Arlindo de Sousa, Langóbriga, Vol. VIII, pp. 206-221.

ANTIGUIDADES DO CONCELHO DA FEIRA

LANGÓBRIGA I

◄◄◄ − Continuação da página 152.

VIII

SÃO, pois, muitos os motivos que tiveram influência na decadência das edIflcações romanas e consequentemente na sua completa ruína. De Langóbriga resta-nos hoje a designação, documentada por vasta bibliografia, e os despojos arqueológicos encontrados. O topónimo desapareceu da tradição oral. A colina, em que a cidade teria assento, denomina-se, actualmente, Monte-Redondo ou de Santa Maria. Os castros foram as primitivas povoações ibéricas. Junto deles ficavam os santuários das divindades locais, numina loci. A construção dos castros no coruto dos montes parece ter obedecido não apenas a uma necessidade de defesa, mas também a uma causa espiritual... de ordem religiosa. O deus lusitano Endovélico, de quem muito se tem escrito, tinha o seu santuário no alto do monte de S. Miguel da Mota, no concelho de Alandroal, Alentejo. O local apresenta vestígios de uma antiga fortificação, não diferente dos castros.

Os Romanos adoptaram e romanizaram a maior parte dos deuses ibéricos. Os montes das antigas povoações castrejas começaram a ser lugares de peregrinações e de ofertórios «donarias», ao deus protector da região, que aí tinha tido o seu culto.

Muito a custo, o Cristianismo conseguiu afrouxar, mas não apagar de todo, a devoção ibero-romana. Vemos reflexos de antigos cultos, na festa das Maias, de S. João, no cepo do Natal, nos magustos, nos ganhos milagrosos, etc.

Para fazer esquecer os cultos antigos, a Igreja encheu de ermidas o cimo dos montes, onde quer que os mitos pagãos estivessem a manchar a pureza dos ritos cristãos: Nossa Senhora da Piedade e Santa Bárbara, em Canedo; Santo António da Laje, em Fornos; Nossa Senhora da Boa Fortuna, no alto do / 207 / Viso, em Guisande; e mais longe de nós, mas divisando-se das terras da Feira, S. Domingos, de Paiva, irmão de Santo lsidoro, do monte Castro, de Gondomar, e de São-Macário três ferreiros, que possuem apenas um martelo, de que se servem, conjuntamente, arremessando-o uns aos outros, de serra para serra, à distância de muitas léguas... Nossa Senhora da Saúde, dos Carvalhos; o monte da Virgem de Vilar do Andorinho lindas capelinhas, muito pequeninas aos nossos olhos, que, na limpidez da sua santidade, nos contam histórias curiosas de crenças gentias.

A Cruz substitui as insígnias romanas e o crescente muçulmano. A Virgem Maria substitui Aries ou Marte. Ela é que guia os exércitos cristãos e dá as vitórias...

Nas duas designações actuais do outeiro da antiga cidade de Langóbriga, uma é meramente topográfica, Redondo, «monte de forma arredondada», «mamoa»; a outra é proveniente de ter existido no sítio uma ermida ou mosteiro, consagrados à Virgem Nossa Senhora, cristianização dos cultos prestados a um deus ou génio local.

Creio que data de Afonso III (860-910), a fundação do monumento católico que deu origem à designação tópica de Santa Maria. Afonso III reconquistou toda a faixa ocidental da Península: Coimbra, Lamego, Viseu, etc., e repovoou muitas terras, entre o Douro e o Mondego. No seu reinado fundaram-se, na região, que se chamou de Santa Maria, os mosteiros de Azevedo e Sanguedo e foram lançadas as primeiras pedras para os mosteiros de Crestuma, Santa Cruz de Silvalde, S. Miguel de Cortegada (Olival), S. Miguel de Dezanos e São-João (Ovar), etc. Da mesma época deve datar a fundação do primitivo castelo de Santa Maria, de Vila da Feira (a actual forma arquitectónica provém do tempo de D. Afonso V, não esquecendo as reparações de sucessivas épocas, até aos nossos dias), à volta do qual se formou e desenvolveu a povoação de Santa Maria, espreguiçando-se, pela encosta do monte e pelos vales próximos. Em lugar privilegiado, junto das ribeiras férteis e amenas do Cáster, bem defendida pelo castelo, baluarte defensivo do Cristianismo, na extensa região de entre o Douro e o Vouga, prosperou, consideravelmente, e adquiriu, em poucos anos, foros de cidade.

O mais antigo documento, que conhecemos, que se refere ao culto da Virgem Maria, é uma doação ao mosteiro de S. João de Ver, e diz respeito ao actual concelho da Feira. Data de 773(1): «Donatio bonorum ecclesiae S. Joannis Baptistae, prope Souto Redondo, territorio Portucalensi... ln nomine / 208 / domini nostri ihesu christi et indiuidue sancte trinitatis patris et fiIii et spiritus sancti inuictissimis ac triumphatoribus sanctis que martiribus gloriosis quorum baseIica discernimus et fundamus Ioci illius sancti ihoannis babtiste et sancti saIuatoris et sancte marie semper uirginis et sancti peIagii et sancti iacobi apostoli...» Dipl. et Chartae, pág. I

Num documento do ano de 867 há referência a uma igreja com a invocação de Santa Maria: «eclesie sancte mariesedis colimbriensis...», Carta diuisionis in Dipl. et Ch., pág. 3.

