O Sr. Dr. MANUEL DE PAIVA
BOLÉO, ilustre Prof. de Filologia
Portuguesa na Faculdade de Letras de Coimbra, teve
a amabilidade de enviar-me pelo correio um opúsculo de sua autoria,
subordinado a este título: Inquérito linguístico. Coimbra, 1942.
A pág. 22, escreveu o distinto filólogo estas palavras:
«Com respeito às frases, recordarei o que escrevi no artigo
citado(1): que, embora não figurem neste questionário, seria da
maior vantagem que se recolhessem algumas em conversa
espontânea, porque nos podem oferecer informações interessantes de carácter morfológico e sintáctico».
Como não sou pároco nem me seduz a ideia de interrogar
uma ou mais pessoas do povo sobre linguística, limitei-me a
coligir um certo número de palavras e frases populares, que
ouvi em conversas espontâneas.
Devo elucidar que estes dizeres do povo são comuns a esta freguesia de
Fiães e às freguesias vizinhas, à parte um ou outro termo tipicamente
local.
Será este o meu insignificante contributo para o primeiro
questionário linguístico que se publica em Portugal.
No dizer do povo, «migalhas tàmém é pão». Ora, o povo
também... ser gente e saber falar. Devem, pois, as migalhas
linguísticas, que são os falares do povo, ser entregues aos arames da publicidade, para regalo de curiosos, para estudo dos
filólogos e enriquecimento da língua pátria.
E basta de exórdio. Entremos na matéria.
/ 231 /
A
− Abía-te, maneia-te,... morcão, bôcàberta, pade Zé sem
cuidados...
− Aboiar: ir à cobrição. A baca turina andou ó boi (na
data de tal) e bem a parir no mês dos Santos.
− A-bô-mente: sem constrangimento.
− Abre-cu: pirilampo, caga-lume.
− Abrenúncia! : isso não, Deus me libre do
tal...
− Abrogar: averiguar.
− Acadimar: sossegar, entrar no rêgo.
− Acaige: quase.
− A canalha (gente de palmo e meio) é da pinta do diabo.
Ninguém faz farinha co ela.
− Acenriar os cães a alguém: acirrá-los, incitá-los a
morder.
− Acessórios do forno: masseira, rapadoura, pá, ferrôlha
(e ferrêlha), rôdo, surrascadouro, barredouro, scudela de tender
o pão (massa) e... bosta pra tapar a porta.
− Achêga: pequena ajuda.
− Achigadeira: alcoviteira.
− Achoar (moer) o garôto rum porradas.
− A chuiba, qui é, o saingue da terra, bai stiar ( cessar).
− Adebertir-se: divertir-se.
− Adei, minha menina do Sinhor, a gente tem d'andar cos
usos e questumes, que mudo às duas po três.
− Adei, é cume di-l'o oitro, atrás de mim birá quem bô
me fará.
− Adeus, biolas! adeus, minhas incomendas!
− Afinar: desconfiar.
− A gente, hoj'im dia, sempre bê cousas!... Stamos na
fim do mundo: sinhoras e sinhoricas bêmo-Ias infarinhadas
cuma moleiras e pintadas da cabêça até ós pés; e, pra maior
bregonha, ando bestidas cum obra (cêrca) de meio metro de
fazenda... Ó que se chigou!! Alho pôrro!...
(Aqui para nós: esta onda de impudor vai-se estendendo
às nossas pacatas aldeias).
− Agora!... li uito me conta.
− Devéras!.
− Ah! justiça do Sinhor... só tu julgas polo dreito.
− A labueira dos padres é dezer missa, cunfessar, pregar...
− Alarbado, alarbe: comilão, insaciável.
− Aleijei-me no que me Deus deu (alusão velada às partes
pudendas).
− Alcunhas interessantes (Fiães):
Branca-flor, Bigódinho, Cussêco, Merdieiro, Preguiça, Rusga, Rato, Birrato, Féco, Gato, Garôto, Camões, Alborques, Piteira,
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232 /
Cagarela, Cachiço, Beb'água, Speto-ela (a faca), Pirão, Cristas,
Carqueja, Pica-sapos, Picoias, Prégos, Lobo, Bufaca, Alminha,
Ana-noba, Capadeira, Sapateira, Chéca, Folhetas, Pàneira, Laranjinha,
Tranca, Sobela, Magro, Pichêlo, Grilo, Barracôna,
Santa, Gêsto, Carriola, Pade João, Môço, Riquiqui,... Caça,
Cagôto, Faldreu e Faldrôco.
