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1.
‘Cotovia’ é uma designação genérica dada a diversas espécies destas
aves que, para efeitos de classificação, foram agrupadas na família
‘Alaudidae’, que integra, por exemplo, as calhandras
A
cotovia é uma ave pequena, com um comprimento médio entre os 15 cm e
os 18 cm, de cor bastante uniforme, sobretudo o castanho, com
estrias escuras no dorso e ventre um pouco mais claro. A cabeça
exibe um pequeno tufo, a cauda é alongada e em cujas bordas
sobressaem duas linhas brancas. Nas patas possuem uma unha mais
comprida e recta no dedo posterior. |
Cotovia-comum (lullula
arbórea) |
Encontra-se na Europa, Ásia e Norte de África, sendo que as que vivem em
regiões mais setentrionais ou mais a oriente têm movimentos migratórios
em direcção ao sul, no inverno.
Os sexos
são, de um modo geral, semelhantes. Habitam preferencialmente terreno
aberto, em terras lavradas e baldios, alimentando-se de sementes e
insectos e nidificando no solo, onde põem de 3 a 5 ovos, incubados pela
fêmea durante 12 a 13 dias.
As
cotovias têm um voo ondulante, com descidas bruscas seguidas de
ascensões lentas. São conhecidas pelo seu canto característico, em regra
durante voos prolongados, a grande altura. É um canto muito belo, que se
assemelha ao do rouxinol, durando com frequência vários minutos. Os
machos costumam cantar descrevendo círculos, elevando-se quase a perder
de vista, reduzidos a pequenos pontos no céu. No chão são, porém,
difíceis de distinguir, devido ao dorso acastanhado que se confunde com
o meio envolvente.
2.
Atentas as diversas espécies existentes, dedicamos umas breves palavras
a duas delas, muito frequentes no nosso País e, em especial, no Alentejo
– a cotovia-comum (também chamada de cotovia-arbórea ou cotovia-pequena)
e a cotovia-montesina.
2.1 A cotovia-comum (lullula arbórea)
Com um
comprimento de cerca de 15 cm, possui uma crista curta, habitualmente
não levantada (e, por isso, não visível), e uma lista supraciliar clara
que quase se une à nuca. Uma sua característica é uma mancha escura,
rodeada por um castanho esbranquiçado, na parte superior da orla
dianteira da asa. De voo ondulante, empoleira-se com frequência em
árvores e arbustos, mas alimenta-se no solo. O seu canto, ouvido
sobretudo de manhã cedo e à noite, traduz-se numa sequência de notas
melodiosas, com um som maravilhoso, que começa tímido, acelerando e
aumentando de intensidade à medida que as notas se tornam mais graves.
Este canto é frequentemente proferido em voo, mas também a partir de um
poleiro (árvore, poste, etc.).
É uma
espécie residente, que pode ser encontrada em todo o território
nacional, com maior incidência no interior. No Alentejo, com excelentes
zonas para a sua observação, distinguimos as regiões de Marvão,
Moura-Mourão, Arraiolos, Serra de Grândola, Mina de São Domingos.
2.2 A cotovia-montesina (Galerida
theklae)
De
plumagem castanha, com riscas verticais escuras no peito, o seu
comprimento ronda os 16 cm. Apresenta uma pequena poupa no alto da
cabeça, tornando-a muito parecida com a cotovia-de-poupa. As supra
caudais têm um tom ferrugíneo e as penas da cauda são levemente
acinzentadas. A mandíbula inferior do bico é convexa.
Prefere os terrenos incultos e pedregosos e voa com frequência para
árvores. O seu canto tem um tom suave e melodioso, variado e de
alguma complexidade.
Sendo também uma espécie residente, pode ser vista durante todo o
ano, abundando em especial na metade interior do País, com um
habitat que lhe é mais favorável. No Alentejo é facilmente
observável, por exemplo nas zonas de Nisa, Marvão, Mourão, Castro
Verde e Mértola. |
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Cotovia montesina |
3. A cotovia sempre foi considerada, desde
tempos recuados, uma ave especial, particularmente ‘simpática’, entrando
na mitologia, na literatura, no folclore, etc., tanto pela beleza do seu
canto como pelo simbolismo do seu voo.
Para os
gauleses era uma ave sagrada, continuando através das lendas populares
francesas a ser vista como ‘de bom augúrio’. As suas passagens
sucessivas da terra ao céu e vice-versa unem os dois pólos da existência
e representam a união entre o terrestre e o celeste.
O seu
canto é de alegria e, para os teólogos místicos por exemplo, simboliza a
oração jubilosa perante Deus. Na Natureza, as cotovias eram as amigas
predilectas de São Francisco de Assis, às quais chamava de ‘irmãs
cotovias’.
Respeitemos, pois, este pequeno pássaro, para que o seu canto se
perpetue e possa ser usufruído pelas gerações vindouras. |