Em outro documento de 870: «...baseIica sita et fundata est in villa negrelus territorio bracharensis urbium portugalensis secum sancte marie subtus mons cauallus prope riuulum have», Dipl. et Ch., pág. 3.

Num documento de 915: «...damus et concedimus ecclesiam uocabulo sancte marie uirginis... in uilla que dicenl fremoseli iuxta flumem mondeci...» Doação à igreja de Formoselha, Dipl. et Ch., pag. 13.

No ano de 961, aparece já o topónimo «sancta maria de Lamas», Dipl. et Ch., pág. 53.

Em 977, aparece a designação «ciuitas sancta maria», dada à actual Vila da Feira: «in uilla uaIeiri discurente riuulo rio mediano terredorio portugalense prope ciuitas sancta maria», Dipl. et Ch., pág. 75.

Nas Inquisitiones há muitas referências a povoações que tinham como padroeira a Virgem Maria: Santa Maria de Dezaos, Santa Maria de Burroos, Santa Maria de Gouviaes, Santa Maria de Atanes, Santa Maria de Reymondo, Santa Maria de Guimaraes, Santa Maria de Barcelos, Santa Maria de Adaufi, Santa Maria de Ladroes, Santa Maria de Borva... Santa Maria de Gouvens, Santa Maria de Touguina, Santa Maria de Provesende, Santa Maria de Ferreiró, Santa Maria de S. Felix, Sancte Marie ripa pauie (hermida), Santa Maria de Torgoosa, Santa Maria de Revordaos, Santa Maria d'Areias, Santa Maria d'Ardegam, Santa Maria de Igreja Nova, Santa Maria de Moimenta, Santa Maria de Chorensi, Santa Maria de Barvudos, Santa Maria de Moos, Sancta Maria de Idaes, Sancta Maria de Alvarenga, Santa Maria de Arenis, etc.

Das setenta e seis freguesias da antiga Comarca e Ouvidoria da Feira ou Terra de Santa Maria (v. P.e ANTÓNIO CARVALHO DA COSTA, Chorographia Portuguesa, 1708), doze são consagradas à Virgem Nossa Senhora: Santa Maria de Esmoriz, Santa Maria de Lamas, Santa Maria de Fiães, Santa Maria de Crestuma, Santa Maria do Olival, Santa Maria de Sandim, Santa Maria do Vale, Santa Maria de Pigeiros, Santa Maria de PindeIo, Santa Maria de GulpiIhares, Santa Maria de Arrifana e Santa Maria de Ul. / 209 /


IX

Todo o território do concelho da Feira e da antiga circunscrição da Terra de Santa Maria está cheio de antiguidades de grande valor... Ruínas vivas a atestar a grandeza de uma civilização multi-secular, que prende pela singularidade dos seus aspectos exteriores e de alma.

Dividimos o concelho em quatro zonas:

Zona do Alto Uíma:

Langóbriga. Castro de Ovil. Murado. Anta. Mámoa. Casas. Casinhas. Caldas. CaldeIas. Casaldoído. Candeídos. Cepo. Lajes. Carreira-Cova. Vale-da-Cabra.

Zona do Cáster:

Castro da Vila da Feira. Muradões. Recarede. Arca-pedrinha. Monte-do-Forno. Fornos. Laje. Penas. -Pedra (Chão-da-). Seixo. Penedo. Carreira. Estrada-Velha. Rua (?).

Zona do Baixo Uíma:

Crasto. Castelinho. Penas-do-Cepo. Marco-de-Eirós. Crestuma. Laje. Cepo.

Zona do Ur:

Castro e Cividade da Portela. Castelhão (Crastellum, ano de 1251). Arcas-da-Searaa e do Suam. Forno. Cham-do-Forno. Cham-de-Arcoa. Cham-de-Arcas. Mámoa. Dentases. Pena. Torre. Laje. Pé-de-Arca. Mato-de-Arca, Castelo, Lações e UI, a confinar com a região da cidade de Talábriga.

Zona do Alto Uíma:

Langóbriga, de que já falámos, parece ter sido situada no Monte Redondo ou de Santa Maria, na freguesia de Fiães. Fez o inventário do seu espólio arqueológico o Prof. MENDES
CORREIA.

Castro de Ovil, na freguesia de Esmoriz. Castros são as ruínas de antigas povoações fortificadas, no cimo dos montes, quase sempre nas margens dos rios e ribeiros.. «Castrum / 210 / augmentatif de Casa, ce mot indiquait dans son sens primitif une hutte large ou solidement bâtie et par suite un fort, ou une forteresse...», Dictionnaire des Antiquités Romanes et Grecques, ANTHONY RICH, tradução de M. CHÉRUEL. Paris, 1861.

