Caramulo, próximo de Assequins, subindo o Alto da Infesta, e descendo e prosseguindo, a seguir, a meia encosta da banda direita do Alfusqueiro até à Ponte deste rio.

A mesma Estrada Macadam em Macieira de Alcôba ainda não passa do sítio chamado Monte da Pedreira, que dista da povoação de Macieira um quilómetro. Já foi projectado o prosseguimento desta Estrada até à Urgueira − povoação na extremidade sueste de Macieira, a mais distante e de maior altitude do concelho de Águeda e que limita com os concelhos de Oliveira de Frades e Tondela. Este lanço da Estrada estabelece comunicação com o lugar do Carvalho que lhe passa muito próximo e com o da Urgueira, já referido, que atravessa, e daí, por uma depressão de terreno, a sua ligação com a Estrada do Caramulo em Paranho de Arca.

Do supradito Monte da Pedreira sai uma derivação na Estrada para a povoação de Macieira que já toca em o Adro, a qual precisa ser continuada, através da mesma povoação, até o Fontenário da Portela da Selada que lhe fica a sul, e daí seguir o carreiro, a norte da casa de Bedasto Duarte Pereira, e o limite norte da Quinta da tia Ana do Couço, contornando assim o Outeiro da Vila até ao seu encontro com o caminho da Portela Senon para ir alcançar a Estrada no Chão do Barbeias.

Este braço de estrada de enorme vantagem para a terra, que bastante tem aumentado em casas de habitação, sobretudo, do lado sul, não pode ficar muito dIspendioso à Câmara por ser apenas de dois quilómetros, e não ter necessidade de obras de arte e nem de terrenos a expropriar.

E, assim, depois de ultimados os trabalhos de viação nesta freguesia de Macieira de Alcôba, os seus moradores podem exclamar:

− Graças a Deus! que esta terra, ainda que situada em uma região de montes, já tem Estrada e, portanto, valor centuplicado!

7. indole e propensão do povo de Macieira de Alcôba.

Os homens são alegres e expansivos, e empregam-se na agricultura, sobretudo, do milho e centeio, batata e feijão e, por isso, não se dedicam às armas, à ciência, ao comércio, às artes, à política e ao funcionalismo. E as mulheres são activas e muito vivas, sociáveis e excelentes donas de casa. Vive, portanto, este povo, da agricultura e da criação de gado bovino e lanígero. Esta freguesia é abundante de caça: coelhos, lebres, perdizes, raposas, e teixugos. Também na mesma abundaram lobos que desapareceram haverá cinquenta anos, mas que o autor deste estudo, quando pastor de cabras e ovelhas naquela sua terra, ainda viu e correu muitas vezes à pedrada em altos afoilos juntamente com outros pastores. / 253 /

8. Igreja e costumes. A igreja, com a invocação de S. Martinho, assenta no meio da povoação de Macieira e, próximo dela, a residência do Prior com um pequeno passal.

O cemitério está junto à igreja, do lado sul, e dentro dele há dois mausoléus − um do Padre José Luís Monteiro, e outro de Salvador António Henriques.

No primeiro Domingo de cada mês é costume fazer-se, antes da Missa, a Procissão de N. Senhora, em volta da igreja, com o canto da Salvé-Rainha e, no segundo Domingo, a Procissão dos defuntos ao cemitério, também antes da Missa.

É costume ainda fazerem-se as festividades seguintes:

S. Sebastião, no dia 20 de Janeiro; Rosário, no primeiro Domingo de Agosto; S. Domingos, no dia 4 de Agosto, e a do Corpo de Deus no dia da sua festa.

Cada uma destas festividades tem a sua procissão, que é feita no fim da Missa. Essas procissões saem do Templo para regressarem ao mesmo depois de terem ido e dado uma volta ao Cruzeiro.

Foram erectos na freguesia, em 1742, dois Cruzeiros − um, próximo da Igreja Matriz, e outro na povoação da Urgueira, também próximo da Capela de S. Domingos de Gusmão e, desde essa data, as procissões das festividades deixaram de ser feitas em volta da igreja.