− Alfanête: alfinete.
− Almário: armário.
− A mãe... a mãe... (ameaça). Deixa star qu'im ela bindo,
tu tem-las certas.
− Amargiar: abrir rêgos com margieiro (arado próprio
para abrir rêgos nas sementeiras de trigo, centeio)...
− A minha bichinha (gata) lubou caminho (desapareceu).
− A minha fertuna num passa duns cagadouritos (pequenas
propriedades) e quatro patacos pra úa dôr de barria.
− A morte num te bêr... E leba oitros que faz muito mais
falta de ca ti.
− Amiar: fazer sinal, dar senhas.
− Amoutar: Calar-se muito caladinho, agachar-se.
− Anazado: de baixa estatura.
− Anda daí, atada... stás sempre im ser...
− Anda lá co teu Deus e despois... num te queixes.
− Anda moiro na costa! Cautela...
− Andar à gandaia: mendigar, vàdiar.
− Andar ou star a olhar prá porta, andar acupada, star
pra bir à cama: estar no estado interessante ou de gravidez.
− Andar cos
dentes talhados, andar defrente: mal contente.
− Andar de trombas
crescidas: idem.
− Andar fóra da mãe ou dos seus lemites: estar destemido.
− Andas àjuntar lenha pra te queimar...
− Aneira: árvore que dá fruto, ano sim e ano não.
− Antebieiro: atrevido.
− Apanhas-me ũa catrapua, insaio, cóça, sóba, póla, squenta,
surra, pilota (sinónimos)... e cantas o fado, a Louriana.
− Apinar: empinar, pôr a pino (o carro).
− Aquedar: dar à luz, ter o seu bom sucesso.
− Apójar: mamar o 1.º leite e o último.
− Aprucatar-se: precatar-se.
− Aquela rapariga sempr'é ũa lambida, um
cu-de-brio...
Só tem stêrco (vaidade) e lêndias.
− Aquêle burro paneleiro (pascácio) num deu conta do
recado.
− Àquedelrei, au ó fôgo!... àquedelrei scontra F. que bateu
no meu Mané!... Sejo bócês muito bôs testemunhas. Hei-de le dar úa
inxina.
− Aquele diabo tem peteira comio: vê-me com maus olhos.
− Aquilo é qui é
um strepe; criatura reles.
− Aqui anda gato!: marosca, trapacice.
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233 /
− Aqui, muita gente garda o mártele S. Bicente.
− Aquilo (o marido) é um fragel, é lubadinho de má...
maleita, da bréca.
− Aquilo é qui é ũa umage profeita! só le falta falar.
− Arbela: alvéola, lavandisca.
− Arrelica: relíquia.
− Arríma-Ie: dá-lhe pra baixo.
− Arrumar as filhas (ou filhos): casá-los.
− Arrumedar (por arremedar) e arrumendar
(por remendar).
− Arrunhar (arruínar)
a saúde co aico, co as bubidas e as
tainas.
− Asca: aversão. Sempre te tenho
ũa asca... que nem tu
fais ideia.
− As nobidades (culturas cerealíferas)... por gosto se pode
bêr. São mesmo um loubar a Deus!
− Assentar as questuras: bater.
− Assim, do-pé-prá-mão, num posso dar-le pronta a farpela.
Santa pacência.
− As dadas faz arrebentar a bôca:
− As suas filhas, ti André, stão a dar muito que falar.
Se num le cortar os bôos, spére-le pola bolta!
− Atarantar-se: perturbar-se.
− Atremar: atinar, acertar.
− Atrepar: abusar. Stás àtrepar muito e... trincas algũa
talhada.
− Atrigar-se: atrapalhar-se.
− Augadoiro: feixe de linho, pronto a ir para o lago.
B
− Bá borda-m..., seu
safardana.
− Bá cum Deus; o Sinhôr o faboreça, santinho; hoje num
pode ser (maneiras de despedir os mendicantes).
− Bai um copo? bai meio(2) cartilho ?.. Só se fôr abornado
e cum açucre...