Os Celtas deram o nome de dunon ou briga às povoações fortificadas, que no latim clássico são denominadas oppida ou oppidula, e castra (castrum no singular), no latim da decadência. Por influência dos Germanos, se passou a chamar-lhes, por vezes, burgos - «Vegécio ya en la segunda mitad deI siglo IV, cita una: burgus, castellum parvulum quem burgum vocant, que ya se latiniza en inscripciones deI siglo II y persiste en nombres de lugar: Burgos, EI Burgo, Burgohondo, Burguillo, Burguete», R. MENÉNDEZ PIDAL, Manual de Gramatica Histórica Española, pág. 19. Madrid, 1929 − e parece que os Árabes as designam, com frequência, por atalaias e albarradas. Os nossos antigos camponeses, ao depararem, a primeira vez, com as ruínas dos castros, desconhecendo o seu significado, deram-lhes designações metafóricas: cividades, citânias, cercas, coroas, murados, muradões, casas, casinhas, pedras, torres, moimentas, etc.

Da abundância dos castros e de outras fortificações na Península, e do seu grande valor estratégico, fala JÚLIO CÉSAR, nos seus Comentarii de Bello Hispaniensi, cap. VIII: «...Hic etiam propter Barbarorum crebas excursiones omnia loca, quae sunt ab oppidis remota, turribus et munitionibus retinentur, et, sicut in Africa, rudere, non tegulis teguntur; simulque in his habent speculas, et propter altitudinem longe lateque prospiciunt... «... Além disso foram forçados, por causa das frequentes incursões dos bárbaros, a fortificar com castros e torres, todos os lugares distantes das cidades, e, como em África, são cobertos de argamassa, e não de telha, e, nos pontos mais elevados, constroem atalaias que permitem que a vista se estenda até longe».

De alguns destes castros chegaram aos nossos dias restos das habitações por eles defendidas, traços de estradas e monumentos sepulcrais (mamoas, antas ou arcas), instrumentos de uso doméstico, ex-votos, moedas, inscrições, etc. De outros ficou-nos o topónimo petrificado.

Nas proximidades dos castros ficavam as sepulturas dos castrejos, hoje apenas conhecidas por diversas designações toponímicas, perdido o monumento funerário que lhes deu origem: Anta, Dentases (de de + Antas + es. Ver os meus «Respigos da Toponímia Feirense, pág. 5) (2). Arca(s), Arca-pedrinha, / 211 / Pé-de-Arca, Arcoa, Forno(s), Cepo, Marco? Pedra? Pena(s)? Laje?

O Castro de Ovil aparece várias vezes citado em documentos medievais: «... in uilla ermorizi et cortelaza subtus castro de obile, discurrente ribulo mediano», ano de 1013, 134; ano de 1055, 241 «...rrio de paramio usque rio de sparago de mazaneta... et abe ipsa ereditate iacentia subtus castro ouibil prope litore maris»; ano de 1056, 244 «...in uilla ermorizi subtus castro de obile discurrente ribulo paramio...»; ano de 1076, 327 «...in uilla ermoriz subtus castro ouile discurrente ribulo maiore prope lidore maris;» ano de 1090, 441 «...in uilla ermorizi subtus mons castro de obil.

Diz PEDRO A. DE AZEVEDO: «Tem grande probabilidade o antigo Castro de Ouile (Obile e Obil) ou Castro Ouibil ser o actual monte d'O Murado. A grande altura (relativamente) do monte, permitindo a inspecção da maior parte do território, e as suas encostas arborizadas em que o gado, principal riqueza daqueles tempos, facilmente encontrava sustento, ofereciam a reduzida população um abrigo passageiro perante os ataques dos que tanto podiam ser seus correligionários como adversários constantes (mouros e normandos). O próprio nome do castro parece ser uma palavra latina que significa «curral de ovelhas», e, efectivamente, ao menor assomo de invasão deveria ser o primeiro movimento dos donos das vilas recolher em lugar seguro o seu gado, enquanto eles, rodeados dos seus servos de diversas qualidades, tentariam pelas armas opor resistência ao avanço do inimigo», Archeologo Portugues, voI. III, págs. 139-140.

Murado (freguesia de Mozelos).
A respeito do castro de Mozelos, nada sabemos, além do que diz a Memória do pároco da freguesia, em 1758:
«Junto a esta Igreja ha hum outeyro a que chamam do Murado que fica muito alto em hum monte o qual serve de apascentar os gados... mostra este nos antigos tempos ser cercado com valle cujo monte ou outeiro dizem os antigos que foi Praça dos Mouros de cujo se descobre grande parte do mar, a villa de Aveiro, o Rio que fica junto, que a villa será de distância 5 para 6 legoas e o castello da villa da Feira», extraído do Archeologo Portugues, voI. III, pág. 139, artigo de P. A. DE AZEVEDO.

Anta, freguesia do concelho de Espinho. O topónimo é proveniente de ter existido no local um monumento sepulcral pré-histórico, deste nome. As antas, também, conhecidas por arcas, orcas, dólmens, antelas, etc., assentavam geralmente sobre mamoas. / 212 /

Mamoa, povoação da freguesia de Fiães. O topónimo comprova a existência no local de uma mamoa: elevação artificial ou natural em forma de seio de mulher. Na toponímia aparecem, alem de Mamoa, Mamoinha, Mamunha e Mamaaltar.