Ainda a propósito de costumes:

Até ao ano de 1892 foi praticado, em Macieira de Alcôba, como já disse algures, o louvável costume de alumiar o cadáver, enquanto exposto na casa mortuária, por candeias de azeite suspensas de cordas estendidas ao comprido das paredes interiores da casa. As candeias eram de parentes próximos e vizinhos da família do morto. Levantado o cadáver para ser conduzido à sepultura, depois de tudo pronto, e rezado pelo Prior o Responso Subvenite Sancti Dei..., eram retiradas as candeias e, fora da porta, entornado o azeite com as torcidas, por ter alumiado o defunto. É pena ter acabado esse costume, não só pela sua antiguidade mas, sobretudo, pelo seu significado cristão, como a oliveira, que produz o azeite, simboliza a Paz, o azeite a misericórdia divina, e a candeia acesa a virtude da Fé e da Esperança em Deus.


9. Homens da família Arêde
(5), de Macieira de Alcôba, que frequentaram a Universidade de Coimbra, desde 1720 em diante. / 254 /

É bem cabido neste estudo lembrar os nomes de alguns homens da família Arêde, que cursaram a Universidade de Coimbra e se distinguiram em Letras. E para formar um juízo da sua cultura e inteligência vão, a seguir, mencionados os seus nomes por serem dignos de atenção, e juntamente o seu curriculum vitae académico, conforme os documentos arquivados na mesma Universidade:

JOSÉ DE ARÊDE NUNES

Nasceu em Macieira de Alcôba − no lugar do Carvalho.

Era filho de Manuel José de Arêde. − Na Universidade de Coimbra cursou o 1.º ano de Filosofia em 1781, e o 1.º ano de Matemática em 1782. A seguir matriculou-se em Direito (Leis), tirando depois Carta de Bacharel em Leis a 21 de Junho de 1788.


JOSÉ DE ARÊDE NUNES
Nasceu em Macieira de Alcôba − no lugar do Carvalho.

Era filho de Francisco José. Sacerdote. Foi Doutor em Cânones e Lente da Universidade de Coimbra, cujo grau recebeu a 27 de Maio de 1767, (V.e L.º 98, f. 51. L. 101, f. 37 v.) O mesmo, para poder celebrar o Santo Sacrifício da Missa, quando em sua casa, no referido lugar do Carvalho, impetrou Breve de Oratório que lhe foi concedido pelo Pontífice Pio VI com muitas graças e privilégios. A sala da casa, que serviu de Oratório, ainda conserva metida na parede a pia da água benta.


JOSÉ DE ARÊDE NUNES
Nasceu em Macieira de Alcôba − no lugar da Urgueira.

Era filho de Domingues Nunes, Sacerdote. Foi Doutor em Cânones e Lente da Universidade de Coimbra, cujo grau recebeu a 23 de Maio de 1728. (V.e. L.º 60, f. 95. L.º 61, f. 54, v.).

Nota. Como os apelidos se transmitem, sobretudo por geração, e por eles se distinguem as famílias, é de crer que à família Arêde, de Macieira de Alcôba, se tivesse unido pelo casamento a famílía Nunes, e daí o apelido Nunes adicionado ao apelido Arêde.

Da família Arêde, de Macieira de Alcôba, existem algumas casas, e da família Nunes, da mesma terra, só existe uma casa, sobrevivendo actualmente um filho da mesma casa, de nome Joaquim Nunes, residente em Lisboa, com uma Casa de Máquinas de Costura, à Rua de S. Bento, 99. Este é filho de José Nunes Lopes, natural de Destriz, mas de descendência proveniente de Macieira de Alcôba.


MANUEL DOMINGUES ARÊDE
Nasceu em Macieira de Alcôba − (povoação)

Era filho de Bernardo Domingues Arêde. Sacerdote. Foi Bacharel em Cânones pela Universidade de Coimbra. Fez exame de Bacharel em 1 de Outubro de 1764. (L.º 96, f, 36).

/ 255 /

10. Ramificação da família Arêde em terras vizinhas de Macieira de Alcôba.

Parece ter sucedido às famílias dos sete casais, em Macieira de Alcôba, no tempo de EI-Rei D. Dinis, a família cognominada Arêde também oriunda da região caramulana.