− Bai-num-bai, stibe pr'ó mandar à terra farta.
− Bai tudo raso... Ou o patife arrecebe a nossa filha, a
quem êle tirou o créto, ou eu ponho-l'as tripas ó sol. Assim
Deus me salbe...
− Bagalhoça: muito dinheiro.
− Bago: desmaio e dinheiro. F. tebe um bago e stebe
passado.
− Tem muito bago, é um bugalhudo!
− Balda: mania. Cum indebido de balda, eu num m'in
tendo.
/ 234 /
− Baldroca: fraude, vigarice.
− BaleIa: falso boato, galga.
− Bandalho: pessoa indigna.
− Bandeira do milho: pendão, carucho.
− Banzado: espantado. Stou banzadinho!... o que por
aí bai!...
− Barafustar: ralhar, pintar
a macaca.
− Barbilho, barbicacho: espécie de cofinho que impede os
vitêlos de mamar.
− Batelada: bacalhoada.
− Batota: trafulhice, burla. Num faças batota...
− Beata: ponta de cigarro.
− Bedêlho: trunfo pequeno no jôgo. Meter o bedêlho
(intrometer-se).
− Beixo: beiço (de cima e de baixo).
− Belancia: melancia.
− Belida: mancha esbranquiçada na córnea do
olho.
− Benha co Sinhor; benza aqui Deus tudo; bôs dias, bôs
(e boas) tardes, bôs (e boas) noites; salbi-o Deus; adeus, passe muito
bem e steja bonzinho (diferentes maneiras de saudar).
− Bentas: palavra a que o povo dá o significado de cara.
Dou-te nas bentas... que te cunsolas. Mulher de pêlo na benta.
− Bêr as
strêlas ó mei-dia (grande aflição, entalação).
− Bêr im que paro as modas: permanecer na expectativa.
− Bêr-se à rasca (em dificuldades).
− Bêr-se im papos (palpos) d'aranha.
− Bêspra, bibra: mulher assanhadiça.
− Bestido de fantezia.
− Beto e betão: botão. Jogar o betão, o beto. Pregar um
betão.
− Bichanar: falar baixo.
− Bichano: gato, e partes pudendas da mulher.
− Bicheira: piolhos em barda
e galinhas.
− Bicho: jogo; bebida alcoólica saboreada antes do almoço
(mata-bicho).
− Bicho de sete cabeças: empresa difícil.
− Bicho-ó-buraco: pessoa esquiva, que prefere à convivência o seu lar recôndito.
− Biltre: homem vil.
− Bimbem (muito) binho e, por sinal, bimbem bô...
− Biqueira: ponta-pé. Lebas-me
na biqueira no cu...
− Biqueiro: de muito pouco comer.
− Bisca: mau traste, fraca rolha. Aquilo é qu' é
ũa bisca!...
− Bisnau: finório. Cuidado co
ele, é pâssero bisnau.
− Blúsia: blusa, peça do vestuário feminino.
− Bolada: grande soma de dinheiro. Ele arrecebeu do
Brasil ũa bolada de contos.
− Bolas: palerma, jagodes.
/ 235 /
− Bom-serás: simplório.
− Bonda!: basta, mais não.
− Borrada: asneira, cagada, rameira.
− Bródio: patuscada, ramboia.
− Broeiro: papa-açorda, bôcàberta.
− Bucha: pedaço de pão que
se mete à bôca duma vez.
− Buço: pêlos finos
e curtos no lábio superior do homem
e dalgumas mulheres.
− Bueiro: buraco para esgoto de águas, baldoeiro.
− Bufo: ventosidade que se escapa pelo ânus sem estrépito.
− Bufão:
indivíduo impertinente.
− Buliscar, buliscão: beliscar, apertar a pele com os dois
primeiros dedos.
− Bruxa: mulher que tem morada aberta, faz rezas, bota cartas, talha
canta merda há e diz qu'adebinha... Adebinha mas é... o rais qui a
parta.
C
− Cabêça-de-bento: criatura estouvada.
− Caca: excremento e «brio», (chieira).
− Cachação: pancada no cachaço.
− Cachapuz! catrapuz!: queda de chofre.
− Cachos e gachos (em uso as duas formas).
− Càdêle, o Arnesto ?.. foi lubado, foi ó bêrde...