Casas, lugar da freguesia de Lourosa. Talvez estejamos diante de um topónimo de origem popular, a indicar as ruínas de uma povoação castreja.

Casinhas, aldeia da freguesia de Argoncilhe. Veja-se o que foi dito para Casas.

Caldas (do latim (Aquas) Calidas) povoação termal na freguesia de S. Jorge. Ver Feira, Terra Sanctae Mariae e o Concelho da Feira e Terra de Santa Maria − História. Etnografia. Arte. Paisagem.

CaldeIas, diminutivo de Caldas «pequenas caldas», outra povoação da mesma freguesia.

Águas-Férreas, pequena nascente de águas minerais, também, em São Jorge, como me informou a talentosa professora, nesta freguesia, D. Maria José de Oliveira.

Vários factos levam a crer que a freguesia de São Jorge foi muito habitada em tempos remotos, principalmente pelos Romanos, que devem ter utilizado as águas minerais. Diz Justino que os povos da Península aprenderam dos Romanos o uso dos banhos quentes: «Aqua calida lavari post secundum bellum Punicum a Romanis didicere», Historiae Philippicae, Lib. XLIV, cap. lI.

Caldas, CaldeIas, Portela, Casaldoído, Candeídos, Cepos, Lajes, são designações muito antigas. Em Casaldoído entra o elemento ídolo (Casal-do-Idolo). O monumento religioso que deu origem ao topónimo perdeu-se. O ídolo talvez representasse o deus ou génio protector dos doentes das Caldas. Bormanicus foi o deus ou o génio das termas de Vizela. Tameobrigus foi o deus ou o génio do rio Tâmega. Ver Religiões da Lusitânia, voI. lI, págs. 266 e 320.

Candeídos, lugar da freguesia de S. Jorge. O topónimo tem todos os aspectos de um nome celta. Consultar HOLDER, Alt-Celtischer Sprachschatz.

LEITE DE VASCONCELOS cita a inscrição galega «Iuppiter Optimus Candiedo» em que o deus romano Júpiter é seguido do epíteto «Candiedo», aparentado com o nosso Candeído(s) e diz: «conviria saber se os epítetos são nomes de deuses locais, ou designações meramente geográficas e quais os atributos aqui concedidos a Júpiter.., Religiões da Lusitânia, voI. II, pág. 342. / 213 /

Bem pode ser que o nosso Candeídos seja um antigo deus ou génio local, e que o seu santuário fosse no monte que tem hoje essa designação.

Cepo(s), campos nos lugares de CaldeIas e de Azevedo da referida freguesia de S. Jorge. Penso que se dá, algumas vezes, este nome, às antas com mesa, em linguagem metafórica. Chama-se cepo no concelho da Feira a um pedaço de tronco de árvore e aos traços de madeira, em meia lua, cortados das cambas das rodas dos carros de bois. No lugar da Póvoa, da freguesia de Canedo, num dos seus outeiros mais elevados temos Penas-do-Cepo (= Pedras-do-Cepo), topónimo mais expressivo, que dá força à nossa hipótese. Cfr. com Pé-de-Moura (= Pedra-da-Moura), lugar da freguesia da Lomba, do concelho de Gondomar à margem do Douro, e Pé-da-Arca (= Pedra-da-Arca), lugar da freguesia de Pigeiros.

Laje(s), campos da mesma freguesia de S. Jorge. Muitas vezes esta designação é proveniente de ruínas de castros, mesas de dólmens ou antas. É frequente este topónimo no concelho.

Carreira-Cova, lugar da freguesia de Lobão, expressa que o local era de grande trânsito em tempos antigos.

Vale-da-Cabra, lugar da freguesia de Lobão. O topónimo deve ser proveniente de ter existido no local um monumento votivo com a figura de cabra, tóteme pré-histórico, ou proto-histórico, ídolo, ou ex-voto. Os Lusitanos imolavam bodes, nos seus sacrifícios ao deus Marte: « Marti caprum immolant», ESTRABÃO, Rervm Geographicarvm, tomo I. O seu principal alimento era a carne de cabra: «maxime capros edunt», donde se depreende que este animal abundava na Lusitânia. AVIENO fala, também, da abundância do gado caprino na região do promontório Sacro:

«Hirtae hic capelIae et multus incolis caper.
Dumosa semper intererrant caespitum».
              (Ora Maritima, vv. 217-218).

Da cabra, como animal cultual, fala LEITE DE VASCONCELOS, Religiões da Lusitânia, vol. lI, págs. 170, 283, 284 e 305; vol. IlI, 504-505. Cfr. com Fonte-da-Rata, lugar da freguesia de Silvalde, talvez génio local da fonte, ou protector da agricultura da região. / 214 /

Zona do Cáster:

Castro da Vila da Feira. Não há razão para considerar como assento de Langóbriga o monte em que se ergue com altiva majestade o castelo da Feira, que dista da Calem, do Itinerário de ANTONINO, cerca de 29 quilómetros. No local, em que o castelo foi edificado existiu uma povoação castreja luso-romana como muitas outras que prosperaram na extensa região, do . Douro ao Vouga, e do mar ao UI e ao Antuã.

