Excesso de Leite e
Derivados: um erro alimentar frequente
O leite é um alimento extremamente importante na
infância, representando 100% da oferta de energia e nutrientes nos
primeiros meses de vida. Contudo, a partir dos 6 meses, deixa de
conseguir suprir a totalidade das necessidades nutricionais (por
exemplo, de ferro), sendo necessária a introdução de outros alimentos na
dieta. Assim, é desejável que, entre o primeiro e segundo semestres
de vida, ocorra uma alteração gradual do padrão alimentar dos
bebés, passando de uma alimentação exclusivamente láctea para um
regime bastante mais diversificado, no qual os produtos lácteos
deverão representar apenas uma pequena parte do aporte energético
diário. Ora, o que se tem
verificado em muitos bebés, no segundo semestre de vida, é um excesso
importante no consumo de leite e derivados. A noção de que “o leite é
saudável e faz crescer” encontra-se bem vinculada na nossa Sociedade…
Mas será que é mesmo assim?
De facto, o leite é um alimento muito rico em cálcio, importante para
o desenvolvimento dos ossos e músculos mas, quando ingerido em
excesso, compromete a absorção de ferro pelo organismo. A
deficiência de ferro tem consequências a longo prazo, entre as
quais o desenvolvimento de anemia por deficiência deste micronutriente,
maior risco de cáries dentárias e ainda compromisso não apenas do
sistema imunitário, mas também do desenvolvimento neurológico e motor
das crianças. Assim, como em
quase tudo na vida, existe uma dose recomendada, e, a partir dos 6
meses de vida, o consumo diário de leite e seus derivados não
deve exceder os 500 ml, o que contempla leites, iogurtes e até a
papa! Existem papas lácteas (preparadas com água) e papas não
lácteas (preparadas com leite), mas todas contêm o equivalente a 150 a
200 ml de leite, mesmo que a prepare com água! E cada iogurte contribui
com cerca de 100 ml, pelo que o plano alimentar nesta faixa etária
deverá ser bem planeado, para não se cair em excessos.
Por outro lado, a escolha do leite também é um
aspeto deveras crucial, na medida em que a oferta de leite de vaca
antes dos 12 meses, sendo este um alimento pobre em ferro e
nutricionalmente desequilibrado, aumenta consideravelmente o risco de
anemia. Assim, a melhor opção é certamente o leite materno,
e, em alternativa, uma fórmula infantil pelo menos até aos 12 meses
(idealmente até aos 24 meses).
Um outro erro alimentar comum é a ingestão
de leite pouco tempo após as principais refeições, o que vai
comprometer a absorção do ferro presente nos diversos alimentos de
origem animal e vegetal, e, assim, contribuir igualmente para um
estado de carência e possível anemia. Assim se compreende que também
não seja recomendada a oferta de iogurtes como sobremesa.
Reformulando
então a sabedoria popular, podemos dizer que os produtos lácteos são
um grupo alimentar importante para o crescimento, quando em doses
adequadas à faixa etária! Deste modo, o crescimento harmonioso das
nossas crianças depende de uma alimentação equilibrada e variada, a
qual, a longo prazo, contribuirá determinantemente para maximizar a
Saúde e minimizar o risco de doença.
Dr.ª Inês Rosinha
Interna de Pediatra (CHBV) |