− Cadoz: homem enfermiço e avelhado. F. é um cadoz
bélho, um caqueiro, um caduque.
− Cagaço: mêdo, susto.
− Caganeira: soltura de ventre. Vaidade.
− Caídas: tempo defeso (da apanha das agulhas), indicado
por cruzes. Caír na sparrela (laço).
− Calços das panelas: crianças sentadas no rescaldo da lareira. Saei
daqui, calços das panelas; inde acolá pró meio da cozinha.
− Cal-o-quê, cal
carapuça!...
− Canhôto: esquerdo. Trabalho dreito ou squêrdo. De
calquer jeito, canhola.
− Canhiço, casulo: espiga de milho debulhada, cadulho.
− Canudo:
contratempo. Mas que grande canudo!
− Canga e cangalho: jugo baixo.
− Cão: dívida que se não paga. Ferrar o cão: pregar o
calote.
− Capela: termo que se emprega para designar as Iojas
(tabernas). Andar de capela im capela e besitá-las todas...
− Capote: falsa imputação. Ind'àrranjas algum capote!
− Carago! caramba!: espanto, ironia.
− Carandeira: curandeira, mulher que diz curar todas as
moléstias «que le pertenço»: arêjos, diabos defamatórios, zipélas
/ 236 / spinhelas caídas, flatos, maus olhados, inbejidades, sombras de morto, ar de galinha choca, gôta serena, maleitas, triz,
teçôs, bertuêjas, cobrantos...
(E vão neste embrulho alguns patos e muitas patas...).
− Carga-d'ossos: pessoa muito magra.
− Carôlo: farinha grossa de
milho.
− Carranca, sumbrante: rosto ou semblante carregado.
-− Carrapiços: cachos pequenos, após a vindima.
− Carraspana: borracheira.
− Carreira: caminho de carro.
− Cartão: importância. F. tem muito cartão na Cambra
munecipal.
− Cartola: bebedeira. Sempre apanhei
ũa cartola na feira de S. Miguel!
Nem me tinha im pé. E F. ũa boa cartola: tem muito respeito.
− Cortar a casaca: dizer mal.
− Casamentão: casamento rico.
− Catraio, menino, garoto, pibête, ganapo, miúdo: criança.
− Casota: guarita de cão.
− Cata: procura. Ando à cata do meu João.
− Catanada: repreensão severa.
− Caticha!: que porcaria!
− Catrafilar: agarrar, prender.
− Cabaco: resposta. Num deu cabaco ninhum. Fez-se
alonso...
− Carrêlo: carrinho de linhas.
− Cazila: quezília.
− Cebola: relógio de bolso. Pessoa indolente.
− Ceca-e-Meca: muitas terras. Correu Ceca-e-Meca.
− Cêpa: família de que alguém descende. Parece boa
pessoa; mas a cêpa é má.
− Cesta-rôta: pessoa que não é capaz de guardar segredo.
− Cesto: berço.
− Cheira-bosteiras: tipo ou tipa muito curiosos (crugidosos).
− Cheminé:
chaminé.
− Chicha: carne de porco ou de outro animal.
− Chichi: urina.
− Chigar a roupa ó pêlo: carga de pau.
− Chincar: provar. Tu num chincas nada.
− Chupante: comedor ou bebedor à custa doutrem.
− Cinco-reis-de-gente: pessoa de baixa estatura.
− Clipe: eucalipto.
− Cobêrto: espécie de alpendre destinado à guarda de
cereais.
− Côbro: termo e cuidado. Pôr cobro a certos abusos.
O rapaz num põe côbro ninhum im studar; num olha pós libros.
− Côdia: casca e também − pessoa sem
aldancia (expediente).
/ 237 /
− Cobilhête: tigela pequena.
− Comeide, gente. A mesa cunbida (as iguarias estão à
vista de todos).
− Compasso: visita pascal.
− Comer carne da beixa: perder um processo, uma eleição, etc.
− Comer ou buber até le chigar co dedo.
− Comer cum relêgo (só o preciso).
− Comer pão qu'o diabo amassou (passar por dificuldades
enormes).
− Comer os olhos a alguém: dar-lhe cabo de quanto tem.
− Comida d'urso: pancadaria.
− Consuada: ceia da véspera ou noite do Natal.
