O ARQVIVO DO DISTRITO DE
AVEIRO dará sempre notícia das obras à sua Redacção enviadas quer por
autores quer por editores.
De harmonia com a prática
seguida pelas publicações suas congéneres, fará também algum comentário
crítico aos livros de que receba dois exemplares.
«COLECÇÃO DE CLÁSSICOS SÁ
DA COSTA»
O incansável, prestigioso e
conhecidíssimo editor Augusto Sá da Costa empreendeu, há cerca dum ano,
uma obra benemérita, que é digna do interesse, amparo e carinho do
público ledor e da protecção do Estado a quem incumbe auxiliar
iniciativas que, como essa, contribuem para a difusão da cultura
nacional. Referimo-nos à magnífica Colecção de Clássicos Sá da Costa,
superiormente dirigida pelo ilustre filólogo e historiador da nossa
literatura, Dr. Manuel Rodrigues Lapa, nome que é uma garantia da
escrupulosa probidade que preside à organização dos volumes. Com a
Colecção, pretende-se, como a própria casa editora declara no seu
prospecto de propaganda, «lançar no mercado, subordinada a um rigoroso
método de selecção, a sua biblioteca de clássicos portugueses e
estrangeiros.»
Até hoje, e com uma notável
regularidade, apareceram as seis seguintes obras, a cada uma das quais
nos vamos referir em separado:
OBRAS COMPLETAS DE
FRANCISCO DE SÁ DE MIRANDA, em dois volumes, o primeiro de XXII −
328 páginas; o segundo de XVI − 298 páginas. Pertencem ao Prefácio,
inserto no vol. I, as seguintes palavras:
«Começa a Colecção dos
Clássicos Portugueses da Livraria Sá da Costa pelas obras completas do
Dr. FRANCISCO DE SÁ DE MIRANDA. Não poderia começar melhor. A leitura do
poeta filósofo, que, no seu retiro minhoto, assistia confrangido aos
males do país e lhe profetizava tão lucidamente a ruína, ainda hoje é
proveitosa. Difícil embora, densa de pensamento, portuguesíssima de lei,
sente-se na obra do grande isolado das duas Igrejas e da Tapada a
máscula respiração dum grande carácter, sobranceiro aos golpes do tempo
e da fortuna.»
O volume I contém as
Trovas à maneira antiga, as Poesias bucólicas e os Sonetos; o volume
II é formado pela Vida do Doutor Francisco de Sá de Miranda, coligida
de pessoas fidedignas que o conheceram e trataram e dos livros de
gerações deste Reino» (págs. V-XV) e pelas Canções, Elegias,
Cartas, Comédias e Oração ao rei D. João III e rainha D. Catarina.
CARTAS FAMILIARES, DE D.
FRANCISCO MANUEL DE MELO (Selecção), volume de XXVII − 290 páginas;
Da pág. VII a XXVII decorre o Prefácio do organizador, acerca do
notabilíssimo polígrafo do século XVII. A ele pertencem estas palavras:
− «No seu aspecto duma interior humanidade, são as Cartas a melhor, pelo
menos a mais impressionante das obras do nosso autor.»
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PANEGÍRICOS DE JOÃO DE
BARROS, volume de XXII − 224 páginas. O Prefácio vai da pág. IX a
XXXI. E a reprodução, com texto restituído, duma obra raríssima e,
portanto, conhecida, até aqui, de poucos. O panegírico de D. João
III ocupa as páginas 1-160; e o da Infanta D. Maria as páginas 161-219.
MARÍLIA DE DIRCEU E MAIS
POESIAS, por TOMÁS ANTÓNIO GONZAGA, volume de XXXVI − 268 páginas.
Contém as três partes da Marília. Eis como Rodrigues Lapa ordenou o
volume (pág. XXXII): − « A presente edição baseia-se: para a Parte I, na
1ª edição de 1792; para a Parte lI, na 2.ª edição de 1802, por nos não
ter sido possível alcançar a 1.ª edição, de
1799. A Parte III reproduz a edição de 1812, da Impressão Régia, que até
aqui ainda não tinha sido republicada. A falsa Parte III foi conferida
sobre a edição de 1800; também aproveitámos para ela o manuscrito que
serviu para a Mesa Censória, e que se guarda na Biblioteca Nacional de
Lisboa. Enfim, damos pela primeira vez a edição do poema à aclamação de
D. Maria I, que tirámos do manuscrito n.º 340 da Biblioteca Geral da
Universidade de Coimbra.»
DISCURSO DO MÉTODO E
TRATADO DAS PAIXÕES DA ALMA, por RENATO DESCARTES, volume de XXVII −
256 páginas. A tradução, o prefácio (págs. IX-XXVIII) e as notas são do
professor NEWTON DE MACEDO. O Discurso ocupa da pág. 3 a 90; e as
Paixões, de pág. 91 a 239.
O SOLDADO PRÁTICO, de
DIOGO DO COUTO, volume de XXXII − 252 páginas. É a reprodução duma obra
muito rara do nosso douto e imparcialíssimo historiador do século XVI,
acerca da qual Rodrigues Lapa escreveu no Prefácio (pág. XXVIII): − «O
Soldado Prático é dos livros mais honrados da literatura portuguesa.
Deverá ser lido depois dos Lusíadas. Os dois amigos, Camões e Couto,
fizeram duas obras que se completam: uma canta as glórias antigas da
pátria, num frenético esquecimento do presente; outra analisa
impiedosamente as verdades desse presente e mostra-nos o país e o
Império afundados num tremedal de infâmias: por toda a parte a ambição
da riqueza, o amor do luxo, a concessão e o roubo.»
Sobre a importante e
patriótica Colecção, lê-se no citado prospecto de propaganda da Livraria
Editora − «Essa colecção, que não terá pretensões eruditas, com a
ortografia e pontuação actualizadas, dirige-se ao grande público e terá
o fim de promover a sua cultura literária e humanística. Mas nem por
isso é menos cuidada: os textos são baseados na melhor edição conhecida,
possuem um sóbrio sistema de anotações para uma boa compreensão do autor
e, enfim, um prefácio em que se estudam as linhas gerais da obra. São,
numa palavra, os clássicos postos ao alcance de todas as mãos e de todas
as bolsas.»
Para que esta arrojada
iniciativa não soçobre e produza os seus frutos, bom seria que todos os
que podem adquirissem os volumes, já publicados, desta admirável
Colecção, e os que se lhes vão seguir.
J. T.
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