Do antigo castro de Vila da Feira, possuímos dois ex-votos: um do deus TUERAEUS, uma ara romana encontrada, em 1912, quando se procedia à reconstrução da muralha de vedação da parte de Leste,

DEO
TVERAEO
VOLENTI
ARCIVS
EPEICI. B
RACARVS
S.F

a que faz referência o Prof. Dr. LEITE DE VASCONCELOS (3):

«O Sr. Dr. AGUIAR CARDOSO teve a sorte de encontrar mais uma ara romana com uma Inscrição inédita, de que me mandou um decalque, que transcrevo... Diz: « Deo TUERAEO volenti Arcius Epeici Bracarus s(acrum) f(ecit)», «Ao benévolo deus Tueraeus consagrou este monumento Arcio, filho de Epeico, Bracaro de nação.» − As siglas «S. F» creio serem novas; pelo menos não as encontro notadas em alguns manuais epigráficos que tenho à mão. O nome do deus, bem como Epeicus, nome do pai do dedicante são desconhecidos; mas o sufixo −aeus é variante de -aius ou -aios, que se tem por céltico, e se encontra, por exemplo, em Art-aios, Cant-aius, Clont-aius, Tur-aius, etc.: cf. Holder, Thesouro, s. vv. O nome bárbaro Arcius lê-se noutra inscrição peninsular: Corpus, lI, 5556 (Vila
/ 215 / Real). Acerca dos Bracaros vid. Religiões, II, 56 (com a errata de p. 373) e 75; a palavra Bracarus figura também numa inscrição do Museu de Guimarães, mas como nome próprio: vid. O Arch. Port., XV, 324. O adjectivo participial volens é mais provável ser epíteto da divindade (cf. deus Endovellicus sanctus Juppiter optimus maximus, Mars ultor, Venus victrix, Minerva memor, Fortuna obsequens, Fortuna respiciens, etc.), como na tradução o considerei, do que meramente circunstancial; quem sabe se essa palavra conterá a significação de Tueraeus? − A ara, a que falta já a base, mede 43 cm de altura e 33 cm de largura (na cornija), Religiões da Lusitânia, voI. III, pág. 612-613.»

Em 1917, foi encontrada, no recheio do cubelo do Sudoeste, que se andava a reconstruir, outra ara romana: ex-voto do deus Bandevelugus Toiraecus,

BANDE . VE
LVGO . TOIR
AECO.L.LAT
RIVS.BLAES
US.V.L.A.S.

que o Prof. LEITE DE VASCONCELOS, em carta ao Dr. AGUIAR CARDOSO, leu da maneira seguinte:

««Bandevelugo Toiraeco L(ucius) Latrius Blaesusv(otum) l(ibens) a(nimo) s(olvit)»

e traduziu:

«Lucio Latrio Bleso cumpriu de boamente o voto que fizera a (o deus) Bandevelugus Toiraecus».

LEITE DE VASCONCELOS fala de outra ara romana, achada em Arrifana, com a inscrição: «L O. V. c. P. votum ex mente conceptu Valeria Marcella Sltv.», que interpreta do seguinte modo: «I(ovi) O(ptimo) V(ictori) C(onservatori) P(raestabili)», Religiões da Lusitânia, voI. III, pág. 507. / 216 /

Toda a região, em volta do antigo castro de Vila da Feira, é abundante de topónimos de grande valor arqueológico:

Muradões e Castro Rekaredi.

Temos conhecimento destes locais por um documento do ano de 1026 «...in uilla kabanones et in muradones subtus castro rekaredi territorio ciuitas sancta maria discurrente riuulo ouar...», Dipl. et Ch., pág. 181. Muradones seria hoje Muradões e Rekaredi, Recarei. Não nos foi possível localizar os dois topónimos. Eles comprovam, porém, a existência de mais duas povoações castrejas, na zona do rio Cáster.

Arca-pedrinha, lugar da freguesia de Travanca, marca a presença de uma arca no local.

-Forno (Monte-do-), lugar da freguesia de Arrifana e Fornos, freguesia, são topónimos que provêm de ruínas de habitações castrejas, de antas, ou arcas, e, igualmente, Penas, lugar da freguesia da Feira, -Pedra (Chão-da-), lugar da freguesia de Travanca e Laje, lugar da freguesia de Fornos.

Seixo, lugar da freguesia da Feira e Penedo, lugar da freguesia de Fornos. É para estranhar que esta duas povoações tomassem o nome de uma simples pedra ou rocha, sem que a elas se ligasse qualquer estímulo sobrenatural. Estamos em presença, creio, de um antigo culto às pedras, talvez um culto fálico que se perdeu. Consultar acerca destes cultos, ESTRABÃO: «sed lapides multis in locis ternos aut quaternos esse compositos, qui ab eo venientibus ex more a maioribus tradito convertantur translatique fingantur», ob. cit.; e ainda: E. DÉSOR, Mélanges scientifiques, pág. 210. Paris, 1879; TEÓFILO BRAGA, Origens Poéticas do Cristianismo, págs. 134-135. Porto, 1880; LEITE DE VASCONCELOS, Tradições Populares de Portugal, págs. 89-98. Porto, 1882, e Religiões da Lusitânia, vol. lI, pág. 202 e segs. Lisboa, 1905; ESTAÇO DA VEIGA, Antiguidades Monumentais do Algarve, vol. I, págs. 98-99. Lisboa, 1886; Revue Archéologique, 3.ª série, XXI, pág. 331.