− Conêta (um fulano que não é homem para a vida) : nem
lá bai nem lá faz minga, calço das panelas.
− Contas-de-saco e contas-do-Porto: más contas e contas
de repartir.
− Copásio: copo grande.
− Coral: esperto. Fino cum'om coral (serpente).
− Corno: marido enganado pela mulher.
− Correpio: corrupio, indivíduo que não pára em parte
alguma.
− Cortada: direcção.
− Cortinha: campo da porta, propriedade próxima da
habitação.
− Cotio: uso quotidiano. Roupa de cotio: roupa da
semana.
− Coudel: mulher ordinária.
− Cova: sepultura. Cova-do-Iadrão: depressão entre o
pescoço e a nuca.
− Crecunda: curcunda, nicha nas costas.
− Crédo! : Deus nos livre!
− Cum tiro matei dois coelhos....
− Cum tôlos nem pr'á missa.
− Curesma: quaresma.
− Curral: corte do gado e também se emprega no sentido
de casa imunda (porcaria por todos os cantos).
− Cu, rabo, coibeiro, ás-de-copas, sim-sinhor, assênto, ilhó:
ânus, traseiro.
− Cum lixença de quem mi oube, eu stou cagando pràquêles que me num pode
bêr, por bestir camisa labada e ter o meu pé-de-meia.
D
− Dado: afável. F. é muito dado cum todos. Será o diabo
por dentro, mas tem um bô doairo pra todos.
− Dar a alma a Deus (morrer).
/
238 /
− Dar à língua, ó badal. Dar palha, dar guita, dar trela,
dar trêta: dar conversa.
− Dar-do-corpo: defecar.
− Dar às gâmbias: fugir.
− Dar ós queixos: comer.
− Dar pru paus e pru pedras (também «pu paus e pu
pedras» ): irar-se.
− Dar ós foles: resmungar.
− Dares-e-tomares: desavenças.
− Debicar: comer poucochinho.
− Deixa cá bêr êsse martel (martelo).
− Desenriçar (as tripas): desenredá-las.
− Degestão: indigestão.
− Desaurido: fugido.
− Desinçar: livrar, dar cabo de ervas daninhas, etc.
− Desougar: desaguar, dar alguma comida às pessoas
(crianças e mulheres grávidas) e aos animais.
− Despôr: dispôr,
transplantar couves....
− Destempêra: disparate.
− Deu a F. um «raminho» e num dá acôrdo ninhum de
si. Stàqui stá a dezer adeus a êste mundo... Sem desfazer im ninguém, é
muito bô pessoa. lá isso é.
− Deus-dará (ó): à toa, ao acaso.
− Deu-Ie-perdou: referência a um defunto ou defunta.
− Deu-se um grande senistro...
− Diabo-a-quatro: grandes distúrbios. Fez o diabo-a-quatro, fez das dele...
− Didal: dedal.
− Dou-li uma... dou-Ie duas... dou-Ie três.
− vinte paus e
é (o objecto leiloado) pró sr. F. de tal.
− Dizer o diabo (muito mal) de alguém. Dizer trinta por
ũa linha (muita cousa).
− Dou-t'um panásio e amasso-t'os queixos.
− Dúbeda e duda: dúvida. Isso num tena duda (ou dúbeda).
E
− É junta de bóis pra mais de quatro lançóis (contos)...
− Ele (o pãozinho) num cai polas têlhas abaixe: faz minga
granjiá-Iç)...
− É milhor fazer bista grossa.
− Em casa de F., quem dá os dias-santos (ordens) é a
mulher.
− Engenho, pôço: nora.
− Entes: endes, ovo que se coloca onde as galinhas
devem pôr.
− É ruim cum'ás cobras.
/ 239 /
− É pôdre cuma barro, ou cuma cisco.
− Eu bico estes qu'a terra há-de comer... e bou jurar,
àlarila.
− Eu disse cá cum Deus e comio: temos mudança de
tempo: este meu Saragoçano (o romatiz) num questuma irrar.
− Eu nem quero que m'alembre o prigo im que me bi:
por um triz ficaba sborrachado dubaixe dũa mota !...
− Eu num ponho aquela nenhũa im l'amassar as fuças, logo
qui o agarre a jeito...
− Eu ponho as mãos nũas horas... (juramento).