Razão:

Os indivíduos, de apelido Arêde, que cursaram a Universidade de Coimbra, desde 1720 em diante, eram todos da região caramulana, com ramificações de parentesco e, sobretudo, em as terras a noroeste da Serra do Caramulo, como consta do próprio catálogo organizado na Universidade, referente ao mesmo período de tempo. Haja em vista os nomes de outros indivíduos, com o apelido Arêde, de terras vizinhas de Macieira de Alcôba, mencionados no mesmo catálogo junta mente com os desta freguesia, a seguir nomeados:


ANTÓNIO DIOGO LOPES DE ARÊDE
− de Paços de Pinheiro (Lafões, de Oliveira de Frades).
Matriculado em Cânones − de 1765-69.


JOSÉ DE ARÊDE, filho de Manuel de Arêde
Natural do Seixo (Talhadas).
Matriculado em Cânones − 1721-32.


MANUEL DE ARÊDE, filho de Manuel de Arêde
Natural de Lourisela (Préstimo).
Matriculado em Cânones − 1729-35.


MANUEL DE ARÊDE, filho de Francisco de Arêde
Natural do Seixo (Talhadas).
Matriculado em Cânones − 1754-61.


MANUEL FERNANDES DE ARÊDE, filho de Manuel
Fernandes de Arêde
Natural da Serra de Baixo (Castanheira do Vouga).
Matriculado em Cânones − 1755-59.


MANUEL RODRIGUES DE ARÊDE, filho de Manuel Rodrigues Gonçalves
Natural de Brunhido (Valongo do Vouga).
Matriculado em Cânones − 1732-41.
              (Do Ficheiro − Catálogo já citado).


PEDRO RODRIGUES ARÊDE, filho de Domingos Rodrigues
Natural de Múceres, freg.ª de Castelões, conc.º de Tondela.
Fez exame de Bacharel em Direito Canónico e Civil, em 24 de Janeiro de 1753.
                            (De um documento particular). 
/ 256 /

11. Párocos e Padres de Macieira de Alcôba.

a) Párocos:

Padre − Baltasar Teixeira, em 1633. Ignora-se a naturalidade. (Ver Arquivo do Distrito de Aveiro, voI. VI, a pág. 254).
Padre − Giraldo Martins, natural de Macieira de Alcôba.»
Padre − António de Arede, natural de Macieira de Alcôba.»
Padre − José Ascensão de Faria. Ignora-se a naturalidade.
Licenceado − José de Arêde Nunes, natural de Macieira de Alcôba (lugar do Carvalho).
Padre − António Gomes da Fonseca. Ignora-se a naturalidade.»
Padre − António Ferreira de Almeida. Ignora-se a naturalidade.
Padre − Domingos Antunes da Serra. Ignora-se a naturalidade.
Padre − Manuel de Arêde do Vale. Natural de Macieira de Alcôba.
              (Do Rol Velho das Amentas arquivado no Cartório Paroquial).
Padre − Patrício António, natural de Macieira de Alcôba.
Padre − Constantino de Bastos, natural de Valongo do Vouga (Brunhido).
Padre − José Luís Monteiro, natural de Macieira de Alcôba.
Padre − Tomás da Costa, natural de Avô, concelho de Oliveira do Hospital.
Padre − Severiano Pedro Ferreira, natural de Borralha, Águeda.
Padre − Manuel Ferreira da Costa, A dos Ferreiros, do Préstimo.
Padre − João Luís Monteiro, paroco actual, natural de Macieira de Alcôba.
              (Do Registo paroquial).


b) Padres:
Padre − José Luís Monteiro, já citado.
Foi pároco de Agadão e, a seguir, prior e 1.º professor oficial de Macieira de Alcôba. Paroquiou também a freguesia da Sabacheira, do concelho de Tomar. Era muito sabido em Teologia e Latim. Faleceu em a sua terra natal, onde jaz em capela-jazigo.