Carreira, lugar da freguesia de Espargo, Estrada-Velha, lugar da freguesia da Feira e Rua?, lugar da freguesia de Arrifana, são topónimos provenientes de viação antiga.


Zona do Baixo Uíma:

Campos férteis, saciados de água, viçosos prados e florestas, muita caça, boa pedra para habitações, sepulcros e instrumentos de trabalho... o rio abundante de peixes − nas margens do / 217 / Uíma se desenvolveu uma vasta civilização, cujos vestígios o tempo não pôde apagar.

Crosta, lugar da freguesia de Sandim. Só nos resta a denominação toponímica. Ainda não visitámos o local com atenção.

Castelinho, monte, no lugar da Póvoa da freguesia de Lever. Ainda hoje se verifica um troço de estrada, muito bem conservada, a mato, que servia o antigo castro. Próximo ao Castelinho houve uma antiga povoação Vale-Cabanas (cfr. com Chalman, voz vasca, de Chaol «cabana», e Alma «vale, planície», P. BOUDARD, Essai sur la Numismatique lbèrienne, précédé de Recherches sur l'Alphabet et la langue des Ibères. Paris 1859. Junto a Vale-Cabanas ficava a Proviceira, outra povoação (por Provaceira, Povoaceira, que se formou como Agraceira, Lamaceira, Taboaceira, etc.). Uma e outra povoações foram as predecessoras do actual lugar da Póvoa. Em baixo da Proviceira, fica o poço da Manguela, dentro do Uíma, onde aparece (à meia-noite) na noite de S. João, uma grade de ouro, reminiscências difusas de um velho culto. Ver o meu Concelho da Feira. História. Etnografia. Arte. Paisagem. Do outro lado do rio, Marco-de-Eirós, Padiola, Touça-do-Cuco, topónimos de remota antiguidade. O Castelinho foi o núcleo de protecção das primitivas povoações do Vale-de-Cabanas e da Proviceira.

Crestuma (= Crosta do Uíma), freguesia na confluência do Uíma com o Douro. Até agora não pudemos estudar a topografia da região. Ignoramos o local do antigo castro que deu o nome à freguesia. Na toponímia com vestígios de antiguidade apenas conhecemos mais, Lage e Cepo, duas povoações debruçadas sobre o rio. O mais antigo documento que diz respeito a Crestuma data de 922: Donatio amplissima regis Ordonii episcopo Gomado et Monasterio de Crestuma facta, de que transcrevemos a parte referente a terrenos muito nossos conhecidos, por onde muitas vezes temos passado: «... et adquisiuit ipse episcopus terminum de ipsa uilla et de ipso monasterio. et inuenit illum per terminum de liueri. et inde per montem felanoso. et inde in VIlem suberes . et inde per illum saxum album . et inde a paradela . et inde per terminum aliaria quomodo diuidit com domno uilifi . et inde in portam (sic) arnelas. et concludit ipsam ecclesiam de arnelas cum sua ecclesia uocabulo sanctus andreas . et tranciuit ipsum terminum de alia parte dorii . et inuenit ipsum terminum per montem de zeurario . et inde per penellas per illum montem ad illam aquellam . et inde per fontanum pennosum quomodo diuidit cum sposati . et item tranciuit dorium inuilla palatiolo . et concludit ipsam uillam totam exceptis illa Vnª que est de alios heredes de leueri . et inde ferit in terminum de / 218 / leueri unde primitus inquoauit . et comparauit ipse episcopus sesicam molinariam in riuulo umie de fragiaro et de arias abrahem in terminum de leueri... », Ex codice qui titulum Livro Preto da Sé de Coimbra.

Zona do Ur (= Ul).

Castro da Portela ou cividade da Portela: antiga e importante povoação de origem pré-romana. Em pesquisas ali realizadas, em 1845, foram encontradas ruínas de habitações, e, entre 102 moedas de procedência romana, uma de origem ibérica, de caracteres desconhecidos. Há nas imediações muitos vestígios de antiguidade: Arcas-da-Searaa e do Suam, Forno, Cham-do-forno, Cham-da-Arcoa, Cham-de-Arcas (Tombo da Igreja de Romariz, ano de 1544, no Arquivo Distrital do Porto, publicado pelo P.e M. FERNANDES DOS SANTOS, na sua prestimosa monografia, A Minha Terra. Porto 1940), Castelhão ou Crastellum, em 1251, nas inquirições de D. Afonso III, Monte-Calvo, da , serra de Vila-Nova, na freguesia de Romariz. Mamoa, na freguesia de Milheirós. Dentases (de + Antas + es), na mesma freguesia. Pena e Torre na freguesia do Vale. Laje e Pé-de-Arca, na freguesia de Pigeiros. Mato-da-Arca e Castelo, na freguesia de Cesár (4).