− Eu ponho t'a pão de pàdeiro!
− Eu sei cá?! eu sei lá?!.
− Eu seja cego se m'as tu num pàgás... Págas-m'as tôdas
(malfeitorias).
F
− F. num é pa graças...
− F. é pardal, é melro de bico amarelo, é troixa (tratante).
− F. tira-t'a palheira, chêga bem pra ti. Faz-te pra êle,
mosca morta!
− F. é um peneira, num tem ó menos unde caír môrto:
stá libre dum arésto (arresto).
− F. é um tratante de marca...
− F. está muito zupeirão (pesado).
− F. codilhou C. (enganou-o).
− F. num tem chêta, bintém.
− F. é de bô comer: bai casar c'ũa das da bremilhinha
(canhão fóra de combate).
− F. num presta mesmo pra cousa nehũa: s'alguém cresce pra êle, larga a
fugir e até caga (cum lixença ou culxença) nas calças.
− F., meia-bolta, stá de papo pró ar (doente): bai prá
sucata e num tarda lá muito.
− F. fez um caramól, um crieleison, um calandairo, um
spantatório... que tu num fais ũa piquena ideia. Safa!
− F. é o retrato do pai, é mesmo o pai cagadinho.
− F. tem mas é garganta e caganeira: basófia e vaidade.
− F. deixou-s'ir,
smunhou-se. Isso acuntece ó mais pintado
e à mais pintada.
− F. stá muito adecrido: goza de muita estima.
− F. cásca-Ie, bébe-Ie bem...
− F. é um pelém (muito doente).
− F. é todo imprial e àpenioso: muito senhor do seu nariz.
− F. e C. andaro polos Brasiles, polas Amercas, por casa
do diabo mais bélho... e sempre aprendero por lá cousas!! Cála-te, bôca.
P... qui os pareu!
− F. stàqui stàpitar (sem nada). Qui há de ser daquêla bandada de
filhos?!
/ 240 /
− F. é pesseguida do flato e atacada do zipelão. A pôtra
deu nela... e é moléstia que só a terra do cemitério pode curar.
− F. é dos de meia-tigela: nem muito-cá nem muito-lá.
− F. é meio-atolado e... tem a quem saír.
− F. num stêbe cum meias medidas: deu pra baixo cuma
S. Tiago nos moiros!
− F. e C. stão nos últemos oremos (na agonia).
− F. num sabe canto tem de seu: é rico... cum filha da p...!
− F. stêbe
passadinho, esta noite... bi jeitos dêle passar
( morrer).
− F. traz-me de ponta, tem-me galho... e num bêjo que mal le tenha
feito. Será pru môr da polítega ?.. Ele nem por isso gosta lá muito do
Salazar, que − dia-se lá o que se dixer
é um grandi home.
− F. deu raia, asniou, stendeu-se.
− F. desta (doença) num scapa, num tem oitra, nun'a
rompe: o doutôr tróce-Ie muito o nariz.
− F. é fresco: muito marôto.
− Fagote: corpo. Ir ós fagotes a alguém.
− Falar grosso, de riba da burra: falar de cadeira, falar de-papo.
− Faldra, faldrôco: fralda.
− Farêlo: basófia, farronca.
− Farrapeiro e farra pão: andrajoso.
− Farrusca: mascarra, mancha.
− Fateiro, fareleiro: fala-barato.
− Fazer: defecar, largar, cagar, arrear a calça, ir onde se
não pode mandar, evacuar, obrar.
− Fazer cruzes na boca: não ter que comer.
− Fazer tijolo: estar sepultado.
− Faz-tudo: pessoa que toca sete instrumentos,
sive bene-sive mate.
− Felga: desordem. Que grande felga.
− Feluge: fuligem.
− Femieiro: devasso, dissoluto, putanheiro, sacana.
− Fero, fera: de excelente saúde.
− Festança, festão: romaria, festa ruidosa e semi-pagã.
− Ficar sfóca: ser o derradeiro.
− Figeste-Ia boa!... podes alimpar as mãos à parede.
− Fistôr: finório, farçola.
− Fita: conto do vigário. Ir na fita: deixar-se levar por
cantigas-ó-Rosa.
P.e MANUEL F. DE SÁ
Continua na pág. 261 −
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