Padre − João Luís Monteiro, acima referido.
Foi provido na freguesia da Igreja Nova, do concelho de Mafra. No interesse de bem servir a Igreja pagou do seu bolso todas as despesas com a ordenação de três sobrinhos.
/ 257 / [Vol. VIII - N.º 32 - 1942] Adiantado em anos e cansado de trabalhos paroquiais, voltou para a sua terra natal, tendo sido encarregado da paróquia por ser freguesia pequena e pobre, e haver falta de clero.


Padre − João Domingues Arêde.
Nasceu em Macieira de Alcôba no ano de 1869. (Vide Registo paroquial, n.º 4, a folhas 32, verso, do ano de 1892). Estudou no Seminário de Coimbra sob a protecção do sábio jurisconsulto − Doutor Alexandre de Seabra, de Anadia e, por morte deste, do insigne estadista − Conselheiro José Luciano de Castro. Foi coadjutor do Louriçal, do concelho de Pombal, desde 18 de Outubro de 1893 a 24 de Novembro de 1897, Capelão do Asilo dos Inválidos Militares, de Runa, concelho de Torres Vedras, lugar que deixou a 15 de Maio de 1898, e Vigário de Souzelas, do concelho de Coimbra, de que tomou posse em 24 de Junho de 1898. E, no ano de 1900, foi nomeado Abade do Couto de Cucujães, concelho de Oliveira de Azeméis, lugar que exerceu durante 32 anos e 3 meses, e depois aposentado por Despacho publicado no Diário do Governo, de 25 de Setembro de 1933.

Arqueólogo e historiador regionalista. Sócio correspondente da Academia de Ciências de Portugal em homenagem aos seus «méritos literários». Escreveu: Cucujães, Vida e Virtudes cristãs de A Santinha de Arrifana, Cucujães e Mosteiro com seu Couto, Estudos sobre antiguidades dos povos da Terra de Santa Maria da Feira, Museu de Cucujães, Estudos Regionais e Manual de Instrução Moral e Cívica. Fundou o Museu de Cucujães, e organizou ainda as «Armas da Vila do Couto de Cucujães», aprovadas pela Secção de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses, em 30 de Novembro de 1927.


Padre − José Luís Monteiro Júnior.
Nasceu em Macieira de Alcôba. Paroquiou as freguesias de Casaes e Alviuveira, do concelho de Tomar, onde faleceu e foi sepultado.

Padre − João Bernardo Domingues. 
Nasceu em Macieira de Alcôba. Foi pároco das freguesias de Areias e de Pias, do concelho de F erreira do Zêzere. Por falta de saúde retirou para a sua terra natal, onde faleceu, e foi sepultado.

Padre - Manuel António Henriques Monteiro.
Nasceu em Macieira de Alcôba. Actualmente é pároco de Agadão e Belazaima de Chão, do concelho de Águeda.
/ 258 /

12. Lista(6) dos professores da Escola oficial de Macieira de Alcôba:

Padre José Luís Monteiro Júnior, professor efectivo, exercendo desde 14 de Novembro de 1877 até 28 de Fevereiro de 1902, data em que se aposentou;

Carma da Silva Lima, natural da vila e concelho de Águeda, professora interina, exercendo desde 1 de Março até 9 de Julho de 1902;

Ermelinda de Jesus Marques dos Reis, professora efectiva, exercendo desde 10 até 31 de Julho de 1902;

Alcina Abrantes de Matos Dias, de Mirandela, permutando com a professora anterior. Exerceu desde 1 de Agosto de 1902 até 30 de Setembro de 1903;

Herculano José Dias, de Castanheira do Vouga, permutando com a professora anterior; exerceu desde 1 de Outubro de 1903 até 30 de Setembro de 1905;

Manuel Gomes, de Agadão, interinamente, desde 1 de Outubro de 1905 até 31 de Dezembro de, 1905: e como efectivo desde 1 de Janeiro de 1906 até 28 de Fevereiro de 1912;

Palmira de Morais Sarmento, professora efectiva, nomeada em Novembro de 1912, não chegando a exercer por haver pedido a exoneração;

