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Continuação da página 44.
FILARMÓNICA DE ÁGUEDA
SEGUNDO informações que
acabam de nos ser dadas, a
música de Águeda foi fundada em 1856, pouco mais
ou menos, pelo P.e Domingos Rodrigues de Almeida,
professor de latim, vulgarmente conhecido pelo Padre
Mestre. Passou seguidamente a ser regida por Manuel de
Noronha, secretário da Câmara.
Mais tarde, formou-se outra agremiação
− a Música Nova,
regida por um tal Canário, músico militar. Era a filarmónica
do partido de João Ribeiro da Rosa Magalhães, progressista,
ao passo que a Velha era afecta à Casa da Borralha e de Aguieira.
Em 1880, foi regente da banda o estrangeiro Francisco
Esquadrani, músico exímio, e, a seguir, Luís Rodrigues de Almeida, filho
do Padre Mestre.
Mais recentemente, o Sr. Conde de
Águeda trouxe de
Lisboa o maestro, reformado, Querubim António Assis, que
deu grande incremento à sociedade. A estes seguiram-se os regentes
Figueiredo, Gonçalves, António Marques Rodrigues
de Carvalho e outros. É actual regente o Sr. Godofredo
Duarte, que teve como professor o regente Querubim Assis.
Há ainda a notícia do regente João José Escôto, anterior a
Esquadrani.
O nosso camarada ROCHA MADAHIL forneceu-nos o seguinte
anúncio, que encontrou no n.º 3 da «Escola Popular», de 21
de Maio de 1870:
«Annuncio − A Phylarmonica Nova Eminium, da villa
d'Agueda, annuncia ao publico, que contractou para seu
director o habil professor de musica, o sr. Eduardo Branco Alvares
Pombal, e que por isso se acha de novo habilitada para, com a sua
provervial (sic) maestria, se desempenhar
de quaesquer funções, tanto d'Egreja como d'arraial, para
que for convidada. Os preços são com modos».
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FILARMÓNICA DA ARRIFANA
O nosso assinante, Sr. Adão Rodrigues, residente no
POrto, mandou-nos
espontaneamente preciosas informações acerca da filarmónica da Arrifana,
terra da sua naturalidade. Vivamente louvamos aqui o bairrismo do nosso
velho amigo e lhe agradecemos a gentileza. Eis as referidas informações:
«Procura-se através do tempo a data da sua fundação e não se averigua.
Compulsam-se os seus arquivos, recorre-se à memória ainda viva e lúcida
das pessoas mais idosas dos lugares suburbanos, e a sua recordação não
atinge os primórdios desta colectividade. Seguem-se a par e passo as
suas efemérides, acompanha-se a sua evolução durante cerca
de 126 anos, mas depois esbarra-se com o mistério e a
incerteza. E, todavia, para a história desta sociedade artística, como
seria interessante, e muito importante até, poder fixar com precisão e
determinar com irreparável certeza a data da sua instituição e o nome do
seu instituidor!
Contra a nossa vontade de investigar conscienciosamente uma e outra, opõe-se a neblina densa do mistério, formado pelo pó
dos anos, que ultrapassa um século.
Esbarra-se com a incerteza, dizem-nos.
É que anteriormente a 1802 (até
aqui conhece-se, positivamente, a sua existência pelos nomes dos seus
regentes) ainda vamos encontrar rastos da nossa Banda, rastos que
assinalam a sua passagem através de anos remotíssimos.
O integérrimo Juiz, Sr. Dr. Manuel Tavares da Costa, conserva na sua
casa de Teamonde, Carregosa, entre outros documentos extraídos, ou
copiados, do arquivo da Junta, um referente à nossa Banda.
É uma nota brevíssima que reza assim:
− «Pago à música de Arrifana,
reis 3$000.»