Perto do castro nasce o Ul, confluente do Vouga, que em documentos medievais aparece escrito ure e ur, «subtus mons Castro CaIbo et Montecelo discurrente ribulos Antuana et Ure», JOÃO PEDRO RIBEIRO, Dissertações Chronologicas, voI. I, pág..223; / 219 /  «et in uilla plana discurrente riuulo ur et subtus mons parata louaz prope ciuitas sancta maria», Dipl. et Ch., doc. n.º 703. ano de 1088; e, «discurrente ribulo ur et prope ciuitas sancta maria», Dipl. et Ch., doc. n.º 704, ano de 1088.


Ur é nome de origem ibérica que significa «cidade», Essai sur la Numismatique lbèrienne précedé de Recherches sur I'Alphabet et la Langue des lbères, par P. − A. BOUDARD. Paris, 1859. O rio, que tem um percurso apenas de sete quilómetros, serviu com o Antuã de via de penetração do Vouga ao castro. Tomou, a partir da sua confluência com o Antuã, o nome de Ur, que quer dizer «rio da cidade», «rio que leva à cidade», conservando-se por antonomásia (Cfr. com o topónimo rio da Igreja, seu afluente, de formação moderna. O rio tomou este nome por passar perto da igreja de Romariz).

Terá sido Aritium o nome romano da cividade da Portela? No Theatrum Geographiae Veteris, «edente Petro Bertio Bevero», Aritium vem situada entre o Dorias e o Vacus. O P.e JOÃO BAPTISTA DE CASTRO localiza-a entre o concelho da Feira e o de Arouca. Em que razões se baseou não nos diz. Superficialmente, vaziamente: «Aricio é entre a Feira a Arouca».

Ora, nós temos vários topónimos que nos podem dizer alguma coisa de Aritium: Ur, Arilhe, Cesar, Ovar e talvez Aral. Ur é palavra ibérica que significa «cidade». Bem pode ser que os Romanos tenham latinizado esta voz indígena em Uritium (de Ur + o sufixo itium que aparece como elemento terminal de outras cidades romanas) e Aritium (por influência do r?) (5). LEITE DE VASCONCELOS faz referência a uma cidade do mesmo nome, no território de Alvega, na margem esquerda do Tejo, conhecida por uma inscrição, Religiões da Lusitânia, vol. II, pág. 23. Também o P.e FRANCISCO DO NASCIMENTO SILVEIRA fala de Aricio Pretorio, Mappa Breve da Lusitania, pág. 295. − Arilhe, de Ar (= Ur?) + o sufixo diminutivo ellus (no genitivo) parece indicar uma povoação de menor importância com relação a outra. Seria Aritium essa outra povoação? − Cesar, (ou Cesari num doc. de 1028-1038?) parece provir de Cis «aquém» + Ar / 220 / (= Ur ?). De facto Cesar fica na margem oposta do Ur, com relação ao Castro da Portela. − Ovar. É natural que este topónimo provenha de Ob «em direcção a», «diante de» + Ar (= Ur ?), donde, «em direcção ao Ur», «diante do Ur». O rio Ovar nasce na freguesia de São-Fins, a pequena distância do UI, banha as freguesias da Feira e Travanca, e o território, a que deu o nome, do concelho de Ovar. Serviu, com certeza, de via de acesso das povoações marinhas, da parte central do litoral durio-vaucense à região intensamente povoada do Ur. Daí o seu nome.

Paesuri ( = Paes? + uri) é o nome que PLÍNIO dá aos habitantes da região do Ur. O mesmo autor cita o rio Urium (outra latinização de Ur + o sufixo -ium?), que não sabemos localizar: «a flumine Ana, littore Oceani, oppidum Onoba, Aestuaria cognominatum: interfluentes, Luxia et Urium». Ob. cit., lib. IIl, cap. III, «a partir do rio Ana, ao longo do litoral do Oceano a cidade de Onoba, chamada Aestuaria e os rios que banham esta região, Luxia e Urium».

*

Com os romanos a população desce das grimpas altivas dos montes e dispersa-se pelas ribeiras fecundas dos vales do Ul e do seu afluente Igreja, do Inha, do Uíma e do Ovar. Apossa-se da terra; cultiva-a. Surgem os grandes latifúndios, as villae, constituídas por casas agrupadas, muito pobres, habitadas por escravos e clientes, em que se destaca apenas a domus domini, de melhor aspecto: o Palatium ou Palatiolum, que nos ficou na toponímia sob a forma de Paço, Paçô, Paços, Palhaça, e Palácio.

Das villae, saíram, depois, por necessidade de partilhas, as herdades, agras, quintas, vilares, etc.

Portela foi a primeira povoação, na base do castro, a que deu o nome, proveniente da configuração do solo: «passagem entre montes», «vale», etc. Estendeu-se, pouco mais ou menos, até ao lugar da Por tela dos nossos dias. Sucedeu-lhe Portelica (= Portela Menor) e Vila-Nova.