Gonçalo de Almeida Lito, de Agadão, exercendo desde 17 de Março de 1915 até 21 de Março de 1916, tendo a Escola estado vaga desde 29 de Fevereiro de 1912 até 16 de Março de 1915;

Luís Maria de Almeida Santos, natural de Óis da Ribeira, concelho de Águeda, exerceu como professor efectivo desde 24 de Março de 1916 até 8 de Dezembro de 1918;

António Ferreira Pitarma, de Aveiro, interinamente, desde 8 de Março de 1919 até 30 de Abril do mesmo ano;

Gelásio Sarabando da Rocha, natural de Nariz, concelho de Aveiro, interinamente, desde 8 de Maio de 1919 a 30 de Setembro do mesmo ano;

João Dias Agudo, professor efectivo, desde 21 de Outubro de 1919 até 30 de Setembro de 1922;

Vaga a Escola desde 1 de Outubro de 1922 até 24 de Maio de 1923;

Alzira Correia da Silva Santos, interinamente, desde 25 de Maio de 1923 até 30 de Setembro do mesmo ano; / 259 /

Vaga a Escola desde 1 de Outubro de 1923 até 30 de Setembro de 1924;

Rosa Pereira Simões, professora efectiva, natural de Macinhata do Vouga, exercendo desde 1 de Outubro de 1924 até 30 de Setembro de 1932;

Maria Isabel Ferreira, professora efectiva, desde 1 de Outubro de 1932 até 3 de Fevereiro de 1938, falecendo em 4 de Fevereiro deste último ano;

Vaga a Escola desde 4 de Fevereiro de 1938 até 30 de Setembro do mesmo ano;

Emília Lígia Correia Lisboa, professora efectiva, desde 1 de Outubro de 1938 até 30 de Setembro de 1940;

Vaga a Escola desde 1 de Outubro de 1940 até 30 de Setembro de 1941;

Amélia Ângelo Hansen, professora efectiva, exercendo desde 1 de Outubro de 1941 até à actualidade. É natural de Lisboa.


13. Justiça póstuma. A história de Macieira de Alcôba deve conservar o nome do Reverendo Prior José Luís Monteiro, já mencionado neste estudo, para, em todo o tempo, ser respeitada a sua memória.

Macieira de Alcôba pode e deve gloriar-se deste filho que, durante a vida, perseverou em fazer bem, tendo procurado sempre o bem estar do povo da sua terra. Foi um padre de muito saber e de muita virtude. Como Pároco, desempenhou zelosamente os espinhosos deveres do seu ministério e, como professor primário, esforçou-se por desenvolver a educação moral, religiosa e literária dos seus alunos, e com tão bom resultado que viu sair da sua Escola alguns que frequentaram o Seminário de Coimbra e depois subiram os degraus do Altar para a celebração da Santa Missa e outros actos do Culto, entre os quais se contam os últimos cinco padres acima referidos.

Foi o mesmo quem mandou reconstruir a Igreja em 1880 e, a seguir, fazer o cemitério para não continuarem os enterramentos dentro da Igreja como até essa data e, por fim, edificar a Capela de N. Senhora de Fátima, com a porta principal a levante, no alto do monte, que tem a forma cónica, chamado Outeiro da Vila, já mencionado neste estudo, tendo o mesmo dado assim mais uma prova do seu carácter de sacerdote e da sua firme crença católica.


14. Local da Capela de N. Senhora de Fátima.
É no alto do Outeiro da Vila, já referido, que assenta a Capela de N. Senhora de Fátima com a sua torre e relógio. E só contornando o Outeiro se pode chegar à Capela, de onde se avistam: Em baixo, a poente, a povoação de Macieira e, mais longe da vista, as areias das costas do mar; do norte, a Serra de
/ 260 / Alcôba, prolongamento da Serra do Caramulo(7); e do sul os lugares do Ribeiro e Carvalho, da freguesia de Macieira de Alcôba, e ambos assentes em encostas de suaves colinas; e, adiante, a Capela da N. Senhora do Bom Despacho, fundada em um monte alto, frio e desabrigado pelo Ermitão − Plácido Francisco nos meados do século XVIII, da vizinha freguesia de S. João do Monte(8); além, a Estrada que parte de Águeda para o Sanatório do Caramulo e, lá mais em cima, de entre altivos montes, o Pico do Caramulo cheio de grandeza e majestade onde, em 1867, alguém deslumbrado pelo aspecto imponente do seu panorama, prorrompeu neste canto de oração e louvor a Deus Todo Poderoso:

         «NÃO TENHO CANTOS

Salvé! aras [altares] de Deus, eis-me prostrado
ante as portas do Céu! Dos anjos oiço
Dos coros divinais o canto augusto!
Grão de areia nas ondas tumultuosas
dum revoltoso mar, chamado mundo!
Ponto perdido nas regiões do espaço
do chamado finito ao infinito!
Se extensão se concebe, a extensão meço!
Debaixo dos pés a terra apalpo,
eis que toco no Céu mal ergo a fronte!
Dum lado... a terra, o pó, o mundo, o nada;
doutro... o vago, o divinal, o inconcebível;
e, por cima de tudo − a Imensidade!!!
Ó Deus, que tudo vês, que tudo escutas!
Acolhe os hinos que se entoam férvidos
das santas aras [altares] que aqui me acercam,
erguidas pelas mãos da natureza!
Louvem-Te as vozes de milhares de mundos;
Dos arcanjos mil coros Te bendigam,
que eu, para te louvar, não tenho cantos.
No Pico da Serra do Caramulo, em Agosto de 1867.

                                 PADRE VIEIRA DE MELLO»
                                    
(Voz do Cristão, Vol. II, pág. 98).


Cucujães, Setembro de 1942.

JOÃO DOMINGUES AREDE

(Abade aposentado)

_________________________________________

(1) Venda da Córrega, hoje Venda Nova ou Varziela, tirou o nome da corga que desce de A-dos-Ferreiros, passa à esquerda do lugar do Casal, e vai desaguar no Alfusqueiro − rio que, no século XII, tinha o nome de rio Cambar, como consta de uma Carta do Alcaide Cerveira, de Coimbra, e sua mulher D. Godinha João, transcrita no Arq. Hist. de Portugal, vol. I, fasc. 3, a pág. 123, a qual firma a troca de propriedades em Reigoso por outras da Arregaça em que foram pactuantes o supradito Alcaide e mulher e a Sé de Coimbra. A palavra «Cambar» (rio Cambar), acima referida, deriva de Cambra, freguesia do concelho de Vouzela, onde o rio tem sua origem. Tomou mais tarde o mesmo rio Cambar o nome de Alfusqueiro, por a sua corrente ser, em bastante extensão, no termo de Alafões, donde tirou o nome..

(2) Não corresponde ao total apresentado  − 60 − o resultado das parcelas supra que acusa uma diferença de 2 para menos, devido certamente à omissão do número de moradores de algum lugar, ou erro na contagem. 

(3) − «Selada» sítio onde quebra a lomba de um cabeço.

(4) Macadam, estrada construída com pedra britada, calcada e coberta de saibro, conforme a invenção do engenheiro escocês, Mac Adam, falecido em 1836..

(5) Arede − do hebraico Ared − nome mencionado na Bíblia − Génesis − Cap. XLVI − verso 21. Arêde e Arêdio [Arêde] derivam de nomes de indivíduos santificados ou beatificados pela Igreja. (V. Tent. Etym. Top., de PEDRO FERREIRA, Vol. I, pág. 18. E Dicionário de nomes de baptismo, por FRANCISCO DA SILVA MENGO, pág. 11. .  

(6) Foi passada esta Lista conforme os elementos obsequiosamente cedidos pelo Ex.mo Sr. António de Meneses Mendes, Director do Distrito Escolar de Aveiro. A Sua Ex.ª a homenagem sincera da minha profunda gratidão.

(7) A Serra do Caramulo era chamada Serra de Alcôba nos séculos XI e XII..

(8) S. João do Monte também tinha o nome de S. João do Monte ou de Alcôba nos séculos XI e XII. (Estudos de Diplomática Portuguesa por RUY D'AZEVEDO, I, a pág. 70).

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