Tem o documento em questão a data de mil setecentos
e setenta. Fazemos
fé por este documento, cuja autenticidade deve ser insuspeita e que deve
ser incontraditável como elemento de prova: «a Banda de Arrifana existe
há 172 anos.»
Mas ainda a nossa interrogação fica suspensa:
− quando
se fundou?
Apontamentos escrupulosamente alinhados, que temos à vista, indicam-nos
o nome do seu mais antigo regente conhecido: − Manuel Inácio de Azevedo.
Sucedeu-lhe o
padre Domingos Soares Leite, que teve notável prestígio de maestro.
Segue-lhe Duarte Soares Leite. E, numa sucessão contínua, a regência
passa a António Bernardo Soares
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Leite, António Martins Soares Leite, professor de instrução
primária na Vila da Feira.
A este tempo, uma nova música se organiza sobre a
direcção de António Leite Soares de Resende. Esta segunda
teve uma duração efémera. A breve trecho se desorganizou,
integrando-se todos os componentes, sem excepção do chefe,
na antiga Banda.
Atingiu esta, então, justificada fama, e António Martins
Soares Leite consegue levá-la a concelhos distantes:
Arouca, Cambra, Castelo de Paiva, Estarreja, Gaia e Ovar,
levando-a, simultaneamente, a quase todas as freguesias
limítrofes, incluindo Oliveira de Azeméis e seu concelho.
Regem-na depois António Soares Ferreira Júnior, Serafim Martins de Araújo, António Martins, filho, Pedro Soares
Ferreira, António Ferreira Cardoso, volta a regê-la Pedro
Soares Ferreira, e presentemente, Roberto Nunes.
Teve a nossa Banda, alternadamente, períodos de apogeu e de decadência. Mas sempre, ora gozando a glória da
sua justa fama e colhendo os louros dos seus retumbantes
triunfos, ora arcando abnegadamente com as vicissitudes do
momento, soube manter-se, não quebrando nunca a continuidade da sua
existência.
Para Arrifana é motivo de justa satisfação e orgulho a
antiguidade da sua Banda de música; esta tem sido um
excelente elemento de propaganda, porque leva longe,
muito ao longe, na estridência vibrante dos seus metais e
nas notas harmoniosas dos seus concertos, o nome da Nossa
Terra.
Tem, actualmente, 32 executantes. E sob a competente
regência de Roberto Nunes, um novo em quem abundam qualidades de
trabalho, vontade firme, persistência e dedicação, a Banda tem a sua
continuidade garantida, o futuro
assegurado, e de certo atingirá a famosa celebridade dos seus tempos
áureos, para lustre seu e glória de Arrifana.
Em virtude da organização, entre nós, da Corporação
dos Bombeiros Voluntários, a nossa Banda de música tomou
a deliberação de se integrar naquela colectividade, ficando,
no entanto, com direcção e administração autónomas.
Esta integração, honrosa para os dois organismos, traz-lhe, doravante, uma nova designação:
− Banda dos Bombeiros Voluntários de Arrifana.
Arrifana, 10 de Novembro, 1941.
Um Arrifanense.
Esta Banda tem casa própria, que lhe foi construída
por subscrição na freguesia, para, nos altos, fazer os seus ensaios.
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A casa é da freguesia; mas só para aquele fim pode
ser utilizada.
Tem, mesmo, na frontaria, uma pedra, com letras em relevo, que indicam o
fim para que foi construída e destinada.
A.»
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Filarmónica da Arrifana |
Das restantes filarmónicas, ainda bastante numerosas, nada diremos por
hoje, pois nos faltam dados seguros a respeito de cada uma delas.
Mais uma vez lamentamos o desinteresse dos regentes e demais pessoas a
quem nos temos dirigido. Será difícil ou impossível acordá-los do seu
torpor; mas nem por isso deixaremos de, em outro artigo, tirar da
existência e actividade destas bandas populares as conclusões a que elas
nos levam.
JOSÉ PEREIRA TAVARES |