O ilustre P.e MANUEL FERNANDES DOS SANTOS, que conhece muito bem a topografia de Romariz, faz a descrição de uma vasta rede de estradas que atravessava antigamente esta freguesia, servindo o Castro, Portela, o Monte do Castelhão, da Mó e Vila-Nova. Carreira, que aparece aí na toponímia em Carreiras-Velhas, é um sinónimo de via, strata e carril: «et inde per carraria mourisca», ano de 953. Cfr. com, «subter illam Stratam Mauriscam discurrente rivulo Cerzedo, in Elucidario..., paI. Estrada; «Primo por portum de Lamas... deinde per illud Carril vetus, quod dividit inter Saicia, e Algizidi», Doação do Couto ao Mosteiro de Seiça, feita por EI-Rei D. Afonso l, / 221 / ano de 115. Elucidario...; e «Parte pelo rio apróó á moinheira velha, e desy polo Carril, que vai ao forno telheiro e desy pela verêa, carreira a festo, e desy como se vay á verêa de Lagomar», Tombo de Castro de Avelãs, de 1501. Doc. de Bragança, in Elucidario...

O atributo Velhas, de Carreiras, comprova a sua antiguidade. Cfr. com Carreira, lugar da freguesia de Espargo e Carreira-Cova, povoações da freguesia de Lever e de Lobão e com Estrada-Velha, lugar da freguesia da Feira.

Esta extensa rede de estradas contribuiu para o progresso da região do Ur. A população mantém-se e densifica-se, porque a terra é rica. Cria prodigamente. No cimo dos montes não se desvaneceu de todo a vida, pelo menos até ao século IV. Como Langóbriga, o Castro ou Cividade da Portela continua a ser habitado. Várias ruínas o comprovam. Nas escavações ali realizadas, em 1845, foram encontradas cerca de 100 moedas romanas, de diversos imperadores, vestígios de tegulae e outras preciosidades arqueológicas, da mesma época.

Lisboa, 1941.

ARLINDO DE SOUSA

_________________________________________

(1) Segundo o Prof. LEITE DE VASCONCELOS, este documento data do século X, Lições de Filologia Portuguesa, pág. 16, nota I.

(2) Publicação em folhetins no jornal Tradição, da Vila da Feira. Vai na página 108. A obra completa será editada em dois volumes com outro título: «Toponímia do Concelho da Feira». O primeiro volume tratará das Povoações, e o segundo, das Propriedades Rurais. 

(3) − Ver também Dr. VERGÍLIO CORREIA, O Domínio Romano − Mapa dos Cultos Indígenas, pág. 248.

(4)Nos Annaes do Municipio de Oliveira de Azeméis vem escrito a respeito de Cesár: «houve nesta freguesia, pelo menos três Dolmens, cujos túmulos foram devassados há muito; de um destes ainda há pouco se via a mesa; mas já sem pilares, que provavelmente foram aplicados para ombreiras de cancelas dos matos próximos.» p. 245.
Diz o sr. Engenheiro PRAÇA DE VASCONCELOS com referência à mesma freguesia e à de Romariz: «Ainda ultimamente se tem encontrado na terra que constituía os tumulus já revolvidos, machados e pontas de lança de diorite e entre eles um pequeno machado, que se pode considerar um amuleto. Também se encontrou num terreno eminentemente argiloso desta freguesia, pequenas cavidades com resíduos de carvão vegetal e restos de cerâmica tão grosseira, que, pela sua contextura e irregularidade de formas se podem bem considerar como coevas do período neolítico. Também se tem encontrado noutro local tijolo com rebordos característicos do período romano e as não menos características candeias.
Numa serra ao norte desta freguesia, chamada antigamente Monte Calvo e hoje serra do Pinheiro, existiam ainda há pouco tempo, vestígios bem visíveis de dois muros de circunvalação concêntricos, a pouca distância um do outro, e situados no alto da mesma, que e constituída por uma planura.
Não se tem, porém, encontrado vestígios de casas redondas, como se encontraram muitas num monte fronteiro; chamado Castro, situado na freguesia de Romariz, onde existiu uma Citânia perfeitamente semelhante à de Briteiros.» pág. 246
.

(5)Perdemos quase todos os topónimos de origem ibérica. Repugnavam aos Romanos os nomes indígenas muito difíceis de pronunciar, ásperos e obscuros no dizer de ESTRABÃO: Talis ergo vila est montanorum eorum, qui Septentrionale Hispaniae latus terminant Callaicorum, Asturum, Cantabrorum usque ad Vascones, et Pyrena: plura autem nomina apponere piget fugientem toedium injucundae scriptionis, nisi alicui volupe est audire Pletauros Barduetas, et Allotrigas, et alia his deteriora, obscurioraque nomina, Rervm Geographicarvm. Tomo I, pág. 415-416, ed. de SlEBENKEES, L PSIAE MDCLXCVI. «Assim é a vida dos montanheses que vivem no norte de Espanha, dos Calaicos, dos Astures e Cantabros até ao país dos Vascos e Pirenéus: e são suficientes estes nomes para os que não gostam de narrações enfadonhas, salvo, se há alguém que tem prazer de ouvir PLETAUROS, BARDUETAS, ALOTRIGAS e outros nomes ainda mais ásperos e obscuros que estes.».  

Página anterior

Índice

Página seguinte